04 - Editorial:

    Octávio Carmo

06 - Foto da semana

07 - Citações

08 - Nacional

14 - Internacional

20 - Opinião

     José Luis Gonçalves

22 - Semana de...

      Carlos Borges

24 - Dossier

    Jubileu da Misericórdia

   

 

26 - Entrevista

    D. Manuel Linda

78 - Multimédia

80 - Estante

82 - Concílio Vaticano II

84- Agenda

86 - Por estes dias

88 - Programação Religiosa

89  - Minuto Positivo

90 - Liturgia

92 - Fundação AIS

94 - LusoFonias

Foto da capa: IM.va

Foto da contracapa:  DR

 

 

AGÊNCIA ECCLESIA 
Diretor: Paulo Rocha  | Chefe de Redação: Octávio Carmo
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Opinião

 

 

 

Portas Santas fechadas, Misericórdia continua

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Em defesa dos homens do Mar

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Misericordiar de corpo e alma

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D. Manuel Linda | José Luis Gonçalves | Octávio Carmo | Carlos Borges

Fernando Cassola Marques | Manuel Barbosa | Paulo Aido | Tony Neves

 

Com Misericórdia

  Octávio Carmo   
  Agência ECCLESIA   

 
 

 

 

O terceiro Ano Santo extraordinário da Igreja Católica está a chegar ao fim. Se levarmos em contar que já há mais de 700 anos de jubileus, percebemos desde logo que foi uma oportunidade histórica. Para lá da mera análise “estatística”, no entanto, percebemos que foi um ano central para definir o pontificado de Francisco em volta da sua palavra-chave: Misericórdia.

A própria compreensão do conceito está em constante aperfeiçoamento, necessariamente. A Teologia tem de estar por dentro da condição humana e ao serviço de cada pessoa, oferecendo respostas às suas buscas existenciais. A misericórdia é particularmente relevante para evitar qualquer atitude de superioridade em relação àquele que pode estar a precisar de auxílio ou numa condição considerada menos digna, qualquer que seja. Do ponto de vista católico, todos, sem exceção, estão necessitados da misericórdia divina.

12 meses passados, obviamente, há muito por fazer. As Portas Santas fecham-se e o mundo continua à espera desta mensagem de misericórdia, concretizada nas mais diversas obras. Uma reserva moral e espiritual num mundo em que a modernidade, tantas vezes, se tem revelado anti-humana, promotora de uma cultura de morte (como lembrava João Paulo II), da ditadura do relativismo (uma denúncia sistemática de Bento XVI) e da cultura do descarte (Papa Francisco).

Não posso deixar de fazer eco de uma reflexão recente, ouvida durante um debate sobre 

 

 

 

a figura de G. K. Chesterton: esta modernidade suporta mal a crítica. Não quer ser discutida, quer apenas ser absolutizada, divinizada. Quem discordar de algum modo pode estar apenas doente, tomado por uma qualquer “fobia”, porque a modernidade (entenda-se também aqui o tempo que vivemos) é o mais perfeito do mundo. À Igreja  

 

Católica compete ser “reserva” de sabedoria, de valores e, claro está, de misericórdia, mesmo quando à primeira vista as suas posições sejam recusadas.

Como dizia o próprio Chesterton, “apenas a Igreja Católica pode salvar o homem da escravidão destruidora e rebaixante de ser filho da sua época”.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Leonard Cohen, 1934-2016

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

“Cantando e escrevendo, Cohen pensou, desabafou, rezou, amou. Sempre com aquele jeito cavalheiresco cultuado noutras eras. Porque assim era, um gentleman em palco e fora dele. Honrou assim o nome que celebrizou.” (Padre Alexandre Palma, Diário de Notícias de 12 de novembro)

 

“Peço-vos perdão em nome dos cristãos que não leem o Evangelho e não encontram a pobreza no centro. Peço-vos perdão por todas as vezes que nós, cristãos, diante de uma pessoa pobre ou de uma situação de pobreza olhamos para o outro lado. Desculpai.” (Papa Francisco, no Jubileu dos sem-abrigo, dia 11 de novembro)

 

“Eu tinha dito, uns tempos atrás, que havia razões para esperar uma boa execução orçamental e porventura sinais em matéria de economia. Vamos ver é se se mantém até ao fim do ano” (Presidente da República, sobre o crescimento da economia no terceiro trimestre)

 

“O Eng.º Bruto da Costa foi um homem de profunda humanidade, um homem de fé e de fidelidade à Igreja, um homem de causas, sobretudo as sociais, sempre na atenção a todos sem exceção” (Padre Manuel Barbosa, secretário da Conferência Episcopal Portuguesa, sobre o falecimento de Alfredo Bruto da Costa)

 

“Sempre pugnou pelo envolvimento de toda a sociedade e da Igreja, em particular, na erradicação da pobreza absoluta e de qualquer forma de exclusão social.” Eugénio Fonseca, presidente da Cáritas Portuguesa, sobre o falecimento de Alfredo Bruto da Costa)

 

Portas fechadas,
coração aberto para a Misericórdia

 

As várias dioceses e os santuários portugueses encerraram no último domingo as Portas Santas do Jubileu da Misericórdia. Uma etapa e não um ponto final, como sublinharam os seus responsáveis, apelando à continuidade desta dinâmica na vida de cada dia.

 

 

Como exemplo, a Diocese de Portalegre-Castelo Branco assinalou o encerramento do Jubileu da Misericórdia com a doação à CERCI - Cooperativa de Educação e Reabilitação de Crianças Inadaptadas – do edifício e do terreno que esta estava a utilizar atualmente. De

 

 

 

 

 acordo com informações avançadas à Agência ECCLESIA, o bispo diocesano, D. Antonino Dias, explicou este gesto com o objetivo de concluir o Ano Santo com “uma recordação viva” da misericórdia.

Já o cardeal-patriarca de Lisboa afirmou que o Jubileu da Misericórdia, que se conclui a 20 de novembro, deve deixar marcas na defesa da vida e da dignidade humana. “Que, em suma, do ventre materno à sua finalização neste mundo, a existência de cada um seja legalmente protegida e solidariamente amparada, como valor que é por si só e nunca relativizada pelos outros ou até pelos próprios”, defendeu D. Manuel Clemente.

O bispo de Leiria-Fátima encerrou este domingo o Ano Santo da Misericórdia na diocese, numa Eucaristia em que sublinhou um evento que “imprimiu uma sensibilidade espiritual e um estilo pastoral” essenciais para toda a Igreja Católica. D. António Marto destacou a importância deste Jubileu, num “mundo tão carecido de perdão, de cura e de paz”, uma vivência que “não pode parar” mas deve ser “impulso e pauta de atuação dos cristãos”.

 

 

O bispo de Viana do Castelo, por sua vez, frisou que Deus tem sempre uma porta aberta para todos os que precisam. “Não existe nenhuma situação da nossa vida, por mais miserável que seja, para a qual não se abra uma porta”, salientou D. Anacleto de Oliveira, na sua homilia.

Nos Açores, o bispo de Angra quer ver os frutos do Jubileu da Misericórdia potenciados no ano pastoral que está em curso. D. João Lavrador classificou o Ano da Misericórdia como uma ocasião “de graça para a Igreja Católica e para os cristãos”, no sentido de terem sempre presente a proximidade de Deus nas suas vidas.

 

Um ano depois do seu início, sentimos como foi providencial a iniciativa do Papa Francisco, ao convocar este Jubileu Extraordinário da Misericórdia. Percebemos bem como a Igreja precisava desta lufada de nova missão que irrompe da misericórdia divina, acolhida e traduzida na vida de todos os dias. E não nos surpreende a alma aberta do mundo que acolheu esta iniciativa do Papa Francisco com alargada aprovação e atento interesse.

D. António Francisco dos Santos, bispo do Porto

 

 

 

Beja: Novo bispo já se sente alentejano

D. João Marcos disse à Agência ECCLESIA que se sentiu “acolhido de forma calorosa” na primeira celebração, como bispo diocesano de Beja, este domingo, na Sé, que coincidiu com o encerramento da porta jubilar da misericórdia e com a despedida de D. António Vitalino.

Os praticantes no Alentejo “não são muitos, mas são calorosos” e são “pessoas provadas” porque o “meio é adverso”, sublinhou D. João Marcos, que assumiu a liderança da Diocese de Beja no último dia 3.

O bispo atual sente-se “bem acolhido” naquilo que diz e “nos gestos” que tem, e considera que os cristãos de Beja o “fortalecem” e sustentam”. Em relação ao legado do seu antecessor

 

D. João Marcos sublinha que D. António Vitalino era “muito acarinhado” na diocese e, na homenagem de despedida, este domingo, “não houve nenhuma paróquia que não quisesse participar na prenda oferecida”.

“Ele deixa a fasquia muito alta” porque “teve uma dedicação sem limites” e “uma capacidade de trabalho impressionante”, afirmou D. João Marcos. O bispo de Beja trabalhou, durante dois anos, como coadjutor de D. António Vitalino e considera que este período “foi uma escola ótima”. Nascido na região da Beira, D. João Marcos já se “sente alentejano com os alentejanos” porque “as pessoas quando se sentem amadas correspondem”.

 

 


 

Alfredo Bruto da Costa, os pobres como inquietação constante

O cardeal-patriarca presidiu no sábado à Missa exequial de Alfredo Bruto da Costa e lembrou a sua constante “inquietação” pelos pobres, num percurso de vida “inteiramente cristão”. “A Boa Nova aos pobres era a sua inquietação constante”, referiu D. Manuel Clemente, acrescentando que a sua vida confirma a possibilidade de acontecer em cada tempo o que em Cristo "começou a acontecer”.

“Nos vários contactos que foi tendo com ele, nas várias instâncias eclesiais, o que sempre me surpreendeu, também quando o lia ou o ouvia, é que nunca saía daqui: o Espírito de Deus está sobre mim porque Ele me ungiu e me enviou a anunciar a Boa Nova aos pobres”, disse o cardeal-patriarca de Lisboa.

D. Manuel Clemente sublinhou que Alfredo Bruto da Costa “nunca esmoreceu neste propósito” e insistiu na “concretização do sonho” da atenção constante aos pobres. “Esta insistência do Alfredo, ao longo de toda a sua vida e de toda a sua obra, fá-lo inteiramente cristão”, acrescentou.

O presidente da Comissão 

 

Nacional Justiça e Paz (CNJP), Pedro Vaz Patto, mostrou-se “emocionado” com a morte de Alfredo Bruto da Costa, seu antecessor no cargo.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, Pedro Vaz Patto enalteceu o “serviço” que Bruto da Costa sempre prestou “à sociedade portuguesa”, ao longo da sua vida. Recordou também uma figura com quem “conviveu durante bastantes anos na CNJP” e que sempre viu como “modelo de cristão empenhado nas causas da justiça e da paz”.

Alfredo Bruto da Costa faleceu esta no dia 11 de novembro, aos 78 anos; licenciado em Engenharia e com um doutoramento em Sociologia, exerceu funções no Governo chefiado por Maria de Lurdes Pintassilgo, entre 1979 e 1980, foi presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz e conselheiro de Estado.

 

 

 

A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram a atualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizados emwww.agencia.ecclesia.pt

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fátima: Santuário convida peregrinos a atravessar «pórtico jubilar»

 

 

 

Encerramento do Ano da Misericórdia em Beja

 

 

Vaticano denuncia realidades trágicas na indústria pesqueira

 

O Vaticano denunciou a “realidade trágica” dos pescadores vítimas de tráfico humano e de trabalhos forçados, numa mensagem inserida no Dia Mundial da Pesca que está marcado para 21 de novembro. No documento, enviado à Agência ECCLESIA, o Conselho Pontifício

 

 

para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes (CPPMI) realça que está em causa a vida de “centenas de milhares” de pessoas, sobretudo “migrantes internos ou transnacionais” que são submetidos a “situações de exploração e abuso” na indústria pesqueira.

De acordo com a Santa Sé, “tudo

 

 

 

 isto é favorecido por uma rede de organizações criminosas e indivíduos que exploram as pessoas provenientes de uma situação de pobreza e que procuram desesperadamente um emprego que possa ajudá-los a quebrar esse círculo”.

O Dia Mundial da Pesca foi instituído em 1998 para “enfatizar a importância de preservar os oceanos e a vida marinha, que dá alimento para milhares de milhões de pessoas em todo o mundo e oportunidade de trabalho para mais de 50 milhões”.

Para o CPPMI, é essencial que todos os “governos ratifiquem a Convenção sobre o Trabalho na Pesca de 2007 (OIT nº 188) ”, que visa “criar um ambiente seguro a bordo dos navios e melhores condições de bem-estar para os pescadores.”

Este organismo do Vaticano considera ainda fundamental que as estruturas católicas, sobretudo os agentes mais ligados ao Apostolado do Mar, os capelães e voluntários, estejam “vigilantes e intensifiquem a sua presença nos portos de pesca, a fim de identificar e ajudar as vítimas de tráfico humano”. “Também é necessário que o Apostolado do Mar trabalhe estreitamente com os 

 

responsáveis das comunidades pesqueiras para educar e prevenir o tráfico de seres humanos, oferecendo alternativas viáveis de trabalho e meios de subsistência”, pode ler-se.

A reflexão do Vaticano para o Dia Mundial do Mar olha também para o futuro dos “recursos naturais marinhos”, atualmente ameaçados por uma intervenção humana que valoriza mais o lucro a todo o custo do que o desenvolvimento sustentável.

Na sua encíclica ‘Laudato Si’, dedicada à Ecologia, o Papa Francisco denunciou alguns dos desafios, desde “a poluição que chega ao mar resultante do desflorestamento, das monoculturas agrícolas e descargas industriais” aos “métodos de pesca destrutivos, nomeadamente os que utilizam cianeto e dinamite”.

Aqui, a Santa Sé realça também a importância de dar cumprimento a uma outra convenção, neste caso “o Acordo sobre Medidas do Estado do Porto para prevenir, impedir e eliminar a pesca ilegal, não declarada e não regulamentada (PSMA)”. Um acordo adotado pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) em 2009, mas que só em junho deste ano “entrou em vigor”.

 

Resposta coletiva responsável
às alterações climáticas

O Papa enviou uma mensagem aos participantes na 22ª Cimeira da ONU sobre Alterações Climáticas (COP22), que decorre na cidade marroquina de Marraquexe, apelando a uma “resposta coletiva responsável” neste campo. A missiva foi divulgada hoje pela sala de imprensa da Santa Sé e é dirigida ao ministro marroquino dos Negócios Estrangeiros, que preside à conferência, em curso até sexta.

