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Octávio Carmo José Carlos Patrício
Jubileu da Misericórdia
Cardeal Oscar Maradiaga
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Foto da capa: D.R. Foto da contracapa: Agência ECCLESIA
AGÊNCIA ECCLESIA Diretor: Paulo Rocha | Chefe de Redação: Octávio Carmo Redação: Henrique Matos, José Carlos Patrício, Lígia Silveira,. Luís Filipe Santos, Sónia Neves Grafismo: Manuel Costa | Secretariado: Ana Gomes Propriedade: Secretariado Nacional das Comunicações Sociais Diretor: Cónego João Aguiar Campos Pessoa Coletiva nº 500966575, NIB: 0018 0000 10124457001 82. Redação e Administração: Quinta do Cabeço, Porta D 1885-076 MOSCAVIDE. Tel.: 218855472; Fax: 218855473. agencia@ecclesia.pt; www.agencia.ecclesia.pt;
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Rosto de misericórdia |
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Octávio Carmo
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A misericórdia tem estado no centro dos discursos e gestos do Francisco desde o início do pontificado, cativando pela coerência sempre manifestada, surpreendendo e ultrapassando as fronteiras das comunidades católicas. O Papa argentino quer agora contagiar todos com esta convicção interior, ao convocar um jubileu que recorda à Igreja e ao mundo que ninguém está fora do coração de Deus nem dele pode ser excluído. Várias têm sido as intervenções contra o que o pontífice denomina por ‘alfândegas da fé’, todo o conjunto de palavras e atitudes que tendem a julgar o próximo, a catalogá-lo, a afastá-lo em vez de ir ao seu encontro. Os católicos são chamados a estar junto de todas as fronteiras, não a levantar novas barreiras. |
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O Ano Santo, uma iniciativa espiritual, chama à transformação do coração de cada fiel e quer promover uma verdadeira transformação a partir do interior. Esta sabedoria do coração é fundamental num mundo tão martirizado por dramas de todas as espécies. A desilusão gerada pelo fim de um ciclo, na vida mundial, torna ainda mais pertinente a mensagem de esperança que está contida na fé cristã, uma esperança mais |
transformadora do que geradora de pessoas acomodadas, à espera do fim dos tempos, indiferentes ao correr dos dias.
Há uma estranha tendência da humanidade de repetir a sua história no que ela tem de pior: assistimos hoje a várias tragédias humanas, mas o olhar crente não pode deixar de ficar impressionado com uma nova ‘fuga para o Egito’, protagonizada por cristãos no Médio Oriente. Na Europa, são outros os sofrimentos, a falta de sentido, de projetos de vida, de perspetivas de futuro e de valores que o preencha. A todas estas situações, a Igreja é chamada a levar a doutrina que moldou a fé cristã a partir da mensagem e da vida de Jesus Cristo, dando-lhe um rosto de misericórdia. |
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Flores deixadas junto ao local onde Walter L. Scott, um cidadão negro desarmado, foi morto por um polícia na Carolina do Sul. O agente foi condenado depois de um vídeo tornado público onde se pode ver Scott a ser alvejado diversas vezes pelas costas. © Lusa |
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“Na crueldade da tua paixão, Senhor, vemos a crueldade dos nossos corações e das nossas ações. No teu sentimento de abandono, vemos todos os abandonados pelos familiares, pela sociedade, dos que estão privados de atenção e da solidariedade”, Papa Francisco durante a celebração da Via-Sacra, na Sexta-feira Santa, 03.04.2015
“Nestas condições ficará para sempre a dúvida sobre a fidedignidade e a fiabilidade dos resultados apurados na assembleia de apuramento geral”, comunicado da CDU/Madeira, sobre a recontagem dos votos das eleições regionais na Madeira, que no dia indicaram uma vitória do PSD com maioria absoluta, dois dias depois recuaram no resultado, tendo confirmado, horas depois novamente a maioria absoluta. 07.04.2015. in Renascença
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“Não faço ideia quantos portugueses saberão quem é Sampaio da Nóvoa. Apesar do seu excelente percurso académico e do trabalho feito à frente da Universidade de Lisboa, não é expectável que isso tenha sido muito notado pelos eleitores”, Ricardo Costa, 07.04.2015 in Expresso
“Vale a pena que a Igreja sublinhe, em especial através dos leigos, a necessidade de um compromisso social mais exigente”, D. Oscar Rodríguez Maradiaga, arcebispo de Tegucigalpa, 08.04.2015, in Agência Ecclesia
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Pintora Helena Lobato
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A portuguesa Helena Lobato, batizada pelo Papa na vigília pascal de sábado, classificou a experiência como um momento “gratificante a todos os níveis” e destacou a “tranquilidade” transmitida por Francisco. “Foi algo que tocou a minha alma e o meu coração de uma forma muito forte”, salientou a pintora de 44 anos. Helena Lobato, residente em Setúbal, recebeu o batismo da mão do Papa Francisco, na vigília de Sábado Santo na Basílica de São Pedro, no Vaticano, juntamente com um grupo de 9 catecúmenos naturais da Itália, Albânia, Quénia e Camboja. Isto depois de ter escrito há cerca de um ano uma carta ao Papa argentino, em que pedia uma “luz” que lhe permitisse ultrapassar um momento difícil que estava a atravessar. Em resposta, Francisco convidou a pintora a acolher na sua vida "a luz de Cristo", sendo batizada durante a celebração do Tríduo Pascal. “Foi um momento na vida muito importante, muito emotivo, inspirador e claro, muito gratificante a todos os níveis”, reforça Helena Lobato, destacando também o encontro “mais pessoal” |
com o Papa, no final da celebração. Momento em que teve oportunidade de entregar a Francisco uma pintura com uma representação do Papa argentino. “Quando ele viu o quadro o rosto dele iluminou-se completamente”, recorda a pintora, satisfeita por ter podido dar ao Papa algo mesmo saído do “trabalho das suas mãos”. “Expliquei-lhe que era algo mesmo meu, que teria de meu para dar e ao fim ao cabo, um desejo do meu coração”, salientou a artista. Na sua presença em Roma, acompanhada pelo seu marido, por outros familiares e também pelo seu padrinho de batismo, o padre José Pinheiro, pároco da Cova da Piedade onde integrou um grupo de catequese de adultos, Helena Lobato teve |
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ainda oportunidade de renovar os seus votos matrimoniais. “A Helena renovou os votos de matrimónio, porque eles eram casados pela Igreja Católica mas com dispensa de impedimento porque ela não era batizada. Ao ser batizada, assumiu plenamente o sacramento com o marido”, explicou o sacerdote. Esta “surpresa”, porque foi algo com que a pintora não contava, ganhou ainda maior significado pelo facto da celebração de renovação dos votos |
matrimoniais ter decorrido na igreja de Santo António dos Portugueses, um santo que diz muito ao casal e à sua relação. “Por tudo aquilo que me faltaria fazer, nesta entrada no percurso católico, acabou por ter o seu significado podermos renovar agora os nossos votos matrimoniais, desta maneira, no local que foi, um local lindíssimo, com a família e os amigos maravilhosos que me acompanharam, e celebrada pelo padre José Pinheiro", confidenciou. |
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Denunciar «genocídio»
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A diretora da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre disse à Agência ECCLESIA que “é preciso continuar” a expor o conflito do Médio Oriente no Ocidente e falar do “genocídio” em curso das minorias na região. Após uma visita de duas semanas a campos de refugiados e deslocados no Líbano e no Iraque, Catarina Martins afirmou que é necessário “alertar a opinião pública e os governantes para o genocídio e expulsão” que estão a ser vítimas os cristãos no Médio Oriente. Catarina Martins integrou uma equipa internacional da Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) e, para além de refugiados e deslocados, conversou com responsáveis religiosos de outras confissões para “terem várias perspetivas do problema”, que pediram uma “solução política, não de guerra”. “Outro pedido constante é que o mundo ocidental pare com o tráfico de armas. Há países da Europa a ganhar muito dinheiro com este conflito”, comentou, acrescentando que é preciso “impedir” que jovens ocidentais combatam nestes países, em concreto pelo autoproclamado Estado Islâmico. |
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Para a diretora da AIS em Portugal, é necessário “fomentar o perdão, querer a paz” e se a Comunidade Internacional não apoiar a comunidade cristã há um “risco não apenas para o Médio Oriente mas para o mundo”. Segundo Catarina Martins, várias pessoas “querem” que os principais líderes das religiões se sentem e deem “testemunho de paz”. “Não será fácil, a convicção é que conflito se vá prolongar por mais algum tempo, desde um a quatro anos”, acrescenta. Catarina Martins revelou ainda que ficou “surpreendida” positivamente pelo primeiro balanço da campanha quaresmal que a AIS promoveu em Portugal, destinada a ajudar as comunidades cristãs na Síria. |
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Peditório nacional da Cáritas
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A Cáritas Portuguesa recolheu cerca de 300 mil euros no seu peditório nacional deste ano, que decorreu entre 5 e 8 de março, um montante que representa uma diminuição de 8,5 por cento face a 2014, revelou a instituição. O montante angariado, no total de 300 098,92 euros, “destina-se exclusivamente ao apoio social prestado pelas Cáritas Diocesanas”, refere um comunicado da organização católica para a solidariedade, enviado à Agência ECCLESIA. O peditório público nacional foi realizado no âmbito da Semana Nacional da Cáritas, que teve este ano como tema ‘Num só coração, uma só família humana’. Para Eugénio Fonseca, presidente da Cáritas, a iniciativa mostrou “que, apesar das dificuldades financeiras que o país atravessa, os portugueses continuam a contribuir para ajudar quem mais precisa”. O responsável pela instituição, a nível nacional, manifesta o seu “agradecimento aos cidadãos portugueses” em nome das famílias carenciadas, por “mais uma vez” terem dado mostras da sua solidariedade. Este peditório contou com a colaboração de mais de 4 mil voluntários espalhados pelo território |
nacional e ilhas. A Cáritas Portuguesa é uma instituição oficial da Conferência Episcopal Portuguesa, vocacionada para a promoção e dinamização da ação social da Igreja, constituída por 20 Cáritas Diocesanas e grupos locais de atuação de proximidade, com a colaboração de profissionais e voluntários. Em 2014 a organização apoiou mais de 160 mil pessoas, integrados em 63 059 agregados familiares, e sublinha que tudo continuará a fazer “para cumprir a sua missão de ser instrumento de desenvolvimento humano e de defesa do bem comum”. Entre outras áreas, a Cáritas Portuguesa está empenhada na luta contra a exclusão social, em especial no apoio às minorias étnicas, comunidades de imigrantes e suas famílias, toxicodependentes, seropositivos e alcoólicos. |
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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram a atualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizados emwww.agencia.ecclesia.pt
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Páscoa com olhar
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O Papa Francisco deixou no Vaticano um apelo à paz, na sua mensagem de Páscoa, recordando as vítimas das guerras, do terrorismo e das perseguições religiosas em vários países. “Pedimos paz, antes de tudo, para a Síria e o Iraque, para que cesse o fragor das armas e se restabeleça a boa convivência entre os diferentes grupos que compõem estes amados países”, referiu, numa intervenção proferida antes da bênção ‘urbi et orbi’ [à cidade (de Roma) e ao mundo], desde a varanda central da Basílica de São Pedro. Francisco exigiu que a comunidade internacional “não permaneça passiva perante a imensa tragédia humana” nesses países e “o drama dos numerosos refugiados”. Segundo o pontífice argentino, o terrorismo não pode ser justificada com motivos religiosos, porque “quem traz dentro de si a força de Deus, o seu amor e a sua justiça, não precisa de usar violência, mas fala e age com a força da verdade, da beleza e do amor” e com “a coragem humilde do perdão e da paz”. |
A intervenção anual falou dos habitantes da Terra Santa, deixando votos de israelitas e palestinos retomem o processo de paz, “a fim de pôr termo a tantos anos de sofrimentos e divisões”. “Suplicamos paz para a Líbia a fim de que cesse o absurdo derramamento de sangue em curso e toda a bárbara violência”, prosseguiu o Papa, que aludiu ainda à situação no Iémen.
