A cidade-Estado de Berlim anunciou ontem uma medida que visa interditar qualquer símbolo religioso “visível” na função pública. Será proibido o uso do véu islâmico, da cruz cristã e kippa judaica.
O Parlamento regional deverá aprovar o projecto antes do verão, com os votos favoráveis dos sociais-democratas do SPD e dos neocomunistas do PDS, que governam a capital alemã.
“Interditaremos em Berlim não só o uso do véu às professoras muçulmanas, mas todos os símbolos religiosos”, explicou a vice-presidente do grupo parlamentar do PDS.
O ministro da administração interna da região, Ehrhart Koerting, expressou a sua satisfação pelo facto de Berlim, ao contrário dos outros “Laender” do país, “tratar todas as religiões do mesmo modo”.
O véu islâmico está no centro de uma grande polémica na Alemanha, desde que no Outono passado o Tribunal Constitucional declinou responsabilidades sobre a sua interdição nas escolas, deixando a iniciativa aos Estados regionais. Seis Laender pretendem fazê-lo, mas nem todos vão alargar a medida aos símbolos cristãos e judaicos.
Nessa altura, o presidente Johannes Rau afirmou que "a proibição do véu é o primeiro passo no sentido de um Estado laico, que bane da vida pública símbolos religiosos". Rau a propôs a proibição de cruzes e hábitos religiosos no meio escolar do país.
O país, de grande tradição cristã, não verá com bons olhos uma proibição semelhante à que o Governo francês legislou. Contrariamente ao que sucede em França, a Alemanha não é um Estado laico, mas "neutral" perante as religiões.
Para o respeitado cardeal Karl Lehmann, presidente da Conferência episcopal local, a questão está mal colocada, dado que “a cruz e os hábitos não têm traços de propaganda política, enquanto o véu islâmico não é, em si, um símbolo religioso”.
João Paulo II, no seu discurso ao corpo diplomático no Vaticano, criticou “as atitudes de alguns países da Europa” que o Papa acusa de colocarem em perigo o respeito efectivo pela liberdade religiosa, na medida em que negam à religião a sua dimensão social.