Francisco alude à “grave responsabilidade ética e moral” de agir “sem demoras” para travar a degradação ambiental e enfrentar os efeitos das alterações climáticas, evitando “pressões políticas e 

 

económicas” em sentido contrário.

A mensagem saúda a entrada em vigor do Acordo de Paris, fruto da COP21, em 2015, realçando que “a ação individual e/ou nacional não é suficiente” perante temáticas tão complexas. O Papa fala num “impacto preocupante” das mudanças climáticas, em particular nas populações mais pobres e nas “gerações futuras”.

Em relação à implementação do acordo, o pontífice argentino defende que não bastam “soluções técnicas”, pelo que pede um compromisso político para tomar as medidas necessárias, levando em consideração “os aspetos éticos e sociais”.

 

 

 

Papa pede fim da violência
terrível na Síria e Iraque

O Papa manifestou a sua consternação diante da “terrível” violência na Síria e no Iraque, durante uma audiência ao patriarca da Igreja Assíria do Oriente, esta quinta-feira. Perante o ‘catholicos’ Mar Gewargis III, Francisco pediu o fim dos conflitos na região, sublinhando que “nenhuma motivação pode justificar ou permitir” esta situação, que afeta em particular milhares de cristãos e membros minorias religiosas e étnicas, que são forçados a fugir das suas terras.

A intervenção, divulgada pela sala de imprensa da Santa Sé, recordou as “centenas de milhares de crianças inocentes, de homens e mulheres” que são atingidos pela “violência terrível dos sangrentos conflitos”.

Francisco rezou pela paz no Médio Oriente, para que se ponha fim a “tanta dor” que afeta a população da região, antes de deixar uma mensagem em favor da “plena comunhão” entre as várias Igrejas cristãs. Além do encontro, em privado, o Papa e o patriarca da Igreja Assíria do Oriente estiveram em oração na capela ‘Redemptoris Mater’ do Palácio Apostólico do Vaticano.

 

 

O pontífice argentino elogiou os cristãos que percorrem diariamente uma “Via-Sacra” e mostram aos fiéis de todo o mundo que é preciso “permanecer com o Senhor, em todas as circunstâncias”.

Francisco desafiou os membros da Igreja Católica e da Igreja Assíria do Oriente a renovar a “memória comum” da atividade evangelizadora, aprendendo com os “mártires” de todos os séculos e de hoje. “Como o sangue de Cristo, derramado por amor, reconciliou e uniu, fazendo germinar a Igreja, assim o sangue dos mártires é semente de unidade dos cristãos”, declarou.

Gewargis Sliwa, 112.º patriarca da Igreja Assíria do Oriente, é natural do Iraque, onde nasceu em 1941.

 

 

 

A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram a atualidade eclesial internacional nos últimos dias, sempre atualizados em www.agencia.ecclesia.pt

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Papa associa-se a jornada pelos Direitos da Infância e da Adolescência

 

 

 

Jubileu dos sem-abrigo 

 

 

Os efeitos das “políticas de identidade”

  José Luís Gonçalves    
  Escola Superior  
  de 
 Educação   
  de Paula Frassinetti
   

 

Qual é o elemento político comum que une os resultados que conduziram ao Brexit, ao recrudescimento dos nacionalismos europeus ou à narrativa que fez eleger o novo presidente dos EUA?  Tudo foi conduzido em nome de uma divisão: o “nós” contra “eles”. Este recurso ao argumento da “identidade” tem constituído uma arma perniciosa no discurso político de todos os quadrantes, quer das ideologias situadas à esquerda quer das ideologias atribuídas à direita. À esquerda, defende-se a “diferença” das minorias étnicas, raciais, culturais ou sexuais; à direita, alerta-se para os perigos da perda da “identidade” linguística, nacional, territorial ou religiosa. Nos discursos ditos progressistas, a celebração da diferença constitui a razão de ser legitimadora para fazer propostas fraturantes que forçam até ao limite costumes das comunidades humanas; nos discursos populistas, o outro-diferente-de-nós constitui um “intruso” e o inimigo a abater, não raras vezes com linguagem despudoradamente ofensiva. Começam a surgir no espaço público “fantasmas” que julgávamos há muito desaparecidos…

Os políticos que argumentam a partir da “identidade” têm tido sucesso porque conseguem falar a linguagem dos marginalizados da globalização, essa grande transformação que alterou estruturas sociais e estatais, afetou as condições de trabalho e de produção, modificou as relações humanas e, acima de tudo, a maneira 

 

 

 

 

como cada pessoa se vê a si mesma e ao outro. Os perdedores desta dinâmica imparável e imprevisível estão cansados de viver na frustração de não conseguirem ser bem-sucedidos na estratégia de adaptação à globalização. Perdidos algures nesta errância psíquica e geográfica para encontrar o seu “lugar” no mundo – tendo que redefinir pertenças -, a fragilidade da condição provisória e ambivalente das “suas” identidades vem ao de cima. E se é importante sublinhar que as identidades pessoais e coletivas configuram convenções socialmente necessárias à convivência, elas constituem, antes de tudo, um problema e uma tarefa quando reclamam por reconhecimento e justiça no espaço público. No entanto, se exploradas politicamente, dão lugar a expressões de fundamentalismos de vária ordem: muros que separam os “bons” dos “maus”, postos de trabalho para os de “dentro” e não para os de “fora”, entre outros fenómenos conhecidos.

Neste processo inexorável de uma globalização inacabada, encontramo-nos, pois, numa fase crítica da vida coletiva. Enfrentá-la corresponderá 

 

substituir a “política da identidade” pela organização social e política da corresponsabilidade, traduzida em algumas iniciativas: recorrer à tradição dialógica do debate público que, através da racionalidade comunicativa, reconhece e acolhe o melhor argumento; articular o espaço público em torno de uma gramática renovada do que se entende por bem-comum; sob o conceito de governação complexa, instituir o princípio da cooperação como poder de decisão comprometida; fomentar uma aprendizagem social que permita distinguir entre as normas de uma comunidade concreta e os princípios universalistas que atendam à dignidade humana de nome e rosto. O tempo urge e sem perseverança no aperfeiçoamento da democracia não podemos esperar justiça e paz social.

 

 

«Muito mais é o que nos une
que aquilo que nos separa»

  Carlos Borges   
  Agência ECCLESIA   

 

 

 

Foi uma das frases que ficou da viagem do Papa Francisco à Suécia pelos 500 anos da reforma protestante (2017) e foi uma das mais ouvidas no FEJ, o Fórum Ecuménico Jovem que se realizou este ano em Aveiro. E foi visível, por exemplo, com um momento único (não de primeira vez ou nunca ter acontecido) na celebração final com a partilha do pão que saiu do altar, e começou a ser distribuído por dois bispos, e chegou a todos os jovens como momento de comunhão e união.

Apesar do dia de chuva, certamente programada por São Pedro para a comunhão ser maior e mais próxima, a amostra de jovens cristãos de Portugal que se levantou cedo a um sábado fez a festa do ecumenismo.

No Seminário de Santa Joana Princesa, a partir do tema ‘Dai-lhes vós mesmos de comer’ o padre João Gonçalves incentivou à caridade. A partilha para além da vida de cada um sentiu-se à mesa da refeição, onde todos contribuíram para o almoço. E no Ano Nacional Contra o Desperdício Alimentar sobejou para o lanche, antes das despedidas até a nova edição, celebrações ecuménicas locais ou o Oitavário pela Unidade dos Cristãos, em janeiro.

A minha primeira vez no FEJ, com promessas de regressar e viver mais a partilha e a comunhão, foi também a maioridade do encontro organizado pelos departamentos juvenis das Igrejas Católica, Lusitana (Comunhão Anglicana), Metodista e Presbiteriana.

   

 

 

 

 

O título - «Muito mais é o que nos une que aquilo que nos separa» - lembra também a música do Rui Veloso ‘Primeiro Beijo’, como observou e bem o melómano chefe de redação da Agência Ecclesia após a viagem do Papa Francisco à Suécia.

Diana Melo, do Secretariado Juvenil da Igreja Lusitana, também

 

assinalou a frase destacada ao longo do Fórum Ecuménico Jovem não para referir-se à música mas para o que as cerca de 300 pessoas disseram “cara a cara” enquanto faziam a festa do ecumenismo, em comunhão mesmo que para isso façam longos percursos e tenham de percorrer o país lés a lés.

 

 

O título - «Muito mais é o que nos une que aquilo que nos separa» - lembra também a música do Rui Veloso ‘Primeiro Beijo’, como observou e bem o melómano chefe de redação da Agência Ecclesia após a viagem do Papa Francisco à Suécia.

Uma responsável do Secretariado Juvenil da Igreja Lusitana, por exemplo, também assinalou a frase destacada ao longo do Fórum Ecuménico Jovem não para referir-se à música mas para o que as cerca de 300 pessoas disseram “cara a cara” enquanto faziam a festa do ecumenismo, em comunhão mesmo que para isso façam longos percursos e tenham de percorrer o país lés a lés.

 

 

BALÕES

“É importante porque junta os jovens de várias Igrejas. Ficamos a conhecer melhor as outras Igrejas, aprendemos mais sobre Deus, temos novas ideias para fazer o bem e aprendemos novos cânticos.” Carolina Lopes, Igreja Presbiteriana

“É uma oportunidade de os jovens conviverem com outras realidades e com outros jovens, de perceberem que é mais aquilo que nos une do que aquilo que nos separa, que as diferenças não são tão significativas e realmente o importante é estarmos unidos e o amor ao próximo e a Deus.” Diana Melo, Secretariado Juvenil da Igreja Lusitana

“Numa altura que tem sido um desafio ao desenvolvimento do lado humano da nossa sociedade, há que ressalvar a ponte e partilha que se sente no Fórum Ecuménico. Vezes sem conta ouvimos sobre a necessidade de pensar “fora da caixa”, de procurar diversos pontos de vista. Mas como realmente o fazer sem ser ouvindo o outro e partilhando com o outro? Posso dizer, em verdade, que o reforçar da consciência da necessidade de comunhão para uma maior compreensão foi o que de principal trouxe comigo.” Inês Montenegro, Grupo de Jovens da Sé – Lamego

 

O Papa vai presidir entre sábado e domingo às celebrações conclusivas do Jubileu da Misericórdia, iniciado em dezembro de 2015, que incluem a criação de cardeais e o encerramento da Porta Santa. Este foi o  29.º jubileu na história da Igreja Católica, um Ano Santo extraordinário centrado no tema da Misericórdia.

 

 

 

 

 

 

O Semanário ECCLESIA apresenta nesta edição um conjunto de depoimentos e testemunhos centrados nesta celebração e na vivência particular das Obras de Misericórdia, corporais e espirituais. A lista segue a proposta feita pelo Papa e inclui o cuidado com o Ambiente deve como uma “nova obra de misericórdia”, que se une às 14 tradicionais.

A Igreja Católica iniciou a tradição do Ano Santo com o Papa Bonifácio VIII, em 1300, e a partir de 1475 determinou-se um jubileu ordinário a cada 25 anos. Ao longo da história da Igreja, foram vários os anos jubilares, 26 ordinários e tês extraordinários.

O jubileu, com raízes no ano sabático dos judeus, consiste num perdão geral, uma indulgência aberta a todos, e na possibilidade de renovar a relação com Deus e o próximo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A misericórdia vai modelar 
a Igreja no terceiro milénio

 

O Papa Francisco propôs a toda a Igreja a celebração de um Ano Santo Extraordinário sobre o tema da misericórdia. Iniciou no dia 8 de dezembro de 2015, dia em que se assinalavam 50 anos do encerramento do Concílio Vaticano II, e termina este domingo, 20 de novembro, solenidade de Cristo Rei. O objetivo foi aproximar os seguidores do Mestre, do Jesus que “não estabeleceu um código, mas a misericórdia”. A afirmação é de D. Manuel Linda, bispo da Diocese das Forças Armadas e das Forças de Segurança, que preside também à Comissão Episcopal Missão e Nova Evangelização. No Vaticano e nas várias conferências episcopais, foi pedido ao setor da Nova Evangelização a coordenação e dinamização do Ano Jubilar

 

Entrevists conduzida por Paulo Rocha

 

 

Agência Ecclesia – O Jubileu da Misericórdia foi sobretudo um jubileu do Papa Francisco?

D. Manuel Linda - Foi um ano inserido na dinâmica da Igreja, que pensou fundamentalmente na família. Não podemos esquecer que vem no seguimento do Sínodo sobre a família e, nesse ambiente, o Papa, em união 

 

 

 

com a Igreja, estabeleceu ao Ano da Misericórdia como tentativa de ver qual o Ser de Deus e a resposta do homem. Muitas vezes privilegiávamos o Direito Canónico, o formalismo inerente às leis em detrimento do ser íntimo que é o típico da Igreja e de Deus.

 

 

 

 

AE – O Papa fez muitos gestos concretos, que aconteceram também em toda a Igreja?

ML – Aconteceram! Não tiveram é a repercussão dos gestos do Papa.

Fundamentalmente aconteceu a formação de uma mentalidade. Claro que não é mensurável e não podemos dizer que hoje “toda a Igreja é misericordiosa como o Pai é misericordioso”. Mas a fermentação está a atuar e vai trazer os seus frutos.

 

 

 

AE – O que é possível continuar a fazer para que gestos como os do Papa tenham repercussão em todo o mundo?

ML – A Porta Santa encerra, mas a mentalidade que ele criou, a misericórdia, não termina. É semente que vai florindo e que vai modelar a Igreja neste terceiro milénio. É a grande proposta lançada neste início do terceiro milénio e que vai dar uma nova tonalidade à maneira de ser Igreja e de estar no mundo: pessoas de misericórdia.

 

 

 

 

 

AE – O novo horizonte da Igreja convida a substituir a norma pela misericórdia?

ML – O Direito Canónico teve, tem e terá uma importância muito grande no ordenamento da Igreja, até como corpo organizado que precisa logicamente de ter o seu enquadramento. Por isso, o Direito Canónico não é algo que está a mais, bem pelo contrário, é fundamental para a Igreja. Mas não é a norma fria, enquanto tal, que nos carateriza. Jesus Cristo não estabeleceu um código, mas a misericórdia.

 

AE – E que desafio é esse para quem segue hoje Jesus Cristo?

ML – Ser como Ele: misericordioso, compassivo, simpático, acolhedor…

 

 

AE – Que relação se deve estabelecer entre o tema da família, que referiu, e o Jubileu da Misericórdia?