Francisco saudou o acordo de princípio sobre o dossier nuclear iraniano, alcançado em Lausana, esperando “que seja um passo definitivo para um mundo mais seguro e fraterno. O documento celebrado entre os representantes do Irão e os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU mais a Alemanha prevê o fim das sanções económicas que afetam o país asiático. A intervenção do Papa pediu ainda a paz para a Ucrânia, a Nigéria, o Sudão do Sul, o Sudão e a República Democrática do Congo, lembrando em particular os jovens mortos na última quinta-feira numa Universidade de Garissa, no Quénia. |
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A mensagem pascal deixou uma oração “por quantos foram raptados, por quem teve de abandonar a própria casa e os seus entes queridos”. O Papa referiu-se às vítimas da escravatura “por parte de indivíduos e organizações criminosas”, dos traficantes de armas “que lucram com o sangue de homens e de mulheres” e “dos traficantes de droga, muitas vezes aliados com |
os poderes que deveriam defender a paz e a harmonia”. “Aos marginalizados, aos presos, aos pobres e aos migrantes que tantas vezes são rejeitados, maltratados e descartados; aos doentes e atribulados; às crianças, especialmente as vítimas de violência; a quantos estão hoje de luto; a todos os homens e mulheres de boa vontade chegue a voz consoladora do Senhor Jesus”, apelou. |
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Perseguição dos cristãos é crime inaceitável
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O Papa reforçou no Vaticano os seus apelos em favor dos cristãos que são perseguidos em várias partes do mundo e pediu que a comunidade internacional trave este “crime inaceitável”. “Desejo que a comunidade internacional não assista muda e inerte a este crime inaceitável, que constitui uma preocupante deriva dos direitos humanos mais fundamentais. Desejo verdadeiramente que a comunidade internacional não desvie o olhar para outro lado”, declarou, perante milhares de pessoas reunidas na Praça de São Pedro, esta segunda-feira, para a recitação do «Regina Caeli», oração que substitui o ângelus durante as celebrações pascais. |
Francisco falava depois de saudar uma delegação do Movimento Shalom, que concluiu no Vaticano uma estafeta solidária para sensibilizar a opinião pública relativamente às perseguições contra cristãos.
O pontífice argentino estimulou o trabalho de “ajuda palpável” na defesa e proteção dos cristãos “perseguidos, exilados, mortos, decapitados” por causa da sua fé. “Eles são os nossos mártires de hoje e são muitos, podemos dizer que são mais numerosos do que nos primeiros séculos”, lamentou. A tradicional catequese deste dia falou da “alegria pascal”, com o Papa a pedir aos presentes que repetissem a frase “Jesus ressuscitou”. |
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Responsáveis cristãos unidos contra a discriminação dos ciganos |
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As conferências episcopais católicas e as Igrejas cristãs na Europa emitiram uma mensagem conjunta contra a discriminação da população rom, a respeito do Dia Internacional dos Ciganos, que se assinala anualmente a 8 de abril. O texto, enviado à Agência ECCLESIA, fala numa situação “lamentável”, criticando “o anticiganismo verbal e ativo em toda a Europa”, bem como a alta taxa de desemprego, a falta de formação pessoal e a “extrema pobreza” que afetam estas populações. “Pedimos às nossas comunidades que sejam cada vez mais abertas diante da realidade dos ciganos roma, que muitas vezes são excluídos e vivem na pobreza, à margem da sociedade”, escrevem os responsáveis do Conselho das Conferências Episcopais da Europa (CCEE) e da Conferência das Igrejas Europeias (KEK-CEC). Os líderes cristãos sublinham que o povo rom tem uma “cultura rica” que inclui valores como “a vida familiar, o amor pelas crianças, a fé em Deus, o respeito pelos defuntos, o prazer da música e da dança”. “Consideramos esta cultura como um dom do |
![]() Criador, que merece respeito e apoio” prossegue a mensagem. O texto sublinha que, além da educação e do emprego, o “coração humano” é o “terceiro pilar importante no desenvolvimento das relações” com os ciganos. O Dia Internacional dos Roma/Ciganos (International Roma Day) procura dar visibilidade à presença das comunidades ciganas em todo o mundo. A nível da Igreja Católica, o CCIT - Comité Católico Internacional para os Ciganos - vai ter a sua reunião anual de 2015 entre 24 e 26 de abril, no Mosteiro dos Carmelitas em Snagov, Roménia, com o tema ‘Comunicação: oportunidades e perigos dos novos meios de comunicação social’. |
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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram a atualidade eclesial internacional nos últimos dias, sempre atualizados em www.agencia.ecclesia.pt
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Via Sacra no Coliseu de Roma
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A causa de Jesus Cristo é a pessoa |
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D. Manuel Linda
Bispo das
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Sempre que a minha avozinha necessitava de me censurar pelas frequentes leviandades, terminava, impreterivelmente, com a costumada acusação: “Dá-te para cada uma… Nunca mais ganhas juízo”. E, de facto, não ganhei. Se não, não andaria a reler os verrinosos no ataque à fé e à Igreja: Voltaire, Guerra Junqueiro, Nietzsche. Dá-me, de facto, para cada uma… Não obstante, estas leituras são-me muito úteis: ajudam-me a compreender a excelência da fé, frente ao inumano de uma certa descrença que não concede valor à pessoa. Veja-se, por exemplo, este naco de prosa de “O Anticristo” do magistral e louco Nietzsche: “Há dias em que sou visitado por um sentimento mais negro que a mais negra melancolia: o desprezo pelos homens. Que não haja qualquer dúvida sobre o que desprezo, sobre quem desprezo: é o homem de hoje, do qual, desgraçadamente, sou contemporâneo. O homem de hoje: seu hálito podre me asfixia”. E a escrita continua fiel a esta linha de pensamento. Senhor Nietzsche, eu sei que tem muitos seguidores. Uns imitam-no na absoluta indiferença pelas pessoas e pela sociedade; outros chegam ao ponto de executarem, por suas mãos, uma espécie de sanação social, eliminando os que julgam serem os detentores do tal “hálito pode”. Assim fizeram Lenine, Estaline, Mussolini, Hitler, Mao, os Kins da Correia do Norte, etc., etc., que a lista é interminável. E assim se faz hoje em muitas partes do mundo: na Síria, Iraque, Nigéria, Quénia,
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Norte de África, etc. E fazem-no por métodos que o senhor Nitzsche possivelmente recomendaria: degolar, assar vivo, crucificar. Ou na pura carnificina, como na Universidade de Garissa. Desgraçadamente, o senhor não é o único a pensar assim: aqueles que assistem a isto e nem sequer levantam um dedo para lhe pôr cobro, participam da mesma cumplicidade. Eu, por mim, revejo-me mais nas palavras e nos gestos do meu Mestre e Senhor, Jesus Cristo. A sua proximidade às pessoas, o fazer vida com a vida dos outros são de tal ordem que o «comer e beber com Ele» tornou-se como que uma categoria teológica: foi assim com os discípulos de Emaús; foi assim numa aparição no Cenáculo, para que os discípulos não pensassem que
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estavam em presença de um fantasma; e foi assim junto ao Mar da Galileia, quando Ele mesmo preparou pão e assou peixes para os que regressavam da faina da pesca. Isto ficou tão gravado no seu espírito que os Apóstolos não hesitaram em o incluir no cerne da evangelização. Por exemplo, Pedro, em casa de Cornélio, garante: “Deus ressuscitou-O, ao terceiro dia, e permitiu-lhe manifestar-se […] a nós que comemos e bebemos com Ele” (Act 10, 40-41). Senhor Nietzsche, deixe que lhe diga: acredito plenamente em quem se faz, assim, tão próximo da vida que se torna meu comensal. E não acredito minimamente em si, pois não quero o ódio e a morte por meus companheiros de viagem. |
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Miseris cor dares |
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Manuel de Lemos Presidente da União das Misericórdias Portuguesas |
Amplo tem sido o debate sobre qual deve ser o papel das instituições de solidariedade em Portugal e na Europa. Entre inúmeras divergências e consensos, certo é que todos acreditamos numa sociedade mais humana, onde todos tenham a garantia de ver consagrado o direito a uma vida digna. Mas acreditar apenas não é suficiente. Importa ter a coragem de promover o debate e, em conjunto, encontrar as mais adequadas soluções. É certo que hoje em dia as instituições que se ocupam de cuidar das pessoas são cada vez mais confrontadas quotidianamente com aspetos como a necessária qualificação de recursos, a profissionalização progressiva da gestão, a prestação de contas, as ferramentas para medição do impacto, tudo na perspetiva da sustentabilidade. Em última instância, estas preocupações visam assegurar que continuaremos a fazer aquilo que é a nossa missão, a nossa essência, a nossa identidade: cuidar do outro, olhando-o com a mesma compaixão com que olhamos para nós mesmo. Esta é a urgência maior do nosso tempo, mas também a marca de centenas de instituições que, em Portugal, trabalham para acudir quem mais precisa e há séculos. Sim, séculos. Infelizmente mudam os tempos e em cada tempo surgem novas necessidades. Quando concebidas, as 14 obras de misericórdia visavam dar resposta a problemas de outro tempo e não às carências do século XXI. Mas dar de comer a quem tem fome ou consolar os aflitos, por exemplo, ganham na atualidade dimensões
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diferentes que exigem atuações adequadas. Obviamente este debate não passa pela comumente observada dualidade entre caridade e solidariedade. Ambas são palavras que nos últimos tempos começaram a ser usadas em contextos e com conotações diferentes, mas a verdade é que têm significados originais similares. Como denominador comum têm a ideia de olharmos para o outro como um verdadeiro irmão e com ele sofrermos, com ele procurarmos saída e resposta para as suas urgências. E não importa se são urgências de ordem material ou espiritual. Ambas estão contempladas nas obras de misericórdia. Quando a primeira Misericórdia foi criada em Portugal, a de Lisboa em 1498, a noção de hospital misturava-se com a de abrigo ou de asilo. Peregrinos, doentes ou pobres encontravam ajuda em casas cujas portas estavam sempre abertas. Naquele "hospital" era possível |
encontrar consolo para agruras do corpo mas também da alma.
