As negociações entre populares liderados pela Igreja e o governo de Timor-Leste estão num impasse. Segundo a agência Lusa, as exigências da Igreja católica timorense inviabilizaram o fim da manifestação anti-governamental que há 16 dias mantém o país em suspenso.
As manifestações populares começaram no dia 19 de Abril, primeiro como reacção à medida governamental que pretendia tornar facultativas as aulas de Religião e Moral, depois como contestação alargada ao governo liderado por Mari Alkatiri. Os populares, com autoridades eclesiásticas na linha da frente, pedem a demissão do governo.
Entre as novas exigências dos bispos timorenses figura uma garantia em como o poder político não legislará sobre a despenalização da interrupção voluntária de gravidez, como chegou a ser equacionado no passado recente pelo governo timorense.
Ângelo Ferreira, antigo presidente da Associação Académica da Universidade de Aveiro e promotor da “causa timorense” nos anos 90, lembra que “a Igreja foi a maior protecção física perante os abusos contra os direitos humanos ali perpetrados pelo regime indonésio”.
Comentando a situação de crise no país em entrevista ao Correio do Vouga, semanário da Diocese de Aveiro, Ângelo Ferreira afirma que “não podemos esquecer que a Igreja foi um baluarte da resistência, com acções muito concretas, quer ao nível de uma resistência cultural, quer ao nível de acções concretas de apoio aos guerrilheiros e à resistência clandestina”.
Nesse sentido, este especialista manifestou-se convencido de que o entendimento vai ser possível em breve: “Timor é um país em transição política e social e isso obriga, na minha humilde forma de ver, a opiniões e medidas moderadas e cautelosas, assentes na realidade timorense”.
“Oxalá sejam possíveis os passos, de parte a parte, que se exigem para que exista e se consolide a paz, tão necessária ao desenvolvimento por todos almejado”, assinala Ângelo Ferreira, que esteve em Timor três anos como representante da Fundação das Universidades Portuguesas.