A violência contra a população negra no Darfur já provocou 20 mil mortos, 1 milhão de deslocados internos e a fuga de 160 mil pessoas para o vizinho Chad. Os números da tragédia poderão ainda ser mais elevados, como alertam várias organizações internacionais, se a grande operação de ajuda humanitária de emergência que a ONU e outras ONG’s estão a organizar não chegar a tempo aos campos de refugiados sudaneses.
“Esta é uma das piores crises humanitárias do mundo”, avisava em Maio o director do Programa Contra a Fome das Nações Unidas, James Morris, após a avaliação no terreno que a ONU fez da situação dos refugiados no Sudão Ocidental.
A guerra flagela há mais de duas décadas o maior país do continente africano. Desde o princípio dos anos 80 morreram no Sudão mais de 2 milhões de pessoas e 5 milhões foram forçadas a abandonar as suas casas.
Primeiro foram os conflitos no Sul, onde a população civil, maioritariamente cristã e animista, foi flagelada por bombardeamentos do exército sudanês e pelos ataques de milícias árabes pró-governamentais. A acção concertada entre o governo de Cartum e as milícias “janjaweed” nas cidades e aldeias do sul visava aterrorizar os alegados apoiantes do Exército Popular de Libertação do Sudão. Milhares de jovens capturados nestes ataques foram depois vendidos nos mercados como escravos.
A partir de 2003 a violência estendeu-se também à região ocidental do Darfur, onde está em curso uma limpeza étnica. As milícias árabes, com o aval do governo sudanês, dizimam as etnias africanas. Esta é uma luta pelo poder local, pela terra e pela água, um bem precioso naquela região desértica.
Estes conflitos, que colocaram o Sudão à beira de uma catástrofe humanitária, são distintos nas suas origens e motivações. D. Macram Max Gassis, Bispo de Obied, refere que no sul a religião é um aspecto fundamental, uma vez que se procura “impor ao povo que aceite o fundamentalismo islâmico”, ao passo que no Darfur existe “um processo de arabização” e “uma questão étnica”.
“Esta guerra é complexa e as armas utilizadas são muito diversas”, salientou o Padre Mathew Hill, que publicou um livro intitulado “Viajando com Soldados e Bispos”, onde retrata a sua experiência missionária no Sudão. Esta é uma guerra que não se trava apenas com o armamento sofisticado comprado aos países ocidentais. A fome e a destruição das escolas fazem parte de um “arsenal não-convencional” utilizado na guerra. As milícias atacam os comboios de ajuda humanitária, deixando milhares de refugiados morrer à fome e o governo bombardeia ou deixa ao abandono as escolas no sul. As crianças e os jovens que não podem ir à escola irão depois engrossar as fileiras do exército ou dos guerrilheiros. São elas as maiores vítimas da guerra.
“Não podem existir perspectivas de uma paz duradoura no Sudão enquanto o governo de Cartum continuar a negar o direito de existir à população africana”, afirma Christine du Coudray, responsável pelo Departamento de Projectos de África da Ajuda à Igreja que Sofre. É fulcral que os direitos humanos e a dignidade da pessoa passem a ser uma realidade no Sudão.
Para mudar o “estado das coisas” no Sudão, os bispos sudaneses apostam na formação de catequistas e na formação dos “professores do amanhã”. Em 1986 o Arcebispo de Cartum, o Cardeal D. Gabriel Wako, criou o programa “Salvem os Oprimidos” para assegurar a educação primária às crianças refugiadas. Por falta de apoios financeiros o número de crianças abrangidas pelo programa teve de ser reduzido para metade, passando das 70 mil iniciais para cerca de 45 mil crianças.
A Ajuda à Igreja que Sofre já contribuiu com 180 mil Euros para este projecto e apoia os sacerdotes, missionários e religiosas que trabalham com as crianças e as famílias sudanesas que fogem da guerra. Com a publicação deste relatório “Sudão, o grito que chega do deserto” pretende-se alertar a opinião pública para o drama da comunidade cristã do Sudão e apelar para a importância de ajudar a Igreja num país onde tudo falta.
O Bispo de Wau, D. Rudolf Deg, que elegeu como prioridade o abastecimento de água à população, lembra: “As pessoas têm sede. Sede de ajuda, e vêm à Igreja porque nós sofremos com elas”.
Disponibilizamos gratuitamente na página Internet da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (www.fundacao-ais.pt) o Relatório do Sudão na integra, bem como todas as nossas notícias relativas ao Sudão.
Fundação à Ajuda que Sofre