Os tempos mudaram. Aquele "hospital" ganhou novos contornos, mais adaptados aos paradigmas do nosso tempo, mas a sua essência manteve-se. O ideário que inspirava a sua ação em 1498 é o mesmo em 2015. Ou seja, ajudar todos aqueles que, por motivos diversos, estão a sofrer. Miseris cor dares em latim. "Dar o coração aos miseráveis" em português. Ideias expressas na palavra misericórdia e que todos os dias, há séculos, procuramos respeitar e dignificar. Por isso alegramo-nos com o apelo à misericórdia consagrado no 29.º jubileu papal, recentemente proclamado. As Misericórdias de Portugal, cuja identidade inspirada e materializada na caridade cristã muito nos orgulha, continuarão, como pediu o Papa Francisco, com "as suas portas escancaradas para que todos os que são tocados pela graça possam encontrar a certeza do perdão". |
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O Papa que carrega a bandeira
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José Carlos Patrício |
A palavra “misericórdia” vai estar a partir de dezembro de 2015 ainda mais vincada na agenda das comunidades católicas, com o lançamento no Vaticano de um ano especialmente dedicado a esta temática. Quando vamos ao dicionário, o termo é definido como uma demonstração de “caridade despertado pela infelicidade de outrem” ou uma ação motivada pela “desgraça ou miséria alheia”. Significa também “perdoar alguém simplesmente por bondade”, ainda que o outro possa “não merecer perdão”. Mas quando vamos à raiz latina da palavra, que junta as expressões ‘miserere’ (ter compaixão) e cordis (coração), o conceito ganha outra força. “Ter compaixão de coração” implica não só a capacidade de fazer o bem mas de nos colocarmos na posição de quem está a sofrer, aproximarmos o nosso coração do coração de alguém. Como diz o Papa Francisco, falta hoje na sociedade quem consiga estar de “portas abertas” ao outro, que o “acolha” e que “carregue aos ombros as suas feridas”. É este exemplo que o Papa argentino tem procurado sublinhar ao longo dos seus dois anos de pontificado, com a palavra “misericórdia” a ser das mais citadas nas suas mensagens, a par de outras como “solidariedade” e “periferia”. Esta última expressando a sua preocupação por aqueles que estão mais afastados ou são mais
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marginalidades pela sociedade atual, os pobres, os doentes e incapacitados, os órfãos, os migrantes e refugiados, os perseguidos por causa da sua fé ou etnia, todos os que têm permanentemente sede de justiça e de esperança. Do Vaticano para o mundo, o Papa tem carregado aos ombros a bandeira da misericórdia, procurando despertar na sociedade e também na própria Igreja Católica, nos seus agentes e estruturas, essa “compaixão de coração”. Não podia ser mais adequado falar no Ano Santo da Misericórdia neste tempo litúrgico da Páscoa, em que os cristãos recordam o ato supremo de “misericórdia”, a entrega de Jesus |
Cristo na cruz por toda a humanidade. Ao convocar este evento, Francisco mostra mais uma vez que não basta celebrar a Páscoa, cumprir um preceito com pompa e circunstância, com as igrejas enfeitadas, procissões e vigílias muito bonitas. É preciso viver esse acontecimento, esse sinal supremo da “misericórdia divina”, no terreno, com ações concretas, coração a coração, lado a lado com os que mais precisam. Termino com uma frase do Papa que creio resumir tudo isto: “Somos chamados a ver mais além, a focarmo-nos no coração para percebermos quão generosos podemos ser”. |
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A Igreja Católica prepara-se para viver um Jubileu da Misericórdia e já este sábado vai ser publicada a bula de convocação, ‘Misericordiae vultus’ (rosto de misericórdia), do Papa Francisco. O Semanário ECCLESIA apresenta por isso, nesta edição, um conjunto de olhares sobre este tema central no atual pontificado e na história do Cristianismo, da Teologia à arte. A iniciativa de Francisco é também comentada por um dos seus mais diretos colaboradores, o cardeal Oscar Rodríguez Maradiaga, em entrevista.
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Misericórdia, o braço da Igreja
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Agência ECCLESIA (AE) - O Papa decidiu convocar um Jubileu da Misericórdia, um Ano Santo com atenção especial para os que mais sofrem. Como podemos compreender este gesto? D. Oscar Rodríguez Maradiaga (ORM) - O Santo Padre viveu na sua própria pele esta necessidade de sublinhar a misericórdia. Ao celebrar os dois anos de pontificado do Papa Francisco, no meu país, dizia que se tivesse de o resumir em poucas palavras, a primeira seria misericórdia, a primeira. Ele vive profundamente no coração de Cristo e apercebe-se de que as pessoas não precisam de mais Teologia - e depois de um Papa teólogo como Bento XVI, é muito difícil que alguém tenha a pretensão de o completar.
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A doutrina está feita, o que é preciso é que as pessoas se aproximem da Igreja, inclusive os católicos que se mantiveram a uma certa distância. Para trazer as pessoas para perto da Igreja, eram necessários sinais como os que o Papa Francisco está a cumprir, uma Igreja em saída, que dê “sarilhos”, como ele diz, que seja uma espécie de hospital de campanha para curar tantas feridas.
A mim sensibilizou-me muito esta expressão, porque há muitos católicos que precisam de cura e não vão à clínica especializada, mas ao hospital de campanha, ao pároco que está perto deles, que vive no bairro, e que tem a sua confiança, porque os conhece todos. |
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AE - Esta é uma mensagem que vale tanto para a Europa como para a América Latina… ORM - Também na Europa, com o Sínodo da Família, vimos tantas feridas, tantos sofrimentos, tantas famílias que fracassaram e querem começar uma nova aliança, mas deparam com uma quantidade de limites muito fortes, que os impedem de viver intensamente a sua fé. Alguns interpretaram mal o desejo que o Santo Padre de ir ao encontro de quem está longe: pensam que é hipotecar a doutrina. |
Não, e ele já o disse muitas vezes. Na doutrina da Igreja há coisas que podem mudar e outras que não vão mudar nunca, porque vêm diretamente do Senhor Jesus Cristo. O facto de a doutrina existir não quer dizer, no entanto, que é melhor que aqueles que - por qualquer razão - não conseguem chegar a essa meta vão para o inferno ou para outro lugar. A pastoral é precisamente o cuidado das ovelhas e não só das que estão saudáveis, mas sobretudo das fracas, das doentes, das que estão em crise.
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AE - Faz sentido contrapor doutrina à misericórdia?
