Vaticano

«Não nos deixem sozinhos»

Fundação AIS
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Grito dos cristãos no Iraque

Após 35 anos de regime militar, 3 guerras e 13 anos de sanções económicas, o Iraque vive ainda sob o signo da violência. A Fundação Ajuda à Igreja que Sofre visitou o Iraque para transmitir apoio espiritual à Igreja iraquiana, mas também a solidariedade dos seus benfeitores que, ao longo dos anos, têm apoiado os cristãos iraquianos. A violência terrorista, o aumento de assassinatos, raptos e episódios de violência contra as comunidades cristãs iraquianas, levaram milhares de pessoas a procurar refúgio nos países vizinhos. A presença cristã na Mesopotâmia, que remonta aos primeiros séculos da Evangelização, está em risco de desaparecer. De Agosto a Dezembro de 2004, pelo menos 25 igrejas e conventos foram alvo de atentados. Em Bagdade, em Mossul (norte do Iraque) ou em Bassorá (sul), quase todas as lojas de comércio geridas por cristãos foram vandalizadas ou encerradas pelos proprietários, com medo de represálias. Entre o final da guerra (meados de 2003) e Outubro de 2004 foram assassinados 88 cristãos no Iraque, conforme divulgou a agência de notícias missionárias do Vaticano (Fides). Em Julho de 2004, o Arcebispo de Kirkuk, D. Louis Sako, alertava para a necessidade do empenho da comunidade internacional na pacificação do Iraque: “Os americanos ganharam a guerra mas não ganharam a paz. A paz é um processo que requer tempo”. Tanto os bispos e sacerdotes cristãos como os clérigos muçulmanos “moderados” (sunitas e xiitas) têm condenado os atentados, responsabilizando grupos terroristas, vindos de outros países islâmicos, que se infiltraram no Iraque para desestabilizar o processo eleitoral e aumentar a influência do fundamentalismo. Foi enviado um auxílio de emergência de 15.000 Euros, respondendo ao apelo do Bispo de Allepo, D. Antoine Audo, que pediu ajuda para os cristãos iraquianos que estão refugiados na Síria. “Com o aumento de casos de doença, depressão e desespero, a Igreja deve fazer mais por estas pessoas”, escreveu D. Antoine Audo. Ao reitor do Colégio Babel, D. Jacques Isaac, a Ajuda à Igreja que Sofre enviou 8. 000 Euros para apoiar a formação de seminaristas. Mas é necessário também renovar o actual refeitório, que não tem condições para que os estudantes possam condignamente fazer as suas refeições. Em Agosto, o Bispo Auxiliar de Bagdade, D. Andraos Abouna, enviou uma mensagem para a Ajuda à Igreja que Sofre, informando sobre as ameaças de morte dirigidas contra sacerdotes e bispos cristãos. Descreveu-nos a situação “muito séria” que se vive hoje no Iraque e deixou um apelo: “Neste momento precisamos das vossas orações”. “Está a nascer um novo Iraque” Os cristãos iraquianos têm esperança que as recentes eleições tenham aberto o caminho para uma sociedade mais pluralista e querem que a nova Constituição garanta a liberdade religiosa e de culto no Iraque. Os resultados das eleições de 30 de Janeiro atribuem uma vitória aos partidos xiitas. A Aliança Iraquiana Unida, composta por partidos islamitas xiitas, obteve cerca de 130 dos 275 assentos parlamentares. Os curdos ficaram em segundo lugar, garantindo 70 deputados na Assembleia Nacional. Os partidos cristãos não obtiveram um resultado muito expressivo nas mesas de voto, mas deverão assegurar cerca de uma dezena de deputados. Em mensagem dirigida à Ajuda à Igreja que Sofre, D. Louis Sako escreveu: “Aconteceu algo muito importante. O novo Governo não e totalitário, de partido único, como no passado”. Para D. Louis Sako, Arcebispo de Kirkuk, estas eleições foram um importante contributo para a formação de um Governo representativo dos vários grupos étnicos e religiosos do Iraque. Apesar da grande abstenção entre os muçulmanos sunitas (20% da população iraquiana), o prelado está convencido de que os sunitas serão convidados para a formação do novo Governo. “Os muçulmanos xiitas e os curdos não poderão governar sozinhos”, afirmou à agência AsiaNews. O Arcebispo de Kirkuk defende que existe agora um equilíbrio entre os partidos: “Por exemplo, os xiitas pretendem a formação de um Estado religioso mas os curdos e outros pretendem um Estado secular”. O prelado considera ainda que, de momento, não existe o risco de que a “sharia” (lei islâmica) venha a ser adoptada na Constituição iraquiana. “Na nova classe política, os secularistas são demasiado fortes e não iriam aceitar que a lei religiosa fosse transposta para a legislação nacional”, afirmou. Para o Padre Ganni, sacerdote caldeu de Mossul, é primordial que o novo executivo governe para todos. “Independentemente da sua composição, seja xiita ou curdo, nós, cristãos e iraquianos, precisamos de um Governo que respeite as minorias”, defendeu o pároco em entrevista à AsiaNews. “O que interessa é que a futura Constituição garanta a liberdade religiosa e de culto”, acrescentou. Departamento de Informação da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre


Guerra do Iraque