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Paulo Rocha
Dois anos com Francisco
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Foto da capa: D.R. Foto da contracapa: Agência ECCLESIA
AGÊNCIA ECCLESIA Diretor: Paulo Rocha | Chefe de Redação: Octávio Carmo Redação: Henrique Matos, José Carlos Patrício, Lígia Silveira,. Luís Filipe Santos, Sónia Neves Grafismo: Manuel Costa | Secretariado: Ana Gomes Propriedade: Secretariado Nacional das Comunicações Sociais Diretor: Cónego João Aguiar Campos Pessoa Coletiva nº 500966575, NIB: 0018 0000 10124457001 82. Redação e Administração: Quinta do Cabeço, Porta D 1885-076 MOSCAVIDE. Tel.: 218855472; Fax: 218855473. agencia@ecclesia.pt; www.agencia.ecclesia.pt;
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O pontificado do exemplo |
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Paulo Rocha
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Um crente e um não crente numa conversa aberta sobre os dois anos do pontificado de Francisco. Um colóquio sem questões, feito de opiniões, de pontos de vista com referenciais diferentes sobre o percurso de cada pessoa, incluindo ou não a experiência crente no quotidiano. Resultado: a afirmação consecutiva de pontos de encontro em torno de gestos e mensagens que o Papa argentino transmite para todo o mundo a partir do Vaticano. E a certeza de que este é o pontificado do exemplo. Daniel Oliveira e José Tolentino Mendonça foram os atores de um diálogo sem guião. Partilharam pontos de vista, certezas e dúvidas que as surpresas do pontificado do Papa Bergoglio geram em cada dia. Em todas as pessoas. Porque para todas, sejam crentes ou não, as propostas que faz derivam sempre do próprio exemplo. O pontificado do Papa argentino não pode ser analisado a partir de relatórios externos ou com o olhar voltado para o Palácio Apostólico à espera de pronunciamentos ou sentenças que de lá possam sair após a devida ratificação. Desde a primeira hora, vemos Francisco a partir ao encontro de todas pessoas, a deixar o centro rumo a periferias, a preferir o caminho à poltrona, o abraço à norma, a acontecer permanentemente o magistério do exemplo. |
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Quando o cardeal argentino emergiu na Praça de S. Pedro, no segundo dia da reunião dos cardeais em conclave, a imagem vista em muitos ecrãs, mesmo nos que estavam na Praça à esperava do anúncio do eleito, mostravam um homem, de costas, a caminhar rumo ao povo. E esse registo repetiu-se, em todos os palcos. Francisco está sempre a sair. Dirige-se a todos, ao bairro de cada crente, às circunstâncias de cada cidadão. E a comunicação que faz é por palavras, sim, mas sobretudo por esse exemplo. Desde o dia 13 de março de 2013, o Papa chegou a muitos contextos, contagiou pessoas em locais inesperados e provocou transformações em diferentes ambientes e circunstâncias. |
O seu jeito de propor hoje o Evangelho é eficaz. Sobretudo porque Francisco inaugurou uma nova categoria de cristãos: o “discípulo missionário”. Porque Para Francisco não é suficiente anunciá-Lo. Urge ser testemunha, pelo exemplo. Dois anos de um pontificado provocam também expectativas quando ao alcance de tantos exemplos. Surgem naturalmente interrogações relativas à mudança efetiva, tanto no ambiente do Vaticano como – e sobretudo, diria - nas estruturas locais da Igreja Católica. E com as interrogações a tentação de substituir o exemplo pela norma, dada a aparente eficácia da lei quando comparada com ondas transformadoras que brotam de convicções profundas. Nestas circunstâncias, o desejo de resultados imediatos não pode ser obstáculo à conquista de renovações consolidadas. E essas apenas acontecem pelo exemplo.
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“Diversity & Inclusion – Love Has No Labels” Em Santa Mónica, nos Estados Unidos da América um grande monitor de raio-X mostrava esqueletos que partilhavam gestos de carinho. Ao avançarem para a frente do ecrã surgiam pessoas de diferentes raças, de diversas opções sexuais ou representantes de diferentes religiões. Pôr de parte as "etiquetas" em nome do amor era o objetivo da campanha. |
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Perfazem-se agora, a 13 de Março, dois anos sobre a eleição do Papa Francisco. Sem dúvida, um dos acontecimentos globais mais marcantes destes tempos recentes. Francisco, provindo — segundo as suas exactas palavras — do fim do mundo, tem sido a única voz carismática e a única referência ética a nível global. Num mundo prenhe de lideranças frágeis e hesitantes, voltadas para a gestão egoísta, mesquinha e pequena das agendas diárias, sem visão e sem ambição, Francisco constitui a única e a grande reserva moral global. É a voz que prega no deserto.
PAULO RANGEL - Público 10/03/2015
É com um misto de pesar e espanto que vejo milhares de concidadãos empenharem-se até à irracionalidade em todos os temas que dizem respeito aos direitos dos animais. Não porque os animais não mereçam a nossa atenção e proteção, mas porque há muitos outros assuntos que merecem e não recebem o mesmo sobressalto por parte de quem está sempre disponível para erguer estátuas a cães ou mudar-lhes o nome para Mandela.
DAVID PONTES - JN 12.03.2015
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Representante dos bispos portugueses visitou Mesquita de Lisboa |
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O bispo das Forças Armadas, D. Manuel Linda, visitou esta terça-feira a Mesquita Central de Lisboa como representante da Conferência Episcopal Portuguesa, com o intuito de reforçar os laços entre Igreja Católica e comunidade islâmica. No final do encontro com Abdool Vakil, presidente da Comunidade Islâmica, o bispo sublinhou à Agência ECCLESIA a importância de católicos e muçulmanos “estreitarem laços” numa altura em que estão a “sofrer ataques à sua fé e às suas convicções”. D. Manuel Linda lembrou o clima de violência e terror que os membros do autoproclamado 'Estado Islâmico' têm espalhado, sobretudo no Médio Oriente. Segundo o prelado, é importante que “os cristãos saibam que o Estado Islâmico armado não é reconhecido como tal pelos muçulmanos”, que encaram o grupo radical como “uma negação da sua própria fé". O bispo das Forças Armadas e de Segurança, atualmente à frente da Comissão Episcopal da Missão e Nova Evangelização, salientou que a |
presente conjuntura está a fazer crescer em diversos pontos da Europa uma certa “islamofobia e cristofobia”. “Portanto nós os religiosos, seja da religião muçulmana ou cristã, devemos estar juntos neste desafio”, complementou. Naquela que foi a primeira visita oficial de um representante da Conferência Episcopal Portuguesa à Mesquita Central de Lisboa, o anfitrião do encontro, Abdool Vakil, saudou a iniciativa como forma de católicos e muçulmanos “encontrarem pontes entre si” em ordem a um diálogo cada vez mais rico e frutuoso. “Devemos mostrar aquilo que nos une, é muito importante, ter estas visitas frequentes uns com os outros e cultivar isso junto dos jovens também”, sustentou. Sobre o Estado Islâmico, o presidente da Comunidade Islâmica de Lisboa, radicado em Portugal desde 1956, reforçou que “ele não representa” em nada as convicções dos verdadeiros muçulmanos. “O primeiro Estado Islâmico foi criado pelo nosso profeta [n. r. Maomé] ainda durante a sua vida, em que estavam lá cristãos |
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e judeus juntos, com uma constituição que defendia os direitos de cada um”, lembrou. Abdool Magid Vakil desafiou D. Manuel Linda para vir rezar com a comunidade islâmica lisboeta numa oração de sexta-feira, repto que o bispo católico aceitou “com todo o gosto”.
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O bispo católico foi ainda convidado para uma refeição na cantina da Mesquita e para acompanhar mais o Fórum Abraâmico, um espaço de debate criado por membros das comunidades cristã, islâmica e judaica, das três religiões originadas em Abraão.
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Bispo de Lamego quer valorizar cada pessoa
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O bispo de Lamego está a visitar as paróquias da cidade, com contactos junto da população que proporcionam momentos “muitíssimos enriquecedores, vivos e importantes”. “O primeiro apelo de forma significativa é que a Igreja, o bispo, os párocos se aproximem das pessoas, que possa visitá-los e estar com eles”, explica à Agencia ECCLESIA D. António Couto depois da visita a duas das 14 paróquias do Arciprestado de Lamego. O prelado assinala que pretende visitar as pessoas que estão “mais fragilizadas e doentes”, passando também pelas que “ensinam na catequese” ou “visitam as famílias, os pais das crianças”. |
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O objetivo é organizar formas de manter “vivas” as metodologias, com a criação de mais grupos de oração, grupos de leitura da Sagrada Escritura, outros que escutem as pessoas “nos bairros e nas ruas” para que possa “acontecer uma verdadeira movimentação de todos” através de “pequenos laços”. Por outro lado, o bispo da diocese pretende que as pessoas saibam que através da amizade com Cristo podem encontrar “soluções” para os “múltiplos problemas” que afetam uma cidade do interior com “baixa densidade populacional”, onde as “pessoas valem por ser pessoas”. “É preciso dizer-lhes que valem muito, que contamos com elas”, alerta D. António Couto. |
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Lisboa lembrou D. José Policarpo
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O cardeal-patriarca de Lisboa recordou hoje o seu predecessor, D. José Policarpo, pela sua “fidelidade” e “esperança”, durante a Missa pelo primeiro ano do seu falecimento. “[D. José Policarpo] foi sacerdote e bispo em tempos de profundas mudanças em Lisboa como na Igreja em geral, antes, durante e depois do Concílio Vaticano II. Muitas vezes até por nós que éramos mais novos, acertar no rumo, ver qual era o caminho. Foi muito importante termos um homem com a lucidez e com a fidelidade do D. José Policarpo e antes como padre tão perto de nós”, destacou D. Manuel Clemente, na homilia que proferiu no panteão dos Patriarcas, na igreja de São Vicente de Fora, em Lisboa. O cardeal-patriarca recordou palavras proferidas na última homilia pública de D. José Policarpos “à frente da diocese”, na ordenação de |
sacerdotes no Mosteiro dos Jerónimos, a 29 junho 2013. “Agora é bom lembrar, porque também nos confirma no caminho que era o dele e agora o nosso”, referiu aos jornalistas, no final da celebração. Para D. Manuel Clemente, estas palavras dão “nota da fidelidade que era muito própria dele” e da preocupação em “avançar” no que devia avançar, concretamente o que “tinha sido feito noutras circunstâncias, o que havia sido dito”, com os “pés bem firmes” em caminhos que a Igreja Católica trilha há dois mil anos. O cardeal-patriarca destaca que o seu antecessor “era muito esperançoso”, porque “olhava” para os diversos acontecimentos, na diocese, na Conferência Episcopal Portuguesa e em Roma com a “certeza de um Deus que não abandona o mundo”.