ML – O Papa não me disse qual a razão pela qual escolheu o tema para um jubileu extraordinário. Mas toda a gente nota que é no seguimento do Sínodo sobre a família e da exortação apostólica pós-sinodal ‘A Alegria do Amor’. Nós lidamos com uma situação muito difícil, como é a das famílias, 

onde há situações que não têm uma solução fácil! Não há outra abertura possível nesta fase que não seja um acolhimento, uma presença, um não deixar desanimar, que habitualmente chamamos misericórdia.

 

Jesus Cristo não estabeleceu um código, mas a misericórdia.

 

 

 

 

AE – Refere-se a famílias que não se configuram na estrutura tradicional…

ML – O grande desafio é que aqueles que podem viver a partir do ponto de vista do que a Igreja prevê para a família crente o vivam. Mas há situações em que não é humanamente possível. Mas, por isso, não são rejeitadas, não estão afastadas, não são “mandadas para o inferno”. Há que acolhê-las, estar presente, integrá-las dentro do possível nas estruturas da vida da Igreja e acalentar a esperança.

 

AE – Concretizar as propostas do Sínodo da Família, com uma atitude de misericórdia. Foi essa a estratégia do Papa?

ML – Também por aí. Mas o jubileu é mais do que isso. Toda a vida da Igreja tem de respirar um “oxigénio” de misericórdia, simpatia, acolhimento, presença solidária.

 

AE – Na Bula de Proclamação do Jubileu, o Papa afirma que toda a ação pastoral da Igreja deve estar envolvida pela “ternura com que se dirige aos crentes”. Há um novo paradigma para ser Igreja hoje?

ML – Há. Estou convencido que, da parte de todos nós, os pastores, houve uma enorme tentativa de 

 

 

Creio que este ano foi absolutamente extraordinário na mudança do nosso temperamento na dinâmica pastoral, no acolhimento.

 

modelar o coração por uma maior proximidade, acolhimento. Não quer dizer que posturas de um certo formalismo não possam acontecer. Acontecem! Mas encontramos a atitude de maior abertura e proximidade, particularmente diante de situações difíceis ou mesmo fraturante, graças a Deus! Creio que este ano foi absolutamente extraordinário na mudança do nosso temperamento na dinâmica pastoral, no acolhimento.

 

AE – A referência principal é a história de vida de cada pessoa?

ML – Não a história de vida, mas a pessoa enquanto tal, que não se concebe de forma abstrata, à maneira grega. Trata-se de uma pessoa concreta, portadora de ânsias, carências, sonhos e frustrações. E se a desprezamos, desprezamos a única razão de ser da Igreja, que é a pessoa.

 

 

 

 

AE – Disse também o Papa, ao convocar o jubileu, que a credibilidade da Igreja passa pela “estrada do amor misericordioso e compassivo”. Falar da credibilidade de uma instituição com 2000 anos, colocá-la em causa como o Papa o fez é um desafio a que é impossível ficar indiferente…

ML – É evidente! Ou somos hoje repetidores, no tempo que corre, dos gestos e atitudes de Jesus Cristo, ou estamos a mais e criamos nós um qualquer organismo, por mais venerável que seja. A Igreja é muito 

 

filantrópica, distingue-se por fazer coisas muito bonitas, mas não é essa a sua essência. A sua essência é ser misericordiosa, compassiva, amorosa, como Jesus Cristo o foi.

 

 

 

Ou somos hoje repetidores, no tempo que corre, dos gestos e atitudes de Jesus Cristo, ou estamos a mais
 

 

 

 

AE – Jesus foi muitas vezes além da lei. Que desafio constitui essa atitude para os dias de hoje?

ML – Somos chamados à mesma atitude pedagógica de Jesus em função da pessoa, não da situação. 

 

Nós não canonizamos o mal! Bem pelo contrário. Se é mal, é mal. Mas a pessoa é merecedora da misericórdia e da atenção, independemente do bem ou do mal que traga anexa à sua vida.

 

 

 

 

 

 

Justiça sem misericórdia será fria, livresca

 

 

AE – Misericórdia e justiça. Que relação se deve estabelecer?

ML – As duas são componentes humanas. Mas justiça sem misericórdia será fria, livresca, que não serve a pessoa na sua totalidade.

 

AE – O que é que a misericórdia acrescenta à justiça?

ML – Centra-se na pessoa, não apenas na ação. A ação é contabilizada em função de códigos. E o contexto? E o que está por trás de uma ação? Podem ser agravantes, mas normalmente são atenuantes.

 

AE – Acredito que de alguma forma a misericórdia desestabiliza quem tem de aplicar a justiça…

ML – Não é fácil! Nós gostaríamos de ver tudo automático como o ligar de um interruptor. Mas estamos a lidar com pessoas e o seu mundo. Mas não tenhamos ilusão. Esse é o único caminho a seguir…

 

 

 

AE – Ao proclamar o jubileu, o Papa refere-se também a outras religiões, afirmando que a misericórdia ultrapassa as fronteiras da Igreja. O jubileu da misericórdia foi também um ano de diálogo inter-religioso?

ML – Foi e vai sê-lo! Não tivemos nenhum gesto significativo, mas no contexto do Pentecostes, em maio, as igrejas do COPIC (Conselho Português das Igrejas Cristãs), que já estão há muitos anos em diálogo, pretendemos recuperar uma ótima declaração sobre a justificação pela fé de 1998, assinada entre as igrejas luteranas da Alemanha e a Igreja Católica, que é ainda hoje um documento fundante do que deve ser a união a nível de doutrina. Vamos pegar nesse documento e refleti-lo, em conjunto. Trata-se de um dos frutos deste Ano da Misericórdia.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

AE – O setor da nova evangelização, que o D. Manuel Linda coordena na Conferência Episcopal Portuguesa, dinamizou este Jubileu da Misericórdia. Que repercussão tiveram as propostas do Papa entre nós?

ML – No início chegaram muitos documentos de Roma e, também por meio de consultas que fizemos ao Vaticano, tentamos uniformizar critérios para abertura do Ano da Misericórdia e a dinâmica no qual deveria ser vivido. Depois, cada diocese foi caminhado pelos seus meios, ao seu ritmo. Após o segundo e terceiro mês não houve uma intervenção de coordenação marcante.

Por outro lado, a primeira parte do Ano da Misericórdia foi marcada, em muitas dioceses, pela visita Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima e, em cada uma, procurou-se associar os dois acontecimentos no tema da misericórdia.  

 

AE – O Jubileu da Misericórdia não se reduziu, no entanto, ao abrir e fechar de portas, passado um ano…

ML – Não! Realizaram-se muitas ações: umas visíveis, mas as grandes ações são as invisíveis. Todo o Povo de Deus esteve envolvido com muito êxito. Marcou a maneira de ser Igreja em Portugal e em qualquer parte do mundo.

 

AE – Não seria desejável que gestos como os que o Papa fez, como ter a Praça de São Pedro com sem-abrigo, acontecessem também entre nós?

ML – Sim. E aconteceram! O bispo do Porto convidou os sem-abrigo a atravessar a Porta Santa da catedral; na única prisão que há em Portugal para as Forças Armadas e Forças de Segurança, graças a Deus com um número reduzido de presos, celebrei o Jubileu dos reclusos, com a presença da Imagem Peregrina. E muitos outros gestos ocorreram! Não foram é tão visíveis, porque não têm a dimensão da universalidade como têm os que se realizam no Vaticano.

 

AE – Também por causa da realização desses gestos, acredita que o novo paradigma do ser Igreja hoje está em curso…

ML – Acredito que é uma porta que não se pode encerrar e que ninguém tem coragem para fechar a porta da misericórdia: um coração sensível, uma maneira própria de afirmar a fé no mundo.

 

 

Realizaram-se muitas ações: umas visíveis, mas as grandes ações são as invisíveis.
 

 

 

Exercitar a misericórdia no quotidiano

O padre Manuel Morujão diz que o Ano da Misericórdia promovido pelo Papa Francisco foi um “treino” que deu “balanço” aos cristãos para “exercitarem no dia-a-dia a misericórdia” no mundo.

Em entrevista ao Programa ECCLESIA, o sacerdote jesuíta, que foi um dos “missionários da misericórdia” no âmbito do Ano Santo, salientou a importância da Igreja Católica e das suas comunidades não se deixarem ficar pelas “celebrações, com mais ou menos pompa e circunstância”, que marcaram o evento.

“Isto deve concretizar-se no dia-a-dia das pessoas, das famílias, das paróquias, das dioceses e da Igreja”, aponta o autor do livro ‘Celebrar e Praticar a Misericórdia’, que forneceu propostas para a vivência deste Jubileu.

Lançado pelo Papa Francisco a 8 de dezembro de 2015, como forma de tornar mais evidente a missão da Igreja Católica como testemunha e praticante da misericórdia de Deus no mundo, o Jubileu da Misericórdia congregou as dioceses e comunidades cristãs de todo o mundo numa atenção especial aos mais 

 

 

marginalizados e excluídos da sociedade.

Para o padre Manuel Morujão, este evento veio numa altura em que o mundo vive “uma urgência de misericórdia”.

“O mundo era irrespirável se não houvesse tolerância, compreensão, 

 

 


 

aceitação, ou seja, se não vivêssemos a praticar obras de misericórdia, nos mais variados campos”; e nesse sentido, com este Ano Santo “procurou-se que este aspeto exterior passasse para a vida das pessoas”, sustenta o sacerdote.

No início do Jubileu, o Papa Francisco enviou mais de mil ‘missionários da misericórdia’ pelo mundo, entre os quais alguns sacerdotes portugueses, chamados a ser expressão do perdão de Deus e convite de conversão a todas as pessoas.

“É preciso uma conversão, acho 

 

que todos temos de nos converter sempre mais à misericórdia que vem da fonte de Deus, que é rico em misericórdia, diria multimilionário de misericórdia, e depois traduzir isso em gestos fraternos”, sustenta o padre Manuel Morujão.

O sacerdote elogiou os “sinais” e “gestos” que ao longo do último ano permitiram concretizar a preocupação com a misericórdia, sublinhando, por exemplo, a abertura das Portas Santas, simbolizando a “peregrinação” e a “abertura” do coração.

 

 

Jubileu: Misericórdia é o critério para a presença da Igreja numa nova época

 

O padre Rui Valério, pároco na Igreja Jubilar da Póvoa de Santo Adrião, em Lisboa, disse à Agência ECCLESIA que a misericórdia é o “critério para a ação” da Igreja na época atual, dando primado à vida.

Para o sacerdote, um dos cinco missionários da misericórdia em Portugal, o Papa Francisco afirma e monstra que, mais do que uma “época de mudanças, como aconteceu há 40, 50 anos”, o mundo hoje está numa “nova época”.

 

 

“Há uma nova vida que está a acontecer, uma nova cultura, tudo é novo. E o Papa Francisco, com a proclamação do Ano da Misericórdia, quis dar à Igreja e ao mundo um critério de ação para a nova época: a misericórdia”, sublinhou o padre Rui Valério.

“A Igreja compreendeu e sentiu-se”, sustenta o sacerdote nomeado pelo Papa missionário da misericórdia, que diz nunca ter visto a Igreja a “navegar 

 

 


 

como peixe dentro da água comos este ano”.

Para o sacerdote, religioso monfortino, a nova época coloca o primado “do lado da vida”, não do “lado do conceito da teoria”, e valoriza “o gesto, a linguagem simbólica”.

“A Igreja considera tudo o que a nossa tradição tem. Mas estamos na fase em que dentro de tudo o que dispomos, há algo que tem um primado, a vida, a vida nova como Deus no-la deu na revelação do Seu Filho”, sublinhou.

“No entender do Papa, é urgente resgatar do esquecimento e sobretudo das más compreensões a identidade e missão do próprio Deus”, referiu o padre Rui Valério, acrescentando que “por diversas vezes Francisco tem manifestado o interesse em 

 

 

repropor à nossa adoração o verdadeiro rosto de Deus”.

Para o sacerdote, a misericórdia é o verdeiro rosto de um Deus, que “não julga, nem que propõe qualquer tipo de violência, nem de exclusão”.

Na Paróquia da Póvoa de Santo Adrião, o Jubileu da Misericórdia foi preparado para proporcionar o acolhimento a quem quis atravessar a ‘Porta Santa’ da igreja paroquial, ‘Igreja Jubilar’ durante este ‘Ano Santo Extraordinário’, e a realização de um ‘Itinerário da Misericórdia’ em oito momentos.

Para o pároco, o Jubileu que termina este domingo, em Roma, motivou uma “grande mobilização”, não deixando “ninguém indiferente”.

 

 

 

Foi no Refeitório Beata Rosália Rendu, em Lisboa, que encontrámos a irmã Celeste Lopes, das Irmãs de São Vicente de Paulo. É desde maio de 2005 o rosto deste serviço, e sente que a primeira Obra de Misericórdia Corporal “‘dar de comer a quem tem fome’ é estar disponível e aberto a quem chega”.

E chegam de muitos lados, são de todas a raças, de todas as cores e religiões para fazer uma refeição.

“Muitas vezes quem chega o que tem é fome mesmo, mas mais do que de alimento, fome de uma palavra, de quem lhe resolva os problemas… Como dizia São Vicente (de Paulo) primeiro enche-se o estômago a uma pessoa e depois tenta-se saber as necessidades que a pessoa tem”, disse a consagrada em declarações à Agência ECCLESIA.

Todas as necessidades básicas, ao nível de banho, saúde e roupas chegam ali, toda a parte humana é preciso ajudar e a moral é sempre a prioridade de quem ali ajuda.

Ao refeitório chegam pessoas de todos os Continentes; vêm da Turquia, Marrocos, Ucrânia, Rússia e depois da Guiné e Síria, Paquistão e Bangladesh.

 

 Também trazem as diferentes religiões para a mesa da refeição.

“Tento estar atenta à alimentação e costumes deles, nestes últimos anos não tem havido confusões, mas foi um trabalho muito grande, porque havia conflitos e tinha-me de meter no meio deles e dizer: Meninos, aqui somos todos filhos do mesmo Deus.

Deus é pai e misericordioso e estão aqui todos porque precisam de comer, quem não precisa faz favor de sair e aí eles acalmam-se; e agora tudo está pacificado”.

São realidades que se tornam conflituosas neste serviço que além de dar de comer, tenta restabelecer a dignidade humana.

“Trata-se da roupa, mesmo da pessoa em si, tendo em conta toda a pessoa, se está doente vai ao hospital, tentamos encaminhá-los, praticar as obras de misericórdia no concreto, a corporal e espiritual”, explica a Irmã Celeste Lopes que, naquele refeitório, concretiza a sua vocação.

