Vaticano

Voos Perigosos

Francisco Perestrello
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A crescente preocupação do mundo com os ataques terroristas nos mais diversos locais não poderia deixar de ser um tema a chamar a atenção dos produtores de cinema, que nele encontram uma boa oportunidade de abordar problemas da sociedade actual. Robert Schwentke, realizador alemão com uma carreira modesta, transferiu-se para os Estados Unidos e realizou a sua obra mais importante, até à data, tomando este tema como linha dorsal. Toda a acção decorre no interior de um avião, onde o desaparecimento de uma criança levanta suspeitas desencon-tradas: fuga simples para qualquer recanto menos acessível, sequestro para cobertura de outros actos criminosos, ou imaginação da mãe, que terá embarcado sozinha e apenas expande os seus traumas causados pela recente morte do marido. Jodie Foster, no papel de mãe desesperada é, por si só, quase todo o filme, dando o melhor do seu esforço para dar credibilidade à difícil personagem que lhe cabe. Exprime com eficiência os diferentes estados de espírito causados pelas situações que enfrenta e permite que o ritmo da acção não sofra quebras ou hiatos narrativos. Tudo decorre dentro da melhor ordem do cinema tradicional, com as diversas componentes bem encaixadas e seguindo uma linha previsível para os mais experientes, mas que não deixa de ser portadora de alguma emoção. É o thriller trabalhado num espaço limitado e com um número de personagens cuidadosamente medido. A relação de probabilidade entre os actos de terrorismo e a presença de passageiros árabes, viajando em grupo, é o único pretexto para um pequeno apontamento social, que não chega a tomar corpo para se poder dizer que constitui um elemento fundamental da obra. O que fica é um pouco de aventura, em que a imensidade da dimensão e variedade de locais de um avião gigante da última geração torna possível que não se sinta o espaço limitado em que as diferentes personagens se movem. Francisco Perestrello


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