Para um desenvolvimento integral Elias Couto 06 de Fevereiro de 2007, às 11:43 ... Intenção Geral doPapa para o mês de Fevereiro 1. Doutrina social da Igreja. O princÃpio fundamental subjacente a toda a doutrina social da Igreja sobre o recto uso dos bens materiais é o do destino universal dos bens da terra: dados por Deus a toda a humanidade, os bens da terra pertencem a todos por igual – logo, ninguém se pode arrogar um direito absoluto de propriedade sobre uma parcela da criação. Este princÃpio tem uma clara fundamentação teológica: é o facto de os bens da terra serem dom de Deus que justifica o direito de todos a dispor deles, pois todos são filhos do mesmo Deus e, portanto, iguais em dignidade e direitos. Fruto da revelação bÃblica, este princÃpio foi claramente explicitado por vários Padres da Igreja, nos primeiros séculos do cristianismo. E, mesmo se culturalmente obscurecido, não deixou de agir como fermento nas sociedades cristãs, acção testemunhada, de modo particular, pela imensa obra caritativa levada a cabo pela Igreja ao longo da sua história. Os documentos papais sobre a questão social, desde a Rerum novarum de Leão XIII, reafirmaram este princÃpio fundamental, opondo-se ao colectivismo marxista e ao liberalismo extremo, que recusa qualquer função social à propriedade privada e, logo, qualquer responsabilidade social dos seus detentores. 2. Usar com sabedoria os bens da terra. O princÃpio do destino universal dos bens da terra tem hoje, se tal é possÃvel, ainda maior actualidade, face aos dilemas ecológicos e à s exigências de desenvolvimento de grande parte da humanidade. Compreende-se, por isso, que o Papa Bento XVI, na sua Mensagem para o Dia Mundial da Paz (1 de Janeiro de 2007), saliente a importância de uma relação sábia com a natureza. Uma verdadeira «ecologia», segundo o Papa, terá em consideração não apenas o cuidado da natureza, mas também o cuidado da pessoa humana, sem o qual o cuidado da natureza perde o seu sentido. E acrescenta: «A destruição do ambiente, um uso impróprio ou egoÃsta do mesmo e a apropriação violenta dos recursos da terra geram lacerações, conflitos e guerras, precisamente porque são fruto de um conceito desumano de desenvolvimento. Com efeito, um desenvolvimento que se limitasse ao aspecto técnico-económico, descurando a dimensão moral-religiosa, não seria um desenvolvimento humano integral e terminaria, ao ser unilateral, por incentivar as capacidades destruidoras do homem». O uso sábio dos bens da terra exige, pois, a atenção a todas as dimensões do ser humano e recusa fundamentalismos ecológicos que, em nome de protecção da natureza, ignoram os seres humanos concretos e as suas necessidades. Recusa, também, um olhar materialista sobre a natureza, vista apenas como objecto a ser manipulado segundo interesses imediatos e, muitas vezes, destruidores. 3. Justiça e solidariedade. Na mesma Mensagem, Bento XVI lembra a necessidade da justiça no uso dos bens da terra, sobretudo num tempo em que surge no horizonte a ameaça da escassez de recursos. Escreve o Papa: «Nestes anos, novas Nações entraram decididamente no sector da produção industrial, aumentando as necessidades energéticas. Isto está a provocar uma corrida sem precedentes aos recursos disponÃveis. Entretanto, persistem ainda em algumas regiões do planeta situações de grande atraso, onde o desenvolvimento está praticamente bloqueado devido também ao aumento dos preços da energia. Que acontecerá à quelas populações? Que tipo de desenvolvimento ou de não-desenvolvimento lhes será imposto pela escassez de reabastecimento energético? Que injustiças e antagonismos provocará a corrida à s fontes de energia? E como reagirão os excluÃdos desta corrida?» O destino universal dos bens da terra traz consigo a exigência de justiça e solidariedade, sobretudo com os mais pobres – justiça que, nas relações entre os povos, é essencial para a edificação da paz. 4. Compromisso dos cristãos. Tendo como modelo o exemplo de Jesus, os cristãos não se podem alhear das exigências do presente. No que diz respeito ao uso dos bens da terra, estas exigências são claras: cuidar com sabedoria da criação de Deus, para que todos possam usufruir dos seus dons; promover relações económicas e sociais marcadas por uma verdadeira solidariedade com os mais pobres; praticar a virtude da justiça, procurando que todos vejam reconhecido o direito a dispor dos bens necessários a uma vida humanamente digna. Como? Cuidando daquilo e daqueles que nos são próximos e exigindo aos detentores do poder polÃtico e económico uma atenção particular à justiça social, no respeito incondicional pela dignidade de cada pessoa humana. Elias Couto Bento XVI Share on Facebook Share on Twitter Share on Google+ ...