“É muito gratificante, quando conseguimos ajudar: às vezes chegam aqui e nem parecem um ser humano; fazem a barba, lavam-se e vestem outras roupas; vão para a casa 

 

 

 

 

 

de banho num estado e saem de lá a parecer crianças cheirosas”.

A irmã Celeste Lopes tinha o desejo de ir para as missões e quando entrou na comunidade não era possível; ir para ali, no Refeitório Beata Rosália Rendu, em Lisboa, encontra-se com toda as raças e cores, com toda a gente, “complementa

 

 

a minha vocação de vicentina”.

Segundo a consagrada “devia existir” uma sensibilização “muito grande” nas escolas, colégios, restauração, e, mesmo nas instituições do Estado, contra o desperdício e avança a criticar “quem não dá comida a quem precisa”…

 

 

 

 

No fim deste ano jubilar da Misericórdia, convocado pelo Papa Francisco, a Agência Ecclesia foi ao encontro de quem, no seu dia-a-dia, tenta colocar em prática. A OIKOS, uma associação sem fins lucrativos, com sede em Portugal, reconhecida internacionalmente como Organização Não-Governamental para o Desenvolvimento, tem como diretor executivo João José Fernandes que 

 

 

explicou que dar de beber a quem tem sede é muito mais do que dar um copo de água.

“Um gesto simples de beber um copo de água em sociedades sedentárias, como a portuguesa, muitas vezes perde-se o sentido do que é esta obra de misericórdia; que parte de uma cultura de povos semitas, que passavam por zonas desérticas, e, onde os viajantes e os seus animais, 

 

 

 

precisavam de água potável e nem sempre encontravam pelo caminho, a não ser pedindo a quem lá residia. Dar de beber não é só satisfazer uma necessidade básica e vital para a vida humana, mas um gesto de acolhimento e convivência, uma outra forma de paz”, explica João José Fernandes.

O diretor executivo da OIKOS aponta mesmo o recurso hídrico como uma riqueza e fonte de conflitos pois “há zonas do planeta em que a escassez de água é crescente; e esta sendo um recurso natural escasso é tão importante na pacificação ou nos conflitos como era tradicionalmente o petróleo, o ouro ou out tipo de minerais”

“Temos de tratar a água olhando-a como um recurso natural necessário de preservar no planeta”, alerta.

A OIKOS além de tentar satisfazer a necessidade básica, proteger a saúde pública, tenta também garantir a preservação do estado natural, ou seja, “convivência, na mesma região a água potável com exploração agrícola, relação com o mar”.

João José Fernandes explica ainda que a OIKOS trabalha em Moçambique,

 

 na zona de Nampula, com projetos de prevenção de catástrofes, sendo uma zona propensa a ciclones do Índico, é afetada por ventos fortes e chuvadas, e como consequência surge a destruição ou contaminação de lençóis freáticos e fontanários, pontos de abastecimento de água.

“Estas situações criaram nas pessoas uma cultura de paradoxal, queremos garantir o acesso de água potável mas não queremos ficar aí pois a água tem de estar no centro da comunidade, que não pode deixar degradar os postos abastecimento, e temos de educar as populações par valorizarem a água no sentido da saúde”. 

São realidades de escassez de água que para os portugueses, muitas vezes, podem ser longínquas e inimagináveis, mas João José Fernandes alerta que também por cá é necessária a preocupação na gestão da utilização da água.

 

 

A partir do agasalho 
procurar o teto e uma vida normal

A Comunidade Vida e Paz (CVP), uma instituição católica tutelada pelo Patriarcado de Lisboa, e dedica-se há mais de 25 anos ao apoio aos sem-abrigo da cidade, a “vestir” aqueles que se encontram desprovidos de roupa e de teto, que perderam qualquer tipo de suporte social, que caíram na pobreza ou em dependências como o álcool e a droga.

Todos os dias, aquela organização de cariz social presta apoio a cerca de 480 pessoas, um número que segundo Henrique Joaquim, o presidente da CVP, “não tem aumentado” mas também “não tem diminuído significativamente, o que indica que saindo algumas pessoas da rua há outras que estão a chegar”.

“Infelizmente a CVP continua a fazer sentido, digo infelizmente porque o nosso sonho é deixarmos de ser necessários, seria sinal de que estas situações não existiam”, realça aquele responsável.

Atualmente, “o que mais carateriza a chegada das pessoas à rua” são sobretudo situações de “desestruturação familiar ou social” 

 

 

que derivam essencialmente do “desemprego” ou de “descompensações” que levam a essa quebra dos “laços sociais”.~

“Muitas pessoas que nós encontramos hoje já estão há muito tempo nestas situações, muito complexas, que tendencialmente acumulam muitos problemas como a saúde mental, como as adições”, realça Henrique Joaquim.

Neste contexto, a obra de misericórdia “Vestir dos Nus” diz muito para o trabalho da Comunidade Vida e Paz e dos seus cerca de 500 voluntários.

Uma missão que se concretiza “em duas dimensões, dar o bem imediato, o agasalho imediato e tirar o frio” mas depois procurar a “reinserção social” dessas pessoas, trabalhar com elas no sentido de “voltarem a ter condições de vida que são suas por direito, condições de dignidade humana”.

“Portanto, a partir do agasalho procurar quer o teto quer depois as condições para que sejam eles próprios a suprir o seu agasalho e todas as condições que fazem parte de uma vida dita normal”, frisa Henrique Joaquim.

Sobretudo neste período de outono

 

 

 

 e inverno, as mantas - a par das ceias que são distribuídas - são uma parte essencial da bagagem das equipas de rua que todos os dias percorrem cerca de 100 locais de Lisboa em busca dos sem-abrigo.

Regularmente, a CVP faz campanhas públicas de recolha de roupa e de cobertores para poder levar depois às pessoas mais carenciadas.

“Infelizmente ainda encontramos pessoas em lugares completamente inóspitos e sem o mínimo de abrigo, e às vezes a manta é as duas coisas: é o abrigo imediato daquela pessoa naquela noite de frio e nas outras noites a seguir, mas é também o fator de confiança que permite reforçar ou começar a relação connosco, para a pessoa no futuro se deixar ajudar noutros passos mais desafiantes para a vida dela”, conta Henrique Joaquim.

O presidente da CVP liga esta obra de misericórdia “Vestir os Nus” à parábola bíblica do Bom Samaritano, que continua a fazer sentido neste século XXI e nesta sociedade tantas vezes dominada pela indiferença perante quem está caído, ferido, desamparado à beira do caminho.

“Há de facto muitas pessoas que passam ao lado, por razões várias, pelas crenças, por medo, porque não sabem o que fazer, e portanto também é importante não julgarmos à partida aquele que não ajuda. Mas felizmente há muitas pessoas que,  

 

dedicadamente, querem sair todos os dias, todas as noites à rua e ajudar”, destaca Henrique Joaquim.

26 anos da sua criação, num projeto que começou essencialmente pela rua e que hoje já se estende a espaços de aconselhamento, reabilitação e reinserção social, a CVP perspetiva “alargar a sua intervenção geográfica para lá de Lisboa”.

De acordo com Henrique Joaquim, são cada vez mais as solicitações e pedidos de ajuda em zonas mais afastadas da cidade, também devido ao “movimento” dos sem-abrigo para outros territórios do eixo lisboeta, como Sintra ou Cascais.

Além deste alargamento da missão da Comunidade Vida e Paz na rua, foi constatada também a necessidade de reforçar setores como o acompanhamento e reinserção social dos sem-abrigo, com “mais alojamento” por exemplo.

Como acompanhar melhor as pessoas sem-abrigo a seguir à sua reabilitação e reinserção social é outra das grandes preocupações e brevemente haverá novidades neste campo.

“Vamos oportunamente lançar um projeto, com voluntários e técnicos nossos, para garantirmos um maior acompanhamento e acima de tudo uma relação social, afetiva, com estas pessoas”, revela Henrique Joaquim.

 

 

Acolher o peregrino

«Era estrangeiro e acolhestes-me; estava nu e vestistes-me» (Mt 25, 35-36)

No nosso tempo é atual como nunca a obra relativa aos estrangeiros. A crise económica, os conflitos armados e as mudanças climáticas impelem muitas pessoas a emigrar. Contudo, as migrações não são um fenómeno 

 

 

novo, mas pertencem à história da humanidade. Consiste em falta de memória histórica pensar que elas sejam próprias apenas da nossa época.

A Bíblia oferece-nos muitos exemplos concretos de migração. É suficiente pensar em Abraão. A chamada de Deus impeliu-o a deixar o seu país e ir para outro: «Deixa a tua terra, 

 

 

 

 

 

a tua família e a casa de teu pai e vai para a terra que eu te mostrar» (Gn 12, 1). E assim aconteceu também para o povo de Israel, que do Egito, onde era escravo, caminhou durante quarenta dias no deserto até alcançar a terra prometida por Deus. A própria Sagrada Família — Maria, José e o menino Jesus — foi obrigada a emigrar para fugir das ameaças de Herodes: «José levantou-se durante a noite, tomou o menino e sua mãe e partiu para o Egito. Ali permaneceu até à morte de Herodes» (Mt 2, 14-15). A história da humanidade é feita de migrações: em cada latitude não há povo que não tenha conhecido o fenómeno migratório.

A propósito, durante os séculos assistimos a grandes expressões de solidariedade, embora não tenham faltado também tensões sociais. Hoje, o contexto de crise económica infelizmente favorece o emergir de comportamentos de fechamento e não acolhimento. Nalgumas partes do mundo erguem-se muros e barreiras. Às vezes parece que a obra silenciosa de muitos homens e mulheres que, de várias maneiras, se prodigalizam para ajudar e assistir os refugiados e os migrantes seja obscurecida pelo rumor de outros que dão voz a um 

 

egoísmo instintivo. Contudo o fechamento não é uma solução, pelo contrário, acaba por favorecer os tráficos criminosos. A única solução é a solidariedade. Solidariedade com o migrante, solidariedade com o estrangeiro...

Hoje o compromisso dos cristãos neste âmbito é urgente assim como era no passado. Observando só o século passado, recordamos a admirável figura de Santa Francisca Cabrini, que dedicou a sua vida juntamente com as suas companheiras aos migrantes rumo aos Estados Unidos da América. Também hoje precisamos destes testemunhos a fim de que a misericórdia possa alcançar muitos necessitados. É um compromisso que envolve todos, sem exclusão. As dioceses, as paróquias, os institutos de vida consagrada, as associações e os movimentos, assim como cada cristão, todos são chamados a acolher os irmãos e as irmãs que fogem da guerra, da fome, da violência e das condições de vida desumanas. Todos juntos somos uma grande força de apoio para quantos perderam pátria, família, trabalho e dignidade.

 

Papa Francisco,

26 de outubro de 2016

 

 

 

A quinta Obra de Misericórdia corporal convida a visitar os enfermos e foi na Clínica S. João de Ávila, da Ordem Hospitaleira de São João de Deus, em Lisboa, que estava Georgiana Gama, enfermeira reformada que fez voluntariado toda a vida, e destaca que “a morte não é específica dos profissionais de saúde”.

“A morte é um problema da sociedade. Temos de ter uma sociedade muito mais solidária, é quase como uma responsabilidade cívica estarmos perante uma situação estas”, explica à Agência ECCLESIA.

Enfermeira com formação na área dos Cuidados Paliativos, Georgiana Gama assinala que nessas unidades “o tempo custa muito a passar, é terrível”, como o entardecer ou a noite que “é muito comprida”, por isso, “o estar, a presença”, traz “ganhos” para ambos.

“O podermos falar de vários assuntos é extremamente importante e ajuda qualquer um de nós porque isto é uma relação, não é, propriamente, unilateral”, observa. assinalando que a disponibilidade para o outro “faz parte da vida”.

A entrevista destaca que a pessoa “é muito mais para além da doença”, a 

 

sua “integridade, história, vida, uma cultura”. “A doença acontece em toda a vida. A morte, viver o nascimento, a doença, são acontecimentos banais mas curiosamente singulares porque a forma que cada um enfrenta é que torna diferente”, desenvolve Georgiana Gama.

Neste contexto, a enfermeira com formação em Cuidados Paliativos refere que nessa área as situações “obrigam” a refletir sobre a própria pessoas porque todos são “vulneráveis, impotentes”, têm dúvidas e “não há resposta pronta para tudo”.

“Obriga-nos a pensar muito sobre nós. Tenho aprendido muito quando estou perante estas situações”, adianta.

Já Adriano Batista começa por explicar a etimologia da palavra voluntário para manifestar a sua “vontade” em visitar os enfermos num voluntariado que “é muito especial”.

“São muitas histórias de vida, são muitas partilhas, são muitos gestos. Sobretudo, vejo nas pessoas uma disponibilidade muito grande para nos acolher enquanto voluntários porque é como uma intromissão na vida das pessoas. Acompanhamos, conversamos, servimos muitas

 

 

 

 

vezes de confidentes”, desenvolve.

Adriano Batista sublinha que “é muito interessante” e “gratificante” ver que existe “muito a descobrir em cada pessoa, em cada gesto, conversa, sorriso, olhar” porque não são necessárias “muitas palavras, uma atitude simples e isso, de facto, enche o coração”.

Na Unidade de saúde 

 

especializada em Programas Intensivos de Reabilitação Física, da Ordem Hospitaleira de São João de Deus, o entrevistado, com idade para ser “neto de quase todos” os utentes destaca também as conversas, a partilha de vivências, “recordações da sua terra” que “é muito bonito ver” nessa outra fase da vida de “tanta experiência acumulada”.

 

 

O Papa e os presos

 

O Papa Francisco tem assumido a liderança e o exemplo para a Igreja Católica no que se refere à prática da obra de misericórdia corporal que se refere à relação com quem está preso. Não surpreendeu, por isso, que tenha promovido um Jubileu dos Reclusos, presidindo mesmo a uma Missa na Basílica de São Pedro, com presos e antigos detidos de 12 países, incluindo Portugal.

 

 

“Cada vez que entro numa cadeia, pergunto-me: porquê eles e não eu? Todos podemos errar”, sublinhou Francisco, numa homilia emocionada. Da consciência de que só pela Graça de Deus é que estamos a falar de outros e não de nós próprios como reclusos, o Papa lançou um lamento sobre a “pouca confiança” que existe na “reabilitação”.

“Às vezes, uma certa hipocrisia 

 

 

 

 

impele a ver em vós apenas pessoas que erraram, para quem a única estrada é a prisão”, disse aos detidos.