ORM - O Papa tem dito que ninguém está fora da misericórdia e isso para mim abriu caminho para muitíssimas pessoas que estavam afastadas. Já São João Paulo II, na sua segunda
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encíclica, ‘Dives in misericordia’, expõe claramente todo o que é a doutrina (sobre a misericórdia), mas caiu no esquecimento. Julgo que o atual Papa está a querer chamar a atenção, está a pedir que voltemos à misericórdia. |
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AE - O Jubileu vai servir para recordar esta mensagem? ORM - Certamente. Em primeiro lugar, temos de perceber o que é um jubileu na Bíblia: era uma espécie de perdão geral. Perdoavam-se até as dívidas, daí surgiu essa grande iniciativa de São João Paulo II de pedir o perdão da dívida externa de muitos países, em que eu trabalhei muito, muito a fundo. Acredito que este foi um grande sinal. O jubileu na Bíblia não se referia só às dívidas mas também à liberdade, à |
libertação dos escravos, por exemplo, dos que estavam submetidos, por diversas razões, a outras pessoas. O jubileu era quase como encontrar - como a palavra diz - júbilo, alegria, um ano de graça do Senhor. Do meu ponto de vista, o que o Papa pensa é isto: ‘Olhem, há dois anos que estou a falar disto e ainda não o entendem”. Por isso, vem deixar bem clara a sua mensagem. Um ano santo tem uma repercussão muito grande para os fiéis, dado que |
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há uma série de benefícios espirituais que muitas pessoas ignoram. Neste ano, por certo, teremos de esforçar-nos mais nesta “pastoral dos afastados”, para aproximá-los, para ir até eles. Não por proselitismo, e isso é um outro ponto interessante: há dias lia um inquérito no qual se dizia que a Igreja Católica estava a perder fiéis. Depende da forma como olhamos: se vou ao Anuário Pontifício, a Igreja cresce todos os anos, também na América Latina, por causa dos novos batizados. Os que vão embora - e digo-o com todo o respeito - é porque nunca |
estiveram. Foram batizados por tradição, mas nunca cresceram na Igreja porque não tiveram educação na fé, diziam-se católicos mas encontraram estas novas comunidades que são muito próximas, fisicamente: no bairro onde ainda não há uma paróquia, aparecem quatro ou cinco outras igrejas numa garagem. O Papa pede que cheguemos também a estas pessoas, não por proselitismo, repito, mas para partilhar o que temos. Não vamos conquistar ninguém, mas queremos partilhar, para que eles aprendam o que é a sua Igreja, que não conheciam e que deixaram. |
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AE - Em Braga falou do ‘cristão na ação social’. A ação do cristão não deveria ser sempre social? ORM - Efetivamente é assim, mas nalguns momentos pensava-se apenas em enfatizar a dimensão vertical: “Eu entendo-me com o meu Deus, os outros que se entendam com o seu”. Como vivemos numa sociedade individualista, especialmente nalgumas culturas, a dimensão comunitária é desvalorizada. |
Por esse motivo, é tão necessário que a dimensão social entre na evangelização. Já o Papa Paulo VI na ‘Evangelii Nuntiandi’ dizia que a evangelização era incompleta sem a promoção humana. Este é o grande compromisso, sobretudo depois do Concílio Vaticano II. Em dezembro, vamos celebrar os 50 anos da ‘Gaudium et Spes’, documento profético que sacudiu a Igreja e que motivou uma maior organização da pastoral social. |
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A Igreja sempre se preocupou com a ação social, sublinhando sobretudo as obras de misericórdia, com base no Evangelho de São Mateus - ‘tive fome e deste-me se comer…’. Graças a Deus, hoje trabalha-se nas dimensões políticas, sociais, culturais e económicas. O Compêndio da Doutrina Social da Igrejas tem vastos capítulos a este respeito.
AE - Já em Fafe falou sobre a Justiça, que é um tema muito teológico…
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ORM - Sim, é algo que tem muito a ver com a prática do Cristianismo,
porque muitos reduzem a justiça à justiça distributiva, à justiça comutativa ou à justiça legal, esquecendo a dimensão social, que é precisamente um dos temas mais fortes na sociedade de hoje e em todos os países, também aqui em Portugal. Penso que vale a pena que a Igreja sublinha, de modo especial com o laicado, a necessidade de um compromisso social mais exigente.
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Um jubileu com várias mensagens |
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A abertura do próximo jubileu, o primeiro desde 2000, vai decorrer no 50.º aniversário do encerramento do Concílio Vaticano II e, segundo explica a Santa Sé, em comunicado de imprensa, “adquire um significado particular, impelindo a Igreja a continuar a obra começada com o Vaticano II”. O Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização, responsável pela organização das celebrações deste jubileu, recorda em nota oficial que o Papa tinha afirmado no início de 2015 que se vivia “o tempo da misericórdia” Durante o jubileu, a passagem evangélica lida nas missas do chamado tempo comum vão ser retiraras do Evangelho segundo São Lucas, que apresenta, entre outras, as parábolas da ovelha perdida ou do filho pródigo. “Com o Jubileu da Misericórdia, o Papa Francisco coloca no centro das atenções o Deus misericordioso que convida todos a voltar para Ele”, precisa a Santa Sé. A nota de imprensa realça que este é um tema muito presente no atual pontificado e que já como bispo Jorge Mario Bergolgio tinha escolhido com o lema ‘miserando atque eligendo’, |
que evoca uma passagem do Evangelho segundo São Mateus: “olhou-o com misericórdia e escolheu-o”. No primeiro ângelus após a sua eleição, há dois anos, Francisco falou da misericórdia como a palavra “muda o mundo”. Em novembro de 2013, o Papa surpreendeu dezenas de milhares de pessoas reunidas no Vaticano com a sugestão de um ‘medicamento espiritual’ para as suas vidas, distribuído numa caixa própria, a 'Misericordina'. |
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Francisco propôs assim a recitação do chamado ‘terço da Divina Misericórdia’, uma devoção católica baseada nas visões de Santa Faustina Kowalska (1905-1938), canonizada por João Paulo II em 2000. A 11 de janeiro de 2015, no ângelus, o Papa falou na “necessidade” da misericórdia, apelando ao compromisso dos leigos nos |
vários espaços sociais.
Já na sua mensagem para a Quaresma 2015, Francisco deixou votos de que as paróquias e comunidades católicas se tornem “ilhas de misericórdia no meio do mar da indiferença”.
A palavra ‘misericórdia’ aparece mais de 30 vezes na primeira exortação apostólica do pontificado, ‘Evangelii gaudium’ (A alegria do Evangelho). |
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Jubileu da Misericórdia |
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O Papa Francisco anunciou a 13 de março no Vaticano que decidiu proclamar um “jubileu extraordinário”, com início a 8 de dezembro deste ano, centrado na “misericórdia de Deus”. “Será um Ano Santo da Misericórdia. Queremos vivê-lo à luz da palavra do Senhor: ‘Sede misericordiosos como o Pai’ e isto especialmente para os confessores”, disse, na homilia da celebração penitencial a que presidiu na Basílica de São Pedro, na abertura da iniciativa ’24 horas para o Senhor’. Francisco explicou que a iniciativa nasceu da sua intenção de tornar “mais evidente” a missão da Igreja de ser “testemunha da misericórdia”. O Papa defendeu que “ninguém pode ser excluído da misericórdia de Deus” e que a Igreja “é a casa que acolhe todos e não recusa ninguém”. “As suas portas estão escancaradas para que todos os que são tocados pela graça possam encontrar a certeza do perdão. Quanto maior é o pecado, maior deve ser o amor que a Igreja manifesta aos que se convertem”, realçou. O 29.º jubileu na história da Igreja Católica, um Ano Santo extraordinário, vai começar |
na solenidade da Imaculada Conceição e terminar a 20 de novembro de 2016, domingo de Jesus Cristo Rei do Universo, “rosto vivo da misericórdia do Pai”, explicou o Papa. “É um caminho que começa com uma conversão espiritual e temos de seguir por este caminho”, prosseguiu. A organização dos vários momentos do jubileu vai estar a cargo do Conselho Pontifício para a Nova Evangelização e quer ser, segundo Francisco, uma “nova etapa do caminho da Igreja na sua missão de levar a cada pessoa o Evangelho da misericórdia”. Este é o primeiro jubileu desde o que foi convocado pelo João Paulo II no ano 2000, para assinalar o início do terceiro milénio. O Jubileu da Misericórdia vai ter início com a abertura da porta santa da Basílica de São Pedro, algo que não acontece desde 2000. Esta porta é aberta apenas durante o Ano Santo, permanecendo fechada no resto do tempo, e existem portas santas nas quatro basílicas papais: São Pedro, São João de Latrão, São Paulo fora de muros e Santa Maria maior. O anúncio solene do Ano Santo vai ter lugar este sábado com a leitura e |
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publicação da bula pontifícia, junto da porta de São Pedro, nas I Vésperas da festa da Divina Misericórdia, instituída por São João Paulo II e celebrada no domingo a seguir à Páscoa. A Igreja Católica iniciou a tradição do Ano Santo com o Papa Bonifácio VIII, em 1300, e a partir de 1475 determinou-se um jubileu ordinário a cada 25 anos. Até hoje houve 26 anos santos ordinários e dois extraordinários |
(anos santos da Redenção): em 1933 (Pio IX) e 1983 (João Paulo II). O jubileu, com raízes no ano sabático dos hebreus, explica o Vaticano, “consiste num perdão geral, uma indulgência aberta a todos, e na possibilidade de renovar a relação com Deus e o próximo”.