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Uma entrevista nos bairros de lata |
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O Papa Francisco concedeu uma entrevista ao boletim paroquial ‘La Cárcova News’, do bairro de lata homónimo em Buenos Aires, na qual manifesta a sua preocupação com a falta de transparência no financiamento de partidos políticos. “Uma das coisas que temos de conseguir e oxalá o consigamos fazer é uma campanha eleitoral de tipo gratuito, não financiada, porque no financiamento das campanhas eleitorais entram muitos interesses que depois ‘passam fatura’”, declarou Francisco. O Papa pede aos políticos que tenham “honestidade” ao apresentar as suas posições e que sejam “independentes” de qualquer interesse financeiro. “Que o financiamento seja público: dessa forma, eu, cidadão, sei que financio este candidato com esta determinada quantia de dinheiro. Que seja tudo transparente e limpo”, acrescentou. A entrevista, republicada pelo jornal católico italiano ‘Avvenire’, surge no boletim informativo da paróquia dirigida pelo padre José María di Paola, conhecido como ‘padre Pepe’, que se dedica ao trabalho pastoral nos bairros pobres dos subúrbios da |
capital argentina e é visto como filho espiritual do atual Papa. As perguntas foram colocadas pelo padre José María di Paola durante uma visita ao Vaticano, em fevereiro, a partir de questões sugeridas pelas pessoas que vivem na paróquia e as respostas saíram esta segunda-feira, dia em que o boletim é habitualmente distribuído. Francisco centra-se na realidade da Argentina, que vai ter eleições presidenciais em outubro deste ano, mostrando-se preocupado com o aumento dos problemas ligados ao tráfico e produção de droga no país. “É verdade, a droga avança e não para. Existem países que já são escravos da droga”, alertou, lamentando o “triunfalismo” dos traficantes. O Papa avança a intenção de visitar o seu país natal em 2016, embora ainda não tenha programa definido. A entrevista retoma várias reflexões do atual pontífice sobre a importância das periferias, a necessidade de apostar na educação e na transmissão da fé às novas gerações. Os habitantes de Cárcova mostram-se preocupados com eventuais ameaças à vida do Papa, ao que este responde simplesmente que a sua vida “está nas mãos de Deus”. |
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Vaticano pede donativos para cristãos perseguidos na Síria e Iraque
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O Vaticano apelou aos donativos dos católicos em favor das comunidades cristãs perseguidas na Síria e Iraque, que vivem um “momento dramático”. O pedido é apresentado pelo cardeal Leonardo Sandri, prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais (Santa Sé), na carta aos episcopados de todo o mundo, por ocasião da coleta anual de Sexta-feira Santa (3 de abril, em 2015). O documento, divulgado pela sala de imprensa da Santa Sé, é acompanhado por um relatório que descreve a aplicação dos donativos de 2014, em particular a ajuda de emergência |
(cerca de 2 milhões de euros) destinada à Síria e ao Iraque. “Há milhões de deslocados que fogem da Síria e do Iraque, onde o grito das armas não se cala e o caminho do diálogo e da concórdia parece completamente perdido, ao mesmo tempo que parecem prevalecer o ódio insensato de quem mata e o desespero desarmamento de quem perdeu tudo e foi expulso da terra dos seus pais”, alerta o cardeal Sandri. Segundo o responsável da Santa Sé, as comunidades católicas têm de estar atentas a estes acontecimentos, para evitar a “fuga” dos cristãos da Terra Santa. |
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Francisco assinalou a primeira Missa em italiano do Beato Paulo VI |
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O Papa Francisco assinalou este sábado os 50 anos da primeira Missa celebrada em italiano pelo Beato Paulo VI, na sequência das mudanças promovidas pelo Concílio Vaticano II (1962-1965), e disse que o comportamento do cristão tem de ser coerente entre a oração e o exercício da caridade e justiça, substituindo "presentes religiosos" pelo "dever ao próximo". "Não podemos fingir que entramos na casa do Senhor e cobrir, com orações e práticas devocionais, comportamentos contrários à exigência da justiça, da honestidade e da caridade com o próximo", afirmou o Papa, na paróquia de Todos os Santos, em Roma, o mesmo local escolhido por Paulo VI em 1965. "Não podemos substituir com presentes religiosos aquele que é o dever ao próximo, adiando uma verdadeira conversão", sublinhou, durante a homilia da celebração. Assinalando a "inauguração da reforma litúrgica" com a celebração da Missa na "língua falada pelas pessoas", Francisco assinalou que a liturgia é "um meio privilegiado para ouvir a voz |
do Senhor, que guia pela estrada da retidão e perfeição cristã".
"Trata-se de cumprir um itinerário de conversão e de penitência, para remover de nossas vidas a escória do pecado, como Jesus fez, na limpeza do templo por interesses mesquinhos", observou.
Francisco apontou a Quaresma como um tempo "favorável" à "renovação interior, da remissão dos pecados", em que os cristãos são "chamados a redescobrir o Sacramento da Penitência e da Reconciliação", passando das "trevas do pecado para a luz da graça e na amizade com Jesus". A constituição conciliar ‘Sacrosanctum Concilium’, que entrou em vigor há 50 anos, define a liturgia como “a primeira e indispensável fonte através da qual os fiéis podem atingir o verdadeiro espírito cristão”. Paulo VI disse em 1965 que começava uma “nova forma da Liturgia em todas as paróquias e igrejas do mundo, para todas as Missas seguidas pelo povo”, um “compromisso novo na correspondência ao grande diálogo entre Deus e o homem”. |
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O porquinho de Santo António |
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D. Manuel Linda Armadas e Segurança |
Ignoro se a tradição ainda se mantém. Mas, se acabou, foi há muito pouco tempo. E, neste caso, constituiria forte perda de uma assinalável “fantasia da caridade”, como lhe chamaria o Papa emérito, Bento XVI. Nas aldeias do Barroso, climatericamente frias, mas humanamente muito ricas de socialidade, costumava-se comprar um pequeno leitão que se libertava na praça central. A casa para onde ele se dirigisse, alimentava-o enquanto ele por lá quisesse pernoitar. Quando lhe apetecesse mudar de ares, era o novo visitado que o teria por inquilino ou hóspede de estimação. Assim cevado comunitariamente, tinha o mesmo destino que os seus congéneres: ser abatido. Mas enquanto estes iam inteirinhos para a salgadeira dos respectivos donos, o porquinho de Santo António era divido ao meio: metade ia directamente para os pobres da aldeia; a outra parte era leiloada e, com esse provento, fazia-se a festa do Santo e comprava-se o novo «bacorinho» que, ciclicamente, alimentava os pobres e garantia a festa daquele que o povo considera patrono dos animais. Porquê lhe chamam «porquinho de Santo António»? Porque a pobreza geral de outros tempos não permitia grandes aspirações a um regular «Pão de Santo António», «Tostão do Santo» ou similar. Mas as pessoas sabiam que o santo frade, franciscano e mendicante, se honraria colhendo-lhe o exemplo da dedicação aos mais pobres. E o povo, portador de uma imensa “fantasia da caridade”, encontrou no «porquinho» |
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a forma de exercer esta vertente que saber constituir parte fundamental da identidade cristã. Veio-me isto à memória quando li as diversas mensagens dos bispos para a quaresma. Em todas, verifica-se o mesmo apelo à solidariedade e à fraternidade, a exemplo de Jesus Cristo que veio “anunciar a Boa Nova aos pobres” e até ousou apelar ao jovem rico que fosse vender quanto possuía e dar o dinheiro aos pobres, como condição do seu seguimento e de obter um tesouro no céu. É unânime, de facto, o encaminhamento da renúncia e do contributo quaresmal para organismos que ajudam e promovem os pobres. Não tanto por motivo da «crise». Mas porque, seja qual for a situação económica e social do país, pertence ao âmago da fé |
a preocupação efectiva com quem necessita de uma mão solícita que o eleve e de uma outra que, porventura, lhe mate a fome. Fora disto, pode haver fé. Mas não será a cristã, a tal que só tem como paradigma ser como Jesus Cristo é e fazer como Ele faz. Entretanto, de facto, não chega a caridade ocasional, agora, na quaresma, «empolada» pelo exemplo de Jesus Cristo que dá e Se dá até ao limite. É preciso que tenhamos criatividade pastoral como tiveram os ricos e os pobres do passado. Se nas mais ou menos cosmopolitas cidades se instituíram Misericórdias, nos pequenos lugarejos ficou-se pelo porquinho de Santo António. Mas alguém duvida que se trata da mesma “fantasia da caridade”? |
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O perfume «secreto» do papa Francisco |
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Luís Filipe Santos |
Ao escrever este texto arrisco um processo judicial. No entanto, não podia deixar de divulgar este furo jornalístico, baseado em cruzamentos de dados fornecidos por fontes fidedignas que contactam, diariamente, com o Papa Francisco. Qual será o perfume que o Papa argentino usa e que deixa logo, pela manhã, um odor intenso na Capela de Santa Marta? Tinha de descobrir este segredo. O primeiro passo era tentar desvendar as fragâncias utilizadas naquele frasco de 7 polegadas que condensa um aroma desarmante. Aquele argentino que atravessou o Atlântico e se alojou no Vaticano utiliza fragâncias intensas e aplicáveis em todas as estações do ano. Aqueles que já tiveram oportunidade de estar com ele afirmam que o perfume deixa raízes olfativas, todavia os restantes sentidos ficam em alerta máximo. A personalidade daquele odor deixa marcas indeléveis nas pessoas que inspiram a frescura das fragâncias. É um perfume quente ou leve? Aqueles que acolhem a essência não sabem definir a composição do perfume, mas são unânimes em afirmar que é um odor agradável e humano. A frescura das fragâncias sensoriais que o Papa Francisco utiliza faz tremer a «senhora guerra», incomoda o «senhor hipócrita» e deixa a «madame injustiça» a olhar para baixo. Quando carrega no vaporizador do frasco, ainda o sol está a tentar abrir as cortinas dos montes, o Papa argentino não exagera na quantidade de gotas aromáticas. Umas pequenas lágrimas deste perfume são o suficiente para atrair a multidão. |
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Os mais frágeis ficam tocados com aquele odor libertador e as crianças ganham novo folego para enfrentar o futuro. Os mais próximos acrescentam que o aroma é intrínseco e não da indumentária alva. A frescura odorífica é corporal e não da paramentaria. O local de compra é confidencial, mas fontes confirmam que é num local subterrâneo e com nome funesto «Catacumbas». Não é a primeira vez que ouvi falar deste centro rodeado de ciprestes. Recordo que na altura do II Concílio do Vaticano, alguns padres conciliares, um deles foi D. Hélder da Câmara, também frequentavam o mesmo local. Uma coisa é certa, o seu perfume atrai… Basta ver as multidões na praça petrina. Todos tentam tocar no odor que ele liberta. As fragâncias do Papa argentino empolgam. O seu perfume é um puro ato de decantação campestre. |
A força deste perfume depende, basicamente, da concentração de vários ingredientes utilizados na sua conceção. Estes aromas que ele espalha no ar nos vários locais por onde passa estão a ter um sucesso incrível. Aquele perfume não foi elaborado no laboratório da Capela Sistina no conclave de 2013, mas é fruto de uma vida «face to face». Não é um produto de cosmética vendável porque é único. As fragâncias que compõem o calor deste perfume são os evangelhos. Depois de muitas horas de investigação consegui descobrir o nome do perfume do Papa… O frasco de 7 polegadas tem no rótulo este nome «VERITAS» e no canto inferior, em letras minúsculas, está escrito: “Não são admitidas réplicas».
