Vaticano

Intenção de Bento XVI para o mês de Abril

Elias Couto
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Viver a ressurreição, agora

Que os cristãos, mesmo em situações difíceis e complexas da sociedade actual, não se cansem de proclamar com a vida que a ressurreição de Cristo é fonte de esperança e de paz 1. A ressurreição, agora A ressurreição não é nem um acontecimento de um passado longínquo, quase dissolvido nas brumas da lenda e do mito, nem um sonho de futuro sem consistência. A ressurreição é de agora: a de Cristo e a dos cristãos. Quero com isto dizer que só faz sentido acreditar na ressurreição se esta fizer parte do meu «agora» e do «agora» do mundo. Este «agora» da ressurreição não é evidente, sem dúvida. Evidente é o poder da morte, nas suas manifestações mais diversas, na minha vida e no quotidiano de todos. E, no entanto, aí está Bento XVI chamando à esperança os cristãos e quem mais o queira escutar – porque «fomos salvos na esperança». Que fazer, pois, desta esperança, quando a morte se apresenta vestida com as roupas da moda? Ou cedemos ao poder da morte e recusamos a salvação – dada «na esperança» – ou acolhemos o poder da ressurreição agindo no mundo e, na esperança, somos salvos. Não é fácil. Há «situações difíceis e complexas da sociedade actual» que mais depressa empurram para uma desesperançada rendição ao poder sedutor da morte do que para um alegre acolhimento da debilidade da ressurreição. 2. Anunciar a ressurreição na cidade dos homens Como escrevia um Autor dos primeiros séculos do Cristianismo, nós, cristãos, não vivemos em cidades separadas, não usamos roupas diferentes, não falamos uma língua diferente, somos cidadãos de qualquer cidade... e em todas somos estrangeiros: vivemos já a ressurreição que nos foi dada em Cristo e, por isso, não podemos deixar de ser estranhos – «estrangeiros» – numa cidade onde impera o poder da morte. Mas, apesar da «estranheza» que nos habita, a cidade dos homens é a nossa cidade. Não temos outra, e nesta cidade desejamos – esperamos – testemunhar a vitória da vida. Não nos iludimos. Sabemos que, aqui e agora, reina o poder da morte. Não desesperamos. Sabemos que a debilidade da ressurreição acaba sempre por triunfar sobre o poder da morte – por maior que seja o seu poder, a morte não tem a última palavra. Quem nos olha, nada sabendo da origem desta esperança, não pode deixar de nos considerar «estrangeiros» no meio da cidade. Em alguns casos, cada vez mais frequentes, até pode querer expulsar-nos da cidade, porque incomodamos o poder estabelecido, reinando soberano nas praças da cidade. Podemos, dizem, se assim quisermos, acreditar em fadas, desde que nos remetamos ao segredo das nossas casas e das nossas igrejas. Mas não queiramos, com os nossos contos, confundir o discurso único, oficial. Esta, porém, é a nossa cidade – por isso, não vamos a lado nenhum. As suas praças, são as nossas praças – por isso, também aí vivemos e testemunhamos o «agora» da ressurreição. E se o poder tem um discurso único, o nosso testemunho e a nossa linguagem abrem espaço para outros modos de vida, capazes de subverter o poder da morte com a debilidade da ressurreição. 3. Ressurreição, fonte de esperança e de paz Viver a ressurreição «agora» é experimentar o poder de Deus exercido de modo admirável no Crucificado. Mas, atenção! Não se confunda o poder de Deus com a nossa ideia de «poder», tão ligada ao poder da morte. No seu jogo – ódio, violência, desesperança, força, intriga, calúnia, desprezo dos mais fracos – a morte é soberana. O poder de Deus é o poder do Amor. Portanto, não se impõe, não se apropria da vontade alheia, não convence pelo espectáculo, nem vence pelo exercício da força. Pode o que pode o Amor: propõe e propõe-se, confia, despoja-se, vai até ao dom da própria vida. Por ser um poder assim, venceu e vence continuamente a morte, pois esta não sabe jogar o jogo do Amor. Eis porque a ressurreição de Cristo, vivida «agora», é fonte de esperança e paz. Esperança para o presente, pois afirma que a debilidade do Amor é capaz de anular as forças poderosas e omnipresentes pelas quais a morte reina como soberana do mundo. Esperança para o futuro, porque revela que a nossa vida, naquilo que tem de dom gratuito, de disponibilidade, de serviço, até mesmo de sofrimento acolhido, não se desperdiçará no vazio, não mergulhará no nada, antes encontrará em Deus a sua realização plena. E paz, pois ninguém pode viver a ressurreição sem escutar a voz do Ressuscitado: «A paz esteja convosco». Gente assim, pacificada, é um dom de Deus à nossa cidade, ao nosso mundo. Saibamos nós acolher este dom... Elias Couto


Bento XVI