Esta indulgência implica certas obras penitenciais, como peregrinações e visitas a igrejas. |
A Misericórdia como dimensão essencial
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“O Deus da Bíblia é o Deus Santo. SANTO, em hebraico, qaddôsh, quer dizer «separado». «Separado», não de nós ou da Sua criação, mas de SI. «Separado» de SI. É um Deus que SAI de SI, e VEM ao nosso encontro, debruçando-se sobre nós com um amor condescendente, gratuito e radical”[1]. “Com efeito – diz-nos o Concílio –, nos livros sagrados, o Pai que está nos céus vem amorosamente ao encontro de Seus filhos, a conversar com eles”(DV 21). O Deus da Bíblia, o Deus dos Cristãos, define-se como o Pai que “vem amorosamente” ao nosso encontro. Deus é para nós “transbordante MISERICÓRDIA e GRAÇA, PERDÃO sem medida, BONDADE radical, AMOR gratuito, condescendente, sem retorno. É este o coração da mensagem bíblica, que ainda não chegou a pulsar verdadeiramente na nossa cultura, porque ainda não
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pulsa verdadeiramente no coração de cada um de nós” – afirma D. António Couto. O coração da mensagem bíblica, o coração do Evangelho, o coração do cristianismo, é, pois, a misericórdia. D. António continua: “Convenhamos que, até hoje, este vinho novo tem sido bebido e vivido e testemunhado apenas por «justos» e por «santos». Mas pode e deve ser o Dom maior que devemos saber oferecer à humanidade deste início do terceiro milénio”[2]. O Papa Francisco, nos seus gestos de misericórdia e no seu ensinamento centrado na misericórdia, tem manifestado a urgência de a Igreja servir aos homens de hoje este vinho novo da misericórdia, o que o levou a convocar um jubileu sobre a Misericórdia: “Pensei muitas vezes – diz-nos ele – sobre como a Igreja possa tornar mais evidente a |
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[1] ANTÓNIO COUTO, Maria, Mãe de Jesus misericordioso, in AA.VV, Maria, Mãe de Misericórdia (Actas da IX Semana de Espiritualidade sobre a Misericórdia de Deus), Ed. MIC, pág. 6. [2] Ibidem, pág. 6-7. |
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sua missão de ser testemunha da misericórdia. Por isso, decidi convocar um Jubileu extraordinário centralizado na misericórdia de Deus. Será um Ano Santo da Misericórdia. Queremos vivê-lo à luz da palavra do |
Senhor: «Sede misericordiosos como o vosso Pai» (cfr Lc 6, 36)”. Para o Papa Francisco, “a Igreja deve ser o lugar da misericórdia gratuita, onde todos possam sentir-se acolhidos, amados, perdoados e animados a viverem |
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segundo a vida boa do Evangelho” (EG 114). Como o Pai é misericordioso assim o devemos nós para os irmãos. De facto, na Sagrada Escritura, o nome de Deus é Misericórdia. No cartão de visitas que Deus entrega a Moisés pode ler-se: “Javé, Javé, Deus misericordioso e gratificante, lento para se irar e grande de amor e fidelidade” (Ex 34, 5-6). S. Paulo exclama: “Bendito seja Deus e Pai de |
Nosso Senhor Jesus Cristo, Pai das misericórdias e Deus de toda a consolação” (2 Cor 1, 3). Na carta aos efésios, é-nos dito: “Deus, que é rico em misericórdia, pelo amor imenso com que nos amou, precisamente a nós que estávamos mortos pelas nossas faltas, deu-nos a vida com Cristo – é pela graça que vós estais salvos (Ef 2, 4-5). O Evangelista João diz-nos: “Deus amou de tal modo o mundo que lhe entregou o Seu
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próprio Filho Único, para que todo o que n’Ele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3, 16). E como síntese perfeita, conclui S. João: “Deus é amor” (1Jo 4,1 6). Jesus Cristo, o Filho de Deus que se fez homem, “por nós homens e para nossa salvação”, é a manifestação de “Deus rico em misericórdia”: “Quem me vê o Pai” (Jo 14, 9). Durante a sua vida pública, Jesus levou por diante o seu programa messiânico de libertação – pela sua palavra e pelos seus gestos de misericórdia –, como vinha anunciado em Isaías |
e que Ele assumiu como seu, na sinagoga de Nazaré (cf Lc 4, 18-19). E “amou-nos até ao fim” (Jo 13, 1), dando a sua vida por nós, “quando ainda éramos pecadores” (Rm 5, 8). E deixou-nos como programa: “que vos ameis uns aos outros assim como Eu vos amei”, e acrescentando que é esse amor misericordioso que nos define como cristãos: “Por isto é que todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros”(Jo 13, 34-35).
Pe. Basileu Pires, MIC
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Uma Iniciativa Coerente |
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A primeira coisa que se pode dizer é que a proclamação de um Jubileu da Misericórdia é uma iniciativa completamente coerente com o estilo pastoral do Papa Francisco. Se ele tem desencadeado um enorme caudal de simpatia entre crentes e não-crentes é pela sua capacidade de aproximação às pessoas, sobretudo às que vivem situações de pobreza, de sofrimento, e aos povos feridos pela sua exclusão do desenvolvimento e da dignidade. Um jubileu é algo cujas raízes são para ligar ao próprio movimento messiânico de Jesus. O que nos dizem os Evangelhos é que a sua proximidade aos pobres, aos doentes, às mulheres, aos excluídos, a todos fazia entrar num mundo novo de esperança e de transformação. A própria instituição social era inovada pela ação de Jesus: as propriedades eram relativizadas e repartidas. Temos um vestígio disso no quinto pedido do “Pater” que as traduções comuns esqueceram: “perdoai-nos as nossas dívidas como nós perdoamos aos nossos devedores”. A proclamação do Reino de Deus não é um ensino, mas é um movimento |
de inovação do mundo. A “misericórdia” é uma palavra com ressonâncias bíblicas profundas. A “miseratio” é a compaixão, uma proximidade entre corações (“cor, cordis). Ela remonta ao movimento de revolve as entranhas de Deus, para se aproximar do povo sofredor no Egipto. A misericórdia é a experiência crente de Maria que sente e exprime no seu poema “Magnificat” a comiseração de Deus, que atravessa as gerações, sustentando a história. O evangelista Mateus, o melhor moralista do Novo Testamento, vê na misericórdia aquilo mesmo que sustenta o ser humano na sua humanidade, muito antes da lei moral, por muito importante que esta seja (Mt 18). Por isso, quando ao Papa Francisco traz para o centro a misericórdia, ele está a lembrar à Igreja aquilo que a constitui. E o que a constitui não é uma ideia, uma moral, um direito mas, antes disso, é a compaixão de Deus pelo mundo, que não é outra realidade senão a ação divina instauradora de comunhão a que chamamos Espírito Santo. A pessoa humana nasce da comunhão |
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e cresce na comunhão. No texto mais importante do Papa Francisco, a exortação “Evangelii gaudium” as referências à misericórdia são muito significantes (nn. 193. 187). A misericórdia é a acção da Igreja, pois a torna apta e digna para sintonizar com os pobres, para lhes merecer a confiança, para ser eficaz na tarefa de trazer à dignidade e à inclusão o que andava |
disperso, distraído, longe do centro da vida. Por essa via é que todos os seres humanos, seja qual for o seu estatuto social, são evangelizados. As obras de misericórdia são mais do que as boas ações diárias: são o único caminho que a vida nos indica para crescer em humanidade.
Jorge Teixeira da Cunha, Faculdade de Teologia da UCP/Porto |
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Misericórdia: As obras
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As Misericórdias tiveram, desde sempre, três imagens que as identificaram e cujo simbolismo se encontra ligado não apenas às suas atividades como também à memória da fundação da confraria de Lisboa: a Visitação de Nossa Senhora a sua prima Santa Isabel, que recordava as próprias visitas dos confrades, deslocando-se ao encontro dos mais desfavorecidos, doentes e presos; a Virgem do Manto, protetora e intercessora da humanidade, mais tarde institucionalizada como símbolo identificador das confrarias, homenageando os seus fundadores; e a Pietá, no reverso das bandeiras, em memória da capela da Sé, onde foi instituída a confraria lisboeta. Todas estas imagens têm como denominador comum a figura de Nossa Senhora, configurando uma iconografia mariana, que prevaleceu no universo das instituições. Fonte de Misericórdia, por excelência, a Virgem Maria protegia os fiéis que se colocavam sob a sua proteção, e era considerada intercessora excecional |
junto de seu Filho, estabelecendo uma ligação privilegiada entre o Céu e a terra. Paralelamente, foi-se manifestando uma outra corrente iconográfica, de pendor cristológico, no contexto da qual a figura de Jesus Cristo era entendida como a grande fonte de Misericórdia. Ao morrer na cruz, sacrificando-se pela humanidade, Cristo cumpriu a Sua missão, demonstrando todo o Seu amor pelos Seus irmãos, dando a vida por eles e redimindo-os do pecado original. Este é considerado o exemplo máximo do amor ao próximo e da encarnação da Misericórdia de Deus. Nesta medida, Cristo estaria apto para regressar uma segunda vez, no Dia do Juízo Final, para julgar os vivos e os mortos. E, como o próprio recomenda, a melhor intercessão é a prática das obras de misericórdia: “sede misericordiosos como o Vosso Pai é misericordioso” (Lc 6, 36). Importa, ainda, chamar a atenção para a circunstância de muitos episódios bíblicos escolhidos para ilustrar as obras de misericórdia |
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poderem ser entendidos enquanto prefigurações eucarísticas, ganhando especial importância neste contexto por ser através da Eucaristia, onde Cristo está presente sob as espécies, que se consubstancia a Salvação. É natural que obras como dar de beber a quem tem sede ou dar de comer aos que têm fome se reflitam em temas relacionados com o pão e o vinho (Bodas de Canaã, multiplicação dos pães e dos peixes, etc), mas várias outras cenas têm a mesma leitura. |
A hospitalidade de Abraão, Moisés fazendo brotar água do rochedo, em que o rochedo é entendido como o próprio Cristo, a samaritana no poço, ou Daniel na cova dos leões são alguns dos episódios que contêm referências eucarísticas. No contexto das obras de misericórdia, o paralelo com a Eucaristia estabelece-se diretamente, pois quem se alimenta de Cristo abre as portas ao amor ao próximo e à caridade, como defendia Orígenes e São Bernardo ou, nas |
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palavras de frei Luís da Apresentação, quem recebe todos os dias o pão celestial não pode negar ao pobre o pão terreno. A ligação entre a Misericórdia e a Eucaristia foi também destacada pelo padre António Vieira. É certo que as duas perspetivas da Misericórdia, mariana e cristológica, não se podem dissociar, na medida em que a Virgem deteve um papel fulcral na Paixão de Cristo, vivendo |
de forma muito particular esta experiência da Misericórdia. Importa, no entanto, perceber que, em termos imagéticos, estamos perante duas correntes, e que as obras se aproximam mais desta segunda, não apenas pela exortação à sua prática por parte de Jesus Cristo, como pela ligação ao Juízo Final que observámos desde os textos mais antigos até às primeiras imagens analisadas. Parte |
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das obras são inspiradas em exemplos bíblicos, nomeadamente, em episódios da vida de Cristo, e esta relação entre as obras e uma iconografia da Paixão está presente em muitos dos programas estudados, sendo que a questão do dia do Juízo está subjacente a todos os conjuntos azulejares. Com o Concílio de Trento, a Paixão de Cristo foi ainda mais valorizada, embora no caso das Misericórdias a Semana Santa constituísse já um dos momentos fundamentais das suas celebrações cíclicas, facto que poderá ajudar a explicar a fortuna que a |
representação das obras no contexto das Misericórdias conheceu no nosso país, desde a segunda metade do século XVI e, em particular, no século XVIII.