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Dois anos com o Papa Francisco dão o mote a esta edição do Semanário ECCLESIA, na qual pode encontrar um diálogo entre o padre Tolentino Mendonça e Daniel Oliveira sobre o que tem significado para crentes e não crentes a figura do pontífice argentino, para além de opiniões de vários responsáveis eclesiais e da sociedade civil, bem como uma abordagem a alguns dos temas essenciais deste pontificado.
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O pontificado de Francisco
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Diálogos crentes e não crentes em torno de gestos e mensagens que marcam os dois anos de pontificado do Papa Francisco. As perspetivas são de Daniel Oliveira (DO) e José Tolentino Mendonça (JTM), numa conversa “sem rede”. Ao longo de uma hora, cada um dos intervenientes disse o que quis sobre a relevância de Francisco e a inspiração que constitui para todos, crentes e não crentes. Nas páginas que se seguem pode ler as intervenções principais e ver e ouvir os momentos mais significativos desta conversa. No programa 70x7 desde domingo, na RTP2, pode também seguir o pensamento essencial de Daniel Oliveira e José Tolentino Mendonça, neste diálogo. O colóquio integral vai ser publicado no canal Ecclesia no youtube e meokanal na segunda-feira, dia 16 de março. |
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Origens em contexto de ditadura |
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DO – Como é que alguém, que tem um papel importante na hierarquia da Igreja durante uma ditadura bastante violenta e que tem uma relação próxima com a Igreja, passou ao lado dos crimes dessa ditadura? E, na realidade, a história dele nessa altura, não é muito clara. Não se chega a perceber muito bem… JTM – Há dois padres que levantaram questões: supostamente não teria feito a proteção de dois jesuítas quando tinha uma responsabilidade por eles. Mas há outros dois exemplos: um de Esquivel, que vem
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de um parâmetro ideológico completamente diferente do dele (é um homem de esquerda, comunista) que defende completamente a ação de Bergoglio. Por outro lado há uma série de testemunhos de pessoas que ele salvou. É uma história que tem a ver com o perfil de Bergoglio: é uma recusa de uma heroicização. Ele não quer falar do bem que fez. Numa ditadura como aquela dos generais argentinos, toda a gente sai humilhada. Por isso também há esse claro-escuro que o Daniel falava. |
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O Papa mais político |
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DO - O Papa utiliza alguns dos instrumentos conhecidos da democracia. Parece procurar nos seus atos simbólicos uma proximidade com o povo, com as aspirações populares, para ganhar força dentro da própria Igreja. Além de ser uma caraterísticas típica de um dirigente político – acho que este Papa é talvez o Papa com mais sentido político que me recordo e um líder religioso é seguramente um líder político – o Papa percebeu que era nos mecanismos da democracia, do apoio popular que é necessário em democracia, que encontraria a força para fazer a transformação da Igreja. JTM – A Igreja não é uma democracia, de facto. Mas não é menos do que uma democracia. O espírito renovador do cristianismo obriga-o ser mais do que uma democracia. O que é pedido não se fica apenas pelo bom senso de uma norma de justiça. Porque podem obrigar-nos a ser justos, mas não nos podem obrigar a ser irmãos. Há uma carga profética no cristianismo, que ele representa |
de uma forma muito vigorosa até pelo nome que escolhe, ligada à tradição franciscana.
O cristianismo tem isto na sua origem: vai além da democracia. Vemos um homem como Paulo e o nascimento da Igreja que deixa a democracia grega a milhas, porque constrói uma realidade humana que era impossível acontecer: reunir homens e mulheres, escravos e senhores, ser realmente universal. O discurso do Papa é um discurso muito político. Quando uma das suas primeiras visitas é ir a Lampedusa, ele não quer falar dos anjos, mas dos homens e da forma como nos organizamos. |
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O pontificado do exemplo
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DO – O que este Papa tem de mais extraordinário é a utilização do exemplo. JTM – Muito revolucionária… DO – A utilização do exemplo como uma forma de intervenção política. E isso não existia nos papas anteriores: falavam da pobreza mas não deixavam de viver no fausto. (O meu discurso moral é cauteloso, nesta matéria. Falo sobretudo na eficácia, que é importante tanto na política como na intervenção de uma igreja.) Este Papa responde muito melhor à crise da Igreja no mundo Ocidental, que não é específica da Igreja |
Católica, mas das instituições. Este Papa responde bem à desconfiança das pessoas em relação às instituições através do seu exemplo, encontrando nele um exemplo que não veem em líderes políticos.
JTM – No interior da Igreja Católica tem havido, nestes dois anos de pontificado do Papa Bergoglio, uma espécie de aprendizagem desta figura, que é exigente também para o interior. O discurso do Papa é muito exigente para o interior da Igreja. Por exemplo, a escolha da residência dele. |
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A casa, o palácio apostólico, são lugares ascéticos. Não podemos pensar que seja uma corte, embora o décor seja esse. Este corte que Francisco faz, desconstruindo a imagem monárquica
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do Papa é algo que a própria Igreja Católica está a aprender, está a assimilar, a refletir. Primeiro acontece o gesto. Agora há uma hermenêutica do quotidiano que obriga a fazer um caminho. |
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O gesto mais forte do Papa e uma dúvida |
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O poder do Papa e da Igreja |
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DO - Vou utilizar uma expressão quase provocatória. Há uma dessacralização do papel do Papa e a minha questão é se isso não retira poder à Igreja, se os gestos do Papa que o tornam um entre os outros não retiram poder à Igreja. E isso é bom ou mau? JTM – O poder na Igreja Sempre marcou a história do cristianismo. A relação do cristianismo com o poder nem sempre é justa, cristã. A história está cheia de exemplos em que a |
Igreja se agarra ao poder, investe aí o melhor da sua energia. Dessa tentação nunca o cristianismo está livre. Mas também é verdade que o verdadeiro poder na Igreja é de natureza profética. Basta pensar no nome de Francisco, que o Papa Bergoglio escolheu para si. A Igreja afirma-se pelo usar, não pelo ter. |
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15 doenças na Igreja
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DO – Eu espero um grande impacto da postura do Papa no tentar vencer algumas das doenças do poder na Igreja. Uma delas é o sistema burocrático, o sistema piramidal, muito distante das pessoas. E outro é o poder do dinheiro na Igreja. Estes gestos serão simbólicos - que não é pouco, mas não chega - ou serão gestos práticos? JTM - Ele tem tomado medidas importantes. Nomeadamente esta última, que está a ser negociada com o Estado italiano, que é no fundo uma |
transparência das contas do IOR. Funcionava como uma zona franca, havia casos de irregularidade, estava na lista negra de bancos nacionais. |
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Um Papa que renuncia |
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DO - A minha dúvida é: este Papa era possível, com as características sem resultar de uma renúncia de um outro Papa? A renúncia de Bento XVI pareceu-me revolucionária.
JTM - A Igreja só tem um capital moral para pedir ao mundo a mudança se ela própria assumir a necessidade de mudar e as suas patologias. |
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Igreja a enfraquecer? |
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DO - Atomização da sociedade pôs todas as instituições em crise. É uma ilusão pensar que a forma de resolver isto é transformar as instituições numa coisa tão leve de tal forma que a terra firme passe a ser uma jangada e, em vez de nos salvar, vá com a enxurrada. Receio a transformação radical das instituições e que, a determinada altura, as pessoas não tenham onde se agarrar. Será que isto se coloca na Igreja? Não há risco de enfraquecer a Igreja, dando-lhe um maior valor simbólico e a simpatia das pessoas? |
JTM - Muitos dizem: “O Papa ao corrigir as patologias da Igreja está a enfraquecer a Igreja”. Sim, ele está a enfraquecer um certo poder, está a dessacralizar. A conversão é exigente, coloca em crise. Hoje, observada de fora, a Igreja do Papa Francisco pode ser mais próximo da jangada (uma imagem usada por ele na primeira encíclica, a Igreja parece mais um “hospital de campanha”), mas, para quem acredita, reconhece aí as marcas do que é eterno. |
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Simpatia do Papa |
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DO - Há um magistério moral da Igreja, de contradição, mas muitas vezes a única instituição presente onde não existe mais ninguém. Isso é um património indispensável. Por isso vi com tanta alegria a chegada deste Papa. Aparecer num bairro ao lado |
de ciganos é algo que nenhum político se atreve a fazer. Aí o Papa pode fazer muita diferença, mesmo no mundo político.
JTM - Esta disrupção criadora que ele faz… |
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Fim do discurso autorreferencial
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DO - Este Papa também tem a vantagem de não fazer um discurso centrado. JTM - Sim, ele deixou de fazer um discurso autorreferencial, foi das mudanças mais importantes. Ele deixou de falar da Igreja e de colocar na agenda as coisas tradicionais de um discurso eclesial fechado. DO- Como é a sua relação ecuménica, com agnósticos e ateus, que na Europa não são poucos. Qual a importância dessa relação, sem ser com o intuito da conversão? |
JTM - A igreja não pode ser associada só á direita ou à esquerda. Tem de falar para todos. Há grandes linhas de encontro e isso tem de ser uma coisa natural. O Papa Francisco reforça este aspeto. O que une um cristão e um ateu é muito intenso do que o que nos separa.