O Vaticano revelara dias antes que o Papa tem telefonado a condenados à morte em vários países. “Muitas vezes, o Papa Francisco esteve em contacto telefónico nos últimos meses com condenados à morte”, revelou 

o arcebispo Rino Fisichella, presidente do Conselho Pontifício para a Nova Evangelização (Santa Sé), organismo responsável pela organização dos eventos do Jubileu da Misericórdia.

Em resposta aos jornalistas, o responsável precisou que Francisco esteve em contacto e se

 

 

 “interessou” por pessoas que foram condenadas à morte. “Não conseguiu salvar um que foi condenado à morte e sofreu a pena”, relatou o presidente do Conselho Pontifício para a Nova Evangelização - caso que terá acontecido nos EUA.

Logo na primeira semana deste Jubileu da Misericórdia, o Papa recordou os presos de todo o mundo, pedindo a abertura de ‘Portas da Misericórdia’ em locais associados à marginalização. “Como expressão das obras de misericórdia, serão abertas ‘Portas da Misericórdia’ nos lugares de sofrimento e marginalização. A este respeito, saúdo os reclusos das prisões de todo o mundo”.

 

Papa apelou no Vaticano a uma amnistia para presos, para assinalar o fim do Jubileu da Misericórdia. “Coloco à consideração das competentes autoridades civis de cada país a possibilidade de realizar um ato de clemência, neste Ano Santo da Misericórdia, para com os presos que se considerassem idóneos a beneficiar deste procedimento”, declarou.

O Papa tinha deixado já um apelo em favor da “melhoria de condições de vida nas prisões, para que seja respeita plenamente a dignidade humana dos detidos”.

 

 

 

 

“Enterrar os mortos”, a sétima e última Obra de Misericórdia Corporal é um serviço que a Irmandade da Misericórdia e de São Roque de Lisboa cumpre escrupulosamente acompanhando todos os que na capital morrem sozinhos sem familiares nem amigos.

“Chega ao nosso conhecimento através da Santa Casa que alguém faleceu e não tem ninguém, não se prevê que haja acompanhamento. Naturalmente, não vai descer à terra sem ninguém que o acompanhe, que esteja perto, que tenha uma oração, um ato de generosidade, de sentir irmão em Cristo”, disse o segundo vice-provedor da Irmandade da Misericórdia e de São Roque de Lisboa.

À Agência ECCLESIA, António Balcão Reis explicou que o acompanhamento “é simples” são avisados a que horas é o funeral, qual é o cemitério e durante algum tempo “a encomendação era só feita junto da campa” e “não era o sítio mais adequado” porque as condições meteorológicas, normalmente, não permitiam “a reflexão, a intimidade” que desejariam.

A Irmandade da Misericórdia e de São Roque de Lisboa conseguiu ultrapassar essa situação e, agora, o 

 

primeiro ato é “a encomendação nas capelas dos respetivos cemitérios”. 

“O ato não constitui apenas acompanhamento físico, sem que haja também uma integração no ritual e constitui momento de reflexão. O acompanhamento não implica que o defunto tenha crença, é em Cristo que acompanhamos. Se houver indicação expressa do defunto que deseja isto ou aquilo ou que não deseja é escrupulosamente respeitado”, desenvolve António Balcão Reis assegurando que o “desejo” de não acompanhamento religioso “não afasta” a presença da irmandade.

O grupo que cumpre a última Obra de Misericórdia Corporal é constituído por 15 elementos, entre irmãos e voluntários, “alguns são simplesmente amigos da irmandade”, que têm vindo a conhecer a disponibilidade para ‘enterrar os mortos’ e “manifestam interesse em participar”. No grupo de cerca de 15 elementos tenta-se sempre encontrar alguém que esteja disponível para o esse acompanhamento porque “os funerais são à hora do trabalho”.

“A primeira vez será acompanhado para ver como é, não tem nada de especial, e assim funciona sem grandes complicações. Fazemos o possível por haver alguma formação”,  

 

 

 

acrescenta o entrevistado.

O segundo vice-provedor da Irmandade da Misericórdia e de São Roque de Lisboa assinala que para eles ‘enterrar os mortos’ “parece normal” mas admite que, externamente, se diga “o que é que os leva a fazer isto, qual é a razão”.

Neste contexto, António Balcão Reis adianta que as motivações são “muito diversas” e se a um faleceu o pai e o “corpo não foi encontrado” e esse acompanhar é o que gostaria de ter feito e não fez outros “ficaram tocados pelo falecimento de um filho precoce”.

“No meu caso, por exemplo, simplesmente senti que não é possível, diria que não devia acontecer ir o carro funerário e não ir ninguém atrás”, revela o entrevistado para quem foi “suficiente”, aparecer a notícia que o grupo existia e acompanhava quem ia “sozinho, sem ninguém” para o cemitério.

Já o irmão primeiro vice-provedor da Irmandade da Misericórdia e de São Roque de Lisboa faz o contexto histórico e recorda que foi em maio de 2006 que uma irmã que trabalhava na Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), no apoio aos doentes VHI/sida, começou esse serviço.

“Estava confrontada permanentemente e lançou este projeto que abraçamos de imediato”, refere.

Segundo Mário Pinto Coelho já acompanharam mais de 1480

 

funerais, “cerca de 120, 130” por ano. Anualmente, a 17 de outubro, Dia da Erradicação da Pobreza e da pessoa sem-abrigo fazem “sempre uma celebração na Basílica dos Mártires por todos os que acompanhamos e este ano foram 88”.

“Todos os que morrem sozinhos na cidade – hospitais, rua, casas, lares, quartos - e ninguém os reclama porque não há familiar ou porque a família está zangada e não quer participar”, sublinha.

O custo dos funerais é da responsabilidade da SCML que tem “a capacidade financeira”. De três em três anos abre um concurso público para escolher uma agencia funerária que tem contacto permanente com o Instituto de Medicina Legal.

O irmão primeiro vice-provedor da Irmandade da Misericórdia e de São Roque de Lisboa explica ainda que o serviço fúnebre não é imediato “ou próximo da morte”, algo que varia consoante as situações, se a pessoa morre no hospital, de acidente, crime, desaparecimento e “mais tarde aparece o cadáver”.

“As Obra de Misericórdia são a base da nossa irmandade, aliás em relação a isto normalmente juntamos as duas Obras – Orar por vivos e defuntos e enterrar os mortos - fazemos a oração e acompanhamos o baixar à terra”, acrescentou por sua vez o segundo vice-provedor António Balcão Reis.

 

 

As Obras de Misericórdia Espirituais sustentam as corporais

O padre Vasco Pinto de Magalhães, destaca que as Obras de Misericórdia Espirituais estão “até por dentro e a sustentar as outras”, as Corporais, que “feitas sem espírito, sem verdadeiramente amor, sentido de justiça” ficam “bastante vazias”.

“As obras sem fé são vazias e, por isso, quer da parte de quem se dirige aos outros, quer da necessidade dos outros, devíamos estar muito atentos às suas necessidades espirituais”, disse o sacerdote da Companhia de Jesus (Jesuítas).

À Agência ECCLESIA, neste contexto, o religioso que nos seus serviços pastorais tem-se dedicado também à Pastoral Universitária e ao acompanhamento espiritual observa a necessidade hoje, de maneira “muito especial”, da formação dos outros, “ajudá-los a crescer, a ter uma atitude pedagógica de perdão e compreensão”.

“Hoje parece que há formas que misturam as duas, por exemplo, esta atenção em dar bolsas de estudo a quem não consegue encontrar formas de estudar é espiritual e corporal porque não podemos separar”, 

 

exemplifica o padre Vasco Pinto de Magalhães.

Na sociedade atual dos diversos ecrãs de telemóvel, tablet, smartphone, computadores e televisões o sacerdote Jesuíta alerta para a “grande ambiguidade” porque andam todos a comunicar uns com os outros “intensamente mas um bocadinho mascarados por detrás do ecrã” e perde-se o “contacto, o toque” entre as pessoas.

“A presença do olhar pode aparecer porque passamos a vida a mandar fotografias, uns para os outros, mas é uma imagem que formato, não estou ali com a minha verdade toda, com a minha fraqueza”, desenvolve.

Para o sacerdote na fraqueza dos outros sente-se a própria “fraqueza, a debilidade e a fortaleza” e o intermédio do ecrã pode “disfarçar e criar falsidade na comunicação”, mesmo que não seja pretendida.

O padre Vasco Pinto de Magalhães explica que para si outra Obra de Misericórdia Espiritual é “a capacidade e a coragem da denúncia da corrupção”, do abrir os olhos às pessoas que se calhar estão 

 

 

 

 

a deixar-se corromper, a envolver em ambientes em que “já ninguém sabe quem é quem, onde está o bem, onde está o mal”.

“Abrir os olhos aos outros acho que é uma grande obra”, sublinha, numa entrevista no contexto do final do Jubileu da Misericórdia, que termina este domingo quando o Papa Francisco fechar a Porta Santa da Basílica de São Pedro, no Vaticano.

Denúncia, anúncio bem feito e mostrar o caminho são para o padre jesuíta Obras de Misericórdia uma vez que o seu “paradigma” é o que Jesus fez, ou seja, “anunciou o caminho, mostrou o caminho e denunciou a 

 

 

corrupção, os falsos caminhos, a mentira”.

A partir da sexta Obra de Misericórdia Espiritual - Sofrer com paciência as fraquezas do nosso próximo – o padre Vasco Pinto de Magalhães, com experiência a orientar diversos retiros, assinala também que “saber estar em silêncio” também se podia acrescentar às sete já existentes.

“É no silêncio que mastigo as tristezas e fraquezas do outro e as minhas. Se tenho medo do silêncio e tenho de responder logo para mostrar a minha cultura e eficácia se calhar já estou a fazer curto circuito na comunicação”, acrescenta o sacerdote da Companhia de Jesus.

 

 

“Esperança de Ana – Viver na fé a dor de não ter um filho.”

 “Àqueles que não podem ter filhos, lembramos que «o matrimónio não foi instituído só em ordem à procriação (...). E por isso, mesmo que faltem os filhos, tantas vezes ardentemente desejados, o matrimónio conserva o seu valor e indissolubilidade, como comunidade e comunhão de toda a vida»”

Papa Francisco na Exortação Apostólica Pós-Sinodal ‘Amoris laetitia’

 

No culminar deste ano Santo da Misericórdia, e respondendo ao apelo do Papa Francisco de sermos rosto de uma Igreja de amor e misericordiosa, partilhamos convosco “A Esperança de Ana”, um projeto pensado em quem perdeu os seus filhos durante a gravidez ou primeiros dias de vida, ou enfrenta uma situação de infertilidade. Este é um projeto que nasce pela mão de homens e mulheres tocados de alguma forma por estas experiências de dor, e que propõe aos casais um itinerário pascal desde o reconhecimento da ferida à descoberta e aceitação do amor e 

 

misericórdia de Deus que devolve a esperança e renova a nossa vida.

Através de uma proposta concreta de caminho de cura espiritual e psicológica antes de mais temos como obra de misericórdia "consolar os tristes", mas na procura de dar testemunho e ser mensageiros do Espirito Santo, concretizamos aquela que é a primeira obra de misericórdia espiritual: “dar bons conselhos”.

Esta primeira obra de misericórdia espiritual toma forma essencialmente no acompanhamento aos casais e na sensibilização daqueles que com eles caminham: família, amigos, profissionais de saúde, sacerdotes.

Assim, aos casais é proposto: que partilhem a sua dor, vezes demais vivida de forma solitária e envergonhada, com quem está disponível para os escutar e com quem vive ou viveu uma experiência semelhante; que aceitem o desafio de percorrer uma caminhada de Esperança cristã apoiada nas promessas de Deus que “tanto nos momentos bons como nos maus, nos dá coragem 

 

 

 

 

e orienta o nosso agir”, como nos sugere o Papa Bento XVI.

Aqueles que acompanham ou vivem com estes casais são desafiados a ser facilitadores do processo de luto de uma maternidade/paternidade que sofreu um revés na sua concretização e a colaborar com os casais no seu projeto de fecundidade conjugal, que se estende muito para lá da realidade biológica.

Ajudamos a perceber que frases como: “Não se preocupem! Vão ter outro filho!” ou “Se calhar fizeste muitos esforços ou não descansaste o suficiente…” não devem ser empregues na interação com casais que perderem os seus filhos. A vinda de outro bebé não deverá nunca ser vista como uma substituição, negando a necessidade de fazer o luto. Ao mesmo tempo, muitos pais lidam com um sentimento de culpa devastador por sentirem que não cuidaram ou não fizeram o suficiente para manter o seu bebé com vida.

Por outro lado, a oração com e pelo casal: “Vou rezar por si!”, o reconhecimento do seu sofrimento “Lamento a vossa perda. Sei o quanto queriam este bebé.” e a disponibilidade para escutar e estar presente “Estou aqui e quero

 

ouvir-te.” São algumas das abordagens dos facilitadores do processo de recuperação.

Com a humildade e caridade que o dar bom conselho exige, a partir do que nós próprios vivemos, já escutámos, recebemos  e damos, procuramos aconselhar sensibilizando e despertando outros para o acolhimento e acompanhamento dos casais que vivem estas situações, de modo que haja bom senso nas palavras ditas, na compreensão de que a sua dor é real e justificada, de que não ignoramos as suas perdas, aprendendo a ter as palavras e os gestos necessários, ou por vezes ainda mais simplesmente a presença e a escuta atenta.

 

 

Parece paternalista e hoje nem sequer os psicólogos e os psiquiatras querem dar conselhos. Em certo sentido bem porque fazem um atendimento mais centrado no outro. Acho que às vezes nos demitimos um bocadinho de apontar caminhos, sem impor, mas propor e hoje faz parte da pedagogia, já não é totalitária.

padre Vasco Pinto de Magalhães

 
 

 

«Ensinar os ignorantes» com atenção ao «cuidado com a cultura»

O padre Vasco Pinto Magalhães, da Companhia de Jesus (Jesuítas), nos seus serviços pastorais tem-se dedicado à Pastoral Universitária e ao acompanhamento espiritual e explica a necessidade do “cuidado com a cultura”, sobre a Obra de Misericórdia ‘Ensinar os ignorantes’.
“Perceber que o mundo sem cultura ou com cultura desviante ou sem noções de interculturalidade é um mundo muito pobre que se satisfaz em saber meia dúzia de coisas práticas mas sem entendimento profundo da realidade e isso é uma grande obra de misericórdia ensinar, educar”, disse à Agência ECCLESIA.
O padre Vasco Pinto Magalhães assinala que é preciso “transmitir uma dimensão cultural para todos” porque, “às vezes”, existem “grandes elitismos, grandes dificuldades”, no âmbito da segunda Obra de Misericórdia Espiritual - ‘Ensinar os ignorantes’.
Como exemplo, o sacerdote Jesuíta apresentou a “possibilidade de haver ensino gratuito”, que é “uma grande obra de misericórdia”, bolsas de 
 

estudos, permitindo que haja qualidade no ensino.

