A Santa Sé considerou um “escândalo” e uma “tragédia” o nível de pobreza que atinge as mulheres de todo o mundo. Três quartos da população pobre do planeta é composta, nos nossos dias, por mulheres e crianças.
“Os mesmos anos em que assistimos a grandes progressos para muitas mulheres foram os mesmo que trouxeram consigo novas formas de pobrezas para muitas outras, com novas ameaças à vida e à dignidade humana”, disse Mary Ann Glendon, presidente da Academia Pontifícia das Ciências Sociais, no decorrer da 49ª sessão da Comissão da ONU sobre a situação das mulheres, a decorrer em Nova Iorque até 11 de Março.
A intervenção de Glendon, que integra a delegação da Santa Sé, foi publicada no Dia Internacional da Mulher, que hoje se celebra. A representante católica lembrou as sucessivas conferências da ONU sobre as mulheres que tiveram lugar na cidade do México, Copenhaga, Nairobi e Pequim.
Dez anos depois da declaração adoptada na Conferência de Pequim, sobre a igualdade de direitos entre sexos, as mulheres continuam a receber salários inferiores aos dos homens, em funções idênticas, e a ocuparem posições profissionais mais desfavoráveis.
“Nos países em via de desenvolvimento, centenas de milhões de mulheres e crianças estão privados de nutrição adequada, saúde e bens sanitários de base. Nas sociedades ricas, a ameaça de pobreza é predominante para as mulheres e crianças, porque existe uma forte correlação entre a ruptura das famílias e a feminilização da pobreza”, denunciou Mary Glendon.
Esperanças falhadas
As expectativas geradas em torno da Conferência de Pequim dominaram a intervenção da delegação da Santa Sé, que se mostrou preocupada com os atrasos verificados numa dimensão fundamental, o investimento na educação.
“Em Pequim, proclamou-se que a chave para libertar as mulheres e as suas famílias da pobreza era a educação. (...) A Santa Sé, que há muito tempo de dedica a educar mulheres e jovens, observa com preocupação a lentidão das melhorias feitas nesta frente”, referiu Glendon.
“Na declaração final da Conferência de Pequim, a Santa Sé exprime o receio de que as secções dos documentos relativos às mulheres vítimas da pobreza permanecessem promessas vazias se não fossem sustidas por programas bem estruturados e por compromissos financeiros. Hoje, com a crescente disparidade de riqueza e oportunidade, somos obrigados a exprimir novamente essa preocupação”, insistiu.
Na conclusão do seu discurso, Mary Glendon pediu que a comunidade internacional seja capaz de “harmonizar as aspirações das mulheres a uma plena participação na vida social e política com o seu papel na vida familiar”.