DO - Arrisco-me a dizer, sendo ateu, que todos nós vemos Deus de alguma maneira. Consigo perceber a fraternidade humana. JTM - Tocamos o mistério. Isso coloca-o dentro do mistério. |
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Igreja menos eurocêntrica |
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JTM - Na homilia aos cardeais, o Papa dizia que há dois modelos para construir a Igreja: vamos concentrar-nos no que estão cá e aceitar que há quem esteja fora, que temos de respeitar, mas precisamos concentrar-nos nos que estão dentro; outro modelo, claramente o modelo do Papa Francisco e que ele propõe à Igreja neste século XXI, dizendo «Vamos olhar para os que estão |
fora», mesmo que isso possa ter alguma turbulência no rebanho, naqueles que estão dentro. Mas vamos às fronteiras e periferias. DO - Tem importância o facto de este Papa não ser europeu? JTM - Um Papa europeu nunca teria o perfil de Bergoglio, porque atua dentro de uma certa tradição, de constrangimentos que são herdados, que são nossos. |
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Dois anos de pontificado. E depois?
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JTM - Penso em duas palavras: uma é encontro. Estes dois anos foram marcados por grandes e inesperados encontros, por exemplo com o mundo dos mais pobres, numa atenção privilegiada às periferias. A outra palavra é transformação. É uma palavra sobretudo para o interior da Igreja, tem sido um discurso exigente, transformador, que desassossega, que nem sempre é fácil de acolher, mas que potencia o futuro da Igreja. DO - A questão das periferias, no sentido mais lato do termo: tudo o que está escondido e longe do centro
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para onde o Papa apontou a luz e deu visibilidade. Acho que o Papa tem ainda imensas coisas para fazer e por isso espero que tenha uma vida longa. |
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Dois anos com o Papa das periferias |
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O Papa vai completar esta sexta-feira dois anos de pontificado, marcados pela preocupação com as “periferias” geográficas e existenciais da humanidade, que exigem respostas da Igreja e da sociedade. Francisco tem apelado a uma Igreja “em saída” e atenta aos mais frágeis, centrando o seu discurso, teologicamente, na “misericórdia” que renova as atitudes dos católicos. “O povo de Deus tem necessidade de renovação, para não cair na indiferença nem se fechar em si mesmo”, escreveu, na mensagem para a Quaresma de 2015 O Papa defende a Igreja Católica tem de estar junto dos “marginalizados” e rejeita a formação de uma “casta” que exclui quem sofre da vida eclesial, como disse no último consistório, em fevereiro, durante a criação de 19 cardeais, incluindo D. Manuel Clemente. Este “evangelho dos marginalizados” tem inspirado gestos e discursos do Papa em várias áreas, com destaque para os temas ligados à defesa da vida e do matrimónio, reafirmando a doutrina da Igreja Católica ao |
mesmo tempo que pede atenção a cada situação particular. Francisco, primeiro pontífice a escolher este nome, mantém a sua residência na Casa de Santa Marta, dentro do Vaticano, onde celebra diariamente uma Missa matinal, e continua a deslocar-se em carros utilitários, apresentando-se como um “homem normal”. O Papa tem mantido contactos com o seu predecessor, Bento XVI, que convidou a participar em várias celebrações e do qual retomou reflexões que deram origem à encíclica ‘Luz da Fé’, a única publicada durante o pontificado, esperando-se que o próximo documento do género (os mais importantes assinados por um pontífice), dedicado ao tema do ambiente, seja publicado nos próximos meses. Francisco tem mais de 19 milhões |
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de seguidores na sua conta da rede social ‘Twitter’, um número que aumenta todos os meses, e foi acompanhado por quase seis milhões de pessoas no Vaticano, em 2014, durante diversas celebrações e encontros. Estes números aproximados deixam de foram os dados relativos às sete viagens internacionais do pontificado (Brasil, Terra Santa, Coreia do Sul, Albânia, Estrasburgo, Turquia, Sri Lanka/Filipinas) e às quatro viagens na Itália, incluindo a ilha de Lampedusa e o cemitério militar de Redipuglia (para evocar o centenário do início da I Guerra Mundial), para além de outras visitas a paróquias na Diocese de Roma.
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Francisco tem apelado à paz nas várias regiões do mundo afetadas por conflitos, assumindo a defesa dos cristãos no Médio Oriente,
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perseguidos pelo autoproclamado ‘Estado Islâmico’, e criticando quem justifica ataques terroristas com as suas convicções religiosas, porque “não se pode fazer a guerra em nome de Deus”.
Após os atentados de Paris, no início deste ano, o Papa afirmou que o uso da liberdade de expressão exige a virtude da “prudência”, para evitar ofender o outro e provocar reações violentas. Outra das suas preocupações tem sido a promoção do encontro entre gerações, tendo mesmo afirmado que o abandono de pais e avós é um “pecado mortal”, em particular numa Europa ameaçada por “doenças” como a “solidão” e as consequências da crise económica e social. |
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Ainda neste contexto, sustentou que a geração dos filhos deve ser responsável, rejeitando a ideia de que “para ser bons católicos é preciso ser como os coelhos” mas criticou quem pensa que ter mais filhos é “automaticamente” uma “escolha irresponsável”. Depois de várias críticas a um sistema económico e financeiro injusto, que “mata”, o Papa criticou no final de fevereiro os que se aproveitam do desemprego para contratar funcionários por salários baixos.
O futuro próximo inclui, além da nova encíclica e da assembleia ordinária do Sínodo dos Bispos sobre a família, em outubro, viagens a Sarajevo, capital da Bósnia-Herzegovina, à América Latina (Equador, a Bolívia e o Paraguai), Estados Unidos da América (Filadélfia, para o Encontro Mundial das Famílias, e Washington) e França. Francisco nasceu em Buenos Aires, capital da Argentina, a 17 de dezembro de 1936, filho de emigrantes italianos, e trabalhou |
como técnico químico antes de se decidir pelo sacerdócio, no seio da Companhia de Jesus, licenciando-se em filosofia antes do curso teológico. Ordenado padre a 13 de dezembro de 1969, Bergoglio foi responsável pela formação dos novos jesuítas e depois provincial dos religiosos na Argentina (1973-1979). João Paulo II nomeou-o bispo auxiliar de Buenos Aires em 1992 e foi ordenado bispo a 27 de junho desse ano, assumindo a liderança da diocese a 28 de fevereiro de 1998, após a morte do cardeal Antonio Quarracino. O primaz da Argentina seria criado cardeal pelo Papa polaco a 21 de fevereiro de 2001, ano no qual foi relator da 10ª assembleia do Sínodo dos Bispos. Tem como lema ‘Miserando atque eligendo’, frase que evoca uma passagem do Evangelho segundo São Mateus: “olhou-o com misericórdia e escolheu-o”.
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Um pontificado em concílio permanente |
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O cardeal-patriarca de Lisboa elogiou o espírito de diálogo que tem marcado os primeiros anos do pontificado de Francisco, eleito a 13 de março de 2013, e o estilo de liderança do Papa argentino. “Isso é muito próprio desta ‘governance’ do Papa Francisco, que tem como objetivo levar e ir com a Igreja no sentido da proposta evangélica, da exigência que isso implica para quem tem responsabilidades, mas não o
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que fazer sozinho”, referiu D. Manuel Clemente, num balanço destes dois anos. Segundo o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, criado cardeal a 14 de fevereiro, o Papa tem promovido vários momentos de reflexão, como os sínodos dos bispos ou os consistórios, em que procura “ouvir” e, assim, comprometer também quem fala. Francisco criou um Conselho
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de Cardeais, com membros dos cinco continentes, para o aconselharem no Governo da Igreja e na reforma da ‘Constituição’ do Vaticano, e aprovou legislação para regular a atividade financeira do pequeno Estado e da Santa Sé, com uma nova Secretaria para a Economia. “Isso é muito típico, é o que está a ressaltar destes dois anos de trabalho providencial do Papa Francisco. Ele quase que faz um concílio permanente”, sublinha.
