A Capela Sixtina acolhe desde ontem os 115 Cardeais que elegerão o sucessor de João Paulo II e é, de facto, o coração do Conclave.
É ao Papa Papa Sixto IV (daí o nome Sixtina) que ficamos a dever esta obra de arte notável, assinada por Michelangelo. Encomendada em 1477, a Capela Sixtina transformou-se no atelier do mestre do Renascimento entre 1508 e 1512.
De dimensões iguais ao lendário templo do rei Salomão, em Jerusalém – 40,5 metros de comprimento, 13,2 de largura e 20,7 de altura -, a Capela que alberga os Conclaves dos últimos séculos é conhecida pelos seus frescos de temática bíblica, com destaque para os relatos da Criação do homem e do Juízo final.
João Paulo II faz referência a esta última pintura na Constituição Apostólica “Universi Dominici Gregis”, sobre a eleição do Papa, quando escreve: “disponho que a eleição continue a desenrolar-se na Capela Sixtina, onde tudo concorre para avivar a consciência da presença de Deus, diante do qual deverá cada um apresentar-se um dia para ser julgado”.
O Papa polaco nunca escondeu a sua admiração pela Capela, tendo afirmado que “os frescos que aqui contemplamos introduzem-nos no mundo dos conteúdos da Revelação”. As palavras proferidas a 8 de Abril de 1994 assinalavam solenemente a conclusão das obras de restauro do Juízo Final.
Os Cardeais estão sentados em 12 mesas, olhando de frente para esta pintura. É diante dela que se encontra a urna onde são recolhidos os votos. A salamandra onde os boletins e outros escritos são queimados está na parede da esquerda, diante da entrada.
Ao fundo da Capela, numa zona fechada ao público, está uma pequena sala de nove metros quadrados, a “sala das lágrimas”, na qual o novo Papa entra em companhia do Cardeal Camerlengo e do Mestre das Celebrações Litúrgicas para, de acordo com a tradição, chorar perante a responsabilidade da tarefa que lhe é confiada...
A Capela Sixtina, situada à direita da Basílica de São Pedro, começou por ter elementos do séc. XV, como as histórias de Moisés e de Cristo, além dos retratos dos Papas. Este trabalho foi executado por uma equipa de pintores originalmente formada por Pietro Perugino, Sandro Botticelli, Domenico Ghirlandaio, Cosimo Rosselli, coadjuvados pelos seus colaboradores, entre os quais Biagio di Antonio, Bartolomeo della Gatta e Lucas Signorelli.
No dia 15 de Agosto de 1483, Sixto IV consagrou a nova Capela à Assunção da Virgem. Júlio II, sobrinho deste Papa, quis modificar a decoração da Capela e confiou a tarefa, em 1508, a Michelangelo, que pintou a abóbada e a parte alta das paredes, num trabalho que se prolongou até 1512.
Os nove quadros centrais apresentam as histórias do livro do Génesis, desde a Criação à Queda do homem, o dilúvio e o renascer da família humana. O artista acabou por cobrir mil metros quadrados da capela, pintando cerca de 300 figuras no tecto e paredes laterais.
Perto do final de 1533, o Papa Clemente VII encarregou Michelangelo de modificar a decoração da Sixtina, pintando na parede do altar o Juízo Final. Esta nova intervenção provocou a perda dos frescos do séc. XV – o retábulo com a Virgem e os primeiros episódios das histórias de Moisés e de Cristo, pintados por Perugino.
O Juízo Final começou a ser pintado em 1536, já no pontificado de Paulo II, tendo sido concluído no outono de 1541.
João Paulo II considerava que a obra de Michelangelo tinha transformado a Sixtina no “santuário da teologia do corpo humano”. Apesar desta admiração papal, nem todos na Igreja gostaram da obra: o Concílio de Trento ordenou que se cobrissem parte das figuras com panejamentos. Nos séculos XVII e XVIII, os corpos voltaram a ser escondidos.