A ruptura entre gerações será um dos problemas mais graves para as sociedades do futuro e a sua causa está no individualismo. Esta é a convicção de João Paulo II, manifestada no discurso que dirigiu esta sexta-feira aos participantes da assembleia plenária da Academia Pontifícia das Ciências Sociais.
“No presente, as relações entre as gerações estão a experimentar mudanças significativas, como resultado de diferentes factores: em muitas áreas deu-se uma debilidade do laço matrimonial, que é percebido com frequência como um simples contrato entre dois indivíduos; as pressões da sociedade de consumo podem levar as famílias a desviar a atenção da casa para dirigi-la aos seus locais de trabalho ou a uma ampla gama de actividades sociais”, apontou o Papa.
A assembleia deste organismo da Santa Sé celebra-se no Vaticano de 29 de Abril a 3 de Maio, sob a coordenação da sua nova presidente, a professora de Direito da Universidade de Harvard, Mary Ann Glendon.
João Paulo II lamentou ainda que, em certas ocasiões, “as crianças sejam percebidas, inclusive depois do seu nascimento, como um obstáculo para a realização pessoal dos seus pais”.
O Papa constatou ainda que muitos filhos já crescidos “deixam agora ao Estado ou à sociedade em geral a atenção para com os seus pais idosos”.
“Muitos deles têm recursos insuficientes, alguns sofrem com as doenças, enquanto que outros já não se sentem úteis ou sentem vergonha pelo facto de necessitarem de uma atenção especial”, ressaltou.
Nesse sentido, João Paulo II apresentou duas propostas para enfrentar a situação. Em primeiro lugar, pediu que «as autoridades públicas reconhecessem os efeitos de um individualismo que “pode afectar seriamente as relações entre as diferentes gerações”.
“Por sua parte, a família, como origem e fundamento da sociedade humana, tem também um papel insubstituível na construção de uma solidariedade entre gerações. Não há uma idade na qual se deixa de ser pai ou mãe, filho ou filha”, acrescentou.
A Academia Pontifícia de Ciências Sociais foi fundada por João Paulo II a 1 de Janeiro de 1994, com o objectivo de “promover o estudo e o progresso das ciências sociais, económicas, políticas e jurídicas à luz da doutrina social da Igreja”.