Vaticano

Iraque: um ano depois, a guerra não acabou

Octávio Carmo
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Sacerdote português que acompanhou militares da GNR fala do perigo permanente e da pobreza extrema

O dia 20 de Março de 2003 ficou na história recente da humanidade como o primeiro da II Guerra do Golfo. Em vésperas do primeiro aniversário do início da guerra no Iraque, os atentados sucedem-se no país, matando indiscriminadamente soldados e civis, para um balanço trágico da ocupação militar. O Pe. Agostinho Rodrigues de Freitas é um relator autorizado da situação iraquiana, que à Agência ECCLESIA descreve como de “extrema pobreza”. O sacerdote responsável pela Capelania-Chefe da Guarda Nacional Republicana partiu para o Iraque uns dias antes do Natal, para acompanhar os militares portugueses, e recorda o que viu dos iraquianos: “aquela gente vive de uma forma paupérrima, com expressões de bastante indiferença”. À pergunta se a primeira impressão sobre este “novo” país é de choque, o sacerdote não hesita: “a pessoa fica chocada com a pobreza da população e com a tensão que está patente”. Com uma taxa de desemprego que ronda os 60% e uma crescente falta de alimentos, o povo iraquiano tem de ainda fazer face à falta de electricidade, água, comunicações, etc. Poucos ousam negar que a situação está pior do que estava antes. A este abatimento generalizado, junta-se a sensação de “perigo permanente”, que o sacerdote português viveu na pele. “Todos têm consciência de que aquele é um território de conflito, onde todo o cuidado é pouco”, recorda. A presença de tropas estrangeiras é acolhida com pouco interesse por parte da população, embora a este respeito os portugueses tenham maior capacidade para cativar os iraquianos, por conseguirem “criar uma empatia muito especial com as pessoas de outras culturas”, segundo o Pe. Agostinho. Os líderes cristãos presentes no Iraque têm manifestado o receio de que o país se torne incontrolável no futuro. "Não queremos que o Iraque se transforme numa nova Palestina, sem um Estado, Nação abandonada a si mesma e à mercê de grupos terroristas", chegaram a afirmar. As minorias cristãs no Iraque estão preocupadas com o aumento do Islamismo radical e tentam agora assegurar que o novo regime reconheça o seu estatuto, num clima de respeito e diálogo inter-religioso. João Paulo II, um dos grandes opositores a esta guerra, lembrava, no início de 2004, aos embaixadores no Vaticano que o passado de divisões a este respeito já não interessa. A sua palavra, passado um ano da Guerra que não acabou, permanece tão acutilante como sempre: “o que hoje importa é que a comunidade internacional ajude os iraquianos, que se libertaram de um regime que os oprimia, para que estejam em condições de retomar as rédeas do seu país, de consolidar a sua soberania, de determinar democraticamente um sistema político e económico segundo as suas aspirações”.


Guerra do Iraque