Vaticano

Liberdade religiosa e qualidade da democracia

Elias Couto
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Intenção Geral do Santo Padre para o Apostolado da Oração – SETEMBRO

Que o direito à liberdade religiosa seja reconhecido pelos governantes de todos os povos. 1. O laicismo, inimigo da liberdade. Nas sociedades verdadeiramente livres e democráticas, o Estado respeita os diferentes modos de vida dos cidadãos, desde que estes não ponham em causa a paz social e se conservem no respeito pelo direito dos outros a viverem diferentes modos de vida, em liberdade. Numa sociedade livre, o Estado respeita os corpos intermédios (famílias, Igrejas, associações...), cria condições para os diferentes modos de vida que constituem a sociedade se exprimirem em liberdade e dá acolhimento às mudanças culturais surgidas a partir da base e solidamente estabelecidas na sociedade. A ideologia laicista, pelo contrário, pretende mudar a sociedade e os valores que a regem a partir das opções de uma «vanguarda» pretensamente ilustrada e única capaz de libertar a sociedade das amarras que a prendem a um passado dito de ignorância e opressão. Fá-lo ao arrepio de qualquer consenso socialmente estabelecido, em nome de uma auto-atribuída superioridade «progressista». Visceralmente anti-religiosa, empenha-se em expulsar a religião da praça pública, pretendendo que aquela se limite ao âmbito estritamente privado dos cidadãos, tratados como indivíduos e não como pessoas. Deste modo, acaba por negar na prática a liberdade religiosa que formalmente diz respeitar – pois a liberdade religiosa inclui o direito a manifestar e viver em público a fé. E como o respeito pela liberdade religiosa é a pedra de toque de toda a verdadeira liberdade, a ideologia laicista revela-se inimiga da liberdade e, portanto, da verdadeira democracia. 2. Laicismo anticristão. Sintomas são muitos. Não é apenas a rejeição do candidato a Comissário Europeu Rocco Buttiglione, no Parlamento Europeu. Não são apenas certas leis que, no campo da educação, põem em causa o «estilo de vida» dos cristãos, e, portanto, a liberdade para viverem a sua fé (limitando, por exemplo, o direito dos pais a escolherem o estilo de educação que desejam para os seus filhos). É, sobretudo, a difusão consciente e continuada de preconceitos e imagens distorcidas dos cristãos – ao ponto de a Santa Sé denunciar, numa conferência da Organização para a Cooperação e a Segurança na Europa, o anticristianismo cada vez mais activo em muitos países; e ter solicitado, na mesma conferência, que este anticristianismo seja colocado ao mesmo nível do anti-semitismo ou do anti-islamismo. Esta advertência não é descabida. Na verdade, quando se trata de palavras ou actos que possam ser interpretados como racistas, anti-semitas, anti-islâmicos, homofóbi-cos..., a comunidade bem pensante e culturalmente correcta entra num alarido. Um exemplo: surgiram notícias de que, na prisão de Guantánamo, os militares dos Estados Unidos tinham ofendido o Corão, o livro sagrado do Islão. Tais notícias correram o mundo em poucas horas e deram origem a condenações inflamadas de inúmeros defensores dos direitos humanos. Entretanto, uma associação homossexual leva a cabo, na Basílica de Notre-Dame, em Paris, um pseudo-casamento entre duas lésbicas, presidido por um falso padre – onde estão as notícias e os comentários escandalizados por tal profanação? O presidente do governo autónomo da Catalunha faz-se fotografar, à saída da Igreja do Santo Sepulcro, em Jerusalém, a fazer uma paródia usando uma coroa de espinhos – alguém, fora de Espanha, noticiou este comportamento intolerável de um político com tais responsabilidades? 3. Defender a liberdade religiosa. Reconhecer o direito à liberdade religiosa não é apenas uma questão de exarar na lei esse direito – isso até as ditaduras fazem. Implica também uma atitude de vigilância, por parte das sociedades, para que os crentes não sejam vítimas de preconceitos, sobretudo se promovidos pelo Estado, através de políticas enfermas de laicismo ignorante e intolerante. Elias Couto


Bento XVI