Patriarca caldeu mostra-se preocupado com o futuro dos cristãos no Iraque
O Patriarca Caldeu Emmanuel Delly, que lidera a maior comunidade cristã no Iraque, mostra-se preocupado com o futuro dos cristãos no país, mas espera que as novas autoridades ofereçam garantias de segurança e liberdade.
“A situação, os problemas que tiveram lugar, fazem que as coisas sejam ainda mais difíceis hoje do que eram antes”, disse o responsável à AFP.
A Igreja Patriarcal Católica Caldeia (ver notícia relacionada) tem cerca de um milhão de fiéis em todo o mundo e perto de metade desses fiéis encontra-se no Iraque, onde está a sede do Patriarcado dos caldeus.
A inquietação desta comunidade aumentou a seguir a muitos ataques contra os locais de venda de bebidas alcoólicas, geralmente pertença de cristãos, ataques que se tornaram mais frequentes depois da queda do regime de Saddam Hussein.
“Já chegaram a colocar dinamite nesses locais”, disse D. Delly, fazendo referência a cinco ataques realizados durante o passado fim-de-semana. Um transeunte morreu num dos ataques, em Baaqouba, a norte da capital Bagdad.
“Houve quem se aproveitasse da desordem para tornar a situação difícil”, acrescentou.
O prelado explica que obteve certas garantias de segurança para a sua comunidade, por parte das autoridades interinas, com as quais se encontrou por diversas vezes. D. Delly lamentou que muita gente tenha partido, entretanto, “não só cristãos, como muçulmanos”.
Interrogado sobre a presença de um único ministro cristão num governo de 33 pessoas, o Patriarca de Babilónia dos Caldeus limita-se a referir que “estou contente por ter um cristão no governo, como é natural”.
A história da Igreja Caldeia
O Apóstolo Tomé, antes de seguir o seu caminho até à Índia, terá deixado na região dois discípulos, Mar Addai e Mar Mari. Da sua pregação nasceu uma Igreja que, nos primeiros séculos do cristianismo, demonstrou uma enorme vitalidade e se espalhou nas regiões que hoje são a Síria, o Irão e o Iraque.
Estas comunidades representam umas das mais antigas comunidades cristãs do Oriente, remontando ao século II. As suas raízes cristãs são testemunhadas por mosteiros e conventos nos séculos V e VI.
Esta Igreja, chamada Igreja Assíria do Oriente, obteve a autonomia no concílio de Markbata, em 492, com a possibilidade de eleger um Patriarca com o título de “Católico”.
O fulgor inicial foi-se desvanecendo e já no século XV confronta-se com uma grave crise, originada por uma sucessão hereditária de Patriarcas, como se de uma monarquia se tratasse. A reacção a este estado de coisas levou a que um grupo de Bispos Sírios se empenhasse na recuperação da tradição monástica oriental, elegendo o monge Yuhannan Sulaka como seu Patriarca e enviando-o a Roma para pedir o reconhecimento do Papa.
Foi assim que, em 1553, o Papa Júlio III nomeou o “Patriarca dos Caldeus” e deu origem, oficialmente, à Igreja Caldeia. Durante mais de 200 anos existiram tensões nesta zona entre as comunidades a favor ou contra o reconhecimento da universalidade da Igreja de Roma e a situação só estabilizou quando em 1830 o Papa Pio VIII nomeou o “Patriarca da Babilónia dos Caldeus” como chefe de todos os católicos caldeus.
A sede deste Patriarcado era Mosul, no norte do Iraque, e seria transferida para Bagdad em 1950, após a II Guerra Mundial.
O Rito Caldeu
Um rito é um modo específico de adorar Deus no contexto de determinado povo, uma maneira particular e coerente de chegar até Deus.
O rito Caldeu é um dos 5 principais ritos do cristianismo oriental e desenvolveu-se entre os séculos IV e VII, antes da conquista árabe. A denominação de “caldeu” prevalece no Ocidente desde o séc. XVII, embora os habitantes da região prefiram a designação “siro-oriental”.
As celebrações conservam o uso do aramaico e possuem gestos, espaços e ritmos muito especiais, que remontam ao tempo dos primeiros apóstolos, em alguns casos. Escutar a Palavra de Deus, celebrar o mistério do Corpo e Sangue de Jesus e participar no banquete do pão e do vinho são as traves-mestras da celebração eucarística.
A Palavra é proclamada desde o “bema”, uma tribuna situada no meio da Igreja, como sinal de Jerusalém, centro do mundo, onde Jesus ensinou. Este simbolismo indica que o leitor ou o pregador mais não fazem do que transmitir a Palavra recebida do Senhor. A consagração eucarística, chamada “santificação” tem lugar no “santo dos santos”, símbolo do céu, e a comunhão desenrola-se no “gestroma”, um local entre a assembleia e o santuário, como sinal do paraíso.
Guerra do Iraque









