Vaticano

Igreja francesa levou dúvidas sobre lei da laicidade a Jacques Chirac

Octávio Carmo
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O presidente da conferência episcopal da França, D. Jean-Pierre Ricard, apresentou ao presidente francês Jacques Chirac as “reservas” da Igreja Católica em relação ao projecto de lei sobre a laicidade. “Demos conta das nossas reservas sobre este projecto que interdiz os sinais religiosos ostensivos na escola”, disse o prelado, desejando que a aplicação da nova lei não estigmatize o Islão. O projecto de lei que prevê a proibição dos símbolos religiosos nas escolas francesas foi aprovado pela Assembleia Nacional a 10 de Fevereiro e determina a interdição dos "sinais e vestuário que manifestem ostensivamente a pertença religiosa dos alunos". Baseada no princípio da laicidade da escola e da República Francesa, define directivas claras para actuar perante o número crescente de raparigas muçulmanas cuja cabeça surgia coberta com o véu nos estabelecimentos de ensino franceses, como pediam vários directores de escolas. Há cinco milhões de muçulmanos em França, mas o diploma também interdita a kippa judaica, o turbante dos sikh ou os crucifixos cristãos de grandes dimensões, sendo autorizados crucifixos, estrelas de David ou mãos de Fátima em tamanho pequeno e "discreto". Para o presidente do episcopado francês “os problemas são, antes de mais, problemas de integração e desejamos que a aplicação desta lei se faça sem estigmatizar nenhuma religião”. O texto adoptado será analisado pelo Senado francês hoje e amanhã e deverá ser aprovado nos próximos meses. A sua aplicação começa já em Setembro, no início do próximo ano lectivo, ficando dela isentos os estabelecimentos de ensino privados e as universidades. ESTUPIDEZ Em Portugal, o Alto comissário para a Imigração e Minorias Étnicas diz que proibição de símbolos religiosos nas escolas públicas é "estupidez". O Pe. António Vaz Pinto, que falava na noite passada num debate promovido pelo Governo Civil do Porto, criticou a "curteza de vista do laicismo francês, sinal de incivilidade". "Não lembra à cabeça de ninguém esta proibição", acrescentou.


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