Vaticano

Papa pede liberdade de imprensa e combate à corrupção

Octávio Carmo
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Encontro com autoridades políticas marcado por alertas de Bento XVI. Angola abre portas a Concordata

Bento XVI defendeu esta Sexta-feira em Luanda a necessidade de “acabar de uma vez por todas com a corrupção” e promover uma comunicação social “livre”. O Papa falava num encontro no palácio presidencial, junto do presidente angolano, José Eduardo dos Santos, de autoridades políticas e civis e membros do Corpo Diplomático. Aos africanos em geral, o Papa sublinhou que, “armados de um coração íntegro, magnânimo e compassivo”, poderão “transformar este continente, libertando o povo do flagelo da avidez, da violência e da desordem e guiando-o pela senda daqueles princípios que são indispensáveis em qualquer democracia civil moderna”. Nesse contexto, elencou necessidades como "o respeito e promoção dos direitos humanos, um governo transparente, uma magistratura independente, uma comunicação social livre, uma administração pública honesta, uma rede de escolas e de hospitais que funcionem de modo adequado e a firme determinação - radicada na conversão dos corações - de acabar de uma vez por todas com a corrupção”. Depois de fazer referência a “uma Angola que se levanta, depois de 27 anos de guerra civil que devastou o país”, Bento XVI apontou a estabilidade e liberdade como frutos da paz. Num elenco de várias preocupações que levava consigo até África, o Papa denunciou “o jugo opressivo sobre mulheres e jovens meninas” e a prática “inqualificável” da “violenta exploração sexual”. O discurso papal apontou ainda o dedo às “políticas de quantos estão a ameaçar os alicerces do edifício social”, promovendo o “aborto como cuidado de saúde materna” ou a “supressão da vida como uma questão de saúde reprodutiva”. A Igreja, assegurou Bento XVI, estará sempre “ao lado dos mais pobres deste continente”, apoiando as famílias, em particular as atingidas pelas consequências da SIDA. Referindo “a necessidade duma perspectiva ética do desenvolvimento”, Bento XVI sublinhou que “as pessoas deste continente pedem justamente uma conversão - profundamente convicta e duradoura - dos corações à fraternidade”. “A quantos servem na política, na administração pública, nas agências internacionais e nas companhias multinacionais”, os africanos pedem sobretudo que “permaneçam ao seu lado de modo verdadeiramente humano, acompanhando pessoas, famílias e comunidades, mas sem as substituir”. “O desenvolvimento económico e social da África requer a coordenação do Governo nacional com as iniciativas regionais e com as decisões internacionais. Uma tal coordenação supõe que as nações africanas não sejam vistas apenas como destinatárias dos planos e soluções elaborados por outros. Os próprios africanos, trabalhando juntos para o bem das suas comunidades, devem ser os agentes primários do seu desenvolvimento”, observou. O Papa enfatizou a necessidade de apoiar as iniciativas internacionais que favoreçam segurança, estabilidade e desenvolvimento, nomeadamente na Região dos Grandes Lagos. “É urgente e importante que a comunidade internacional coordene esforços para enfrentar a questão das alterações climáticas e cumpra os compromissos em prol do desenvolvimento, concretizando nomeadamente a promessa, muitas vezes repetida pelos países desenvolvidos, de destinarem 0,7% do seu PIB a ajudas oficiais ao desenvolvimento”, declarou. Bento XVI confidenciou que os dias já passados em África nele têm suscitado “a profunda alegria profunda que se sente quando nos encontramos entre família”. Junto dos líderes políticos em Angola, o Papa apontou exemplos de pessoas que “em troca de um magro salário”, servem com dedicação as suas comunidades, bem como os voluntários. “Chegou para África o tempo da esperança”, assinalou, frisando que os africanos devem ser “agentes primários do seu próprio desenvolvimento”. José Eduardo dos Santos, por seu lado, falou na vontade de estabelecer “laços de cooperação plena”, particularmente com o Vaticano, abrindo a porta à assinatura de uma Concordata para regular as relações bilaterais, de que se fala há já alguns anos. "Estou certo de que deste modo o nosso país pode encontrar facilmente o espaço que lhe cabe por direito no concerto das nações e estabelecer laços de cooperação plena, assente em acordos e na lei internacional, com todos os outros Estados e muito particularmente com o Vaticano", apontou. O presidente angolano lembrou as relações de “respeito e cordialidade com o Vaticano” num dos primeiros territórios da África a ser evangelizado e a “profunda relação com a Igreja Católica” que a população tem. Afirmando um “Estado laico animado por pessoas que professam o Cristianismo”, Eduardo dos Santos sublinhou que “a Igreja Católica é a instituição melhor posicionada nesta tarefa de formação do homem novo, que Angola precisa, com sólida formação moral e cívica”. “Queremos cooperar com a Igreja na construção de um mundo melhor, mais seguro e pacífico, ancorado na justiça e no entendimento, e tendo como premissas o diálogo político, o diálogo de civilizações, de culturas e de religiões e o isolamento e combate de todas as formas de extremismo e de terrorismo”, disse. O encontro concluiu-se com uma visita à maquete para a nova igreja da Nossa Senhora da Muxima. O edifício vai ficar à frente da antiga capela que existe desde 1645 dedicada à Nossa Senhora da Conceição. Entre ambas ficará reservada uma praça capaz de receber 120 mil peregrinos.


Bento XVI - Angola e Camarões