Aquando da estadia em Roma, para o consistório em que foi criado cardeal, D. Manuel Clemente ouviu um dos participantes dizer que “nunca na
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história da Igreja nenhum Papa foi tão aconselhado como este”. Em entrevista à Agência ECCLESIA, antes desta reunião de cardeais, o patriarca de Lisboa sublinhava que o atual pontífice tem escolhido como novos cardeais “bispos dos vários continentes que se aproximam muito do Papa Francisco, num estilo pastoral simples, direto, muito próximo das suas populações, muito evangélico”. Antes da eleição de Francisco, natural da Argentina, o último Papa não-europeu tinha sido São Gregório III, da Síria, que liderou a Igreja Católica entre 731 e 741. |
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Renovação da simplicidade e serenidade |
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O bispo do Porto afirmou que os primeiros anos de pontificado de Francisco foram uma “bênção na Igreja e no mundo, promovendo a sua renovação através da “simplicidade e serenidade”. “O Papa Francisco trouxe uma renovação com a simplicidade e a serenidade que lhe são caraterísticas, com a profundidade da mensagem que anuncia e com gestos proféticos que revelou. Dois anos parece um tempo enorme de transformação e renovação e dá-nos o desejo que se multipliquem por muito e muitos anos”, explicou D. António Francisco dos Santos à Agência ECCLESIA. O prelado destaca o “dom” que o Papa argentino é para a Igreja mas também de “bênção para o mundo” “Creio que estes dois anos estabelecem este diálogo aberto e vínculo com a sociedade civil. Hoje somos todos a gostar, a seguir, a amar o Papa e a dizer que estamos disponíveis para ao seu convite e orientação fazermos da alegria do Evangelho a nossa missão”, desenvolveu. Neste contexto, D. António Francisco dos Santos, considera que o “cunho pessoal, especial e muito vincado” |
que o Papa está a deixar é uma caraterística pessoal que também “deixou” em Buenos Aires e na Companhia de Jesus (Jesuítas). “Penso que esta é uma realidade nova, não é apenas uma marca institucional na Igreja mas na vida e transformação na vida de todas as pessoas”, disse o bispo do Porto. Segundo o prelado, hoje há pessoas a “transformarem-se” e deixarem moldar o seu coração pela graça de Deus a partir “do encontro, da palavra, dos gestos, do olhar, da proximidade” do Papa Francisco. Desde 13 de março de 2013, o bispo esteve duas vezes com o Papa e dele recebeu a missão de mudar da diocese [Aveiro], que “servia há oito anos”, para o Porto. “É também a afirmação de um vínculo maior ao Papa e de comunhão mais intensa com ele. É por isso que imploro a Deus bênção, proteção, graça, vida e saúde para o Papa Francisco, porque todos precisamos tanto dele”, comentou. Para o bispo do Porto, estes dois anos fazem “acreditar ainda mais” no Espírito Santo que conduz e guia a Igreja uma vez que “escolhe as pessoas certas, para os lugares certos, em cada momento da sua história”. |
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A Diocese do Porto vai assinalar os dois anos de pontificado do Papa argentino com um solene ‘Te Deum’, presidido por D. António Francisco dos Santos este domingo, às 16h00, na Catedral. O ‘Te Deum’ é um
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dos mais antigos hinos litúrgicos, provavelmente do século IV, e encerra o Ofício de leitura nos domingos, festas e solenidades; também se canta em celebrações solenes de ação de graças. |
Dinâmica de transformação
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Os primeiros dois anos do pontificado do Papa Francisco, que se completam esta sexta-feira, têm sido marcados por uma dinâmica de transformação da Igreja e da sociedade, a partir de uma mensagem de amor pelos mais necessitados. “O Papa Francisco abriu por um lado uma janela de esperança para todo um mundo que estava eurocentrado, em que os problemas estavam muito centrados ainda na civilização puramente ocidental e europeia”, analisa o eurodeputado Paulo Rangel. À Agência ECCLESIA, o político destaca a conceção de Francisco para a |
própria Igreja como um hospital de campanha junto das “pessoas que sofrem”, uma espécie de “atendimento de urgência”. “Penso que calou muito fundo em muita gente que precisava de uma certa renovação”, observa. Já para o antigo presidente da República Portuguesa, o general Ramalho Eanes, Francisco tem sido o “Papa do amor”. “Ele tem demonstrado ao longo do seu magistério que sabe que é essa a sua grande missão, ser para os homens o homem da compreensão, da bondade, da solidariedade, em suma do amor”, |
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desenvolve. Por sua vez, o presidente da União de Misericórdias, que esteve no Vaticano durante o mais recente consistório, em fevereiro, “a 20 metros do Papa”, destaca a forma “moderna e clara” como Francisco encara o “papel dos católicos no mundo”. “Penso e tenho a certeza que também nas Misericórdias nos revemos muito no Papa Francisco”, acrescentou Manuel Lemos. Para o padre Anselmo Borges, o Papa é também uma bênção não apenas para a Igreja Católica mas para as Igrejas Cristãs, para os crentes e para |
quem” não acredita em Deus” sendo hoje a “figura mais popular do mundo” porque é “um cristão”. “Um católico ser cristão, um padre ser cristão, um bispo ser cristão já é uma coisa notável então quando aparece um Papa que é cristão que pratica o Evangelho é verdadeiramente extraordinário”, desenvolveu. Segundo o teólogo, “Francisco pratica realmente o Evangelho” e as pessoas sentem que “ele gosta delas” na mesma linha de Jesus, que se fez próximo, e de São Francisco de Assis como “grande renovador” da Igreja. |
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Um Papa de gestos reais |
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O diretor da revista jesuíta ‘La Civiltà Cattolica’, padre Antonio Spadaro, disse à Agência ECCLESIA que os primeiros anos de pontificado do Papa Francisco são marcados pela proximidade e por “gestos reais”. “O Papa está muito atento às pessoas, é um pastor e é chamado, na sua missão, no seu ministério, a ser um pastor”, refere o religioso, que entrevistou o Papa em 2013 e o tem acompanhado nas várias viagens internacionais. O padre Spadaro sustenta que este elemento da proximidade “é fundamental, não é acessório” no
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atual pontificado, e que só assim é possível entender Francisco. “O seu estilo pastoral, a importância dada ao encontro pessoal, comunica que o Evangelho não é um conjunto abstrato de doutrinas, mas uma mensagem dirigida a cada um, e isso é muito bem acolhido pelas pessoas que o ouvem”, assinala. O jesuíta apresentou recentemente o livro ‘Superar o muro’, que recorda o abraço entre o Papa Francisco, o líder islâmico Omar Abboud e o rabino Abraham Skorka no Muro das Lamentações, Jerusalém, a 26 de maio de 2014. |
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“É um gesto real, não é simbólico. Eles não quiseram fazer uma encenação para dizer algo simbolicamente significativo”, sublinha o autor, “é um gesto real entre três amigos”
“O caminho do diálogo é, em primeiro lugar, o do encontro, do diálogo, ou seja o da amizade”, prossegue. Um dia antes deste encontro, em Belém, o Papa apoiou a cabeça e a mão no muro da Cisjordânia, num gesto de “cura” em relação ao conflito israelo-palestino. “O Papa quis fazer o gesto de tocar uma ferida aberta, com um valor imparcial, diria, completamente para lá da lógica |
vítima-agressor”, observa o diretor de ‘La Civiltà Cattolica’. Antonio Spadaro foi um dos participantes nomeados por Francisco para o último sínodo extraordinário dos bispos, sobre a família, no qual diz ter sido possível ver que, do ponto de vista do Papa argentino, “a doutrina está orientada para a salvação”. “Isso não significa que a doutrina seja desvalorizada, pelo contrário. Por vezes vi contrapor misericórdia a doutrina, mas a misericórdia é doutrina. O Papa procura superar esta esquizofrenia que se manifesta nalguns casos”, precisa. |
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90 minutos para mostrar
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Pelas 19h06 (menos uma em Lisboa) do dia 13 de março de 2013, o mundo ficou a saber que os 115 cardeais reunidos em Conclave no Vaticano tinham acabado de eleger um novo Papa, assim que se percebeu que era branco o fumo que saia da chaminé colocada sobre a Capela Sistina. O diretor do Centro Televisivo do Vaticano (CTV), monsenhor Dario Viganò, tinha chegado ao cargo há pouco tempo e enfrentou desde logo o grande desafio de contar ao mundo tudo o que estava a acontecer. Antes de mostrar Francisco, este sacerdote, nascido no Brasil, filho de imigrantes italianos, viu o pontífice argentino decidir “sentar-se num banco ao fundo e não no trono, na cadeira” que lhe estava destinada na Capela Paulina. Ali, rezou num silêncio do qual “transparecia muito sensivelmente a relação com Deus”. O relato televisivo quis mostrar aos milhões de espetadores que esperavam pelo novo Papa que esta não era uma aparição do nada, era um caminho rumo ao Povo de Deus. “Quando vi que se aproximavam das cortinas para as abrir, nessa altura demos o sinal, pelo que na Praça |
e também em casa, naturalmente, as pessoas viram o Papa alguns segundos antes de surgir à varanda”, recorda o diretor do CTV. “Claro que há sempre fatores fortuitos: tínhamos colocado para esta ocasião uma câmara com uma grande angular, muito aberta, sobre a varanda, e isso permitia filmar o Papa, juntamente com os cardeais, e toda a colunata à esquerda, com as pessoas. A ideia, portanto, era a de um Papa que estivesse dentro de um grande abraço”, acrescenta. Uma outra câmara oferecia ao espetador em casa o ponto de vista do Papa sobre a Praça. “Temos então o abraço, o encontro do olhar entre as pessoas que olham para o Papa e o Papa que olha para as pessoas, uma variável muito feliz que exprimiu de imediato uma caraterística do Papa, que é o Papa do encontro, o Papa do abraço”, confessa à Agência ECCLESIA monsenhor Dario Viganò. O sucessor de Bento XVI, que renunciou ao pontificado, foi eleito no quinto escrutínio da reunião eleitoral iniciada dois dias antes. Os sinos da Basílica de São Pedro acompanharam |
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a 'fumata', ao som das palmas das pessoas que enchem a Praça de São Pedro, debaixo de chuva, e dos gritos de 'habemus Papam'.
65 minutos depois do fumo branco surgiu o cardeal protrodiácono, D. Jean-Louis Tauran, a fazer o anúncio oficial, mas foi preciso esperar mais 10 minutos até ver Francisco pela primeira vez. O Papa esteve à varanda durante cerca de 12 minutos, rezando com a multidão por Bento XVI e pedindo orações por si próprio, antes de |
abençoar os peregrinos reunidos na Praça de São Pedro. Francisco pediu o microfone, antes de se retirar, para deixar uma palavra a todos os que esperaram durante horas pelo final do Conclave e o receberam no Vaticano: “Irmãos e irmãs, tenho de vos deixar. Muito obrigado pelo acolhimento! Rezai por mim e até breve! Ver-nos-emos em breve: amanhã quero ir rezar aos pés de Nossa Senhora, para que guarde Roma. Boa noite e bom descanso!”. |
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Papa Francisco, o Papa da esperança |
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Já passaram dois anos mas aquele primeiro «boa noite» foi como se fosse ontem. Daí para cá não houve uma semana em que o Papa não nos tenha surpreendido, mais do que com as suas palavras, com as suas atitudes que as confirmam. Foram os seus gestos e opções que cativaram a maioria dos católicos. E que mereceram o respeito de todos, crentes e, sobretudo, não crentes. Recolocou a voz da Igreja no centro do mundo: ela é ouvida, apesar de ser por vezes incómoda. É um vento fresco que começou a soprar num mundo deserto de espiritualidade mas que simultaneamente levanta muita areia descobrindo o verdadeiro chão da Igreja que para muitos estava escondido. O que podemos dizer destes dois anos? Que o tema central do papa tem sido o regresso da Igreja às suas origens: «uma Igreja pobre para os pobres». Como resultado, temos vindo a assistir a passos importantes na reforma em curso da cúria do Vaticano, tornando-a mais descentralizada e a um olhar privilegiado para as periferias, dando voz por exemplo a bispos fora do continente europeu. Por fim, uma
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ideia fulcral no seu discurso: a misericórdia de Deus, que tudo perdoa. É neste contexto que surge também a sua preocupação com as pessoas feridas após uma relação conjugal falhada. Passados quatro meses após ter sido eleito, no regresso do Brasil em Julho de 2013, referiu-se pela primeira vez ao assunto, dizendo «é nosso dever encontrar um outro caminho, na justiça" para os divorciados recasados. Depois disto, o caminho tem sido rápido: no primeiro consistório, há um ano, tivemos a reflexão do cardeal Walter Kasper com alguma abertura para o acesso à comunhão destes casais, em Outubro passado decorreu o Sínodo Extraordinário sobre a Família e daqui a seis meses novo Sínodo que apresentará uma proposta definitiva neste âmbito. Esta sua prioridade de adaptar a doutrina da Igreja em termos da pastoral familiar à família (ou famílias) de hoje está também a marcar o seu pontificado. Irá ser bem sucedido? Se por um lado é consensual a simplificação do processo de nulidade de um matrimónio (e consequente redução de custos e demoras |
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processuais), a hipótese de certos casais recasados, perante determinadas circunstâncias e condições, poderem ter acesso à comunhão é mais polémica, como temos constatado. Será possível encontrar um ponto de equilíbrio entre a misericórdia defendida pelo Papa e a doutrina? Concluindo, a mensagem deste Papa é a da esperança, de que a Igreja consiga, no âmbito da pastoral familiar, abrir um pouco as portas e integrar esses casais feridos, sem
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abandonar a sua doutrina. E aqui a Igreja somos todos nós, sobretudo as igrejas locais e os seus responsáveis – bispos e sacerdotes. Porque, para haver mudança, não basta que as ideias do Papa sejam escutadas e aplaudidas por todos nós. É necessário pô-las em prática. Se não dermos a cara, qualquer reforma morrerá. Todos temos de ser o Papa Francisco!
