«Jesus de Nazaré»: Sem ressurreição, fé cristã perde sentido
Bento XVI fala em dimensão nova da realidade humana, que transcende a história
Lisboa, 10 Mar (Ecclesia) – Bento XVI afirma na sua nova obra «Jesus de Nazaré. Da Entrada em Jerusalém até à Ressurreição» que “a fé cristã fica de pé ou cai” por causa da verdade da sua doutrina sobre a ressurreição de Cristo.
“Se se suprimir isto, certamente que ainda se poderá recolher da tradição cristã uma série de ideias dignas de nota sobre Deus e o homem, sobre o ser do homem e o seu dever-ser (uma espécie de concepção religiosa do mundo), mas a fé cristã estará morta”, diz o Papa, no livro hoje publicado.
“Nesse caso, Jesus será uma personalidade religiosa falhada”, acrescenta.
Joseph Ratzinger considera que a fé na ressurreição “não contesta a realidade existente”, mas afirma “uma dimensão ulterior”, sem que isso esteja “em contraste com a ciência”.
“Só poderá verdadeiramente existir aquilo que desde sempre existiu?”, questiona, antes de declarar que “na ressurreição de Jesus, foi alcançada uma nova possibilidade de ser homem, uma possibilidade que interessa a todos”.
A obra do actual Papa refere que a ressurreição de Jesus foi “a evasão para um género de vida totalmente novo, para uma vida já não sujeita à lei do morrer e do transformar-se, mas situada para além disso – uma vida que inaugurou uma nova dimensão de ser homem”.
“Não poderá haver uma realidade inesperada, inimaginável, uma realidade nova? Se Deus existe, não poderá Ele criar também uma dimensão nova da realidade humana? Da realidade em geral?”, pergunta Bento XVI.
O texto alude mesmo a uma “mutação”, um “salto qualitativo definitivo” que passa pela “unificação do finito com o infinito, a unificação entre o homem e Deus, a superação da morte”.
“Por isso, a ressurreição de Jesus não é um acontecimento singular que possamos menosprezar e que pertença apenas ao passado, mas sim uma espécie de «mutação decisiva»”, precisa.
Bento XVI cita São Paulo (século I) para afirmar que “a ressurreição de Cristo ou é um acontecimento universal, ou não existe”, defendendo que a mesma representou a “inauguração de uma nova dimensão da existência humana”.
Para os primeiros discípulos, sublinha o Papa, “tratava-se de uma experiência absolutamente única, que ultrapassava os horizontes habituais da experiência”.
“A partir disto explica-se a peculiaridade dos testemunhos acerca da ressurreição: falam de algo paradoxal, de uma coisa que supera qualquer experiência, mas que está presente de modo absolutamente real”, indica.
Para Joseph Ratzinger, “se na ressurreição de Jesus se tratasse apenas do milagre de um cadáver reanimado”, em última análise isso não interessaria “de forma alguma”.
“Para as poucas testemunhas – precisamente porque elas próprias não conseguiam capacitar-se disso –, foi um acontecimento tão revolucionário e real, tão poderoso ao manifestar-se-lhes que toda a dúvida se desvaneceu, e elas, com uma coragem absolutamente nova, apresentaram-se diante do mundo para testemunhar que Cristo verdadeiramente ressuscitou”, prossegue.
A segunda parte de «Jesus de Nazaré» vai ser apresentada esta tarde no Vaticano, em conferência de imprensa, com a presença do cardeal Marc Ouellet, prefeito da Congregação para os Bispos, e de Claudio Magris, escritor e germanista.
Toda a obra começou a ser elaborada nas férias de 2003, antes da eleição de Joseph Ratzinger como Papa.
OC
Bento XVI