Vaticano

Um Novo Woody Allen

Francisco Perestrello
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Entre os cineastas mais conhecidos dos Estados Unidos Woody Allen caracteriza-se por uma personalidade muito marcada, que explora directamente nos seus filmes, sobretudo naqueles em que além de realizador é também actor. «Match Point» é, por diversas razões, um caso excepcional. É a primeira obra em que Woody Allen abandona a sua Nova Iorque natal a favor da Europa, recorrendo a um ambiente britânico e a uma equipa, nomeadamente no que respeita aos actores, predominantemente inglesa; Abandona o estilo habitual, resumindo o seu contacto com o passado a alguns apontamentos, discretos mas bem conseguidos; Não se inclui entre os actores. A obra divide-se claramente em duas partes. Na primeira ficamos a conhecer a sociedade inglesa da alta roda, observada por alguém chegado de outro meio e que tenta beneficiar das vantagens do acesso a facilidades financeiras e mordomias que, de outro modo, lhe seriam negadas. Depois, com o avançar da narrativa e sem quebra de ritmo, passa-se para um tema de crime, com um tratamento digno dos melhores mestres do cinema policial. Dois pontos são essenciais ao total aproveitamento do filme por parte do espectador: a relação entre a mais forte imagem do início do filme e a que se repete mais tarde com diferentes elementos e a capacidade de entender a subtileza do final, que deixa a nosso cargo encontrar o que esperará no futuro cada uma das personagens envolvidas. O realizador não aceitou a saída fácil e convencional, mas deixa muitas portas abertas para que a solução a curto ou médio prazo vá muito além daquela que nos dá a conhecer. «Match Point» é sem dúvida o melhor filme realizado por Woody Allen nos tempos mais recentes. Conta com um ritmo de montagem exemplar, um interesse temático indiscutível e interpretações seguras de uma equipa de actores que nunca com ele trabalhara mas que nem por isso se mostra menos adaptada à sua direcção.


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