«Profundo respeito» pela vida humana Elias Couto 30 de Outubro de 2007, às 11:05 ... Intenção de oraçãode Bento XVI para o mês de Novembro apela aos investigadores e legisladores de todo o mundo Que quantos se dedicam à investigação médica ou têm responsabilidades legislativas cultivem um profundo respeito pela vida humana, desde o seu inÃcio até ao seu fim natural 1. Investigação médica e respeito pela vida Não vale a pena lembrar quão complexa se tem vindo a tornar esta questão, quer no que se refere à determinação do fim da vida humana, quer relativamente à determinação do seu inÃcio. Nem vale a pena argumentar com tal complexidade para defender soluções de facilidade, do género: «os cientistas que decidam»... Se, como se diz, a «guerra é um assunto demasiado sério para ser entregue à decisão dos militares», também a vida humana «é um assunto demasiado sério» para que as decisões fundamentais sobre a mesma sejam deixadas apenas aos cientistas e médicos. Mais ainda quando, entre os primeiros, é cada vez mais fácil encontrar quem defenda o direito dos cientistas a investigar sem quaisquer limitações; e entre os segundos, não falta quem pretenda assumir poder de vida ou de morte sobre as pessoas, ainda por nascer ou já nascidas – ao ponto de alguns defenderem o direito-dever dos médicos de decidir sobre a morte de certos doentes, incuráveis e por eles considerados sem «qualidade de vida». 2. Os polÃticos e a defesa da vida Há, a este respeito, uma espécie de esquizofrenia: por um lado, os polÃticos revelam-se hipersensÃveis (pelo menos, em palavras) a tudo quanto possa constituir ameaça, mesmo que abstracta, à vida dos seres humanos – e legislam furiosamente, proibindo ou regulamentando os comportamentos individuais, sempre que estes pareçam desadequados ao que se convencionou chamar uma sociedade «saudável» e «progressista» (desde o tabaco até ao açúcar ou ao consumo de carnes gordas); por outro lado, são absolutamente liberais em temas tão concretos como o aborto, a eutanásia, a reprodução humana medicamente assistida, as investigações com embriões humanos produzidos em laboratório – e legislam furiosamente, legalizando ou permitindo os comportamentos individuais mais estranhos, aberrantes e imorais. 3. Questão de cultura e civilização Antes de ser uma questão de cientistas, médicos e polÃticos, a dignidade da vida humana é uma questão de cultura e civilização. Há culturas e civilizações em que o valor do indivÃduo é sempre subordinado aos interesses do grupo social – e os direitos humanos individuais são vistos como algo estrangeiro, fruto da civilização ocidental. Mesmo no seio da civilização ocidental, há ideologias que defendem posturas semelhantes, embora por motivos diferentes. Deste modo, a universalidade do direito humano à vida encontra-se confrontada com as particularidades culturais ou ideológicas que conformam o agir de muitos grupos humanos ou de civilizações inteiras. A defesa e promoção da dignidade da vida humana «desde o seu inÃcio até ao seu fim natural» é, por isso e antes de mais, uma questão cultural e civilizacional. E sendo uma questão cultural, é aqui que o combate deve ser travado. Não por acaso, o Papa João Paulo II falava de uma «cultura da morte» enfrentando-se com uma «cultura da vida» no coração mesmo da civilização ocidental. 4. Cristianismo contestatário No que diz respeito à defesa da vida humana e sua dignidade, hoje e no futuro próximo, os cristãos para quem o Evangelho continua a ser a instância crÃtica da sua vida quotidiana e das suas opções culturais e polÃticas devem assumir, cada vez mais, um papel contestário da ordem estabelecida – não pela violência mas por opções de vida claramente alternativas, tal como os primeiros cristãos fizeram relativamente ao império romano. E, tal como os primeiros cristãos, serão marginais face à s correntes culturais e polÃticas dominantes, mas nem por isso o seu papel será de menor importância. Ficarão, certamente, com a tarefa mais pesada, aparecendo como pessoas e comunidades alternativas – pessoas e comunidades empenhadas em defender a dignidade humana das crianças ainda não nascidas, das pessoas com doenças incuráveis, das pessoas com deficiência, das pessoas idosas. Há, certamente, muitos outros âmbitos nos quais é necessário defender a dignidade da vida humana. Este, porém, é já o de maior emergência, e sê-lo-á ainda mais no futuro, pois trata-se dos mais indefesos entre todos os humanos, aqueles para quem a civilização que estamos a edificar tem menor ou nenhuma sensibilidade. Neste contexto, rezar pelos cientistas, médicos e polÃticos, para que cultivem um profundo respeito pela vida humana desde a sua origem até ao seu fim natural é também um acto de contestação cultural, consequente com a fé que nos anima. Elias Couto Bento XVI Share on Facebook Share on Twitter Share on Google+ ...