Vaticano

Vaticano e China em confronto por causa da prisão de líderes católicos

Octávio Carmo
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As tensas relações entre o Vaticano e a República Popular da China conheceram este fim-de-semana mais um episódio de confrontação quando Joaquín Navarro-Valls, porta-voz da Santa Sé, pediu a libertação dos vários bispos e sacerdotes presos no país asiático e denunciou que alguns deles morrem entre as grades sem que haja notícias. O director da sala de imprensa da Santa Sé revelou este sábado que “só agora” o Vaticano teve conhecimento de várias das prisões que aconteceram já há um mês no país. “Na primeira semana de Agosto, o sacerdote Pablo Huo Junlong, vigário-geral da diocese de Baoding (província de Hebei), foi detido pela polícia juntamente com outros sete sacerdotes e dois seminaristas. Os sacerdotes Pablo Na Jianzhao e Juan Bautista Zhang Zhenquan foram condenados a um período de reeducação por trabalhos forçados. Os outros estariam ainda detidos em Quyang (Baoding), com excepção de três que não pertencem a esta diocese”, denuncia o comunicado de imprensa da Santa Sé.. A Igreja Católica revela que, segundo as informações recolhidas na China, os membros do clero da diocese de Baoding detidos ou privados de liberdade são vinte e três. “Entre eles se encontram o bispo Santiago Su Zhim e o seu auxiliar, Francisco Na Schuxin, que desapareceram nos meses de Setembro de 1997 e Março de 1996, respectivamente, e estão detidos sem julgamento em local secreto”, acusou Navarro-Valls. “A Santa Sé não tem notícia dos motivos destas medidas repressivas. Se as novas notícias que chegaram são verdadeiras, encontrar-nos-íamos, uma vez mais, ante uma grave violação da liberdade de religião, que é um direito fundamental do homem”, considera o Vaticano. Navarro-Valls informou ainda que o Vaticano soube que no final de Agosto faleceu na prisão D. Giovanni Gao Kexian, bispo de Yantai (província de Shandong), aos 76 anos. Dom Gao estava encarcerado desde os finais dos anos noventa e não havia notícias dele há muito tempo. As relações entre a China e o Vaticano foram cortadas em 1957, depois de o Papa Pio XII ter excomungado dois bispos nomeados pelo regime comunista. O Vaticano estabeleceu então relações com Taiwan. Os católicos chineses, cerca de 14 milhões distribuídos entre a Associação Católica Patriótica e a Igreja Católica "clandestina", dividem-se entre a lealdade ao Papa João Paulo II e ao Partido Comunista Chinês. Embora o Partido Comunista (68 milhões de membros) se declare oficialmente ateu, a Constituição chinesa permite a existência de cinco Igrejas oficiais, entre elas a Católica, que tem 5,2 milhões de fiéis. Segundo fontes do Vaticano, a Igreja Católica "clandestina" conta mais de 8 milhões de fiéis, que são obrigados a celebrar missas em segredo, nas suas casas, sob o risco de serem presos. O baptismo e o ensino religioso entre menores de 18 anos são punidos na China com prisão ou confinamento aos “campos de reeducação pelo trabalho”.


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