O Cinema em Autópsia Francisco Perestrello 01 de Abril de 2008, às 12:37 ... Partindo de duas linguagens estéticas marcadamente diferentes o cinema e o teatro não deixam de se cruzar com enorme frequência. O que em geral se pede ao argumentista ou ao cineasta que parte de uma peça para a realização do seu filme é o abandono da rigidez do espaço, com inserção de sequências no exterior que não podem constar do original dada a dimensão finita do palco. «Autópsia de um Crime», pela segunda vez adaptado ao cinema, prefere assumir a origem do texto e trabalhar a acção dentro dos limites de uma casa. O realizador Kenneth Branagh, experiente homem de teatro, teve assim maior facilidade de dirigir os actores, sempre dois, apenas, em cena, de forma a que tudo se baseie num diálogo de muito elevada qualidade, complementado pela pequena variação de cenário, de sala para sala. Alguns planos iniciais, em picado profundo ou cortando as imagens de uma forma aparentemente inconsequente, parecem anunciar uma maior intromissão dos processos cinematográficos, mas bem cedo nos centramos inteiramente nas personagens em cena, no seu diálogo e nas suas frustrações. Tal não impede que se crie um sentido sólido de suspense, havendo algum mistério e bruscas variações de rumo no encaminhamento da acção, o que permite, a par com a duração relativamente limitada, que nunca se perca o interesse. Os dois homens que se confrontam de uma forma selvagem, cada um procurando a humilhação do outro, estão de facto em campos totalmente opostos, tudo se devendo a uma situação de adultério, agravada pela vida abastada de um dos intervenientes em contraste com um trabalho incerto e mal pago que caracteriza a vida do outro. «Autópsia de um Crime» é um filme digno de uma análise cuidada por parte do espectador, que se depara com duas personalidades bem fora de comum, mas resumem muito do que passa na vida e na cabeça de cidadãos com que diariamente nos cruzamos. Francisco Perestrello Cinema Share on Facebook Share on Twitter Share on Google+ ...