Vaticano

Líderes mundiais no palco da 2ª Guerra Mundial

Agência Ecclesia
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Comunidade de Sant'Egídio organiza encontro entre religiões e culturas

Começou este Domingo o encontro os líderes das grandes religiões do mundo, os chefes de Estado, homens e mulheres de cultura. A Polónia foi o palco escolhido pela Comunidade de Sant’Egídio para, 70 anos depois do início da 2ª Guerra Mundial e 20 anos depois do fim da «Cortina de Ferro», reflectir sobre «Religiões e Culturas em diálogo».

“A dignidade humana é o ponto de partida para o futuro da Europa”, afirmou Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia (CE), este Domingo, no início do encontro que vai decorrer em Cracóvia e Auschwitz, cidades da Polónia. Dirigindo-se aos participantes Durão Barroso apontou que os principais valores da Europa devem “assentar na promoção do desenvolvimento total de todos os seres humanos”.

Liberdade, direitos humanos, tolerância, solidariedade, luta contra a pobreza e protecção do meio ambiente são valores universais “básicos para o modelo social europeu”.

O Presidente da CE lembrou o aniversário da 2ª Guerra Mundial, assinalando ter sido precisamente na Polónia que começou e o facto de “nenhum outro país ter sentido de tal forma as dores, os sofrimentos e as atrocidades de guerra”.

A União Europeia foi criada para “assegurar que estas atrocidades nunca mais aconteçam”, lembrou Durão Barroso. O Presidente da CE lembrou ainda o falhanço do “sonho de liberdade” nos países da Europa Oriental depois do final da guerra e o papel fundamental que João Paulo II teve na Europa para que “hoje se possa respirar a dois pulmões”.

Durão Barroso lembrou ainda a importância da Solidariedade, movimento sindical polaco fundado em Setembro de 1980, originariamente liderado por Lech Wałęsa, como “o primeiro movimento democrático da Europa Oriental”. 

Marco Impagliazzo, Presidente da Comunidade de Sant’Egídio, acolheu os delegados e “todas as pessoas que, vindas de tantos países diferentes rezam juntas pela paz”.

Foram recordadas palavras de João Paulo II em Assis, em 1986. “A paz está aberta a todos”, recordou Marco Impagliazzo, indicando que sem o Papa polaco, “sem a sua profecia, sem a sua iniciativa, nós não estaríamos aqui hoje, o caminho de paz, de diálogo e de unidade entre os cristãos, entre homens e mulheres das religiões mundiais não seria profundo”.

O Arcebispo de Cracóvia, o Cradeal Stanisław Dziwisz, presidiu a uma celebração litúrgica ecuménica no primeiro dia do encontro onde lembrou o “trágico aniversário da 2ª Guerra Mundial” e chamou o campo de concentração de Auschwitz-Birkenau um “símbolo perturbador desses anos negros”.

O país onde decorre o encontro dos líderes religiosos e chefes de Estado “experimentou a humilhação da ideologia comunista que, durante décadas tentou dominar a consciência do homem, esmagar a sua dignidade, retirando-lhes a liberdade, prometendo construir o céu na terra”, indicou o Cardeal Dziwisz. Esta ideologia, acrescentou, “deixou marcas de ruína material e espiritual”.

Também o Bispo Metropolita Serafim, da Igreja Ortodoxa da Roménia, convidou os presentes na celebração ecuménica a serem “trabalhadores de paz” para que possam “transfigurar, pelo poder da Ressurreição, todo o sofrimento e miséria do mundo”.

Na sua alocução durante o encontro, o Cardeal Paul Poupard, Presidente emérito do Conselho Pontifício para a Cultura afirmou ser missão da Europa “construir um novo humanismo” para que “as promessas de uma renovada vontade seja mais forte que as sementes do mal”. O Cardeal emérito recordou a actual crise cultural que a Europa atravessa.

“Que objectivos devemos perseguir se não sabemos mais quem é o homem? Porque é o homem, e apenas ele que pode abrir caminhos de futuro e convidar a um horizonte sem fronteiras, a um amor sem barreiras, apesar de ele duvidar das suas razões de vida e de esperança”.

“Esta missão é encarada de forma inteligente e corajosa pelo diálogo intercultural e inter-religioso”, indicou o Cardeal, que “encara as promessas de renovação como mais fortes que as da morte”. Poupard afirmou que 20 anos depois de “tantas decepções e frustrações somos chamados a unir forças para construir um novo humanismo”.

Antes de o encontro organizado pela Comunidade de Sant’Egídio ter iniciado, Bento XVI recebeu os representantes da Comunidade onde temas como pobreza no mundo e a cura da Sida na África foram abordados. Um comunicado da Comunidade destaca que a conversa permitiu “uma série de intercâmbios sobre os temas do diálogo ecumênico e inter-religioso”.

O encontro organizado pela Comunidade de Sant’Egídio vai decorrer até Terça-feira, dia 8, e tem por objectivo reviver o “espírito de Assis”, marcado por João Paulo II no dia 27 de Outubro de 1986, na cidade de São Francisco.

Para além do Presidente da Comissão Europeia, espera-se ainda a participação de Michel Camdessus, antigo director do Fundo Monetário Internacional, o Grão-Duque Henri de Luxemburgo, Yona Metzger, rabino-chefe de Israel, o Cardeal Walter Kasper, presidente do Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos, Ahmad Al-Tayyeb, reitor da Universidade Al-Azhar (Egipto), Jean-Arnold de Clermont, presidente da Conferência das Igrejas da Europa (CEC) e o metropolita ortodoxo German, do Patriarcado de Moscovo.

O programa termina com uma peregrinação ao campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, como “sinal de reconciliação e de paz, para manifestar uma rejeição radical da violência e da guerra como instrumentos para a solução dos conflitos internacionais”.



Comunidade de Sant'Egidio