O Papa pediu aos Bispos angolanos que tenham como prioridade reconstruir as comunidades destroçadas pela guerra
João Paulo II pediu hoje aos Bispos de Angola que tenham como prioridade “reconstruir as comunidades destroçadas pela guerra”, assegurando que "hoje mais do que nunca, Angola necessita de paz com justiça, precisa de reconciliação, repelindo qualquer tentação de violência".
"A todos recordo que esta não é capaz de resolver os problemas da humanidade, nem ajuda a superar os contrastes, é preciso ter a coragem do diálogo”, disse o Papa num longo discurso em português.
Os Bispos católicos de Angola e São Tomé e Príncipe estão em visita “ad limina” ao Vaticano de 20 a 27 de Outubro, tendo sido recebidos pelo Papa ao longo destes dias em audiências separadas. A última visita do episcopado angolano a Roma realizara-se em 1997.
O Papa assegurou aos prelados que “esta é hora duma profunda reconciliação nacional”, pedindo que a Igreja Católica, trabalhe para oferecer às gerações futuras um país onde convivam e colaborem fraternalmente todos os componentes da sociedade.
“A Igreja, que sofreu enormemente sob os conflitos, deve manter a sua vigorosa posição a fim de proteger os indivíduos que não têm voz. Exorto-vos a trabalhar incansavelmente pela reconciliação e a dar testemunho autêntico de unidade mediante gestos de solidariedade e apoio às vítimas de décadas de violência”, acrescentou.
Feitiçaria e SIDA
Entre as outras questões apresentadas pelo discurso papal estava a preocupação com as “concepções ancestrais como a feitiçaria ou o amigamento”, recomendando aos Bispos que se esforcem por oferecer uma adequada “iniciação cristã”.
“Não poupem esforços para fazer com que os baptizados assimilem plenamente a mensagem evangélica e a ela conformem a sua vida, sem terem de renunciar aos autênticos valores africanos”, disse João Paulo II.
O Papa manifestou-se contra “costumes tradicionais pouco favoráveis ao matrimónio monogâmico”, elencando o amigamento, a poligamia, o divórcio e a prostituição. “Várias destas actividades imorais levam à propagação do HIV/SIDA, uma epidemia que não pode ser ignorada pelas inúmeras vítimas ceifadas e pela grave ameaça que constitui para a estabilidade social e económica da nação”, referiu.
“Os diversos programas educativos, tanto religiosos como seculares, hão-de realçar o facto de que o amor verdadeiro é um amor casto, e que a castidade nos oferece uma sólida esperança de superar as forças que ameaçam a instituição da família e, ao mesmo tempo, de libertar a humanidade deste flagelo devastador que é a SIDA”, acrescentou.
Presença na sociedade
Para João Paulo II, a missão da Igreja Católica em Angola passa pela atenção às jovens gerações, possibilitando que estas sejam formadas e preparadas para as responsabilidades que as esperam. Nesse sentido, destacou a importância das escolas católicas, do ensino moral e religioso, “inclusivamente nas escolas públicas”, e da Universidade Católica de Angola.
A nível interno, o Papa espera que os prelados apostem na formação dos diferentes agentes da evangelização, em particular os catequistas e os padres.
“Como primeiros responsáveis da Igreja, assegurai-vos de que todos os candidatos ao sacerdócio sejam atentamente escolhidos e formados para poderem depois entregar-se totalmente à sua missão”, frisou.
A visita “ad limina” inclui três partes distintas: a primeira é o encontro dos bispos com o Papa; na segunda parte, os bispos rezam nos túmulos dos santos Pedro e Paulo em Roma; a terceira parte oferece a oportunidade aos bispos de se encontrarem com os colaboradores do Papa, Prefeitos de Congregações vaticanas e Conselhos Pontifícios.
As visitas deveriam acontecer cada 5 anos e o seu nome vem da expressão latina “ad Limina apostolorum” (aos túmulos dos apóstolos), em referência à peregrinação aos túmulos dos apóstolos que os bispos devem fazer.
“Quando voltardes, dizei aos vossos sacerdotes, consagrados e consagradas, catequistas e demais fiéis leigos que o Papa reza por eles e encoraja-os a enfrentarem os desafios colocados pelo Evangelho, semente de vida nova para as vossas nações”, foi a mensagem que João Paulo II deixou aos povos de Angola e São Tomé.