Vaticano

Portugueses de Durban recordam o bispo Denis Hurley

Manuel da Silva
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A comunidade católica portuguesa da cidade portuária de Durban, na Província de Ruazulu Natal, banhado pelo Indico, acolheu D. Januário Ferreira e o director da OCPM, durante os dias 5, 6 e 7 de Outubro. Após Capetown, esta foi a segunda etapa da visita pastoral da Comissão Episcopal das Migrações á República da Ãfrica do Sul. A visita teve como objectivo não só escutar as forcas vivas da comunidade (conselho pastoral, associações de emigrantes, consulado e conselheiros), como também a Igreja local, na pessoa dos missionários que servem os portugueses, assim como do bispo auxiliar de Durban, D. Jabulani Nxumalo. Uma das honras dos portugueses é que Durban é uma cidade marcada pela “permanência†do adolescente Fernando Pessoa que de 1898 a 1902 foi aluno brilhante da “High School of Durbanâ€, e do qual a Escola conserva a memória com grande orgulho e vaidade, lamentando que Portugal se interesse pouco por este facto. O cuidado pastoral dos aproximadamente 15.000 portugueses residentes está confiado aos Missionários Espiritanos. A equipa pastoral e composta pelo Pe. Patrício Dundom, irlandês, e pelo diác. André Javel, belga, que desde 1995 acompanham a comunidade, assessorados por um Conselho de portugueses. A pequena comunidade, que já vai na terceira geração, e na qual se integraram também muitos portugueses e lusodescendentes de Moçambique que se refugiaram aqui por causa da guerra civil naquela ex-colónia, reúne-se na Igreja de S. José, o mais antigo templo da cidade, e que após ter estado encerrado, foi restaurado com carinho e teimosia pelos portugueses, foi reaberto ao culto em 1980. A comunidade e composta por alguns movimentos: Equipas de Nossa Senhora, Esperança e Vida, Confrarias, grupos do rosário, grupos de beneficência, grupo litúrgico... No breve encontro da Comissão Episcopal das Migrações com o bispo local, o prelado sul-africano reafirmou o apelo a que os portugueses se “continuem a abrir, a dialogar e a participar activamente na Igreja localâ€, também devido ao facto de a Igreja neste país ser minoritária, em organização interna e ainda pouco reconhecida pelas autoridades e outras comunidade religiosas. Os portugueses são um grande percentagem dos católicos deste país que nunca acolheu de braços abertos o “catolicismo romano†(como dizem) devido a certos condicionantes históricos. Na eucaristia, que D. Januário celebrou ladeado pelo capelão da comunidade, Pe. Patrício Dudom e pelo Pe. Rui Pedro (OCPM), disse estar ali para lhes “dizer que a Igreja em Portugal, presente no Continente e na Madeira, nunca os esqueceu nem esquece os emigrantes dispersos pelo mundoâ€. O prelado apelou a que “sejam, em terras de Ãfrica, missionários do Evangelho da fraternidade, da unidade e da reconciliação, apesar das dificuldades, tensoes e “contradições†que o país e a Igreja atravessam na Ãfrica do Sul, pois no horizonte há-de surgir a Pazâ€. Insistiu ao dizer que há que trabalhar pela reconciliação dos afectos, do passado, das culturas e das várias culturas que tornam o país uma espaço em fase de interculturalidade activa. Aos jovens e lusodescendentes recordou que “há para eles um lugar reservado na igreja local para que testemunhem a fé dos pais, a fé pessoal e sejam discípulos de uma igreja que a todos quer integrar na comunidade†para celebrar e tecer laços de universalidade e de acolhimento. Porém, o momento alto da Visita, por vontade da própria comunidade portuguesa, foi a singela e muito significativa cerimonia de descerramento de uma placa mural na Igreja de S. José, pela mão de D. Januário Ferreira, símbolo da comunhão entre igrejas, em memória do grande bispo sul-africano do Vaticano II, intrépido defensor dos direitos humanos, incansável critico da “segregação racial†e amigo dos portugueses, D. Denis E. Hurley, arcebispo de Durban, falecido em 13.02.2004. Com este gesto, os portugueses quiseram afirmar toda a estima e gratidão para com este “homem da igreja e de Deus†que juntamente com Nelson Mandela e o bispo Desmond Tutu, entre outros, foram pioneiros da fraternidade, da liberdade e da dignidade humana.


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