(Excerto das conclusões da tese de mestrado de Maria do Rosário Salema Cordeiro Correia de Carvalho - “Por amor de Deus. Representação das Obras de Misericórdia, em painéis de azulejo, nos espaços das confrarias da Misericórdia, no Portugal setecentista”: |
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O apostolado da Misericórdia |
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Quem em Massamá procura a casa das Missionárias do Amor Misericordioso do Coração de Jesus (MAMCJ) não vai encontrar nenhum sinal exterior da sua presença num bairro habitacional próximo do centro desta freguesia nos arredores de Lisboa. Ao todo são sete mulheres que se dedicam ao carisma da misericórdia vivendo em grupos fraternos, ou no meio da sua família, onde a regra, mais interiorizada do que escrita, é ser um testemunho silencioso de uma opção de vida junto de quem se afastou ou não conhece o perdão de Deus. Pelas mãos do padre Júlio Gritti, italiano a viver em Portugal há mais de 60 anos, o apostolado é desenvolvido através de três palavras: Simpatia, Anúncio e Sacramentos. “O padre Júlio propõe que nos aproximemos das pessoas com simpatia, com o amor cristão. Quando elas sentem este amor, começam a abrir-se e aí passamos para o anúncio. Aos poucos as pessoas vão sentindo a necessidade de se aproximar dos sacramentos”, conta à Ecclesia Lurdes Xavier, leiga consagrada missionária há 20 anos no Instituto secular. |
A partir da inspiração de leituras, proferidas numa celebração eucarística, o padre Júlio quis juntar leigos com a missão de anunciar a misericórdia e a conversão a quem estivesse mais longe da Igreja. “Olhando para o mundo invadido pela ideia de um Deus que julga, sonhei criar um grupo de consagrados preocupados em levar os leigos à graça de Deus. Quando depois de nos aproximarmos das pessoas que viveram tantos anos fora da Igreja, e encontram alguém preocupado em levá-los a adquirir outra vez a graça de Deus, percebemos uma alegria e uma serenidade que conduz as pessoas ao apostolado”, traduz o sacerdote de 91 anos. A misericórdia é desenvolvida por estas mulheres na vertente espiritual, num trabalho “que não se vê com os olhos”, indica o fundador. “O nosso objetivo é a conversão das pessoas, um voltar-se para Deus, através da confiança no amor e na bondade de Jesus”, acrescenta Lurdes Xavier. “É fundamental perceber-se que independentemente da forma como se vive, todas as pessoas são |
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amadas e perdoadas. Quando se compreende isto a vida renova-se, ganha um novo sentido”. Este é um trabalho que, indica a leiga consagrada, toca quem está fora e mas também dentro da Igreja. “Penso nas pessoas que estão na Igreja, que talvez nunca se tenham afastado de Deus, mas não descobriram o coração do Pai. Somos muitas vezes o filho mais velho da |
parábola «Filho Pródigo»: nunca nos afastamos mas não conhecemos verdadeiramente a bondade e o amor”. Maria de Nazaré Maia testemunha essa conversão mais profunda depois de anos a “sentir-se tocada por Deus” e a participar em atividades promovidas pelos dehonianos. “Foi num retiro, em Fátima, que eu percebi a dimensão da conversão. Eu ia |
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Padre Júlio Gritti
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Maria de Nazaré Maia |
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iconfessada para esse retiro, mas houve um tema que apontava a reconciliação, e aquilo tocou-me muito”. Do decorrer do encontro organizado pelas MAMCJ a professora de matemática dirigiu-se a um sacerdote e nessa confissão assume ter feito “uma limpeza no coração” e ter “encontrado a misericórdia de Deus”. |
Maria de Nazaré Maia é hoje uma das 30 colaboradoras do Instituto Secular, tendo estado recentemente em Angola, juntamente com Lurdes Xavier, em apostolado. “O perdão não é fácil, mas é mais difícil perdoarmo-nos a nós. Quando isso acontece, encontra-se a misericórdia infinita de Deus”.
Em véspera da celebração
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do Domingo da Misericórdia, e tendo como pano de fundo a convocação do Papa Francisco do Jubileu da Misericórdia, a ECCLESIA foi conhecer o trabalho das Missionárias do Amor Misericordioso do Coração de Jesus, um instituto secular feminino, que assume como carisma o anúncio da misericórdia. A reportagem pode ser ouvida este domingo, na Antena 1, a partir das 06h00 (www.ecclesia.pt/radio/). |
“O padre Júlio propõe que nos aproximemos das pessoas com simpatia, com o amor cristão. Quando elas sentem este amor, começam a abrir-se e aí passamos para o anúncio. Aos poucos as pessoas vão sentindo a necessidade de se aproximar dos sacramentos” |
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1200 formadores reunidos no Vaticano |
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O Vaticano promove deste terça-feira um congresso internacional com 1200 formadores de institutos religiosos, para abordar “novas fronteiras” da Vida Consagrada. Entre os temas a abordar, até sábado, estão as novas tecnologias digitais, a justiça, a paz e a ecologia. “Formar para um uso adequado dos meios de comunicação é um grande desafio que temos diante de nós. O uso dos meios de comunicação apresenta alguns problemas aos quais se deve prestar atenção”, refere D. José Rodríguez Carballo, secretário da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica (Santa Sé), em entrevista ao jornal do Vaticano, ‘L’Osservatore Romano’. O responsável explica que a iniciativa, intitulada ‘Formados para a vida consagrada no coração da Igreja e do mundo’, visa abordar “a emergência educativa e formativa” da qual dependem “o presente e o futuro” dos institutos religiosos. Além das mais de 50 palestras previstas, haverá também ‘laboratórios’ sobre temáticas de grande atualidade. “Um religioso precisa de regular a sua vida segundo |
prioridades bem claras. A oração, o estudo, o trabalho, a escuta das pessoas, a vida fraterna em comunidade exigem uma grande quantidade de tempo e de energias e sobretudo a presença física e intelectual”, assinala D. José Rodríguez Carballo.
No sábado, às 09h30, tem lugar uma celebração eucarística na Basílica de São Pedro, presidida pelo prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada, cardeal João Braz de Aviz. |
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Bolo de mel da Madeira |
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Com a extinção dos conventos. o receituário dos doces estende-se, com maior expressão, às casas aristocráticas e às pastelarias. Uma das doçarias mais genuínas é o bolo de mel. É fruto de uma conjugação de ingredientes existentes na Ilha na Madeira no século XVI: o açúcar, o mel de cana e os frutos secos, e outros produtos herdados da civilização europeia (manteiga, banha e farinha), a juntar as exóticas especiarias da Índia, após a viagem de Vasco da Gama. Tradicionalmente o receituário deste afamado bolo surge associado ao convento franciscano de Santa Clara, e segundo os registos terá chegado à Madeira, em finais do século XV, pela mão de frei Jordão do Espírito Santo. |
No interior do convento as freiras adicionaram ao bolo as especiarias do Oriente, especialmente o cravinho. O historiador João José de Sousa apresentou uma receita aproximada do bolo de Mel do Convento de Santa Clara dos séculos XV e XIX: “Farinha -4kg Mel de Cana – 3 Lt Açúcar de Cana – 1,5Kg Canela Moída – 125g Erva-doce moída – 125g Cravinho moído – 30g Manteiga – 1Kg Banha – 1/2Kg Fermento – 2 pães Nozes, amêndoas, passas, cidra Levedura – um pouco” (A Doçaria Madeirense, Élvio Duarte Martins Sousa) |
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Amor como resposta à crise na família |
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O secretário-geral do Conselho das Conferências Episcopais da Europa (CCEE), padre Duarte da Cunha, apresenta hoje em Lisboa a sua nova obra, «Só o amor gera vida - Pessoa, Família e Sociedade». “Eu parto da perspetiva de João Paulo II: para percebermos bem o amor precisamos de perceber a pessoa humana na sua totalidade, que tanto abraça a razão e a liberdade, como os sentimentos e o seu corpo”, revela o sacerdote português. À Agência ECCLESIA, o autor explica que um amor que é “simplesmente sentimento”, que não seja “decisão e capaz de sacrifício”, também não é amor verdadeiro, uma vez que não gera movimento para o outro e acolhimento. “Amor tem de ser reciprocidade que implica acolhimento do outro como ele é, mas ao mesmo tempo, ajudá-lo a ser mais e deixar-se ajudar pelo outro”, desenvolve. O secretário-geral do CCEE adianta que as duas dimensões do amor são “dom e comunhão”, por isso, o amor verdadeiro, que foi “revelado por Jesus Cristo”, é capaz de “renovar |
a pessoa, regenerar uma família e uma sociedade”. O livro «Só o amor gera vida - Pessoa, Família e Sociedade» vai ser apresentado hoje por Maria João e Henrique Leitão, Prémio Pessoa 2014, e conta com a presença de D. Nuno Brás, bispo-auxiliar de Lisboa, a partir das 21h00, no Colégio São Tomás de Aquino, em Lisboa. A publicação tem a chancela da Paulus Editora, que destaca a abordagem de “quatro temas essenciais: a pessoa humana, a teologia do corpo, família e educação, e as questões sociais”. Uma curiosidade é o facto de o prefácio da nova obra ter sido escrito por sete casais que o sacerdote português acompanha há 20 anos: “É um grupo de amigos, famílias com filhos, humanamente muito vivo e muito belo”. O padre Duarte da Cunha, que esteve durante dez anos ligado à pastoral familiar, destaca a reciprocidade de “ajuda e entreajuda” que “tenta espelhar” e considera que os casais são um “desafio” para os sacerdotes. “Não só pelo testemunho de amor que dão mas também por aquilo que |
