No discurso que proferiu, após ter recebido o galardão, o secretário-geral da ONU lançou um apelo à União Europeia, no sentido de esta abrir as portas aos imigrantes
O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, recebeu na manhã de hoje, em Bruxelas, o Prémio Sakharov 2003 do Parlamento Europeu, que distinguiu os funcionários das Nações Unidos mortos em serviço e, em especial, Sérgio Vieira de Mello.
A assembleia plenária do Parlamento Europeu reuniu-se em sessão solene para receber Kofi Annan, que estava acompanhado de uma delegação de funcionários das Nações Unidas feridos em atentados- “os mártires da paz” - e de familiares das vítimas.
Os deputados da eurocâmara e personalidades anteriormente já distinguidas com o mesmo prémio receberam com um longo aplauso a viúva de Vieira de Mello, Annie, que não conseguiu conter as lágrimas, e seu filho Laurent.
O prémio hoje entregue foi instituído pelo Parlamento Europeu, para homenagear personalidades que se tenham distinguido no labor em favor da paz e da defesa dos direitos humanos.
ABRIR AS PORTAS
No discurso que proferiu após ter recebido o galardão, Kofi Annan lançou um apelo à União Europeia no sentido de esta abrir as portas aos imigrantes. Falando das razões pelas quais a Europa precisa de uma estratégia de imigração, o secretário-geral da ONU assegurou que “um dos maiores testes a uma União Europeia alargada, nos próximos anos e décadas, será a maneira como gere o desafio da imigração.”
Assinalando que não há nenhuma dúvida de que as sociedades europeias precisem de imigrantes - sem a imigração, a população dos Estados membros da UE diminuirá, passando de cerca dos actuais 450 milhões para menos de 400 milhões, em 2050 -, Kofi Annan vincou que “a imigração é uma parte essencial da solução.”
“Não seria sensato da parte dos europeus fechar-lhes as portas. Isso não só prejudicaria as suas perspectivas económicas e sociais a longo prazo, como levaria cada vez mais pessoas a tentarem recorrer a estratagemas para entrar nos seus países, quer pedindo asilo político, quer procurando obter a ajuda de contrabandistas, arriscando-se a morrer ou a ficarem feridas por, num acto de desespero, utilizarem o transporte clandestino em barcos, camiões, comboios ou aviões”, apontou o secretário-geral da ONU.
O prémio Sakharov 2003 manifestou ainda a esperenaça de que a recém-criada Comissão Mundial sobre as Migrações Internacionais, possa ajudar a estabelecer normas internacionais e a definir melhores políticas, “tendo em vista gerir as migrações no interesse de todos.”
“Os que estão empenhados no futuro da Europa e na dignidade humana devem, por isso, tomar uma posição clara contra a tendência para fazer dos imigrantes os bodes expiatórios dos problemas sociais. Eles não querem viver à custa dos outros. Querem uma oportunidade justa para eles próprios e para as suas famílias. Não são criminosos, nem terroristas. São pessoas respeitadoras da lei. Não querem viver isolados do resto da comunidade. Querem integrar-se, mantendo, simultaneamente, a sua identidade própria”, foram as palavras sentidas de Kofi Annan.