O entrevistado destacou também a necessidade de “formar bem os professores” para que na Obra de Misericórdia Espiritual ‘Ensinar os ignorantes’ os “alunos difíceis” não sejam desprezados e mandados “para fora sem mais” porque “esse problema hoje existe”.

A sociedade atual com mais informação não é necessariamente mais culta e o sacerdote da Companhia de Jesus alerta para o risco de ficar-se “muito na superficialidade” de haver evolução na informática, de “gerir bem os meios tecnológicos”, mas “não ter uma visão profunda das coisas”.
Para o padre Vasco Pinto Magalhães, o “problema ecológico” também devia fazer parte das Obras de Misericórdia: “O cuidado que tenho que ter mas para isso é preciso ter cultura. Não ter fogachos do aquecimento global sem mais. O que é que isso é, como é que se aborda, que linguagem.”
Neste contexto, observa que 
 

 

 

 
o número sete “não é fechado” mas é simbólico e indica “vejam bem o que em cada ocasião pode promover a pessoa humana nas suas relações consigo, com os outros, com Deus”.
“Abrimos uma atenção centrada na pessoa, não simplesmente criar mais um do nosso grupo mas o desenvolvimento pessoal”, acrescenta, tendo referido que a “história da linguagem, a história de uma verdadeira informação não-manipuladora” também podia fazer parte das Obras de Misericórdia.
 

 

O sacerdote Jesuíta que nos diversos serviços pastorais tem-se dedicado também Pastoral Universitária e ao acompanhamento espiritual considera que a sociedade individualista, “que com grande tentação” se está a criar”, precisava “de uma denúncia”.

“No fundo o paradigma das Obras de Misericórdia é o que Jesus fez: Anunciou o caminho, mostrou o caminho e denunciou a corrupção, os falsos caminhos, a mentira”, concluiu o padre Vasco Pinto de Magalhães.

 

 

 

O sacerdote Jesuíta que nos diversos serviços pastorais tem-se dedicado também Pastoral Universitária e ao acompanhamento espiritual considera que a sociedade individualista, “que com grande tentação” se está a criar”, precisava “de uma denúncia”.
“No fundo o paradigma das Obras de Misericórdia é o que Jesus fez: Anunciou o caminho, mostrou o caminho e denunciou a corrupção, os falsos caminhos, a mentira”, concluiu o padre Vasco Pinto de Magalhães.

 

Falando da misericórdia divina, evocamos várias vezes a figura de família que ama os seus filhos, ajuda-os, cuida deles, os perdoa. E como pai, educa-os e corrige-os quando erram, favorecendo o seu crescimento no bem.

É assim que Deus é apresentado no primeiro capítulo do profeta Isaías, no qual o Senhor, como pai afetuoso mas também atento e severo, se dirige a Israel acusando-o de infidelidade 

 

e corrupção, para o reconduzir ao caminho da justiça. O nosso texto começa assim: «Ouvi, ó céus, e presta ouvidos, tu, ó terra, / porque fala o Senhor: / “Criei filhos e cuidei deles, / mas eles prevaricaram contra mim. / O boi conhece o seu possuidor, / e o jumento, a manjedoura do seu dono, / mas Israel não tem conhecimento, / o meu povo não entende”» (1, 2-3).

Deus, mediante o profeta fala ao povo com a amargura de um pai 

 

 

 

 

 

 

desiludido: fez crescer os seus filhos, e agora eles revoltaram-se contra Ele. Até os animais são fiéis ao seu dono e reconhecem a mão que os alimenta; ao contrário, o povo já não reconhece Deus, recusa compreender. Mesmo se ferido, Deus deixa falar o homem, e apela-se à consciência destes filhos degenerados para que se corrijam e se deixem amar de novo. Eis o que Deus faz! Vem ao nosso encontro para que nos deixemos amar por Ele, pelo nosso Deus.

A relação pai-filho, à qual com frequência os profetas fazem referência ao falar da relação da aliança entre Deus e o seu povo, desvirtuou-se. A missão educativa dos pais tem por finalidade fazê-los crescer na liberdade, torná-los responsáveis, capazes de realizar obras de bem para si e para os outros. Ao contrário, por causa do pecado, a liberdade torna-se pretensão de autonomia, pretensão de orgulho, e o orgulho leva à contraposição e à ilusão de autossuficiência.

Eis então que Deus chama o seu povo: «Erraste o caminho». Afetuosa e amargamente diz o «meu» povo. Deus nunca nos renega; nós somos o seu povo, o mais malvado dos homens, a mais maldosa das 

 

 

Muito importante porque está na denúncia. Este Papa insiste em sermos inclusivos e não só com aqueles que concordam connosco mas tentar caminho de aproximação, ir às periferias, e tentar que entrem. Obra de Misericórdia fundamental.

A grande qualidade do amor é ser inteligente, é saber aproximar-se, criar condições, não vou cair em cima do outro a oprimi-lo ou denunciá-lo mas antes de dizer-lhe uma coisa tenho de perceber se ele está capaz de a ouvir.

padre Vasco Pinto de Magalhães

 

mulheres, os mais malvados dos povos são seus filhos. E este é Deus: nunca, nunca nos renega! Diz sempre: «Vem, filho». E este á o amor do nosso Pai; esta é a misericórdia de Deus. Ter um pai

assim que nos dá esperança, nos dá confiança. Esta pertença deveria ser vivida na confiança e na obediência, com a consciência de que tudo é dom que vem do amor do Pai. E ao contrário, eis a vaidade, a estultícia e a idolatria.

 

Papa Francisco 

 

 

 

"Consolar os tristes", ou noutra formulação clássica "consolar os aflitos", lembra-nos um gesto constante na vida de Jesus, plasmado nos evangelhos. Não temos dados sobre uma visita de Jesus a prisioneiro algum, nunca lemos um relato de Jesus a vestir alguém indigente, e aquele que "não tinha onde reclinar a cabeça" não parece ter condições para dar pousada a estrangeiros (xénos). Por outro lado, gestos de consolação de Jesus a pessoas tristes ou aflitas, temos uma inspiradora colecção: só no capítulo sete de Lucas, Jesus consola o Centurião que sente morrer o seu servo íntimo ('éntimos); ao entrar em Naim, consola uma mulher viúva (sem passado) que leva o seu único filho a sepultar (sem futuro); e à mesa de Simão, um fariseu, consola uma mulher em lágrimas, deixando-se tocar por ela... lembramos ainda tantos leprosos aos gritos pedindo compaixão, e o silêncio gritante da mulher desesperada com “um fluxo de sangue, havia doze anos”, a quem Jesus atende e ineditamente trata por “minha filha”, indo já a caminho da casa de Jairo, um pai aflito por ver morrer a sua filha única (Cf. Lc 8,40-56). Recordando estes e outros

 

gestos, concluímos como o personagem Simeão (Lc 2,25-35) que “esperava a consolação de Israel”: Jesus é o consolador (parákletos).

Aqueles que se dispõem a amar os outros como Jesus nos amou, não ficam indiferentes ao modo como Jesus consola: sem técnicas, às vezes comove-se, umas vezes pergunta, outras vezes não... simplesmente aproxima-se e deixa que se aproximem, toca e deixa que o toquem. Esta será a forma de consolar dos discípulos de Jesus: reconhecemos que não temos receitas, e que as palavras na hora da aflição quase nunca servem... Dividimo-nos entre o imperativo de Paulo à comunidade de Tessalónica, confrontada com a morte dos seus queridos, ainda a desenhar uma escatologia, “consolai-vos uns aos outros com estas palavras” (1 Tes 4,18), e a indignação de Job que chama “consoladores importunos” (Job 16,2) aos amigos convencidos que conseguem consolar a sua dor com discursos religiosos, meio moralistas, meio supersticiosos, e com inquéritos pretensiosos de quem vai descobrir o porquê do sofrimento.

A aflição, a desolação, a profunda tristeza prendem-se com “mortes”

 

 

 

 

 

e medo de mortes, entendendo “morte” no sentido lato das coisas, circunstâncias, condições, relações e pessoas que se perdem, ou ameaçam perder-se. Falamos de morte da saúde na chegada de uma doença grave; de morte das relações quer com o desaparecimento daqueles que amamos, quer com o corte dos laços... e se falamos de “mortes”, a consolação acontece no mesmo caminho onde permitimos que o outro faça o seu luto: chore os seus medos, as suas perdas, as suas 

 

 

Ter grande sensibilidade, aquela coisa da bíblia das entranhas, de comover as entranhas, que é de ser próximo, não é umas palmadinhas nas costas, é compreender, mostrar ao outro que estou próximo, a sentir com ele, a fazer caminho porque o que consola não é dizer deixa lá que isso passa. Consolar é dar ao outro a certeza que está acompanhado, que não abandono, que faço caminho com ele.

padre Vasco Pinto de Magalhães

 

 

 

 

 

 

revoltas, as suas angústias e absurdos.

Talvez o mais importante no caminho da consolação seja o prefixo “com”. Talvez o mais importante seja a presença, a proximidade, a companhia. Talvez o mais importante seja a possibilidade de me sentir acompanhado agora que a perda, ou a ameaça da perda, me faz sentir mais só. Talvez o mais importante seja sentir que quem está comigo me permite agir e reagir sem censura. E quem experimentou a aflição conhece o sabor ácido das expressões: “não chores”, “tudo vai ficar bem”, “não digas isso”, “Jesus também sofreu”, “Deus ama-te”...

 

 

A arte da consolação germina no húmus da proximidade, regada pelo silêncio. E tal como na linguagem da terra, a consolação tem os seus 

tempos, os seus ritmos, os seus ciclos. Os que se dispõem a ser consoladores admitem que não há receitas para consolar, aceitam pisar o mesmo chão, calçar os mesmos sapatos, vestir a mesma pele do outro, o mesmo é dizer, recusam a arrogância de se escudarem em frases feitas, em discursos e conceitos mais ou menos teológicos, em soluções pré-fabricadas, em técnicas de consolação. Os que se dispõem a ser consoladores não impõem direcções para o 

 

 

 

 

caminho, nem forçam sequer a andar: aprendem a saborear o silêncio e a respeitar o ritmo lento de quem parece que não quer ser consolado e prefere que caia a cortina. Escutam o sofrimento, deixam que quem está aflito sugira gestos, tempos, silêncios, palavras, abraços, carícias, distâncias para que tudo isso possa servir-lhe de consolação.

Nas 14 obras de misericórdia – e em quantas mais se quiserem juntar – a beleza está na verdade de serem famintos e sedentos a alimentar famintos e sedentos, desconhecedores a ensinar desconhecedores, estrangeiros a acolher estrangeiros, frágeis que cuidam de frágeis, frágeis que consolam frágeis. O reconhecimento da semelhança, de que o outro é a presença de Deus mais perfeita que me é oferecida, o reconhecimento de que o outro – segundo E. Levinas – é esse que irrompe e me salva da minha mesmidade, é a única via geradora de misericórdia, a única via de aproximação ao Deus de Jesus, que se encantou com a nossa carne, a ponto de se fazer um de nós.

 

Se deixar enraizar no coração a expressão que Mateus no capítulo 25 coloca na boca de Jesus: “de cada vez que o fizestes a um dos meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes”, não será tão difícil lembrar que quando acolho alguém aflito, angustiado, triste, é o próprio Jesus, o meu amante, o meu dono, que estou a consolar.

 

António Pedro Monteiro

(Padre, Capelão no Hospital

de Santa Maria, em Lisboa)

 

 

 

 

As Escolas de Perdão e Reconciliação (ESPERE) são uma ação de transformação pessoal, comunitária e social. Partindo de uma metodologia inovadora, que abrange o pensar, o sentir, o agir e o transcender, as ESPERE dotam os participantes de ferramentas e técnicas para poderem trabalhar e gerir emoções como a raiva, o ressentimento, o rancor e os desejos de retaliação, permitindo, pelo perdão, sarar e superar as memórias ingratas do passado.

A violência gera violência. Diante desta irracionalidade, as ESPERE propõem a irracionalidade do perdão. Perdoar não é fácil! É para fortes! É um exercício de ascenso humano, de passar do cérebro reptiliano, arcaico, dos instintos, para um cérebro mais evoluído - o neocórtex -, marcado pela bondade, pela compaixão. 

O perdão é um dom, um presente que se dá a si mesmo e ao outro; uma poderosa ferramenta plasmada no mandato missionários de Jesus: “Ide, perdoai os pecados!”, diz aos apóstolos. O perdão é gerador de futuro, de novas narrativas que podem levar à reconciliação. “Sem perdão não há futuro”, profetizava 

 

Desmond Tutu, que, com Mandela, esteve por detrás de uma das mais belas narrativas de transformação humana e social da História, ao proporem ao seu país o caminho do Perdão e da Reconciliação, superando raivas e rancores alimentados pelo apartheid.

O perdão não é esquecer, é recordar com um novo olhar, re-significando a ofensa sofrida, tentando que a vitima não se transforme também ela num ofensor, entrando no ciclo vicioso da violência. Perdoar é optar pela justiça restaurativa, que passa pela misericórdia: reparar a vitima e restaurar o ofensor.

As ESPERE - presentes em 18 países, Portugal incluído, e reconhecidas pela UNESCO, em 2006, recebendo um prémio pela paz -, foram fundadas pelo padre colombiano Leonel Narváez; em 2003, ele que tem sido um dos grandes mediadores do conflito entre as FARC e o governo colombiano, em vista da Paz tão desejada.

Os cursos ESPERE, de cerca de 35 horas, podem ser adaptados a vários horários e focos: Eclesial, escolar, 

 

 

 

 

juventude, prisional, familiar, bairros socias, ...

Perdoar as injúrias supõe a recusa a alimentar o rancor e o ressentimento. Perdoar “setenta vezes sete”, ou seja, sempre. É o perdão hiperbólico, aqui na sua máxima expressão. “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem” (Lc 23, 34);

Um dia um jovem, ao terminar 

 

 

um Curso ESPERE, desabafou: na minha paróquia sempre me disseram que devia perdoar, mas nunca me ensinaram como devia fazê-lo.  E as ESPERE ajudaram-me a fazê-lo.