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querem e pedem aos padres para que sejam verdadeiramente padres”, acrescentou. Este livro é publicado entre as duas assembleias do Sínodo dos Bispos sobre a família, e neste contexto o sacerdote português comenta que a família esta em “crise de identidade”, na sociedade “individualizada, dos projetos pessoais”, e em “crise de consistência”. Segundo o entrevistado, a Igreja “insiste” que a verdadeira célula que “cria coesão e a pessoa” é o facto de se viverem “redes de relações de amor” – pais e filhos, irmãos, avós e netos. “Se a sociedade for baseada nesta células de amor, de certeza que pode ganhar imenso com isso. Não são soluções sociológicas ou economicistas que vão resolver aquilo que é uma certa autonomização das pessoas”, alerta o padre Duarte da Cunha. Pelas funções que ocupa de secretário-geral do CCEE tem a perceção que o Velho Continente “não está por evangelizar”, com realidades que são o fermento onde o amor é “vivido intensamente”. |
“Famílias que se interajuda, não sofrem menos crises, não têm menos problemas, mas têm outros recursos que é a rede dentro da família e das famílias”, conclui o sacerdote. |
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II Concílio do Vaticano: Os perigos da vida internacional na «Mense Maio» |
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O homem que tomou as rédeas dos trabalhos no II Concílio do Vaticano, depois da morte de João XXIII, tinha o desejo de uma Igreja modernizada e dialogante com o mundo. Recordo que o novo beato da Igreja – Paulo VI foi beatificado a 19 do outubro de 2014 – quando foi eleito pelos seus pares não quis chamar-se Pio nem João, mas Paulo, o grande apóstolo evangelizador e missionário. Na encíclica «Mense Maio», datada de 29 de abril de 1965, o Papa Montini realça que com a aproximação do mês de maio, “consagrado pela piedade dos fiéis a Maria Santíssima”, é fundamental uma “oração mais intensa e confiada” para o sucesso do II Concílio do Vaticano. Ao olhar para o mundo de então, Paulo VI refere na encíclica que “esta hora é particularmente grave e que urge, mais do que nunca, lançar um apelo para que se estabeleça um coro de orações de todo o povo cristão”. Com o aproximar da IV sessão conciliar, o sucessor de João XXIII escreveu no documento que o êxito desta assembleia magna depende do esforço dos cristãos. Só através deste empenho, as “sementes lançadas” durante o concílio podem “alcançar o seu desenvolvimento efetivo e benéfico” (In: Lumen; Ano XXIX; 1965, página 370). No seu pontificado, Paulo VI teve atitudes marcantes. Uma delas, que ficou na história, foi ter recebido dos seus irmãos (cristãos) milaneses a tiara que, posteriormente, colocou em leilão e o fruto da venda reverteu para os pobres. Um gesto que mostra o seu sentir perante “aquele emblema de um poder
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e de um fasto temporal que a Igreja já não reconhece. Ele considera importante, para fins pastorais, chamar a atenção da opinião pública que alardeia acerca das fantasiosas riquezas da Igreja: «A Igreja deve ser pobre; e não só; a Igreja deve aparecer pobre» diz em 1970”. (In: «Paulo VI – Biografia», Giselda Adornato, Lisboa, Paulus Editora). Perante os “graves perigos da vida internacional”, Paulo VI sublinha que é fundamental dar a “conhecer as preocupações e o receio que estas discórdias se exacerbem até ao |
ponto de degenerar num conflito sangrento” ” (In: Lumen; Ano XXIX; 1965, página 370). Os documentos do Papa Paulo VI criavam sempre expectativa. Basta recordar que a primeira encíclica (6 de agosto de 1964) do Papa Paulo VI “não só é profundamente diferente das encíclicas anteriores como tem um estilo tão próprio e até tão novo, que não suporta facilmente uma comparação com outras encíclicas”. (In: Boletim de Informação Pastoral; Ano VI; 1964; Outubro-Novembro; Nº 34).
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Abril 2015 |
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Dia 10 de abril* Açores - Ilha de São Miguel (Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada) - III Jornadas de primavera da pastoral social sobre a «Saúde, a família e a ação social de proximidade» com o padre José Manuel Pereira de Almeida, secretário da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana.
Dia 11 de abril* Setúbal - Casa de Santa Ana - Dia diocesano da Juventude
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* Açores - Ilha de São Miguel (Capelas) - Ordenação presbiteral de Eurico Décio Caetano
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* Évora - Marcha pela Paz organizada pelo Movimento da Mensagem de Fátima.
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Dia 12 de abril
* Lisboa - Cascais (mercado da vila) - Os Teens4Unity, do Movimento dos Focolares, promove o «Living Peace - Viver a Paz tu és capaz», evento para adolescentes dos 10 aos 15 anos.
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Ordenação nos Açores O Bispo de Angra, D. António Sousa Braga, vai ordenar sacerdote o diácono Eurico Décio Caetano este sábado pelas 11h00, na Igreja Matriz das Capelas (Ilha de São Miguel), paróquia de nascimento do futuro presbítero. A missa nova será no dia seguinte, dia 12, na mesma igreja.
Bula do Jubileu Misericórdia A bula convocatória do Jubileu da Misericórdia, anunciado pelo Papa Francisco, vai ser publicada a 11 de abril, na Basílica de São Pedro. A iniciativa vai decorrer durante um momento de oração presidido por Francisco, a partir das 17h30 (menos uma hora em Lisboa), na véspera do Domingo da Misericórdia, uma festa instituída por São João Paulo II e celebrada uma semana depois da Páscoa.
Alunos de EMRC rumam a Leiria O Secretariado Nacional da Educação Cristã promove entre sexta-feira e sábado, em Leiria, o Encontro Nacional do Ensino Secundário, com o tema «(Des)Abrigo-me ConTigo!», reunindo cerca de 1200 alunos de Educação Moral e Religiosa Católica.
Adolescentes sintonizados na paz Os Teens4Unity, do Movimento dos Focolares, promove, este domingo, o «Living Peace - Viver a Paz tu és capaz», um evento para adolescentes dos 10 aos 15 anos, no Mercado da Vila de Cascais. Os promotores do encontro revelam que o objetivo é mostrar que a “paz é possível” e esperam mais de 800 adolescentes de todo o país. |
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Como surgiu a Doutrina Social da Igreja?
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Programação religiosa nos media |
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Antena 1, 8h00 RTP1, 10h00 Transmissão da missa dominical
11h00 - Transmissão missa
12h15 - Oitavo Dia
Domingo: 10h00 - O Dia do Senhor; 11h00 - Eucaristia; 23h30 - Ventos e Marés; segunda a sexta-feira: 6h57 - Sementes de reflexão; 7h55 - Oração da Manhã; 12h00 - Angelus; 18h30 - Terço; 23h57-Meditando; sábado: 23h30 - Terra Prometida. |
RTP2, 11h30
RTP2, 15h30 ![]() Segunda-feira, dia 13-entrevista a D. António Couto;
terça- feira, dia 14 - Informação e entrevista ao padre Duarte Cunha;
Antena 1 Domingo, dia 12 abril - 06h00 - Apostolado das Missionárias do Amor Misericordioso do Coração de Jesus. Comentário à atualidade com a jurista Paula Martinho da Silva.
Segunda a sexta-feira, 13 a 17 de abril - 22h45 - Alegria pascal: testemunhos da escritora Teresa Gonzalez, atriz Glória de Matos, batizada Helena Lobato, Frei Filipe Rodrigues e ator João D'Avila |
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Criança também reza! |
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Orações em texto e áudio para crianças darem os primeiros passos na Fé, despertar da fé. As crianças podem aprender a rezar diversas orações através da aplicação Pequeninos do Senhor. Com um só toque poderão ter acesso a diversas orações: "Ângelus", "Ave Maria", "Oração pela Criança", "Oração do Anjo da Guarda", "Oração ao acordar", "Pedido ao Menino Jesus", "Orações antes de dormir", "Oração antes das refeições", "Glória" e "Consagração a Jesus e a Maria". Podemos ler na apresentação da aplicação que os Pequeninos do Senhor é uma Associação Católica que tem como missão evangelizar crianças de 3 a 7 anos, no acolhimento durante as Missas e Celebrações aos finais de semana nas Paróquias. Esta aplicação tem como objetivo levar aos pequeninos a Palavra de Deus, o Amor de Jesus, as virtudes cristãs, e o respeito ao próximo e à criação, de forma lúdica e apropriada a eles. Este serviço de evangelização Pequeninos do Senhor teve início em 1997, em Campinas, Brasil, na Paróquia de Nossa Senhora das Dores. O projeto conta com o reconhecimento do |
Arcebispo e da Arquidiocese de Campinas, além de outras Dioceses e Bispos. Mensalmente são libertados pequenos "kits" com diversas atividades. A cada mês, a história de um personagem que ilustra o logo do Pequeninos do Senhor será apresentada em texto e áudio por crianças que participam do projeto em diferentes Paróquias pelo Brasil. Esta aplicação está também pensada para pais e catequistas que terão, assim, um novo recurso na hora de rezar. Com o texto completo da oração e o áudio gravado por uma criança voluntária do projeto, rezar será um momento especial para os mais pequeninos. O espaço "Catequistas" contém o Evangelho de domingo com explicação e sugestão de atividades com as crianças e jovens. A novidade das "Orações" em texto e áudio, rezadas por diferentes crianças que fazem parte do Projeto, complementa a aplicação que já conta com: jogos, desenhos para colorir, orientação para catequistas e histórias em texto e áudio contadas pelos |
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seis personagens do Projeto Pequeninos do Senhor: Rebeca, Pedro, Sara, Mateus, Lia e Lucas.
A aplicação conta ainda com um site onde podemos encontrar entre outras coisas alguns vídeos e tirar dúvidas.