João Manuel Querido
Grupo de leigos «Recasados na Igreja»
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Santa Teresa de Jesus Online |
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http://teresadejesus.carmelitas.pt/
No quinto centenário do nascimento de Teresa de Jesus, em pleno ano da Vida Consagrada e ainda porque no passado domingo, dia 8 de março, celebramos o Dia Mundial da Mulher, esta semana, propomos uma visita ao sítio inteiramente dedicado a Santa Teresa de Ávila. Neste espaço digital, da responsabilidade da Ordem dos Padres Carmelitas Descalços, são apresentados “os mais variados conteúdos: sínteses doutrinais, guiões de leitura, sugestões bibliográficas, esquemas de vigílias e outras orações, recursos multimédia, notícias do que vai acontecendo a nível da Ordem dos Carmelitas e de toda a Igreja relacionadas com esta Doutora da Igreja. A Teresa, santa, doutora, mística, fundadora e escritora”. Ao digitarmos o endereço teresadejesus.carmelitas.pt encontramos um espaço eminentemente informativo e com uma extraordinária riqueza de recursos. Na página inicial além das últimas notícias e dos sempre habituais destaques, está um vídeo produzido pela Agência Ecclesia, |
onde é apresentada a abertura das celebrações do Centenário que decorrem de 15 de Outubro de 2014 a 15 de Outubro de 2015. No menu que se encontra no lado esquerdo dispomos dos conteúdos relativos a Santa Teresa, no outro conjunto localizado no topo da página, encontram-se as informações direcionadas com as comemorações. Na opção “biografia” podemos conhecer a vida de Teresa Sánchez de Cepeda e Ahumada, onde entre outras coisas, ficamos a saber que nasceu no dia 28 de Março de 1515. Em “catequeses Teresianas” somos brindados com mais de uma vintena de extraordinárias catequeses, daquela que é considerada a fundadora dos Carmelitas Descalços juntamente com São João da Cruz. Caso pretenda conhecer melhor os escritos de Santa Teresa basta que clique no título “escritos teresianos”. Aí pode ler um conjunto interessantíssimo de páginas com reflexões relacionados com os textos escritos pela pena daquela que foi proclamada de Doutora da Igreja a 27 de setembro de 1970 pelo papa Paulo VI. |
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No item “fichas de trabalho” encontramos várias propostas práticas para serem realizados em grupo, como forma de se conhecer a vida e ação da autora da obra-prima, "O Castelo Interior".
Por último destacamos a área da espiritualidade, onde somos presenteados com riquíssimos |
textos que nos ajudam a perceber que “na espiritualidade de Santa Teresa de Jesus não há sombras, nem nebulosidades, como nos místicos do norte. Tudo é luz, tudo claridade, tudo simplicidade”.
Fernando Cassola Marques |
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Tocar as chagas de Cristo |
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A Paulinas Editora vai lançar esta segunda-feira em Portugal a obra “O meu Deus é um Deus ferido”, do sacerdote e escritor checo Tomás Halík. A editora explica em comunicado enviado à Agência ECCLESIA que o livro é inspirado na “cultura de proximidade” proposta pelo Papa Francisco e parte do pressuposto de quem “não toma a sério o sofrimento do próximo, não tem o direito de professar a fé em Deus”. “Uma fé que prefere fechar os olhos perante a dor humana é apenas uma ilusão ou ópio”, escreve o autor. No decurso da obra, com 240 páginas, o sacerdote dá como exemplo o episódio bíblico de São Tomé, considerando que “a miséria social e a pobreza espiritual” são hoje “as chagas de Cristo que é preciso tocar”. Tomás Halík, de 66 anos, foi ordenado padre “na clandestinidade”, durante o período da ocupação comunista na antiga Checoslováquia, e acompanhou muito de perto o trabalho do cardeal Frantisek Tomásek. Foi com esta figura emblemática, da chamada “Igreja do Silêncio”, e com outros sacerdotes perseguidos, que o autor aprendeu “o valor do diálogo
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com o outro não crente (ou não cristão)”, e a valorizar e esperar “uma Igreja purificada, sem triunfalismo e ao serviço dos pobres e oprimidos”, refere a Paulinas Editora. Com o fim do Comunismo, foi nomeado conselheiro do presidente Václav Havel, assumiu depois o cargo de secretário-geral da Conferência Episcopal Checa e colaborou mais recentemente com a Santa Sé, |
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enquanto consultor do Conselho Pontifício para o Diálogo com os Não-Crentes. Atualmente, este escritor galardoado ensina Sociologia e Filosofia da Religião na Universidade Charles, em Praga. O seu empenho na área do diálogo intercultural, do diálogo inter-religioso e do ecumenismo, valeu-lhe em 2014 a atribuição do Prémio Templeton, no valor de 1,3 milhões de euros, um dos maiores do mundo atribuídos a pessoas individuais. Este galardão, coordenado pela Fundação Templeton, sediada em West Conshohocken (Pensilvânia, EUA), distingue todos os anos uma
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personalidade que tenha contribuído de forma relevante para afirmar a dimensão espiritual da vida. Entre os distinguidos encontram-se a Beata Madre Teresa de Calcutá, no primeiro ano em que o galardão foi atribuído (1973), o Irmão Roger, fundador da Comunidade Ecuménica de Taizé), Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares, o escritor russo Aleksandr Solzhenitsyn e o arcebispo anglicano Desmond Tutu. Com o livro “Paciência com Deus”, Tomás Halík recebeu também o prémio de “Melhor Livro Europeu de Teologia de 2009/10”. |
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II Concílio do Vaticano: Salazar preferia
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50 anos depois da primeira missa celebrada em língua vernácula pelo Papa Paulo VI, após as alterações litúrgicas promulgadas pelo II Concílio do Vaticano. A entrada em vigor da primeira fase desta reforma ocorreu a 07 de março de 1965. Como sempre, nem todos acolheram as novidades da mesma forma. Por cá, António de Oliveira Salazar disse “francamente não gostei da transformação conciliar operada” (Nogueira, Franco - «Salazar. O último combate (1964-1970)». Vol.VI. Porto: Civilização Editora, 2000 pag. 204). Também o francês André Frossard revela que se converteu “com a antiga missa” e lembra-se bem “de como ficava maravilhado”. Aquele membro da Academia francesa (falecido em 1995) revela mesmo que se a sua conversão tivesse acontecido após as alterações litúrgicas introduzidas pelo concílio, “a minha gratidão não seria por certo a mesma”. (Frossard, André - «Retrato de João Paulo II». Mem Martins: Publicações Europa-América). O papa argentino presidiu a uma celebração na paróquia da capital italiana de «Todos os Santos», na mesma igreja escolhida, em 1965, pelo Papa Montini. Na altura, o sucessor do Papa João XXIII - convocou o II Concílio do Vaticano (1962-1965) – sublinhou que se inaugurava “a nova forma da Liturgia em todas as paróquias e igrejas do mundo, para todas as Missas seguidas pelo povo”. “É um grande evento que deve ser recordado como princípio de jubilosa vida espiritual, como um compromisso novo na correspondência ao grande diálogo entre Deus e o homem”, disse o Papa Paulo VI. |
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Ao assinalar a “inauguração da reforma litúrgica” com a celebração da Missa na “língua falada pelas pessoas”, o Papa Francisco assinalou que a liturgia é "um meio privilegiado para ouvir a voz do Senhor, que guia pela estrada da retidão e perfeição cristã".
A Constituição conciliar «Sacrosanctum Concilium», que entrou em vigor há 50 anos, define a liturgia como “a primeira e indispensável fonte através da qual os fiéis podem atingir o verdadeiro espírito cristão”. O Boletim de Informação Pastoral (BIP) nº 37-38 revela que “a |
impressão global com que ficámos foi a de que a reforma litúrgica foi aceite com interesse e docilidade pelo clero e pelos fiéis, não se tendo registado oposições ou resistências significativas”. Segundo a mesma publicação, dirigida pelo cónego Manuel Franco Falcão (posteriormente foi ordenado bispo), a preparação do clero fez-se mais ou menos por toda a parte sob a forma de “instruções e ensaios das novas rubricas, em reuniões normais ou extraordinárias”, frequentemente presididas e dirigidas pelo bispo diocesano. |
Março 2015 |
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Dia 13 de Março* Guarda - Encerramento do concurso «Quem somos?» promovido pelo Departamento Diocesano da Catequese de Infância e Adolescência da Guarda.
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* Braga – Sé - Concerto na Sé de Braga pelo coro e orquestra do conservatório de Música Calouste Gulbenkian
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* Aveiro – Cacia - Encontro da LOC/MTC sobre «Sociedade justa e sustentável» com a presença de D. António Moiteiro, bispo de Aveiro.
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* Lisboa - Alenquer (Centro Nacional do Movimento dos Focolares em Portugal) - Debate sobre «Chiara Lubich - a unidade e a política»
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A Diocese de Beja promove a 11.ª edição do Festival «Terras sem sombra» que alia música, património, defesa da biodiversidade do baixo-Alentejo e produtos regionais, com destaque para a aguardente de medronho. Começa este sábado com cânticos medievais hispânicos, a partir das 21h30, na igreja matriz de Santo Ildefonso, em Almodôvar.
“24 horas para o Senhor – Deus rico de misericórdia”, uma iniciativa de oração proposta pelo Papa Francisco aos cristãos de todo o mundo nos dias 13 e 14 de março. Várias dioceses portuguesas aderiram e promovem momentos de oração e penitência neste período de preparação para a Páscoa.
A Semana Nacional da Disciplina de EMRC – Educação Moral e Religiosa Católica – tem como tema "A Alegria de estar ConTigo" entre 16 a 20 de março. Para além de dar visibilidade ao trabalho efetuado nas escolas pretende que esta comunidade seja próxima dos mais abandonados e excluídos na escola.
«Os Caminhos da Fé» é uma exposição de fotografias captadas em Fátima, Santiago de Compostela, Loures e na Terra Santa que expressam o olhar de diversos fotógrafos sobre os peregrinos, patente na Casa de Monsaraz, em Monsaraz até 26 de abril.
