Foram muitos os anos em que o documen-tário esteve afastado das salas, limitado que foi à sua distribuição em vídeo ou na televisão. Quando de curta-metragem sofreu os efeitos da supressão dos complementos nas sessões de cinema; quando de longa-metragem sofria da premissa que não seria rentável a sua exploração em sala. Nos últimos anos, sobretudo nos últimos meses, repetem-se as estreias de documentários, muitas vezes com razoável sucesso.
5 de Março bateu o recorde com duas estreias no mesmo dia: «O Homem no Arame» e «Patti Smith: Dream of Live». E apenas uma semana depois chegou «Religulous - Que o Céu nos Ajude», um trabalho capaz de suscitar algum debate, mesmo tendo em conta a evidente má fé com que é realizado.
Ateu assumido, Bill Maher tenta provar a todo o custo a impossibilidade da existência de Deus, através de entrevistas, totalmente manipuladas, com elementos das mais variadas Igrejas, estejam elas integradas na fé cristã ou sejam da área do Islão ou do Judaísmo. Sobretudo as pequenas seitas americanas que vivem de um líder carismático e muito marketing televisivo são oportunidade para o realçar de contradições e defesa de interesses pessoais, que se procuram depois alargar a todas as religiões, numa generalização a todos os títulos pouco honesta.
Bill Maher criou a estrutura base, uma espécie de argumento, que suporta como actor principal ao longo de todo o filme; Larry Charles sujeitou-se a tomar a seu cargo a realização, registando as opiniões de Maher e cortando a palavra aos restantes sempre que tal se mostra mais favorável à tese do autor.
Os objectivos de Bill Maher – actor cómico transformado aqui em “humanista” – estão longe de ser atingidos, uma vez que as suas posições são de todo incon-vincentes e os argumentos que contra ele se esgrimem chegam por vezes a atingir grande solidez, mesmo quando truncados, como são apresentados.