Vaticano

Mulheres no cinema - precisam-se

Margarida Ataíde
...

Entre a comentada falta de inspiração que marca os últimos tempos no cinema, em que se têm multiplicado os ambientes de terror, as comédias mais tolas e alguns filmes para crianças para consumir tão voraz e indigestamente como as pipocas que as levam (ou aos pais?) a preterir parques e jardins, os “temas†femininos têm vindo a procurar o seu lugar. Só este ano, estrearam dois grande êxitos de bilheteira, “O Sexo e a Cidade†e “Mamma Mia!â€, vindo agora um terceiro a caminho – “Mulheres!â€. Com mais ou menos música, mais ou menos graça maior ou menor versatilidade – visto que “Mamma Mia!†continua a pontuar os índices de bilheteira já numa sub-versão cinematográfica – a karaoke -, qualquer dos três aponta baterias ao alvo feminino numa tendência determinada pelos índices de mercado: a mulher que detém o poder de compra e de decisão para que dela se possa esperar o retorno financeiro do investimento num filme. Uma expectativa lícita e talvez não criticável quando, se alheados dos modelos apresentados, reconhecemos a graça de alguns tiques femininos caricaturados em “O Sexo e a Cidadeâ€; quando nos deliciamos ao ritmo ou evocamos uma época e um lugar com “Mamma Mia!â€. Porém, tão inevitável como uma ou duas gargalhadas, é questionarmo-nos sobre o alcance deste tipo de aposta. Que mulher retrata este género de filme? Uma questão que, se não se colocou à primeira nem à segunda, é obrigatória neste “Mulheres!â€, um filme escrito e realizado no feminino e onde, em duas horas de projecção não se vê um homem. Sendo aquele em que o já desvanecido papel masculino desaparece por completo, continua a ser o filme onde se torna a insistir num retrato feminino irreal e redutor. É verdade que o cinema tem nas mulheres um bom alvo, mas era útil que, por detrás dos investimentos, do papel, das câmaras e dos distribuidores, se refinasse o que se procura: Mulheres à séria! ... e com graça, porque não?


Cinema