Enquanto decorre em Portugal o Capítulo Geral dos Missionários do Espírito Santo, a Agência ECCLESIA apresenta histórias de missão de todo o mundo
A missão no Paquistão foi particularmente dificultada pelas guerras no Afeganistão e no Iraque, dado que os religiosos são ocidentais e foram conotados com os “americanos”.
O Ir. Marc Tyrant, médico, relata à Agência ECCLESIA que “a primeira reacção foi considerar todos os ocidentais como americanos, principalmente por parte dos grupos terroristas que pululam no Paquistão”.
Desde 1977 que há Espiritanos neste país predominantemente muçulmano e a sua vida missionária é sobretudo de testemunho. A atmosfera muçulmana requer um constante estado de alerta simplesmente para sobreviver e oferece situações invulgares aos missionários.
“A mim, por exemplo, aconteceu-me que, quando a França se opôs à invasão do Iraque, passei a ser um amigo dos muçulmanos, nas ruas as pessoas diziam umas às outras que comigo estava tudo bem, eu era francês. Contudo, quando houve a lei do véu islâmico, a França tornou-se inimiga do Islão e era preciso ter atenção antes de dizer que era francês”, relata o Ir. Tyrant.
A lição é simples: apesar das distâncias, os missionários sabem que em muitas situações representam as políticas ocidentais e é preciso afastar essa imagem. Nesse sentido, a missão dos Espiritanos no Paquistão é muito particular, trabalhando junto de duas minorias.
Os religiosos têm uma paróquia em Rahim Yar Khan, ao serviço dos cristãos Punjabi que estão no mais baixo nível da escala social. Isto proporciona uma base para uma abordagem missionária aos Marwari Bhils, um povo nómada com traços de espiritualidade hindu.
“Estes grupos são considerados pelas outras pessoas como muito inferiores: não se come nem se bebe com eles, por causa do sistema de castas – mesmo que o Islão não reconheça esta distinção”, explica Marc Tyrant.
Apesar desta opção preferencial, o diálogo com o Islão não é de todo esquecido. O nosso entrevistado assume que, ao trabalhar como médico, abre pontes para um contacto mais estreito e de confiança entre todos: “trabalho com muçulmanos, tendo formado um projecto contra a tuberculose, e servimos toda a população”.
“Só assim podemos mostrar que os cristãos que vão ao Paquistão não querem combater o Islão, mas servir todos, especialmente os mais pobres, que é algo que os muçulmanos compreendem bem, porque este serviço é um dos deveres da sua religião”, conclui o missionário.
Os novos caminhos da Missão católica, mais aberta ao diálogo e menos centrada nos números das conversões, estão em discussão no Capítulo Geral dos Espiritanos, que está a decorrer desde o dia 20 de Junho, e até 17 de Julho, no seminário da Torre d´Aguilha.