Na linha da Frente
Para que os sacerdotes, unidos ao Coração de Jesus, sejam sempre verdadeiras testemunhas do amor providente e misericordioso de Deus. [Intenção do Santo Padre para JUNHO]
Um ministério sempre no fio da navalha
Ao terminar o Ano Sacerdotal (2009-2010), o Papa Bento XVI afirmava: «Precisamente neste ano de alegria pelo sacramento do sacerdócio, vieram à luz os pecados dos sacerdotes –sobretudo o abuso contra crianças, no qual o sacerdócio, enquanto serviço da solicitude de Deus em benefício do homem, se transforma no contrário» (Homilia, 11 de junho de 2010). As acusações de pedofilia –quer correspondendo a factos, quer não –lançaram um manto de suspeição sobre todos os sacerdotes católicos, prejudicaram seriamente a missão de todos e permitiram um ataque sem precedentes ao Santo Padre e à Igreja. Isso, porém, é insignificante, se comparado com o sofrimento infligido às vítimas dos sacerdotes abusadores, sobretudo por vir de onde menos seria de esperar: de homens a quem foram confiadas as realidades mais santas da vida da Igreja, a quem o próprio Cristo Se confiou e confia, todos os dias, nos sacramentos e, de modo especialíssimo, no sacramento da Eucaristia. É impossível, a partir da fé eclesial, não descobrir nestes factos muito mais do que uma patologia comportamental ou tratá-los apenas como uma questão criminal a pedir a justa punição dos culpados. É necessário ir mais fundo e perceber aqui a ação do maligno, que não desiste de investir contra a Igreja de Cristo, tentando destruir o sacerdócio, «para que, em definitivo, Deus seja posto fora do mundo» (Bento XVI, Homilia citada).
A virtude da oração
A infidelidade de alguns sacerdotes não é motivo para ficar paralisado ou para descrer da graça de Deus. Sem que tal sirva de justificação para nada, é possível olhar o sucedido, à luz da fé, «como um serviço de purificação, um serviço que nos lança para o futuro e faz agradecer e amar muito mais o grande dom de Deus» (Bento XVI, Homilia citada). Juntamente com este dom –o sacerdócio – Deus dá sempre as virtudes necessárias para o levar adiante. De entre tais virtudes, cabe destacar a da oração. Esta deve ser um «modo de vida» para qualquer cristão, mas ainda mais para os sacerdotes –precisamente porque, graças ao ministério que lhes foi confiado, estão sempre na linha da frente na luta da Igreja contra o maligno. E não uma oração qualquer, antes a grande oração de intercessão, a oração oficial da Igreja, na qual o sacerdote se une de modo expressivo ao próprio Cristo, «sempre pronto a interceder» por cada um dos seus irmãos e por toda a humanidade. Ao mesmo tempo, uma oração humilde e perseverante, de quem sabe não ser capaz de levar por diante, apenas com as próprias forças, o dom recebido e o combate a que foi chamado.
Unidos ao Coração de Cristo
Ao encerrar o Ano Sacerdotal, Bento XVI colocou a vida do sacerdote sob o signo do Coração de Jesus, cuja linguagem «fala sobretudo de Deus como pastor dos homens e, deste modo, manifesta-nos o sacerdócio de Jesus, que está radicado no íntimo do seu Coração; indica-nos assim o perene fundamento e também o critério válido de todo o ministério sacerdotal, que deve estar sempre ancorado no Coração de Jesus e ser vivido a partir dele» (Homilia citada). Porquê? Porque «Deus quer que nós, como sacerdotes, num pequenino ponto da história, compartilhemos as suas preocupações pelos homens. Como sacerdotes, queremos ser pessoas que, em comunhão com a sua solicitude pelos homens, cuidamos deles e lhes fazemos experimentar concretamente esta solicitude de Deus» (Homilia citada). Ora, tal só pode acontecer a partir da fonte da qual brota esta solicitude de Deus, como água viva: «Do lado trespassado do Senhor, do seu Coração aberto brota a fonte viva que corre através dos séculos e faz a Igreja». E é a esta fonte que o sacerdote deve acorrer, se deseja comunicar vida aos outros, se deseja dar a água da vida a um mundo sedento de Deus, mesmo quando o ignora.
O Papa Bento XVI pede-nos orações para que os sacerdotes sejam testemunhas do amor providente e misericordioso de Deus. Sejamos generosos nesta oração, tendo diante de nós o Coração de Cristo, símbolo do Amor que Deus é e que, em Jesus, se manifesta à medida daquilo que cada ser humano está chamado a ser. Rezemos sobretudo para que os sacerdotes sintam o desejo de realizar na sua vida este amor, a santidade, que é a «medida alta da vida cristã comum» (João Paulo II, Novo millennio ineunte, 31).
Bento XVI