Texto escrito tendo como guião
Bento Oliveira http://www.imissio.net |
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Ano B - 2.º Domingo de Páscoa |
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Somos comunidades de misericórdia? |
A liturgia deste 2.º domingo da Páscoa, Domingo da Misericórdia, apresenta-nos a comunidade de pessoas que nasce da cruz e da ressurreição de Jesus, a Igreja, que tem por missão revelar aos homens a vida nova que brota da ressurreição. No Evangelho sobressai a ideia de que Jesus vivo e ressuscitado é o centro da comunidade cristã. A segunda leitura recorda aos membros da comunidade cristã os critérios que definem a vida cristã autêntica: o verdadeiro crente é aquele que ama Deus, que adere a Jesus Cristo e à proposta de salvação que, através d’Ele, o Pai faz aos homens e que vive no amor aos irmãos. Quem vive desta forma, vence o mundo e passa a integrar a família de Deus. Na primeira leitura, a partir da comunidade cristã de Jerusalém, Lucas dá-nos os traços da comunidade ideal. Fiquemo-nos uns instantes pela fotografia da comunidade apresentada por Lucas nos Actos dos Apóstolos, para ver se ela se revela também em nós e nas nossas comunidades cristãs. A comunidade cristã é uma multidão que abraçou a mesma fé, que aderiu a Jesus, aos seus valores, à sua proposta de vida. A Igreja é uma comunidade que agrupa pessoas de diferentes raças e culturas, unidas à volta de Jesus e do seu projecto de vida e que de forma diversa procuram incarnar a proposta de Jesus na realidade da sua vida quotidiana. A comunidade cristã é uma família unida, onde os irmãos têm “um só coração e uma só alma”. Só pode ser uma comunidade de irmãos que vivem no amor, que respeitam a liberdade e a dignidade de todos, |
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potenciando os contributos e as qualidades de todos, nunca um grupo de pessoas isoladas, em que cada um procura defender os seus interesses. A comunidade cristã é uma comunidade de partilha. No centro dessa comunidade está o Cristo do amor, da partilha, do serviço, do dom da vida. Uma comunidade onde alguns esbanjam os bens e onde outros não têm o suficiente para viver dignamente não é uma comunidade que testemunha esse mundo novo de amor que Jesus veio propor. A comunidade cristã é uma comunidade que encontra e testemunha o Senhor ressuscitado. Se conseguirmos criar verdadeiras comunidades fraternas, que vivam |
no amor e na partilha, que sejam sinais no mundo dessa vida nova que Jesus veio propor, estaremos a anunciar que Jesus está vivo, que está a actuar em nós e que, através de nós, Ele continua a apresentar ao mundo uma proposta de vida verdadeira. É nos gestos de amor, de partilha, de serviço, de encontro, de fraternidade, que encontramos Jesus vivo, a transformar e a renovar o mundo. Só assim seremos pessoas e comunidades acolhedoras e misericordiosas, como nos pede o Papa Francisco, em particular neste Domingo da Misericórdia!
Manuel Barbosa, scj www.dehonianos.pt |
Crianças nunca são um erro |
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O Papa Francisco denunciou no Vaticano os “dramas” das crianças de todo o mundo que vivem na pobreza ou são vítimas de maus tratos. “Cada criança marginalizada, abandonada, que vive na rua a mendigar ou com qualquer tipo de expediente, sem escola, sem cuidados médicos, é um grito que chega até Deus e que acusa o sistema que nós adultos construímos”, declarou, perante milhares de pessoas reunidas na Praça de São Pedro, para a audiência pública semanal. Numa catequese centrada no que chamou de “paixão da infância”, o Papa recordou que muitas destas crianças “são presa de delinquentes, que os exploram para tráficos e negócios indignos, ou os treinam para a guerra e a violência”. “Também nos países ricos, muitas crianças vivem dramas que as marcam de forma pesada, por causa da crise da família, dos vazios educativos e de condições de vida por vezes desumanas. De qualquer forma, são infâncias violadas no corpo e na alma”, acrescentou. Francisco contestou os que apresentam como solução uma diminuição dos nascimentos,apelando à responsabilidade da sociedade civil em defesa dos mais |
desprotegidos, inclusive nos países ditos desenvolvidos. “Muitas crianças, desde o início, são recusadas, abandonadas, privadas da sua infância e do seu futuro. Alguns ousam dizer, como que a justificar-se, que foi um erro fazê-las vir ao mundo. Isto é vergonhoso”, referiu. “Não descarreguemos as nossas culpas nas crianças, por favor! As crianças nunca são um erro”, advertiu. A reflexão recordou problemas como a fome, a pobreza, o abandono e a falta de escolas, pedindo “maior generosidade” na resposta a estas situações. A audiência incluiu a tradicional saudação do Papa aos peregrinos lusófonos presentes na Praça de São Pedro, com um pedido especial para as comunidades católicas, relativamente à sua ação junto dos mais novos. “Saúdo os peregrinos de língua portuguesa, particularmente os fiéis vindos de Portugal e do Brasil. Queridos amigos, cuidar das crianças significa crer que cada uma delas é um dom de Deus para o mundo. Não poupemos esforços para que elas possam sentir-se sempre acolhidas e amadas nas nossas famílias e nas nossas comunidades. Uma feliz Páscoa para todos!”. |
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Shahbaz Bhatti: Uma vida em favor dos mais desfavorecidosUm mártir do nosso tempo |
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Foram precisas 27 balas. Shahbaz Bhatti morreu num atentado terrorista a meia dúzia de metros de casa. Foi no dia 2 de março de 2011. Os talibãs queriam acabar de vez com o trabalho deste ministro cristão em favor das minorias no Paquistão. Mataram-no, mas a semente ficou e cresceu.
“Era o meu irmão mais novo.” Poucas pessoas poderão falar melhor sobre Shahbaz Bhatti, do que Paul, o seu irmão. Médico, com carreira em Itália, Paul abandonou o consultório, deixou a vida tranquila na Europa e regressou ao Paquistão. “Era necessário fazer alguma coisa.” Era preciso continuar o trabalho do seu irmão mais novo, assassinado por um comando talibã, junto à porta de sua casa. Foram 27 balas cuspidas com ódio por metralhadoras Kalashnikov. Foi tão perto de casa que a sua mãe ouviu o estrondo das balas sem imaginar que estavam a desfazer o corpo do seu filho. Paul Bhatti esteve em Portugal no final de março. Veio trazer-nos a memória |
do irmão, um mártir do nosso tempo, alguém que nunca recuou na missão de serviço aos mais fragilizados da sua sociedade. Shahbaz pagou com a própria vida a coragem de servir a causa dos mais fracos, tantas vezes confundidos com as minorias religiosas. Uma das suas últimas batalhas foi em defesa de Asia Bibi, a cristã condenada à morte injustamente pelo crime de blasfémia. Shahbaz sabia que a sua vida corria risco por isso, mas sabia também que a sua vida não teria valor algum se vacilasse nessa luta. Pouco tempo antes de o seu corpo ter sido crivado de balas, o então Ministro das Minorias encontrou-se com Samuel Azariah, bispo da igreja Anglicana. O prelado nunca mais esqueceu o que ele lhe disse: “Esta é uma causa em que não podemos ceder. E mesmo que seja morto, estou preparado para isso também”.
Continuar o legadoMorreu no dia 2 de março de 2011. Esse assassinato mudou também a vida de Paul Bhatti, que hoje prossegue o trabalho em prol |
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da reconciliação nacional, pelo diálogo entre religiões. Um trabalho que sabe ser lento e difícil, mas essencial: “A erradicação da violência contra os cristãos depende da capacidade de se chegar ao coração da comunidade muçulmana, sobretudo aos jovens”. Todos os dias, no Paquistão, se perdem vidas inocentes por causa de um apartheid religioso que segrega as minorias e as condena ao desemprego e à pobreza. Hoje, ninguém tem dúvidas de que Shahbaz vai ter um lugar nos altares. Ele deu a vida |
pelos seus irmãos. O seu trabalho não foi interrompido pelas balas que lhe dilaceraram o corpo. Todos os dias há notícias de conversões forçadas, de sequestros, de igrejas destruídas, de violência sexual e de homicídios. Todos os dias, também, alguém ergue a sua voz em defesa dessas minorias. E quando isso acontece, ninguém duvida que Shahbaz Bhatti continua vivo. Serão necessárias mais do que 27 balas para interromperam o seu trabalho. Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt
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Viver com Saúde |
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Tony Neves |
A saúde é um dos direitos humanos gravados na Declaração Universal, aprovada pelos Nações Unidas em 1948. Já lá vai muito tempo, mas a verdade é que, por esse mundo além, milhões e milhões de pessoas não têm acesso aos mais elementares cuidados de saúde. Todos os governos, nos seus programas, elegem a saúde como um das prioridades. Na prática, há quem tome a sério esta opção programática e há quem ligue pouco ou nada a esta questão tão vital para as pessoas. Mas a saúde tem outra face para além dos cuidados promovidos por pessoal especializado e realizado em lugares tecnicamente preparados, como são o caso dos hospitais, centros de saúde e clínicas. Quero referir-me aos cuidados que cada pessoa e família devem ter para evitar cair doentes. Há estilos de vida doentios, como há estilos de vida saudáveis. Em muitos casos, compete a cada um escolher o caminho de vida que quer seguir. Sabemos que há muitos comportamentos de risco. Fumar, ingerir muito álcool, apostar em alimentos com muitas gorduras, temperar demais as comidas, evitar legumes e frutas, fugir das sopas, comer fora de horas, estar longas horas sem comer de depois comer muito, andar pouco a pé, dormir pouco, stressar muito… são alguns dos comportamentos de alto risco que levam muitas pessoas às urgências dos hospitais, quando não, aos cemitérios e crematórios. Viver com saúde exige a conjugação destes dois |
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factores: assumir um estilo de vida saudável e ter a felicidade de viver numa terra em que o governo se interessa pela saúde das pessoas e investe muito no seu bem-estar e na cura dos que caíram doentes. Médicos Sem Fronteiras, Médicos do Mundo, AMI e muitas outras organizações internacionais tentam fazer, por esse mundo fora, o que os governos locais teimam em não fazer, sobretudo quando a violência se instala e as riquezas do país se dissolvem na compra de armas e nas |
dinâmicas de corrupção que acompanham todas as guerras. Salvam-se muitas vidas, mas o futuro destes povos vai continuar comprometido enquanto a Saúde for um parente pobre nos investimentos desses países. A Saúde implica um bem-estar geral, de alma e corpo. Os romanos falavam da ‘alma sã num corpo são’ para explicar a urgência de um estilo de vida feliz e sadio. É este caminho que temos que indicar aos governos e às pessoas. Caso contrário, não haverá hospitais nem farmácias que nos salvem. |
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“Pode ouvir o programa Luso Fonias na rádio SIM, sábados às 14h00, ou em www.fecongd.org. O programa Luso Fonias é produzido pela FEC – Fundação Fé e Cooperação, ONGD da Conferência Episcopal Portuguesa.”
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