O projecto de lei que prevê a proibição dos símbolos religiosos nas escolas francesas, aprovado pelo Senado francês na passada quarta-feira, está a ser muito mal recebido pelo Vaticano. A nova lei determina a interdição dos "sinais e vestuário que manifestem ostensivamente a pertença religiosa dos alunos".
De acordo com informações que chegam desde o Vaticano, membros de uma comissão governamental francesa esteve reunida com altas figuras da Santa Sé e da Companhia de Jesus, antes da votação na Assembleia nacional francesa, a 10 de Fevereiro.
A influente revista jesuíta “La Civilta Cattolica” faz referência a este encontro no editorial de Março, argumentando que a “lei da laicidade” não vai ajudar à integração dos Muçulmanos na sociedade francesa nem a travar “o fundamentalismo islâmico”.
Baseada no princípio da laicidade da escola e da República Francesa, a nova lei define directivas claras para actuar perante o número crescente de raparigas muçulmanas cuja cabeça surgia coberta com o véu nos estabelecimentos de ensino franceses, como pediam vários directores de escolas. Há cinco milhões de muçulmanos em França, mas o diploma também interdita a kippa judaica, o turbante dos sikh ou os crucifixos cristãos de grandes dimensões, sendo autorizados crucifixos, estrelas de David ou mãos de Fátima em tamanho pequeno e "discreto".
De acordo com o director da “Civilta Cattolica”, Pe. GianPaolo Salvini, 12 membros da “comissão Stasi” estiveram no Vaticano para auscultar a opinião da Secretária de Estado, da Congregação para a Doutrina da Fé e do Conselho Pontifício Justiça e Paz.
A revista, cujos textos definitivos são aprovados pela Secretária de Estado do Vaticano, considera “injusta e excessiva” que se proíbam as pessoas de se exprimirem através de sinais exteriores.
Na semana passada foi o próprio João Paulo II a afirmar que “seria contrário a uma liberdade bem compreendida eliminar os sinais que manifestam as crenças pessoais e comunitárias”.
Dirigindo-se aos bispos franceses da província de Besançon e da arquidiocese de Estrasburgo, o Papa sublinhou que “não se deve confundir uma laicidade bem entendida com o laicismo”.