Vaticano

Tensão entre Governo e Igreja em Timor-Leste não desaparece

Agência Ecclesia
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O primeiro-ministro de Timor-Leste e os dois bispos timorenses estiveram hoje reunidos em Díli, mas os responsáveis católicos permanecem irredutíveis na sua exigência de demissão do chefe do governo. D. Alberto Ricardo da Silva, Bispo de Díli, e D. Basílio do Nascimento, Bispo de Baucau, têm-se manifestado contra governo de Mari Alkatiri e a sua política, uma posição partilhada há nove dias por milhares de manifestantes que fecham parte da Avenida dos Direitos Humanos, em Díli. A concentração dos manifestantes, que tem decorrido sem incidentes, contesta a intenção do governo de retirar à disciplina de Religião e Moral o carácter de cadeira curricular obrigatória, passando a facultativa. Num documento assinado pelo porta- voz do Episcopado timorense, Pe. Domingos Soares, é salientado que o primeiro-ministro pode ser demitido pelo Presidente da República "para assegurar o funcionamento normal das instituições democráticas". "O pedido de remoção do primeiro-ministro pelo povo é constitucional. O parlamento pode não querer fazer isto, o que não significa que a remoção do Governo Alkatiri seja inconstitucional", conclui o documento. O Presidente da República, Xanana Gusmão, manteve hoje encontros com os dois Bispos, durante mais de duas horas. "A manifestação mantém-se até se encontrar a tal ultrapassagem das divergências. Existem divergências e discordâncias, mas não são divisoras. As discordâncias são naturais. A vida é feita de discordâncias e de harmonia", salientou D. Basílio do Nascimento no final da reunião. “Podíamos ter ficado a conversar mais tempo. Há este desejo de mais encontros para mais esclarecimentos", salientou, por seu lado, o bispo de Díli. Durante o dia de hoje correu a informação de que o governo timorense poderia recuar nas suas intenções sobre a disciplina de Religião. Timor-Leste conta com 800 mil habitantes, 96% dos quais católicos. D. Ximenes Belo, Bispo emérito de Díli e prémio Nobel da Paz em 1996, aconselhou o governo timorense a retirar as suas propostas de fim de obrigatoriedade do ensino de Religião e Moral e pediu ao Bispos para continuarem o diálogo com o executivo. "Aconselho as duas partes a resolverem este problema. Ao governo, solicito que arquive aqueles decretos e aos Bispos que pautem pelo diálogo", disse à Lusa. O outro prémio Nobel timorense, o ministro dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação José Ramos-Horta manifestou-se convencido que o "problema está a chegar ao fim". “Da parte do governo timorense terá que haver alguma demonstração de humildade para reconhecer os erros, e que temos coragem de encarar e aceitar", assinalou. Ramos-Horta disse ainda esperar que "dentro de pouco tempo" Timor-Leste e a Santa Sé possam celebrar uma Concordata, que regerá as relações bilaterais. O mais jovem país do mundo continua elevados índices de desemprego e pobreza (mais de 50% das pessoas encontram-se desempregada e a população a viver abaixo do limiar da pobreza ultrapassa os 42%), que geram um clima social muito tenso e agitado. As manifestações em Díli ultrapassaram os motivos religiosos e mostram, sobretudo, o descontentamento de uma população maioritariamente cristã - e habituada a recorrer à Igreja Católica nas horas de dificuldade - com este governo.


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