Que o testemunho de amor oferecido pelos santos fortifique os cristãos na entrega a Deus e ao próximo, imitando Cristo que veio para servir e não para ser servido. [Intenção Geral]
1.O testemunho dos santos
Novembro inicia-se, para os católicos, com a Solenidade de Todos os Santos – e para todos, entre nós, com um feriado civil por motivos religiosos. Trata-se de um dia festivo e assim deveria ser vivido – não fora o paganismo que resiste e retorna continuamente, recusando ser evangelizado, e leva multidões entristecidas aos cemitérios, fazendo deste um dia de mortos e não de vivos. Este facto, não sendo de agora, tem-se tornado cada vez mais evidente, mercê da inevitável secularização da nossa cultura e do consequente obscurecimento da fé na vida eterna, do abandono apressado da fé por parte de muitos «católicos não-praticantes» e da revivescência de formas de religiosidade pagã – e também mercê de uma Igreja que, durante muito tempo, alimentou esta confusão na sua prática pastoral, celebrando os santos com sermões de fazer «tremer» os mortos, quanto mais os vivos. Ora, é precisamente de vivos que se trata: os santos estão verdadeiramente vivos, porque vivos para Deus e em Deus e, portanto, definitivamente vivos. O seu testemunho é essencialmente esse: viver vale a pena, vale mesmo todas as “penas” pelas quais possamos passar, se vivermos amando, pois só assim a vida se eterniza no Amor que Deus é – e se torna vida em plenitude. Não é, portanto, descabido insistir na alegria como característica essencial da Solenidade de Todos os Santos. Afinal, Deus «não é um Deus de mortos mas de vivos, porque para Ele todos estão vivos» (Lucas 20, 38) – de modo particular, os santos.
2.Fortalecidos na entrega a Deus e ao próximo
Os santos são o mais belo testemunho humano do poder do amor. E, no dizer do Apocalipse, são «uma multidão que ninguém pode contar» (cf. 7, 9). Santos escondidos, quase todos, conhecidos apenas dos poucos que com eles conviveram. Santos reconhecidos pela Igreja – mártires, confessores, homens e mulheres, pais e mães, crianças... – e apresentados a todos como exemplo de vida cristã, ou seja, de vida levada no amor e por amor, mesmo no meio das maiores dificuldades. Diante de tal multidão, quando pensamos a sério no seu significado, é difícil não sentir algo ao jeito daquilo que experimentava Santo Inácio de Loiola, antes da sua conversão, convalescendo dos ferimentos sofridos em combate e lendo a vida dos santos: «Se eles fizeram isto, porque não eu? Se eles, pecadores como eu, se deixaram vencer pelo Amor e viveram amando, porque não eu?» O exemplo dos santos é um estímulo. Olhando-os, ou nos deixamos ficar na mediocridade de quem não se arrisca a enfrentar o próprio egoísmo, ou, fortalecidos pelo seu exemplo, nos deixamos surpreender pelo Amor e vivemos sempre mais intensamente a nossa doação a Deus e ao próximo. Na verdade, como lembrou Jesus (Marcos 12, 28-34), uma não vai sem a outra, o amor a Deus não se entende sem o amor ao próximo concreto, aquele que vive connosco cada dia; e o amor ao próximo só é verdadeiramente possível se nele nos deixarmos surpreender pela presença de Deus. Na verdade, ou o próximo, a quem amo, é maior do que eu, e me leva a sair de mim, despojando-me, para o acolher, ou então não faço mais do que amar-me nele – suprema forma de egoísmo. Mas para que o próximo seja maior do que eu, preciso de reconhecer nele uma Presença que nos ultrapassa, a ele e a mim: Deus. É por isso que o «amor» do próximo sem Deus nunca vai muito longe e é sempre condicionado. Os diversos materialismos ateus estão aí para o testemunhar.
3.O serviço como missão
A multidão incontável de que fala o Apocalipse é constituída por gente «de todas as tribos, povos e nações». No entanto, toda esta gente canta o nome de um só: Jesus Cristo. Ele é a razão de ser dos santos – estes são-no porque viveram no seguimento de Cristo, acolheram o seu Evangelho e deixaram-se converter por Ele. Esta atitude nova perante a vida e, sobretudo, perante os nossos próximos é a imagem de marca do cristão – muitas vezes atraiçoada, mas nunca desmentida. Os santos não «inventaram» nada, simplesmente deram-se ao seguimento de Cristo, segundo a originalidade humana de cada um. E neste seguimento entenderam aquele «o Filho do Homem não veio para ser servido mas para servir e dar a vida em resgate pela multidão» (Marcos 10, 45). Cada cristão encontra-se perante esta alternativa: ser servido (desejar ser servido) ou servir (desejar servir). Da sua opção depende não só o presente mas também o futuro, de modo particular, a entrada na plenitude da vida. Poderá chegar diante de Deus apenas com o desejo, mas é preciso que seja o desejo de servir – pois não se deseja servir e dar a vida impunemente; mais tarde ou mais cedo, este desejo há-de rebentar as amarras do egoísmo, levando a vida a converter-se em doação – muito ou pouco, isso não compete a ninguém julgar, nem ao próprio. Deus providenciará.