Vaticano

Igreja Católica em Moçambique apresenta os casos que denunciou ao presidente Chissano

Agência Ecclesia
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Uma denúncia assinada pelo Arcebispo de Nampula, D. Tomé Makhweliha, e outros membros da Igreja local, divulgava há mais de 6 meses vários acontecimentos estranhos e preocupantes ocorridos na cidade de Nampula. As autoridades demoraram a intervir

Extracto com os casos denunciados na carta do dia 13 de setembro de 2003, assinada pelo arcebispo de Nampula, D. Tomé Makhweliha, pelo reitor do seminário inter-diocesano, Pe. Carlos Alberto Gaspar Pereira, pela leiga consagrada da arquidiocese de São Paulo, Maria Elilda dos Santos e pela superiora do mosteiro Mater Dei, Ir. Maria Cármen Calvo Ariño (Ir. Juliana). 1º Caso (Outubro 2002): Este caso tem a ver com o desaparecimento (a 12 de Outubro 2002) e posterior morte de uma jovem, de nome Sarima Iburamo, de doze anos de idade estudante da 1ª classe na escola Colamo, residente no bairro Motomote na cidade de Nampula. Filha de Waziza Francisco. Nesse dia, pelas 15 horas da tarde, juntamente com uma amiga, esta jovem dirigia-se para o centro da cidade de Nampula para tentar vender algumas bananas no mercado. Depois de atravessarem a via-férrea, que separa a área do posto administrativo de Namicopo, da cidade de Nampula, junto da padaria Nampula, dois rapazes (jovens) acercaram-se delas dizendo que queriam comprar todas as bananas. Perante a possibilidade da venda da totalidade do produto, as duas jovens separaram-se, a vítima acompanhou os jovens que pretendiam comprar as bananas, enquanto a sua amiga regressou a casa. A jovem Sarima nunca chegou a casa. Durante essa noite, a família procurou a jovem, sem nunca a encontrar. No dia seguinte, as pessoas residentes no bairro, comunicaram à família o aparecimento de um cadáver no bairro de Namicopo; a família foi ver e reconheceu-o como sendo o da sua filha desaparecida. Depois do aparecimento do corpo, a família participou a ocorrência à polícia. Este caso deu entrada na 3ª Esquadra da PRM, situada em Namicopo, com o nº do processo 1630/02, 3ª brigada, sendo atribuído ao Agente Cabral, da 1ª secção. Este cadáver apresentava a particularidade de lhe terem sido removidos todos os órgãos internos (coração, pulmões, rins, etc.) e os olhos. Depois de a família ter reconhecido o cadáver como sendo o da sua filha desaparecida, a polícia entregou o corpo a família e mandou-a embora, não dando sinais de se interessarem mais por este caso. Alguns dias depois, um agente da 3ª Esquadra da PRM da cidade de Nampula, apresentou-se na casa dos familiares da vítima pedindo dinheiro para dar seguimento ao caso. A família recusou-se a dar dinheiro para que a polícia fizesse o seu dever de investigar a morte e os factos estranhos (remoção dos órgão internos e olhos), relacionados com essa ocorrência. O corpo foi sepultado em Namialo, terra natal da mãe da vítima. Depois deste episódio, a polícia nunca mais entrou em contacto com a família, nem a família soube mais nada, acerca da investigação feita por esta e quais as conclusões a que chegaram. 2º Caso (Fevereiro / Março 2003): Este caso tem a ver com o aparecimento (no período de Fevereiro/Março, do corrente ano) de um cadáver nos terrenos limítrofes do Aeroporto de Nampula. Quando esta ocorrência foi participada à polícia e às autoridades competentes, compareceu no local o chefe do posto administrativo de Namicopo, o qual mandou que o cadáver fosse enterrado imediatamente, sem se procederem a quaisquer investigações que pudesse identificar a vítima e/ou, as causas da sua morte. Esta atitude torna-se ainda mais estranha, se considerarmos que também a este cadáver faltavam os órgãos internos, os olhos, e que a caixa craniana tinha sido aberta, para ser removido o cérebro. Estes indícios apontavam para uma morte -violenta, e que deveria ser investigada, o que, por ordem do chefe do posto administrativo de Namicopo, não aconteceu, acto que achamos bastante estranho e suspeito. 3° Caso (Fevereiro / Março 2003): Esta ocorrência deu-se também no período de Fevereiro/Março do corrente ano. A população de uma pequena aldeia nos arredores do Aeroporto, passando por um caminho para se dirigirem as suas “machambas”, sentiram durante dois dias, fortes cheiros nauseabundos, pensando que se tratava de algum animal morto que começava a apodrecer. No terceiro dia, ao passarem pelo local, viram os cães que levavam na boca ossos que pareciam humanos. Perante tal facto, decidiram entrar um pouco no mato e procurar o que na realidade provocava o cheiro nauseabundo que sentiam e, verificar se realmente os ossos pertenciam a uma pessoa. Um pouco mais para dentro, descobriram um cadáver humano que puderam identificar como sendo de uma mulher, pela cabeça que ainda se encontrava no local. Decidiram enterrar o corpo no local (colocando uma cruz na sepultura, pois não sabiam se era cristã ou muçulmana), pois as autoridades, uma vez mais, não mostraram interesse em seguir o assunto. Presume-se que a vítima não era do local, pois, perguntando junto dos moradores dessa zona, não constava ninguém desaparecido nesse momento. 