Vaticano

Muitas horas à espera para o adeus

Diário do Minho
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A multidão, maioritariamente italianos, não parece ter ouvido os repetidos apelos nas últimas 48 horas de responsáveis em Roma para que as visitas à câmara ardente fossem espaçadas ao longo dos próximos três dias. Milhares de pessoas continuavam ontem à noite a engrossar a longa fila de quilómetro e meio em direcção à basílica de São Pedro para se despedirem de João Paulo II, cujo corpo está em câmara ardente. Três horas depois da abertura da Basílica ao publico, e quando milhares de pessoas tinham já prestado a última homenagem ao Papa polaco, a fila de um quilómetro e meio conti-nuava a crescer. Apertados entre duas filas de barreiras de metal, desde a porta da Basílica de São Pedro, a fila composta por fiéis e turistas seguia ao longo de toda a Praça do Vaticano e de praticamente toda a Via della Conciliazone. O cordão humano virava depois à esquerda, seguindo mais de cem metros pela Via della Transpontina, antes de voltar novamente à esquerda e continuar durante mais de 600 metros ao longo de todo o Burgo de Sant’Angelo. De um dos lados da nave central, milhares de pessoas procuravam o fim da fila, seguindo da parte de fora ao longo das barreiras e, quando estas se esgotaram, ao longo de frágeis fitas amarelas da polícia italiana. A multidão progredia à lenta velocidade de 100 metros por hora. Na prática, tal significa que quem se junta à já longa fila terá que esperar entre 10 e 15 horas para percorrer o quilómetro e meio que o separa das portas da Basílica. Dez a quinze horas para, depois de entrar na Basílica, caminhar até ao corpo de João Paulo II, benzer-se ou não, e sem parar, sair por uma das portas laterais. A partir do momento em que se entra para a fila e se fica ladeado pelas barreiras metálicas, pode esperar-se muitas horas sem água, comida ou mais importante ainda, casas de banho. Daí que se tenha tornado cenário comum a policia a retirar da fila de espera - para prestar assistência - várias pessoas que se sentem mal, depois de longas horas em pé. Muitos dos que ocupam lugar na fila parecem saber as horas de espera que os aguardam e dizem-se preparados, admitindo até que essa é a sua «provação e devoção», como explicou Arturo, um italiano que chegou ontem de comboio do sul do país. Como muitos, chegou sem hotel marcado, sem saber onde ficar, mas admite poder até vir a recorrer a uma das muitas camas instaladas pelas autoridades italianas em estádios, incluindo o Olímpico, pavilhões desportivos e centros de congressos. Muitos outros fiéis, turistas ou curiosos continuavam à procura do fim da fila - para se juntarem aos que aguardavam a sua vez de se despedir de João Paulo II - desconhecendo as longas horas de espera. Uns levam bebés de colo, outros, idosos, caminham com maior dificuldade e outros ainda optam por passar o tempo em cânticos e oração. Responsáveis policiais admitem que, apesar de alguns preparativos e de já se saber que haveria grande afluência, «ninguém esperava isto».

João Paulo II