O perdão é a expressão mais evidente da misericórdia; é um imperativo do qual não podemos prescindir. Um cristão que não perdoa, não é cristão!

Albino Brás

 

 

 

 

É descrito como um “lugar seguro”, para “renovar, reconstruir e recuperar”, em ambiente de apoio, de total confidencialidade, “onde ninguém faz juízos e onde todos podem expressar e encontrar reconciliação para as suas dolorosas vivências pós aborto”. Ali se encontram mulheres que optaram por abortar ou que sofreram um aborto espontâneo; homens que acompanharam as suas mulheres; pais que estiveram presentes na tomada de decisão; técnicos de saúde que nas suas profissões tiveram de lidar com a interrupção de uma gravidez.

O que a Vinha de Raquel propõe é um caminho para a recuperação da harmonia interior, um tempo para fazer o luto, tão necessário como igualmente negado a quem tomou a opção de interromper uma gravidez.

“O perdão é essencial para qualquer processo terapêutico e um dos temas essenciais da vida”, indica Maria José Vilaça, psicóloga e uma das responsáveis, em Portugal, por esta resposta integrada no departamento da pastoral familiar do Patriarcado de Lisboa.

 

Num encontro a que a organização chama de retiro, e onde é dado o primeiro passo para a cura, não se apaga o passado mas procura-se um alívio para que, gradualmente, se consiga a partir da vivência de “um mal entendê-lo como um bem”.

E isto é um processo, com avanços e recuos. Através de técnicas e trabalho em grupo a pessoa inicia um caminho de reconciliação, em primeiro lugar consigo própria, levando-o a uma quebra de um ciclo vicioso – que não ocasionalmente dura anos – onde a culpa e a agressividade são apaziguadas.

“Durante anos vivi em silêncio a pensar que Deus não me perdoava, que a minha filha não me perdoava. Católica, afastei-me da Igreja que, pensava, me julgaria, e procurei, consecutivamente no sacramento da reconciliação o perdão que conscientemente não reconhecia”, descreve quem passou pela experiência do aborto.

“Hoje sei que a minha filha é um dom de Deus”, reconhece olhando para a sua vida redimida, que não esquece o passado porque a fragilidade

 


Num encont


 

 

 

 

humana assim o dita mas com a capacidade de encontrar nas decisões vividas um passaporte para entender que o perdão é purificador.

Diz o Papa Francisco que a misericórdia não é uma teoria mas um testemunho concreto e que perante a necessidade dos outros é dever do cristão olhar, escutar, acolher, cuidar, aliviar.

O trabalho que a Vinha de Raquel desenvolve concretiza a certeza de que “ninguém é irrecuperável para Deus”. Assumir o perdão ou ajudar outro a alcançar o perdão são obras de misericórdia. 

 

 

É um bocadinho o jogo da verdade e, esta coisa, está na moda da resiliência. É preciso aguentar embates, não ficar logo revoltado, não querer logo responder, pagar à letra. É muito importante ter essa leitura, somos muito rápidos a julgar numa atitude defensiva. Despojar-me do meu ego de alguma maneira para poder sintonizar, ter empatia.
Hoje há muito counseling [aconselhamento], e essas coisas todas fora da Igreja, que antigamente chamávamos direção espiritual.  Se com as desgraças do outro também perco equilíbrio ou com a violência não tenho arcaboiço para pacificar há muito imediatismo que estraga a relação.

padre Vasco Pinto de Magalhães

 

 


 

 

Há também sete obras de misericórdia chamadas «espirituais», relativas a outras exigências igualmente importantes, sobretudo hoje, porque tocam o íntimo das pessoas e com frequência fazem sofrer mais. Certamente todos se recordam de uma que entrou na linguagem comum: «Suportar pacientemente as pessoas inoportunas». E há; há muitas pessoas inoportunas! Poderia parecer algo sem importância, que nos faz sorrir, mas contém um sentimento de caridade profunda; e assim é também para as outras seis, que é bom recordar: aconselhar os que têm dúvidas, ensinar os ignorantes, advertir os pecadores, consolar os aflitos, perdoar as ofensas, rezar a Deus pelos vivos e pelos mortos. São ações diárias! «Sinto-me aflito...» — «Mas Deus ajudar-te-á, não tenho tempo...». Não! Paro, ouço, perco o meu tempo e consolo a pessoa, este é um gesto de misericórdia que é feito não só a ela mas também a Jesus!

Ao longo dos séculos, muitas pessoas simples as puseram em prática, dando assim testemunho genuíno da fé. Por outro lado, a Igreja, fiel ao seu Senhor, nutre um amor preferencial pelos 

 

 

mais débeis. Frequentemente são as pessoas mais próximas de nós que precisam da nossa ajuda. Não devemos ir em busca de sabe-se lá quais feitos a realizar. É melhor iniciar pelas mais simples, que o Senhor nos indica como as mais urgentes. Infelizmente num mundo atingido pelo vírus da indiferença, as obras de misericórdia são o melhor antídoto. De facto, orientam a nossa atenção para as exigências mais elementares dos nossos «irmãos mais necessitados» (Mt 25, 40), nos quais Jesus está presente. Jesus está sempre presente neles. Onde houver uma necessidade, uma pessoa carente, quer material quer espiritualmente, Jesus está ali. Reconhecer o seu rosto no de quem é carente é um verdadeiro desafio contra a indiferença. Permite que estejamos sempre vigilantes, evitando que Cristo passe ao nosso lado sem que o reconheçamos.

 

Papa Francisco

 

 

A Oitava Maravilha do Mundo

Uma das grandes novidades que o Papa anunciou no âmbito do Ano da Misericórdia que em breve termina foi uma oitava Obra de Misericórdia... o cuidar da casa comum.

A proposta deste desafio foi lançada no passado 1 de setembro no “Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação".

Em primeiro lugar, por que razão?

Alerta o Papa que

“nada mais une a Deus do que um ato de misericórdia”

logo, o que está em jogo não é mais, nem menos, do que a nossa união com Deus. Depois, importa explicar melhor o que significa fazer do cuidar da casa comum uma Obra de Misericórdia. Diz que,

Como obra de misericórdia espiritual, o cuidado da casa comum requer «a grata contemplação do mundo», que «nos permite descobrir qualquer ensinamento que Deus nos quer transmitir através de cada coisa».

Como obra de misericórdia corporal, o cuidado da casa comum requer aqueles «simples gestos quotidianos, pelos quais quebramos a lógica da violência, da exploração, do egoísmo» e se manifesta o amor «em

 

 todas as ações que procuram construir um mundo melhor».

O Papa não propõe algo teórico, mas antes uma teoria enraizada na prática. Por isso, na parte dedicada a “mudar de rumo”, dá exemplos concretos sobre atitudes e comportamentos concretos mais respeitadores da criação. São esses:

- a utilização judiciosa do plástico e do papel,

- não desperdiçar água, comida e eletricidade,

- diferenciar o lixo,

- tratar com desvelo os outros seres vivos,

- usar os transportes públicos e partilhar o mesmo veículo com várias pessoas,

- etc

Há alguma novidade nestas propostas? Não. A questão não está no que fazer, mas antes no sentido com que o fazemos. Esse sentido está associado a uma mudança no estilo de vida. Como diz o Papa Francisco

um estilo de vida profético e contemplativo, capaz de gerar profunda alegria sem estar obcecado pelo consumo.

Se pensarmos bem, a verdadeira 

 

 

 

 

conversão ecológica não se dá nos grandes eventos, grandes ações, grandes… mas no que é pequeno, normal, diário. O quotidiano é a chave de uma verdadeira conversão ecológica e essa começa com gestos simples. Porém, gestos que contemplam uma parte particular da natureza… os outros. Sim, as outras pessoas.

“Aquele que não ama o seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê” (1 Jo 4, 20). Pequenos atos de amor concretos com os nossos irmãos são um primeiro passo para uma conversão ecológica, pois reconhecemos que os outros são natureza também. Podemos dar espaço numa fila de trânsito, lugar a uma pessoa que está de pé num transporte público, partilhar fruta ou legumes que temos a mais com o nosso vizinho, dar um sorriso sincero a quem nos atende numa repartição pública, ser o primeiro a perder numa discussão por amor ao outro, zangar-me menos na estrada, ser delicado com a pessoa que está na caixa de um supermercado. Quantos gestos pequenos não podem converter o dia chuvoso de alguém, num dia de sol resplandecente.

 

Se, por vezes, não nos damos conta das dores, sofrimentos e necessidades dos outros, com que sensibilidade havemos de perceber o que significa cuidar da casa comum? Como afirma o Papa “num mundo, infelizmente, atingido pelo virus da indiferença, as obras de misericórdia são o melhor antídoto”.

Por outro lado, a pouca sensibilidade provém, frequentemente, do pouco conhecimento que temos dos ritmos do nosso planeta. Esse é um grande desafio - na minha opinião - pastoral. Não chega explorar as razões teológico-espirituais do cuidar da casa comum. Como posso cuidar o que não compreendo? Quando formos capazes de incluir o conhecimento científico do mundo na experiência espiritual e corporal de uma Obra de Misericórdia, através de um diálogo fecundo entre ciência e religião, o nosso olhar converter-se-ia em relação ao que o nosso planeta Terra é, realmente… a oitava maravilha do mundo.

 

Miguel Oliveira Panão

(Professor Universitário)

 

 

Doenças raras online

http://www.rarissimas.pt/

 

Decorreu, no Vaticano, entre os dias 10 e 12 deste mês a XXXI Conferência Internacional promovida pelo Conselho Pontifício para a Pastoral da Saúde sob o lema “Por uma cultura da saúde acolhedora e solidária ao serviço das pessoas afetada por doenças raras e descuidadas”. Numa mensagem enviada aos participantes o Papa Francisco disse “que os profissionais de saúde têm de se comprometer com as ‘periferias assistenciais do mundo’, tratando as pessoas afetadas por doenças ‘raras e descuidadas’”. Assim esta semana a minha proposta passa por uma visita ao sítio da associação nacional de deficiências mentais e raras – Raríssimas. Apesar de já não ser a primeira vez que trago a este espaço este sítio, considero que existem projetos intemporais e que precisam de ser colocados na linha da frente, este claramente é um desses.

Esta organização existe “para apoiar doentes, famílias, amigos de sempre e de agora que convivem de perto com as doenças raras”. Os principais objetivos passam por organizar congressos e seminários, acções de formação de voluntariado, 

 

pesquisar doenças raras, efetuar estudos epidemiológicos, dar apoio domiciliário ao portador e à família e ainda realiza parecerias internacionais.

Logo na página inicial, encontramos um espaço carregado de conteúdos, onde estão presentes as notícias, os destaques e as campanhas em funcionamento, bem como, as ligações para a presença desta associação nas redes sociais (facebook, twitter, linkedin e youtube).

Na opção “quem somos”, ficamos a saber que esta associação foi fundada em abril de 2002 e que atualmente em Portugal existem cerca de 800 mil portadores de doenças raras e várias centenas de doentes por diagnosticar. É ainda possível sabermos quais são a missão e os valores que estão presentes nesta organização, qual a sua história, os seus projetos, os órgãos sociais e os documentos oficiais. Em conselho científico descobrimos quem são os profissionais de saúde que compõem este importante órgão desta associação. Por outro lado em conselho consultivo, podemos aceder ao curriculum de todas as personalidades que integram este órgão de reflexão estratégica.

No item “faq” encontramos as perguntas mais frequentes que

 

 

 

 

 

certamente podem ser feitas por muitos de nós.

Em média, temos à nossa frente todos os registos que foram sendo notícia nos meios de comunicação, desde artigos em jornais, revistas e boletins, passando pela mostra de registos fotográficos de exposições, encontros e outros eventos, terminando num mural de vídeos que de alguma forma estão relacionados com a raríssimas.

Por último em “publicações”, 

 

 

acedemos a todas as edições da revista “páginas raras” que “é uma publicação bimensal que tem como objetivo a divulgação de informação sobre doenças raras”.

Portugal deve à Raríssimas o facto de hoje se falar em doenças raras, por isso memorize este endereço dado que nem todos somos iguais.

 

Fernando Cassola Marques

 

D. Manuel Clemente de A a Z

 

“Joga-se aqui o essencial – Um olhar sobre o que somos” é o título do livro de D. Manuel Clemente, apresentado a 14 de novembro em Lisboa num diálogo com Maria João Avillez e a intervenção de nove leitores da sua obra.

Jaime Gama, uma das personalidades convidadas a referir-se ao percurso de D. Manuel Clemente, afirmou que o livro hoje apresentado marca “uma 

 

 

viragem interessante” na publicação editorial do cardeal-patriarca de Lisboa por acontecer numa “comunicação mais direta com a opinião pública através de um livro que é de leitura fácil”.

Publicado pela ‘Assírio & Alvim’, os textos publicados na obra hoje apresentada na Universidade Católica Portuguesa dizem respeito a intervenções de D. Manuel Clemente 

 

 

 

 

 

desde 2013 até ao presente e estão organizados por temas, de A a Z, desde ‘Amor’ a ‘Zygmunt Bauman’.

Para o antigo presidente da Assembleia da República, o pensamento de D. Manuel Clemente está fundamentado no estudo da História em épocas “em que a Igreja Católica atravessou momentos de dificuldade, de problematização”.

“Alguém que pensa o catolicismo em tempos difíceis está preparado com abertura, atenção e respeito para compreender a sociedade”, afirmou Jaime Gama, acrescentando que D. Manuel Clemente “marcha com o passo certo” e “não precisa de acertar o passo”.

Para além de Jaime Gama, Fernando Ulrich, Paula Moura Pinheiro, António Lobo Xavier, Pedro Mexia, José Manuel Pureza, Leonor Xavier, Joana Carneiro e Artur Santos Silva comentaram também a obra hoje apresentada e o contributo de D. Manuel Clemente para o diálogo cultural na sociedade atual.

Durante o diálogo com Maria João Avillez, o cardeal-patriarca de Lisboa foi convidado a lembrar a relevância no seu percurso do tempo em que foi bispo do Porto, referiu-se à comemoração dos 300 anos da 

 

qualificação patriarcal da Diocese de Lisboa, ao Sínodo Diocesano e ao centenário de Fátima

D. Manuel Clemente terminou o diálogo de apresentação do livro ‘Joga-se aqui o essencial’ referindo que “a esperança é a criação do futuro”. “Nós criamos futuro porque sabemos que não nos esgotamos no presente, nem tudo aquilo que temos como projeto nem tudo aquilo que nos amachuca como opção. E é muito alimentada pela esperança dos outros, que vão alimentando a nossa”, afirmou.