4º Caso (Junho / Julho 2003): Aqui, apresentamos uma descoberta da população local. Foram descobertos pela população dois locais que mostravam claros indícios de aí terem sido praticados actos de extrema violência (sinais de muito sangue no chão, restos de roupas e pertences pessoais). Num destes locais encontrava-se uma pasta escolar, livros escolares, lápis e canetas, calças e roupa íntima feminina. Isto leva a crer que se tratava de uma jovem estudante que ali foi morta (a quantidade de sangue que “inundava” o local, leva-nos a supor que foi morta, embora não tenha sido encontrado aí nenhum cadáver. Pois ninguém consegue perder tal quantidade de sangue e sobreviver). Algum tempo depois de aí termos passado, e filmado o local, alguém mandou capinar e cavar o referido local, mostrando interesse em fazer desaparecer possíveis indícios que ainda ali se encontrassem, e que pudessem esclarecer e clarificar o que realmente acontecera. No segundo local, os mesmos indícios (muito sangue, roupas pessoais, local pisado, etc.), e aqui os vizinhos ouviram gritos de dor e de agonia (isto aconteceu por volta da meia noite); quando tentou sair de casa para ver o que se passava, a pessoa foi impedida pela presença de cães ferozes que não a deixaram sair de casa. No dia seguinte, dirigiu-se ao local de onde provinham os gritos, e encontrou os indícios acima descritos. 5° Caso (Julho 2003): Trata-se do caso da tentativa de venda da criança de nove anos, Felix Mário, que deu origem às investigações e suspeitas. 6º. Caso (Julho 2003): Esta situação ocorre com os trabalhadores de nacionalidade moçambicana, envolvidos no acontecimento relatado no caso anterior (do jovem que se apresentou numa casa particular, para vender uma criança pela importância de 80.000.000,00 de meticais). Depois destes trabalhadores terem conduzido o jovem e a vítima ao mosteiro Mater Dei, onde funciona um destacamento de polícia para a protecção do referido mosteiro, a fim de denunciarem a ocorrência, estes foram despedidos. Num primeiro momento, estes trabalhadores, que conheciam as irmãs, mostraram-se dispostos a narrar com maiores detalhes esta e outras situações estranhas por eles presenciadas; contudo, quando mais tarde foram novamente contactados pelas irmãs do mosteiro, recusaram essa colaboração, e deram a entender que foram ou ameaçados, ou o seu silêncio foi comprado. Por quem? Não podemos dizer, de forma absoluta, mas tudo indica que será o próprio interessado neste caso, ou seja, o dono da propriedade particular confinante com o Mosteiro Mater Dei. 7º Caso (Agosto 2003): No dia 14 de Agosto de 2003, foi encontrada uma menina de cerca de 12 anos, também nas cercanias das instalações da referida propriedade privada. Essa menina foi recolhida por um dos irmãos residentes no mosteiro e levada ao mosteiro. A criança chorava e só sabia dizer que era do distrito de Moma e que tinha sido trazida à força para ali, por um homem num carro branco. Este, como ela se debatia e algumas pessoas passavam pela estrada, decidiu abrir as portas do carro e abandonar a menina na estrada. A menina foi acompanhada até junto da sua família em Moma pelas irmãs do mosteiro e membros da Liga dos Direitos Humanos, da Secção de Nampula. Quando este caso foi apresentado na PIC, a polícia mostrou interesse em aprofundá-lo e prosseguir as investigações. Contudo, quando no dia seguinte as irmãs foram falar com o Director da PIC da cidade de Nampula, para saber em que ponto estavam as investigações, a sua atitude foi completamente oposta à do dia anterior. Em vez de demonstrar interesse em continuar a investigação sobre o caso, deu a entender que era coisa sem importância, e mostrava um certo temor em prosseguir com a mesma. Será que esta mudança de atitudes se deve a pressões superiores? Colocamos esta possibilidade, porque por diversas vezes, o comandante provincial da PRM de Nampula, foi visto em casa do dono da referida propriedade suspeita, em alegre convívio e numa atitude que demonstra certa camaradagem e intimidade. Será que também ele está de certa forma envolvido nestas situações e, por isso, não quer que os casos sejam investigados (sendo o comandante provincial, estaria na melhor posição para bloquear as investigações)? 8° Caso (Setembro 2003): No passado dia 4 de Setembro de 2003, o cidadão Mário Cintura, residente no bairro Mutava-Rex, foi aprisionado quando se encontrava dentro de uma propriedade particular (a mesma referida anteriormente) para recolher lenha. Esta propriedade, supostamente, pertence ao dono da empresa ItServices Factura (dizemos supostamente, porque dentro dessa propriedade se encontra um pequeno núcleo habitacional/povoação, e essa questão ainda não está esclarecida na justiça). Aqueles que o aprisionaram, espancaram-no brutalmente, provocando-lhe várias lesões internas e externas, e algumas hemorragias internas. Esta situação foi suficiente para pôr em perigo a sua própria vida. Perante a intervenção de um dos trabalhadores dessa propriedade, que conhecia a vítima e dizia ser seu familiar, os outros acederam a libertá-lo e a deixarem-no ir embora. A vítima ficou durante três dias no Hospital Central de Nampula, para tratamento médico.


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