Não dar a última palavra à violência Elias Couto 02 de Novembro de 2006, às 15:43 ... Que cessem todas as formas de terrorismo, em todo o mundo. (Intenção Geral do Santo Padre para o mês de NOVEMBRO) Comentário 1. Não justificar o injustificável. Terrorismo, nesta reflexão, tem o significado de: uso de violência fÃsica, de modo indiscriminado, contra pessoas indiscriminadas. Para o terrorista, todas as pessoas são alvos potenciais ou efectivos; todas as formas de violência são legÃtimas; quanto maior o medo, maior o sucesso. Tendo estes elementos como referência, podemos falar, não de diversos tipos de terrorismo, mas de terrorismo praticado por agentes diferentes: há Estados ter-roristas (veja-se a Coreia do Norte, caso tÃpico de um Estado terrorista contra o próprio povo); há organizações terroristas (como o tristemente célebre Sendero Luminoso, no Peru, ou a actualÃs-sima Al-Qaeda); há terroristas «em nome individual» – embora quase sempre procurem a «capa» de uma ideologia ou organização. Dependendo dos meios ao dispor e dos objectivos, as acções dos diferentes protagonistas do terrorismo atingem maior ou menor número de pessoas e adqui-rem caracterÃsticas próprias: os fundamentalistas islâmicos que optam pelo terrorismo têm um modo de agir e de justificar as suas acções diferente daquele protagonizado por organizações como a ETA. Importa, em qualquer caso, não cair na armadilha que os terroristas quase sempre lançam à s suas potenciais vÃtimas: aceitar algum princÃpio de justificação para os seus actos – ou seja, tornar justo o injustificável. Quem diz: «Eu condeno o terrorismo, mas...», já está a ceder ao argumento terrorista e a abrir as portas à sua justificação. 2. Não ignorar as causas. Não se nasce terrorista nem se acorda terrorista de um dia para o outro. Há, certamente, causas que levam alguém a optar por agir assim contra os seus semelhan-tes ou a aderir a organizações deste tipo: nuns casos, são motivos ideológicos, noutros, religio-sos, noutros, a situação de opressão ou de miséria, aliada a um dos anteriores... Procurar desco-brir e compreender as causas do terrorismo não significa, porém, aceitar que as mesmas possam explicar e, de algum modo, tornar menos desumanos os métodos utilizados. Significa, sobretudo, dispor-se a agir sobre tais causas, de modo a enfrentar o terrorismo nas suas raÃzes, criando, tam-bém desse modo, condições para que aquele apareça menos como opção e, sobretudo, encontre condenação decidida no interior das sociedades onde se manifesta. Convém, no entanto, não ter ilusões: o terrorista é virtualmente impenetrável a argumentos exteriores, ou mesmo à condena-ção social. Não se julgue, porém, que se trata de uma forma de irracionalidade. Pelo contrário, o terrorista desenvolve uma lógica fria e impiedosa, capaz de validar a violência mais cruel e de a justificar perante quaisquer considerações que ponham em causa a sua legitimidade. É o caso tÃpico em que os fins a atingir justificam (tornam justos) subjectivamente todos os meios... As sociedades deverão, por isso, não descuidar os meios de defesa (policiais e outros) que permitam assegurar, tanto quanto possÃvel, a tranquilidade dos cidadãos e o seu direito a uma vida pacÃfica. 3. O cristão e o terrorismo. Para o cristão, a igual dignidade de cada ser humano é um prin-cÃpio inquestionável, embora nem sempre tenha sido assumido da mesma forma – e, ainda hoje, há cristãos com dificuldade em aceitá-lo. Tal dificuldade, porém, não resulta da fé que profes-sam, antes de circunstâncias culturais especÃficas ainda não evangelizadas. Não pode, por isso, nenhum cristão aderir ao terrorismo, reivindicando a sua fé como fundamento para tal adesão. Pelo contrário, procedendo assim, o cristão nega-se a si mesmo, enquanto cristão, e torna a sua fé uma ideologia herética e contrária ao Evangelho. Do cristão apenas se pode esperar a rejeição explÃcita do terrorismo. Espera-se, também, que seja capaz de encontrar na sua relação com Deus força para resistir à tentação de responder à violência indiscriminada do terrorismo da mesma forma. Nesta resistência à sedução do mal, a oração é insubstituÃvel. Esta, na verdade, coloca o cristão diante do Deus humilde, pacÃfico, despojado, do Deus Amor, revelado em Jesus Cristo. Diante de um Deus assim, o crente só pode pedir a graça de ser discÃpulo digno desse nome – e, no mesmo pedido, invocar o EspÃrito Santo para que as forças do ódio e da violência não tenham a última palavra na convivência entre indivÃduos, povos e nações. Rezar deste modo terá sempre frutos de paz, pois cria no coração daquele que reza as condições para quebrar o cÃrculo vicioso da violência, abrindo caminho à imaginação criadora do EspÃrito de Deus, único capaz de reali-zar a conversão dos corações. Bento XVI Share on Facebook Share on Twitter Share on Google+ ...