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Porque existem desigualdades
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Programação religiosa nos media |
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Antena 1, 8h00 RTP1, 10h00 Transmissão da missa dominical
11h00 - Transmissão missa
12h15 - Oitavo Dia
Domingo: 10h00 - O Dia do Senhor; 11h00 - Eucaristia; 23h30 - Ventos e Marés; segunda a sexta-feira: 6h57 - Sementes de reflexão; 7h55 - Oração da Manhã; 12h00 - Angelus; 18h30 - Terço; 23h57-Meditando; sábado: 23h30 - Terra Prometida. |
RTP2, 11h18
RTP2, 15h30 ![]() Segunda-feira, dia 16 -Entrevista a Susana Réfega e Ana Patrícia Fonseca sobre a Fundação Fé e Cooperação (FEC), a assinalar 25 anos;
Terça- feira, dia 17 - Informação e entrevista a Fátima Nunes, sobre a Semana de EMRC;
Antena 1
Domingo, dia 15 de março - 06h00 - Dois anos de pontificado de Francisco: padre José Tolentino Mendonça e o político Daniel Oliveira. Comentário com o padre José Luís Borga. Segunda a sexta-feira, 16 a 20 de março - 22h45 - Quaresma: vivências da irmã Victória Monteiro, Escrava da Santíssima Eucaristia e Mãe de Deus |
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Evangelho Quotidiano, "Senhor, a quem iremos? Tu tens palavras de vida eterna". João 6,68 |
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Estamos em plena Quaresma. A Igreja propõe-nos 3 caminhos: a oração, o jejum e a esmola. Três caminhos ascéticos. O primeiro é a oração! Na mensagem do Santo Padre para esta Quaresma, o Papa Francisco diz: “Cristãos, deixem-se servir por Cristo, deixem-se tocar por Cristo.” A oração é deixar-se tocar por Cisto.
O serviço que hoje propomos, um dos serviços mais antigos, é o Evangelho Quotidiano.
No sítio do Evangelho Quotidiano ficamos a saber que “O "Evangelho Quotidiano" é um serviço livre de qualquer participação financeira, proposto por uma equipa internacional de leigos, monges e religiosas de diversas comunidades e congregações (Beneditinos, Carmelitas, Cistercienses, Jesuítas, Comunidade Emanuel, Focolari, Fraternidades Monásticas de Jerusalém, Fraternidade de S. Pedro) que desejam divulgar o Evangelho. […] Propomos este serviço sem qualquer apoio financeiro com exceção |
dos dons possíveis dos nossos subscritores.”
Este serviço está disponível em várias línguas entre as quais o português. Evangelho Quotidiano é composto pelo Evangelho, as leituras, os santos do dia, comentário do dia e orações.
Comecei por subscrever este serviço via e-mail. Defini que todos os dias de manhã quero receber o Evangelho do dia, podendo também escolher se quero que as leituras e o Salmo sejam recebidos juntamente com o Evangelho. Cada utilizador é que define se quer receber este serviço todos os dias da semana; apensas aos domingos e dias de festa; apenas de segunda-feira a sexta-feira. Não esquecer de selecionar a zona geográfica.
Como a maior parte dos serviços da internet, o Evangelho Quotidiano também desenvolveu uma aplicação para os smartphones. Cabe a cada utilizador configurar o |
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serviço push (que pode muito bem funcionar como um alerta para oração) da aplicação.
Mude de hábitos. Comece o seu dia de trabalho com a leitura do evangelho diário. Pode muito bem ser, ainda vai a tempo, uma decisão |
queresmal. Passe a Palavra.
Boa Quaresma.
Bento Oliveira http://www.imissio.net |
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Ano B - 4.º Domingo da Quaresma |
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Acreditar
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O Evangelho deste 4.º Domingo da Quaresma vem lembrar-nos que Deus nos ama de tal forma que enviou o seu Filho único ao nosso encontro para nos oferecer a vida eterna. Olhar para Jesus, aprender com Ele a lição do amor total, percorrer com Ele o caminho da entrega e do dom da vida, eis o caminho da salvação, da vida plena e definitiva. Com o evangelista João somos convidados a contemplar esta incrível história de amor e a espantar-nos com o peso que nós, seres limitados e finitos, pequenos grãos de pó na imensidão das galáxias, adquirimos nos esquemas, nos projetos e no coração de Deus. O amor de Deus rico em misericórdia, no belo e denso dizer de São Paulo, traduz-se na oferta que nos faz de vida plena e definitiva. É uma oferta gratuita, incondicional, absoluta, válida para sempre e que não discrimina ninguém. Como seres dotados de liberdade e de capacidade de opção, compete-nos decidir se aceitamos ou se rejeitamos o dom de Deus. Às vezes, acusamos Deus pelas guerras, injustiças e arbitrariedades que trazem sofrimento, desespero e morte. O texto evangélico, contudo, é claro: Deus ama-nos e oferece-nos a vida. O sofrimento e a morte não vêm de Deus, mas são o resultado das nossas escolhas erradas, quando ficamos obstinados na autossuficiência e prescindimos dos dons de Deus. Isso não resolve o problema, naturalmente, mas deve fazer-nos pensar e levar-nos a continuar o caminho de inquietação e de confiança plena em Deus. O Evangelho define claramente o caminho a seguir para chegarmos à vida eterna: trata-se de acreditar em Jesus. |
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Acreditar em Jesus não é uma mera adesão intelectual ou teórica a certas verdades da fé, mas é escutar Jesus, acolher a sua mensagem e os seus valores, segui-l’O no caminho do amor e da entrega ao Pai e aos irmãos. Isso passa pelo ser capaz de ultrapassar a indiferença, o comodismo, os projetos pessoais; passa pelo empenho em concretizar, no dia a dia da vida, os apelos e os desafios de Deus; passa por despir o egoísmo, o orgulho, a autossuficiência, os preconceitos, para realizar gestos concretos de dom, de entrega, de serviço que tragam alegria, vida e esperança aos irmãos |
que caminham lado a lado connosco. Neste tempo de caminhada para a Páscoa, somos convidados a converter-nos a Jesus e a percorrer o mesmo caminho de amor total que Ele percorreu. Em mais uma semana da Quaresma, levemos no coração as palavras finais do Evangelho, convidando-nos a viver esta semana na prática da verdade e próximos da luz, com o olhar bem atento ao irmão e com o coração pleno da misericórdia e da bondade de Deus.
Manuel Barbosa, scj www.dehonianos.pt |
Respeitar os mais velhos |
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O Papa Francisco elogiou no Vaticano o testemunho de vida espiritual dos mais velhos, evocando o exemplo de Bento XVI, e desafiou os católicos a promover o encontro entre gerações. “Como gostaria de uma Igreja que desafia a cultura do descartável com a alegria transbordante de um novo abraço entre os jovens e os idosos. É isto o que peço hoje ao Senhor, este abraço”, declarou, na audiência pública semanal que decorreu na Praça de São Pedro, reunindo dezenas de milhares de pessoas. Francisco sublinhou a importância da experiência de vida dos mais velhos, como fonte de ensinamentos para as novas gerações. “Nós, os idosos, podemos lembrar aos jovens ambiciosos que uma vida sem amor é árida. Podemos dizer aos jovens temerosos que a angústia pelo futuro pode ser vencida. Podemos ensinar aos jovens demasiado enamorados por si próprios que há mais alegria em dar do que em receber”, afirmou. O Papa realçou, por isso, que a oração dos idosos é um “grande dom para a Igreja” e uma “grande injeção de sabedoria para toda a sociedade”, em particular para a que está demasiado |
“ocupada” ou “distraída”. “Olhemos para Bento XVI, que decidiu passar na oração e na escuta de Deus a última etapa da sua vida. Isto é bonito”, referiu. O pontífice argentino recordou que quanto esteve nas Filipinas, em janeiro, era tratado como ‘lolo Kiko’, isto é, ‘avô Francisco’. “Este período da vida é diferente dos outros que o precedem, sem dúvida, e temos de o inventar, de certa forma, porque as nossas sociedades não estão preparadas, espiritual e moralmente, para lhe dar o seu pleno valor”, observou. A intervenção alertou para o “cinismo” dos idosos que perdem “o sentido do testemunho”, desprezam os jovens e não comunicam “uma sabedoria de vida”. O Papa assinalou, a este respeito, que a própria Igreja sente a necessidade de “delinear uma espiritualidade das pessoas idosas”, que podem “interceder pelas expetativas das novas gerações” e dar “dignidade à memória e aos sacrifícios das [gerações] passadas”. “Tornemo-nos também um pouco poetas da oração: ganhemos o gosto de procurar |
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palavras nossas, reapropriemo-nos das que nos ensina a Palavra de Deus”, acrescentou. Francisco confessou que ainda traz no breviário as palavras que a sua avó lhe deu no dia da ordenação sacerdotal e que as lê “muitas vezes”. Como habitualmente, o Papa cumprimentou os peregrinos |
de língua portuguesa presentes no Vaticano. “Faço votos de que as comunidades cristãs ofereçam ao mundo um testemunho de respeito e veneração pelos idosos, conscientes de que eles podem transmitir de um modo privilegiado o sentido da fé e da vida! Obrigado pela vossa presença”, disse. |
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«Descobri que eu era normal!» |
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Natural de Cabo-Verde a irmã Victória Monteiro gosta do ritmo da festa e os olhos brilham quando se fala de alegria. Entrou na congregação das Escravas da Santíssima Eucaristia e Mãe de Deus há 23 anos porque viu que era uma “rapariga normal” com desejo de se entregar aos outros, “estar ao serviço da Sociedade e da Igreja”.
