Vaticano

Sociedade Americana, a Ambição

Francisco Perestrello
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O natural desejo de conseguir uma vida estável e abastada tem sido um dos vectores mais sólidos do cinema americano, em que o “american way of life” é muitas vezes apresentado como um exemplo a seguir. Tal não impede, sobretudo por parte de cineastas mais inteligentes e com carreira assegurada, que a crítica a esta mesma via seja tomada em substituição do seu elogio. Sam Mendes realizou, em 1999, «Beleza Americana», que abria estas perspectivas, voltando ao mesmo rumo nove anos mais tarde com «Revolutionary Road». Tem aqui por tema um casal com diferentes ambições, coincidentes apenas no desejo de emigrar para Paris. Mas a promoção profissional de um e a gravidez da outra destroem todos os planos e abrem caminho a uma depressão pessoal capaz de conduzir a um destino dramático. Sam Mendes utiliza com inteligência os diversos factores que condicionam a vida do casal, de forma geral relacionados com as reacções da sociedade que os rodeia e com as alternativas postas entre uma vida nova num país estrangeiro e o aproveitamento de uma inesperada oportunidade profissional. «Revolutionary Road» constitui um apelo a uma análise ponderada dos diversos condicionalismos da vida, nem sempre observados sob um mesmo prisma pelos dois elementos de um casal. Divergência esta capaz de levantar grandes obstáculos numa vida cordata, até então, dada a falta de capacidade de diálogo ou de cedência por cada uma das partes. E assim se constrói um drama de grande intensidade. Leonardo DiCaprio e Kate Winslet, sobretudo o primeiro, imprimem às personagens centrais a necessária força dramática para que o filme se torne convincente e nos leve a pensar nos diversos problemas que suscita, não só no que respeita à vida dos próprios protagonistas como à pressão exterior recebida de uma sociedade em que, muitas vezes, a amizade depende da comodidade do momento.


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