Apesar das crescentes e visíveis dificuldades de saúde, João Paulo II apareceu hoje de manhã à sua janela, na Praça de São Pedro, no Vaticano, para abençoar os fiéis.
O Papa mostra assim que não desiste de dar a cara, apesar do seu sofrimento. Esta manhã, como tinha acontecido no Domingo de Páscoa, ainda fez uma tentativa de dizer algumas palavras, sem sucesso: um assistente aproximou um microfone, mas rapidamente se percebeu que João Paulo II não conseguiria falar. Apesar disso, fez vários gestos de bênção.
Este esforço foi sentido pelos milhares de fiéis, que ovacionaram o Papa. O anúncio de que este iria aparecer foi divulgado através dos ecrãs gigantes dispostos na Praça de São Pedro.
Uma mensagem de saudação do Papa foi lida por um dos seus colaboradores, em italiano, alemão e polaco e, no final, rezou-se o Pai Nosso em latim. João Paulo II permaneceu quatro minutos à janela, escutando a mensagem às crianças de Milão, a oração e uma saudação em polaco aos seus compatriotas, a quem agradeceu “as expressões de benevolência e o acompanhamento na oração”.
Após o sofrimento evidente do Papa no dia de Páscoa e da sua ausência na tradicional saudação da “segunda-feira do Anjo”, feriado em Itália, havia grande expectativa em torno do que aconteceria hoje, aumentada pelos rumores insistentes de que uma nova operação seria inevitável.
Hoje é o dia em que habitualmente o Papa se reúne com os peregrinos na Audiência Geral, suspensa desde que foi submetido a uma traqueotomia, a 24 de Fevereiro. A convalescer da operação e debilitado pela progressão da doença de Parkinson, João Paulo II não abdica, contudo, de abençoar os fiéis com um gesto.
Nada a esconder
As imagens cada vez mais presentes do Papa em sofrimento causam vários tipos de reacção em todo o mundo, da comoção à preocupação com o futuro da Igreja Católica. Numa breve nota editorial assinada por Umberto Santarelli, o jornal do Vaticano “L’Osservatore Romano” assinalou que o Papa “continua a governar a Igreja sem ocultar seus sofrimentos".
"Esta Páscoa de 2005 aparece claramente marcada também pela participação afectuosa de todos nos sofrimentos de João Paulo II", diz o artigo.
O Papa, considera o jornal do Vaticano, "não oculta o quanto lhe custa permanecer afastado (das celebrações)”.
“Tanto a participação como o sofrimento são sinais preciosos do carisma que distinguem o modo com o qual Karol Wojtyla exerce seu ministério petrino: com uma total veracidade humana, que sem diminuir em nada a grandeza e talvez inclusive os desconfortos do magistério, consegue sempre conservar as notas confidenciais do dialogo cordialmente amigável no que se pode confiar sem reservas"; escreve-se no Osservatore Romano.
Segundo a agência italiana Ansa, não há neste momento nenhum tipo de “alarme” no Policlínico Gemelli relativo a um possível novo internamento do Papa. Os médicos que acompanharam João Paulo II nas duas hospitalizações mais recentes consideram que a sua situação de saúde é “tranquila”. O professor Renato Buzzonetti, médico pessoal de João Paulo II, declarou ao diário La Repubblica estar "razoavelmente tranquilo sobre a evolução pós-operatória do Papa".
A recuperação, de facto, é lenta e persistem as dúvidas quanto aos seus próximos compromissos.
De acordo com a imprensa italiana, o Papa está com graves problemas de deglutição e são necessários exames que só podem ser feitos no hospital. Os jornais Corriere della Sera e La Repubblica acrescentam que a hospitalização poderia acontecer na próxima semana, mas a decisão ainda não estará tomada. Il Messagero diz que o regresso ao hospital só acontecerá se surgirem complicações mais graves.