O Bispo Auxiliar de Cartum avisa que a paz acordada entre o governo e os rebeldes para o Sul do Sudão poderá terminar caso o executivo não actue rapidamente, impedindo as milícias de continuarem a cometer atrocidades no Darfur.
O acordo de paz para o Sul do Sudão, alcançando a 26 de Maio entre o governo de Cartum e os rebeldes do Exército Popular de Libertação do Sudão (EPLS), estará em risco enquanto continuarem os conflitos na região do Darfur, a Ocidente. Este receio foi transmitido por D. Daniel Adwok, Bispo Auxiliar de Cartum, em entrevista exclusiva à Ajuda à Igreja que Sofre.
“Não sabemos se o governo deseja sinceramente a paz no Sul. Não se pode assinar um acordo de paz para uma região do país e participar numa guerra intensa noutra região”, referiu o prelado.
A partilha de poder entre o governo e os rebeldes naquela região foi uma condição fundamental nas negociações de paz, que permitiria solucionar disputas sobre o controle dos campos agrícolas e dos poços de petróleo. Segundo D. Daniel Adwok, os rebeldes estão cada vez mais relutantes em partilhar o poder com o governo no Sul, onde está prevista a realização de um referendo sobre a questão da independência dentro de seis anos.
“O governo terá de resolver rapidamente a situação no Darfur se quiser que o EPLS participe numa coligação”, salientou.
O prelado acrescentou que o clero sudanês e as populações do Sul querem garantias que o governo de Cartum continuará empenhado num processo de paz que se destinou a terminar com uma guerra que durou 20 anos e que provocou 2 milhões e 500 mil vítimas. O maior receio é que o executivo sudanês tenha apenas suspendido temporariamente os combates no Sul para poder concentrar a sua campanha militar no Ocidente.
No início de Agosto D. Daniel Adwok acompanhou uma delegação de clérigos dos Estados Unidos numa visita ao Sul do Darfur. Ficaram horrorizados com o que viram. Num pequeno campo de refugiados perto de Myana 5 mil pessoas tinham morrido por não terem recebido assistência a tempo, numa zona de difícil acesso. “É muito difícil estas pessoas terem acesso a bens básicos, como água e comida”, referiu.
As escolas do programa “Salvem os Oprimidos”, geridas pela Igreja Católica e apoiadas financeiramente pela Ajuda à Igreja que Sofre, estão em risco, à medida que a época da chuvas chega ao seu período mais crítico. Em anos anteriores as chuvadas torrenciais destruíram várias escolas, que desapareceram como castelos de areia.
Recolha de fundos para o Sudão
A Fundação “Ajuda à Igreja que Sofre” (AIS) lançou uma campanha de solidariedade para com a Igreja e os cristãos do Sudão. Graças à generosidade dos portugueses, sensibilizados com o drama humanitário que aflige milhões de sudaneses, já foi possível recolher mais de 38 mil Euros em donativos desde o início desta campanha.
A campanha de solidariedade pelo Sudão começou em meados de Julho e decorrerá até o final ao Outubro. A Fundação Ajuda à Igreja que Sofre publicou em Julho o relatório “Sudão, o grito que chega do deserto”, que alerta para a perseguição de que são vítimas os cristãos sudaneses, num país onde se travam conflitos sangrentos há mais de duas décadas.
O relatório descreve também alguns dos projectos que a Igreja do Sudão tem dinamizado como o abastecimento de água ou a prestação de cuidados médicos aos refugiados da guerra e às populações mais carenciadas. O documento salienta ainda a situação das escolas católicas “Salvem os Oprimidos”, fundadas em 1986 pelo Arcebispo de Cartum, D. Gabriel Wako, que estão actualmente em risco de encerrar porque não há dinheiro para as manter.
Nos próximos meses a AIS irá continuar a promover a campanha de solidariedade pelo Sudão nos meios de comunicação social e junto dos seus benfeitores e amigos. Segudo a Fundação "as pessoas poderão contribuir para esta campanha através da aquisição da vela “A Chama de Paz”, das colecções de postais de Natal ou, a partir de Setembro, pedindo o livro “A Oração da Paz”, do Padre Dário Pedroso".
Para pedir a vela à Fundação AIS basta telefonar para o 217544000. As despesa de envio são de 8 Euros por cada vela.
Os donativos recebidos servirão para auxiliar a Igreja e os mais de 3 milhões de cristãos sudaneses, flagelados por décadas de conflitos.