Vaticano

«O meu jugo é suave...» (Mt 11, 30)

Elias Couto
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Intenção Geral do Santo Padre para o mês de Outubro

1. «Pedir o baptismo». Aos pais crentes, a Igreja reconhece o direito de baptizar os filhos – e afirma mesmo a obrigação de procurarem que assim aconteça; ao adulto não baptizado, a Igreja reconhece o direito ao baptismo, desde que cumpra certas condições; tal direito, porém, exerce-se sob a forma de «pedido»: os pais pedem à Igreja que, pelo baptismo, acolha o seu filho no seio do povo dos redimidos por Cristo; o adulto pede à Igreja que, pelo baptismo, o acolha no seu seio; por seu lado, a Igreja não administra a seu bel-prazer o sacramento, pois este não lhe pertence, é dom de Deus, concedido por intermédio de seu Filho, Jesus, sob a acção do Espírito Santo – ou seja, o sacramento é dom de Deus-Trindade. Colocada a questão neste plano, compreende-se melhor a liberalidade da Igreja na hora de acolher mais um filho de Deus pelo baptismo – pois responde ao desejo de Deus de que «todos se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade» (1 Tm 2, 4). Compreende-se também a sua exigência relativamente aos pais e padrinhos, pois estes assumem compromissos graves face a Deus, à Igreja e ao baptizando. E é de esperar que, da parte de quem pede o baptismo, haja um particular cuidado em procurar acolher este dom de Deus com a dignidade que o mesmo merece. 2. Crescer no baptismo. É doutrina de fé que o baptismo «imprime carácter» – e, portanto, uma vez baptizado, baptizado para sempre (mesmo se já vai aparecendo quem queira exigir da Igreja um documento de «desbaptização»). No entanto, o baptismo não tem nada de mágico (deixemos de lado as superstições associadas ao mesmo). Creio que a dimensão definitiva do baptismo se pode entender deste modo: como se trata de um dom absolutamente gratuito de Deus-Triundade, e como Deus não Se contradiz, nem desdiz, nem desiste da sua obra, da parte de Deus, o baptismo realiza plenamente aquilo que lhe é próprio. Quem o recebe, porém, seja criança, jovem ou adulto, recebe-o como semente e está chamado a criar condições, ao longo da vida, para que ele possa dar frutos de vida cristã em plenitude. Não se trata, entenda-se, de «fazê-lo» dar frutos – pois isso cabe a Deus, de modos que só Ele conhece; trata-se de criar condições pessoais para Deus agir, pela graça do sacramento, dando vida cristã em abundância. Criar tais condições implica crescer na vida de fé, procurando os meios mais adequados para conhecer melhor Jesus Cristo e, conhecendo-O, amá-Lo sempre mais, pois só Ele tem «palavras de vida eterna» e é «o Santo de Deus» (João 6, 68.69). Assim se compreende o sem sentido daquele «católico não praticante», ostentado orgulhosamente por tantos. «Baptizado não praticante», entende-se... pois o dom do baptismo permanece. Mas se quem o recebeu não o cuida, a graça do sacramento estiola, a vida de fé acaba por se extinguir e a pertença à comunidade dos crentes deixa de fazer sentido. 3. Opções. Ao contrário de outras religiões, não se exige aos cristãos que tenham comportamentos estranhos, ou se vistam de modo particular, falem uma língua própria ou se socorram de qualquer outra marca distintiva externa. Mas ser baptizado e viver de modo consequente implica fazer opções, todos os dias: no trabalho, no lazer, na vida social ou familiar... há sempre opções a fazer. Opções que resultam do confronto das circunstâncias quotidianas com a condição própria de discípulo de Cristo e membro da sua Igreja. Será isto a tal «carga pesada» que muitos acusam o cristianismo de colocar aos ombros dos homens? Se assim for, não é mais pesada do que a de qualquer outro ser humano, pois todos estão chamados, continuamente, a fazer opções. E parece-me bem mais pesado fazer opções ao sabor do momento, sem nada a dar sentido último às escolhas feitas... uma vida vazia de significado, marcada pelo aturdimento quotidiano. O cristão que vai crescendo na sua fé, pelo contrário, vai experimentando, cada vez mais, a verdadeira liberdade dos filhos de Deus – e a vida, na multiplicidade das escolhas quotidianas, torna-se plena de sentido e valor. Importa, porém, que seja capaz de fazer opções claras, pelas quais dê testemunho da fé recebida no baptismo, coerentes com as exigências da mesma fé e corajosas, num mundo onde se torna cada vez mais difícil assumir sem constrangimentos a opção por Cristo e pelo seu Evangelho. Elias Couto


Bento XVI