Saiu de casa dos pais para se entregar à vida de consagrada que considera ser uma “aventura, por seguir a voz de Jesus” que a cativou e nunca deixou. “Muitas vezes sem perceber as razões sentia que necessitava de viver uma vida de doação, entrega e generosidade”, explicou a irmã Victória Monteiro à Agência ECCLESIA. Tinha como vizinhas duas irmãs desta congregação e gostava de estar com elas e fazer perguntas, além da motivação de “cantar e fazer festa”. “Elas vinham de férias à minha cidade e eu nem sabia dizer o nome da congregação, muito menos entendia a espiritualidade ou o carisma, gostava de estar com elas. Mas percebia apenas o testemunho de vida das duas religiosas, o amor que |
dedicavam, a simplicidade e a alegria que transmitiam”. As duas irmãs marcaram a vida da então jovem Victória e foram-na acompanhando, “tinham paciência em responder às questões” e partilhavam as suas experiências na catequese, nas atividades na paróquia e na educação nos colégios. “Gostava de ouvir essas realidades diferentes e cantávamos, o que eu gostava muito, da festa e do convívio”, referia de sorriso aberto e mãos bem abertas em cima da mesa como se tratasse de ir tocar um instrumento de percussão. Aos 17 anos as religiosas entregaram-lhe um livro da fundadora da congregação, Madre Trindade, que Victória leu com grande interesse e começaram as interrogações quanto ao seu futuro. “Encontrei um rapaz de quem estava a gostar, conversávamos, tinha interesse nele mas rezei muito e perguntava-me se Cristo não me queria na vida religiosa, afinal”, conta sorridente a consagrada. Foi convidada para participar num encontro de jovens e lá pedia “para conseguir fazer a vontade de Deus”. “Ali, junto de tantas jovens percebi que ser religiosa não significa ser |
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anormal, por isso eu pensei: quero ser normal”, recorda a irmã. Entrou no noviciado, saiu de Cabo Verde aos 18 anos, deixando a mãe que sempre a apoiou na decisão e, mais tarde, voltou para estar durante oito anos à frente de um colégio da congregação. Hoje, com 46 anos, a irmã Victória Monteiro está na comunidade das Escravas da Santíssima Eucaristia e Mãe de Deus, na Penha de França, |
em Lisboa e é diretora do Externato Mãe de Deus. Os dias são passados entre o colégio e a comunidade onde a eucaristia e a adoração ganham lugar central no quotidiano mas a educação “polvilha a minha vida de realidades e de futuro”. “Estou no bom caminho, sou normal e decidi que podia servir a Sociedade e a Igreja sendo feliz”, conclui a religiosa. |
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ABC da Vida Consagrada (6ª parte) |
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PobrezaA pobreza evangélica é um dos três conselhos evangélicos vividos pelos consagrados no seu processo de configuração com Cristo a que são chamados por Deus Pai, por intermédio do Espírito Santo. Jesus não viveu o ascetismo radical, como João Baptista, valorizou os bens e a beleza do mundo como sinais do Criador, contudo renunciou à posse de bens, num desprendimento total para estar disponível para a missão. Pela sua vida simples, trabalhadora e honesta o religioso vive com os pobres, o desapego, a renúncia dos bens materiais, a contingência do salário; mas a radicalidade de quem escolheu a pertença a uma comunidade, a dependência do Superior e dos irmãos de quem recebe e a quem dá, não só os bens, mas a sua vida, a sua capacidade de escutar e de amar, neste sentido vive a dimensão teológica do desapego dos bens e do abandono nas mãos de Deus. O consagrado vive a pobreza não porque menospreze os bens materiais mas porque elege como pérola preciosa a vontade de Deus, que lhe pede ajuda nos mais pobres (a nível físico ou espiritual). |
Qualidade de vidaPor qualidade de vida, o senso comum entende uma vida confortável, plena dos prazeres do mundo, saudável. Para a vida consagrada quando falamos de qualidade de vida, falamos também de qualidade de relações, falamos do equilíbrio entre a vida de oração e o amor aos irmãos que sofrem. “Onde estiver o meu tesouro, aí estará o meu coração”, Mt 6, 21. Entre nós, é obrigatório saber que a vida consagrada é um tesouro. Se assim for, então podemos dizer que a vida comunitária é o nosso tesouro! A qualidade da vida consagrada passa por três pilares: - Oração – tanto individual como comunitária. A vida comunitária é o lugar privilegiado de Deus. Aí O encontramos na comunhão, na oração e na mesa onde se parte e partilha do pão com todos os que vivem o mesmo carisma e em fidelidade ao seguimento de Jesus. - Vida Comunitária, casa de afeto - Cuidar da vida fraterna implica engenho na procura comum de celebrar e orar, perdoar e amar, cativar e esperar, suportar, servir de suporte. alicerce, apoio aos irmãos. |
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«A vida fraterna em comum exige da parte de todos bom equilíbrio psicológico, dentro do qual amadureça a vida afetiva de cada um». - Vida Comunitária, casa em e para a missão.
Religiosa, profissãoOs religiosos são chamados por Cristo a uma tripla dimensão: mística (cristológica e teologal), fraterna e apostólico/mundana. Implica o amor e o serviço incondicional, a Cristo e ao Pai, pela ação do Espírito Santo e daí aos irmãos e a todos os destinatários da sua missão. Os religiosos têm uma função própria na Igreja, pela prática dos conselhos evangélicos de pobreza, castidade e obediência, mediante a ação do Espírito Santo deixam-se configurar com Cristo sendo sinal escatológico do reino de Deus. Com a profissão religiosa, geralmente, na Eucaristia, em que publicamente o candidato assume os votos ou conselhos evangélicos, passa a pertencer ao Instituto com todos os deveres e direitos. Nesta profissão pública ou privada dos votos, o consagrado
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ioferece-se a Deus, respondendo à Voz que o chamou, o consagrou e o envia. Nos votos definitivos, ou perpétuos, nalgumas fórmulas usam a expressão “até à morte”, expressando a entrega de todo o seu ser e de toda a sua vida.
Irmã Flávia Dores Comunidade das Dominicanas de Santa Catarina de Sena - Aveiro Para o Correio do Vouga e a Agência Ecclesia |
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Sudão do Sul: a tragédia quase esquecida
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Deixaram de ser crianças cedo de mais. São quase todos rapazes. Foram raptados. Vestiram-lhes um uniforme, deram-lhes uma arma e mandaram-nos para o mato. Para a guerra. Só no ano passado, calcula-se que mais de 12 mil crianças foram transformadas em soldados no Sudão do Sul. São os novos escravos de que quase ninguém fala.
É o mais novo país do mundo mas tem já todos os defeitos da humanidade. A festa da independência, em Julho de 2011, durou pouco. Menos de dois anos depois, o Sudão do Sul iniciou uma guerra consigo mesmo. É a pior das guerras, quando o inimigo está dentro de portas, fala a mesma língua, vive na mesma cidade, às vezes pertence, até, à mesma família. |
Desde Dezembro de 2013 que o Sudão do Sul está dividido entre partidários do presidente e do ex-vice-presidente. Entre os que seguem Salva Kiir e Riek Machar há mais ódio do que ideologia. Kiir pertence à etnia Dinka. Machar é da etnia Nuer. A guerra civil já provocou dezenas de milhares de mortos e quase 1 milhão de refugiados. Há casos de pessoas mortas em Igrejas e mesquitas. Ninguém está a salvo em lugar algum. Os números são assustadores. Segundo a ONU, quase três milhões de pessoas precisam de ajuda alimentar. O número cresce, quase para 7 milhões, se juntarmos à fome as doenças.
“Rezem por nós”Em Julho do ano passado, num par de dias, tudo se transformou. As cidades de Bentiu, Malakal e Bor ficaram irreconhecíveis. 30 mil casas em ruína e mais de 100 mil pessoas em fuga. Oito meses depois, as cicatrizes da violência continuam à vista de todos, como ferida que não cicatriza. “Os ataques foram brutais. Muitas das |
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nossas igrejas e casas foram destruídas e tudo o que tínhamos foi saqueado. Estamos num estado miserável”, reconhece Monsenhor Roko Taban. Dirigindo-se aos benfeitores da Fundação AIS, o bispo de Malakal deixa um apelo: “Por favor, lembrem-se de nós nas vossas orações!” As crianças são o elo fraco nesta tragédia que o mundo parece ignorar. São arrancadas à família e mobilizadas à força. Sem escrúpulos, dão-lhes um uniforme e uma arma. Ensinam-lhes a despejar as balas dos carregadores e enviam-nas para o mato, para as frentes da guerra, para o abismo. Muitas, morrem. Mesmo as que sobrevivem às balas, morrem de alguma maneira. Perdem a inocência para sempre. Algumas, nunca mais são vistas. Esta é uma terra de ninguém. Às vezes, é possível resgatar lguns destes rapazes. Mas é uma tarefa |
difícil. É preciso sempre muito tempo e amor para tirar a guerra de dentro destas crianças-soldado. Às vezes é impossível. Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt |
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Ano Europeu do Desenvolvimento |
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Tony Neves |
A ONU e a União Europeia, ano após ano, atiram para cima da mesa um tema que deve ser refletido e tomado a sério. Para 2015, a opção das Nações Unidas foi para a luz. A Europa, por seu lado, apostou no desenvolvimento como tema maior para este ano. Como cidadãos e como cristãos não podemos passar ao lado desta proposta. Um desenvolvimento sustentado e sustentável é condição de progresso e de justiça social. No que diz respeito à doutrina social da Igreja, este é um tema que aparece refletido em todos os documentos sociais, sobretudo na ‘Populorum Progressio’ do Papa Paulo VI e na ‘Solicitude Social da Igreja’ do Papa João Paulo II. O Papa Francisco, na ‘Alegria do Evangelho’, retoma a urgência de um compromisso global pelo desenvolvimento de todos, sobretudo dos mais pobres e excluídos das nossas sociedades. Escreveu o Papa:’São louváveis os sucessos que contribuem para o bem-estar das pessoas, por exemplo, no âmbito da saúde, da educação e da comunicação. A alegria de viver frequentemente se desvanece; crescem a falta de respeito e a violência, a desigualdade social torna-se cada vez mais patente. É preciso lutar para viver, e muitas vezes viver com pouca dignidade. (EG, nº52). Hoje devemos dizer «não a uma economia da exclusão e da desigualdade social». Esta economia mata. Não é possível que a morte por enregelamento dum idoso sem abrigo não seja notícia, enquanto o é a descida de dois pontos na Bolsa. Isto é exclusão. Não se pode tolerar mais |
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o facto de se lançar comida no lixo, quando há pessoas que passam fome. Isto é desigualdade social.(…). Os excluídos não são ‘explorados’, mas resíduos, ‘sobras’.(EG, nº53). Para se poder apoiar um estilo de vida que exclui os outros ou mesmo entusiasmar-se com este ideal egoísta, desenvolveu-se uma globalização da indiferença. Quase sem nos dar conta, tornamo-nos incapazes de nos compadecer ao ouvir os clamores alheios, já não choramos à vista do drama dos outros, nem nos interessamos por
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cuidar deles, como se tudo fosse uma responsabilidade de outrem, que não nos incumbe. A cultura do bem-estar anestesia-nos (EG,nº54).. Escandaliza-nos o fato de saber que existe alimento suficiente para todos e que a fome se deve à má repartição dos bens e da renda. O problema se agrava com a prática generalizada do desperdício» (EG, nº191). Estas inquietações do Papa Francisco fazem apelo a um desenvolvimento responsável. Ir por este caminho será aposta ganha. Os pobres agradecem.
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“Pode ouvir o programa Luso Fonias na rádio SIM, sábados às 14h00, ou em www.fecongd.org. O programa Luso Fonias é produzido pela FEC – Fundação Fé e Cooperação, ONGD da Conferência Episcopal Portuguesa.”
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