Vaticano

João Paulo II admitiu renunciar no ano 2000, mas colocou a ideia de parte

Agência Ecclesia
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Testamento do Papa fala no atentado de 1981, na guerra fria e agradece a toda a Igreja e aos fiéis de outras religiões

João Paulo II admitiu renunciar após o Jubileu de 2000, mas colocou a ideia de parte e confiou-se à vontade de Deus, indica o testamento do Papa, hoje divulgado. O «Testamento espiritual» fala no atentado de 1981, na guerra fria e agradece a toda a Igreja e aos fiéis de outras religiões. "Espero que Ele (o Senhor) me ajude a reconhecer até quando devo continuar este serviço, ao qual me chamou no dia 16 de Outubro de 1978", refere uma passagem do documento, na qual João Paulo II reflectia sobre o seu ministério de Papa. No ano 2000, numa das secções do seu testamento de 15 páginas (algumas com vários parágrafos, outras apenas com algumas linhas), redigido ao longo dos anos do seu pontificado, o Papa revelou que rezava para ter "a força necessária" para continuar a sua missão enquanto líder da Igreja Católica. "Segundo os desígnios da providência foi-me concedido viver no século difícil que agora termina e agora, no ano em que a idade da minha vida chega aos oitenta anos, é preciso perguntar se não chegou a altura de repetir com Simão da Bíblia nunc dimittis", escreve o Papa, confiando-se assim de forma incondicional à vontade de Deus - significado principal desta oração rezada todos os dias pela Igreja na Liturgia das Horas, nas Completas. O testamento foi escrito em várias etapas, começando a 6 de Março de 1979 e concluindo-se a 18 de Março de 2000, num total de oito partes. Desde o primeiro momento, o Papa tem presente o pensamento da morte e quer preparar-se para ela. Entre outras revelações, João Paulo II afirma ter considerado a possibilidade de que o seu funeral decorresse na Polónia, mas deixou essa decisão nas mãos do Colégio Cardinalício já no ano de 1985. O Papa agradece à Divina Misericórdia, que o salvou “de modo milagroso da morte” no atentado que sofreu a 13 de Maio de 1981. O Papa descreveu o século XX como um "século difícil" e agradece ainda à Providência pelo facto de a Guerra Fria "ter acabado sem um violento conflito nuclear". Segundo o documento, João Paulo II não deixou bens materiais e pediu que todas as suas notas pessoais fossem queimadas. "Quanto às coisas de uso quotidiano das quais me sirvo, peço que as distribuam como for mais oportuno", concluiu. De todas as vezes que alterou o seu testamento, o falecido Papa disse sempre que estava preparado para a morte. No testamento são mencionados apenas dois nomes de pessoas ainda vivas: o do seu secretário pessoal, o arcebispo polaco Stanislaw Dziwisz, e o do Rabino de Roma, Elio Toaf, que o recebeu na sinagoga da capital italiana em 1986. A ambos dedicou palavras calorosas e agradecimentos pelos distintos papéis que desempenharam no seu pontificado. São igualmente lembrados no testamento os pais e os irmãos do Pontífice. O Papa agradeceu à Igreja Católica e às outras religiões pelo apoio que lhe deram durante a sua vida, na parte final do seu testamento, referindo ainda os artistas, cientistas, políticos e ao mundo.


João Paulo II