Vaticano

«Quem Quer Ser Bilionário?»: Um Concurso; Um Concorrente; Uma Cultura

Francisco Perestrello
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Bem conhecido em muitos países do mundo, nomeadamente em Portugal, o concurso «Quem Quer Ser Milionário» também chegou à Índia, preenchendo a fantasia e as ambições de muitos concorrentes. E o cineasta inglês Danny Boyle, adaptando um romance de Vikas Swarup, tomou Mumbai (ex-Bombaim) como cenário de «Quem Quer Ser Bilionário?». O concurso é o pano de fundo da descrição da vida de Jamal Malik, servindo de charneira na ligação ao seu passado e ao seu futuro próximo. Articulam-se três narrativas em que seguimos uma infância pobre, sem acesso à cultura, e, na idade adulta, o súbito sucesso frente a perguntas que tudo faria crer não haver capacidade de resposta por parte do concorrente. De permeio vemos ainda a intervenção da polícia, no convencimento da existência de fraude, a levar a efeito um interrogatório mais que musculado. Na infância Jamal Malik vivia na rua, num bairro pobre, o que dá oportunidade a um retrato social bastante genuíno da pobreza que ainda grassa em diversas áreas da cidade. Sobretudo por esta vertente os indianos não gostaram do resultado do filme e quando este se tornou notado pelos Globos de Ouro e nomeações para os Óscars não deixaram de se manifestar com alguma violência. Mas outra, bem mais grave, deverá ter despertado a ira da população: a descrição de um inquérito policial, que tudo leva a crer enquadrar-se no que realmente acontece, em que a vítima é torturada com o objectivo de lhe ser extraída a confissão de um crime que não cometeu. Quanto ao concurso, linha central da narrativa, não suscita grandes questões, salvo a inverosimilhança que narrativas paralelas procuram explicar e a curiosidade de o estilo televisivo ser rigorosamente coincidente com o que vimos em Portugal, para o mesmo concurso, o que deixa supor que é transmitido em todo o mundo com normas rígidas e permanentes.


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