“A esperança move-nos no futuro”, concluiu. 

 

 

 

 

 

II Concílio do Vaticano: Alfredo Bruto da Costa «assinou» o Pacto das Catacumbas

 

O espírito do «Pacto das Catacumbas» guiou algumas das melhores iniciativas cristãs das últimas décadas e teve alguma – não tanto como se esperava - repercussão no universo católico. O texto assinado pelos cerca de 40 bispos nas catacumbas de Domitila (Itália-Roma) foi um guião de vida para Alfredo Bruto da Costa, falecido a 11 deste mês com 78 anos.

O conteúdo deste documento, redigido e assinado por quarenta padres participantes no II Concílio do Vaticano, dia 16 de novembro de 1965, pouco antes da conclusão da assembleia magna, ficou cunhado na obra e na vivência. do antigo ministro.

Renovar o compromisso assumido por toda a Igreja para transformar a vida humana e construir um mundo fundado na solidariedade e na justiça, a partir do evangelho dos pobres foi a linha condutora do antigo presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP), engenheiro Alfredo Bruto da Costa. Para este estudioso da pobreza, a dignidade humana é a chave do evangelho.

O «Pacto das Catacumbas» pretendia ser um texto e um compromisso concreto que colocava os pobres no altar e nas prioridades da Igreja. Esse foi o estilo de vida do engenheiro Bruto da Costa. Na história, para além do seu exemplo de cidadania, fica o combatente contra a pobreza e a exclusão social. Numa entrevista, concedida a um jornal diário, em 2007, o antigo ministro e conselheiro de Estado dizia: “Discordo da frase «não dês o peixe, dá a cana». Se só deres o peixe, ele só comerá hoje. Se, além do peixe, deres a cana, ele comerá 

            

 

 

 

hoje o resto da vida. Não vale de nada dar a cana a alguém que está com tanta fome que não pode sequer levantar-se para chegar ao rio para pescar”.

Alfredo Bruto da Costa esteve associado aos maiores avanços nas políticas sociais das últimas décadas em Portugal. Para este doutorado em Sociologia, que fazia parte de um grupo de trabalho que delineou um roteiro para uma Estratégia Nacional de Erradicação da Pobreza (ENEP), o combate a este flagelo não pode

 

 

ser feito de forma pontual e dispersa. Apelava a um compromisso duradoiro que desse consistência a uma ação que visasse “não apenas reduzir o sofrimento do pobre, o que é certamente necessário, mas também ajudá-lo a libertar-se da pobreza”.

Alfredo Bruto da Costa não esteve nas Catacumbas de Domitila, mas o texto assinado por aqueles padres conciliares, há cerca de cinco décadas, cunhou a vida deste cristão nascido em Goa (India).

 

 

novembro 2016

19 de novembro

. Vaticano - Terceiro consistório do pontificado de Francisco.

 

. Fátima - Domus Carmeli - O Secretariado Nacional da Educação Cristã promove uma formação para professores de escolas católicas com o tema “A interioridade como paradigma educativo”.

 

. Fátima - Hotel Cinquentenário - Assembleia geral da CNIS

 

. Leiria - Iniciativa «A Solidariedade brilha no Mercado Sant´Ana» promovida pela Cáritas Diocesana de Leiria (termina a 20 de novembro)

 

. Lisboa - Igreja de São Domingos - Encontro Diocesano de Adolescentes vai ser um «YOUCATday»

 

. Fátima - Lisboa, 15 nov 2016 (Ecclesia) - O conselho geral da Cáritas Portuguesa realiza-se, este sábado e domingo, em Fátima, no Consolata Hotel, onde vai ser apresentado o Plano Estratégico da Cáritas em Portugal 2017/20. (termina a 20 de novembro)

 

 

 

Lamego - 5º aniversário da nomeação de D. António Couto para bispo de Lamego

 

Fátima - Centro João Paulo II - Encontro das Santas Casas da Misericórdia

 

Lisboa - Seminário dos Olivais, 10h00 - Encontro de formação para agentes da Pastoral do Batismo.

 

Santarém - Torres Novas (Casa S. José de Cluny), 15h00 - Conferência sobre «Porque duvidamos do dever de proteger a vida humana» por Luís Silva, presidente da Associação de Defesa e Apoio à Vida de Aveiro, e promovida pela Acção Católica Rural da Diocese de Santarém. 

 

Aveiro, 15h30 - Inauguração da sede regional do Corpo Nacional de Escutas (CNE) presidida por D. António Moiteiro, bispo de Aveiro

 

Funchal – Sé, 16h00 - Celebração do encerramento do Jubileu da Misericórdia na Diocese do Funchal

 

Lisboa - Igreja de Santo António do Estoril, 17h00 - Vigília de oração e testemunhos de D. Bashar Warda e da irmã Guadalupe

 

 

 

 

Coimbra – Febres, 21h00 -  Festival Jovem Diocesano da Canção

 

Algarve - Centro Pastoral de Pêra, 21h00 - Festival Diocesano Jovem da Canção de Mensagem promovido pelo Sector da Pastoral Juvenil da Diocese do Algarve

 

20 de novembro

. Encerramento do Ano da Misericórdia

 

Leiria – Sé - Encerramento do Ano da Misericórdia com ordenação de diácono.

 

Setúbal - Almada (Cristo Rei) -  Os resultados do projeto de organização, descrição e difusão do Arquivo do Santuário de Cristo Rei vão ser apresentados, dia 20 deste mês, na reitoria daquele santuário.

 

Setúbal - XV aniversário do «Notícias de Setúbal»

 

Santa Sé - Celebração do Dia Mundial pelos Direitos da Infância e da Adolescência

 

Fátima - Encerramento das celebrações do Centenário das Aparições do Anjo da Paz, em Fátima,

 

 com a inauguração de uma escultura da autoria de Clara Menéres.

 

Leiria, 10h00 - Caminhada solidária promovida pela Cáritas Diocesana de Leiria

 

Lamego – Sé, 15h30 - Encerramento do Ano da Misericórdia e ordenações diaconais na Diocese de Lamego.

 

Porto – Sé, 16h00 - Encerramento do Jubileu da Misericórdia na Diocese do Porto

 

Lisboa - Igreja de Santos-o-Velho, 16h00 - Concerto solidário de polifonia antiga integrado no Festival «SacroSanctus».

 

Coimbra - Sé Nova, 16h30 - Encerramento do Ano da Misericórdia com celebração presidida por D. Virgílio Antunes, bispo de Coimbra.

 

Setúbal - Santuário de Cristo Rei, 17h00 - Vigília de oração e testemunhos de D. Bashar Warda e da irmã Guadalupe

 

Aveiro – Sé, 19h00 - Encerramento diocesano do Ano da Misericórdia presidido por D. António Moiteiro, bispo de Aveiro.

 

 

 

 

 

 

Acontece este sábado no Vaticano o Terceiro consistório do pontificado de Francisco, para a criação de 17 cardeais - incluindo 13 eleitores (com menos de 80 anos), vindos de 11 países..

 

Por cá, em Fátima, na casa Domus Carmeli, o Secretariado Nacional da Educação Cristã promove uma formação para professores de escolas católicas com o tema “A interioridade como paradigma educativo”. Durante o dia por Lisboa decorre o Encontro Diocesano de Adolescentes, um «YOUCATday», promovido pelo setor da Catequese do Patriarcado de Lisboa e destinado aos adolescentes e jovens do 7.º ao 10.º Ano.

 

Já em Coimbra – Febres, pelas 21h00 acontece o Festival Jovem Diocesano da Canção e também no Algarve - Centro Pastoral de Pêra pelas 21h00, Festival Diocesano Jovem da Canção de Mensagem promovido pelo Sector da Pastoral Juvenil da Diocese do Algarve.

 

No domingo, na Santa Sé, vai ocorrer a Celebração do Dia Mundial pelos Direitos da Infância e da Adolescência, para sublinhar a importância de assegurar o acesso das novas gerações à escola.

 

Programação religiosa nos media

Antena 1, 8h00

RTP1, 10h00

Transmissão da missa dominical

 

 

11h00 - Transmissão missa

 

 

 

Domingo: 10h00 - O Dia do Senhor; 11h00 - Eucaristia; 23h30 - Ventos e Marés; segunda a sexta-feira: 6h57 - Sementes de reflexão; 7h55 - Oração da Manhã;  12h00 - Angelus; 18h30 - Terço; 23h57-Meditando; sábado: 23h30 - Terra Prometida.

 
RTP2, 13h00

Domingo, 20 de novembro - Misericordiar: 15 obras para continuar o Jubileu

 

Segunda-feira, dia 21, 15h00 

Entrevista a D. Manuel Linda, sbre o Jubileu da Misericórdia

 

Terça-feira, dia 22, 15h00  - Informação e entrevista a Mendo Castro Henrique sobre o Congresso "Tomás Moro e o Sonho de um mundo melhor"

 

Quarta-feira, dia 23, 15h00 - Informação e entrevista ao padre Nuno Amador sobre o projeto juvenil "Eu Acredito"

 

Quinta-feira, dia 24, 15h00 -Informação e entrevista  a Isabel Figueiredo, Jorge Reis-Sá sobre o livro "Advento para Crentes e para não-crentes".

 

Sexta-feira, dia 25, 15h00  -  Análise à liturgia de domingo com o cónego António Rego e o padre Armindo Vaz.

 

 

Antena 1

Domingo, dia 20 de novembro - 06h00  - O perdão

 

Segunda a sexta-feira, dias 21 a 25 de novembro - 22h45 - 300 anos do Patriarcado de Lisboa: O Musical; Nectalks; Congresso das Associações de Profissionais Católicos; Sínodo: padre Rui Pedro Carvalho e Jorge Wemans.

 

 

  

 

 

     

 

 

 

 

 

 

Ano C – 34.º Domingo do Tempo Comum

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
O Rosto da Misericórdia reina em nós
 
 

Neste último domingo do ano litúrgico, Solenidade de Cristo Rei, a Palavra de Deus convida-nos a tomar consciência da realeza de Jesus, em particular no quadro que Lucas nos apresenta no Evangelho.

Aí está a famosa inscrição, que define Jesus como «Rei dos Judeus», plena de ironia: Ele não está sentado num trono, mas pregado numa cruz; não aparece rodeado de súbditos fiéis que O incensam e adulam, mas dos chefes dos judeus que O insultam e dos soldados que O escarnecem; Ele não exerce autoridade de vida ou de morte sobre milhões de homens, mas está pregado numa cruz, indefeso, condenado a uma morte infamante… Não há aqui qualquer sinal que identifique Jesus com poder, com autoridade, com realeza terrena.

Mas essa inscrição da cruz descreve com exatidão a situação de Jesus na perspetiva de Deus: Ele é o rei que preside, da cruz, a um Reino de serviço, de amor, de entrega, de dom da vida. Neste quadro, explica-se a lógica desse Reino de Deus que Jesus veio propor aos homens.

O quadro é completado por uma cena bem significativa para entender o sentido da realeza de Jesus. Ao lado de Jesus estão dois malfeitores, crucificados como Ele. Jesus é insultado por um, a representar aqueles que recusam a proposta do Reino. O outro pede: «Jesus, lembra-Te de mim quando vieres com a tua realeza». A resposta de Jesus a este pedido, «hoje mesmo estarás comigo no paraíso», indica que a salvação definitiva começa a tornar-se realidade a partir da cruz. Na cruz manifesta-se plenamente a realeza de Jesus que é perdão, renovação do homem, vida plena; e essa realeza de salvação abarca todos sem exceção, mesmo os condenados e excluídos.

Celebrar a Festa de Cristo Rei do Universo é celebrar

 

 

 

 

 um Deus misericordioso que serve, que acolhe e que reina nos corações com a força desarmada do amor. A cruz é o trono de um Deus que recusa qualquer poder e escolhe reinar no coração dos homens através do amor e do dom da vida.

A todos nós, que somos Igreja de Jesus, ainda nos falta muita coisa para interiorizar a lógica da realeza de Jesus. A Igreja precisa de contínua purificação e conversão, de renovar a atitude de serviço e de acolhimento, sempre na contemplação do Senhor na cruz, que é contemplação de tantos próximos crucificados na vida.

 

Termina hoje o Ano Santo da Misericórdia, mas não termina o dinamismo da misericórdia que somos chamados a assumir na plena contemplação de Jesus Cristo, Rosto da Misericórdia. Ele reina nos nossos corações e nas nossas comunidades, em toda a Igreja e no mundo, sempre na plena oblação da cruz. Façamos por isso, para sermos fiéis e felizes ao único Senhor das nossas vidas, que nos fecunda com toda a sua ternura e misericórdia.

 

Manuel Barbosa, scj

www.dehonianos.org

 

 

 

 

Em Maroua as Igrejas estão cheias apesar do terrorismo

A força da oração

Nos Camarões, há uma diocese, na fronteira com a Nigéria, onde ninguém está a salvo. No entanto, apesar da violência islamita, dos atentados que nunca têm hora marcada, os cristãos são um exemplo para todos nós. O terrorismo do Boko Haram bateu-lhes à porta, é verdade, mas não os venceu

 

Camarões. Fevereiro de 2016, vila de Nguetchéwé, perto de Maroua. Duas jovens com apenas 13 anos fazem-se explodir no meio de uma pequena multidão que se encontrava no cemitério local. Ninguém teve dúvidas de que se tratou de mais um ataque da responsabilidade do grupo islamita Boko Haram que procura instaurar na região o islão mais radical. Os cristãos de Maroua vivem inquietos. Ninguém se sente seguro em lugar algum. Ceder ao medo, porém, é dar a vitória aos terroristas. Por isso, sempre que o Bispo vai celebrar a missa de domingo, os cristãos dão as mãos uns aos outros fazendo como que um cordão de segurança para impedir que alguém se infiltre na comunidade, para tentar impedir atentados como o de Fevereiro, no cemitério. 

 

Não é fácil prevenir o terror. O Bispo, D. Bruno Ateba Edo, reconhece que essa é quase uma batalha perdida. “Vivemos permanentemente com medo de novos atentados. Há como que uma psicose colectiva”, explica o prelado à Fundação AIS. No entanto, as missas continuam a arrastar multidões, as igrejas continuam cheias de fiéis. O Bispo fala disso com toda a naturalidade. É a receita da fé contra o terror: “A oração é a nossa força e esperança. Necessitamos da oração e queremos rezar. Rezarmos em comunidade é um sinal de esperança.”

 

A ajuda da AIS

O Boko Haram tem obrigado milhares de pessoas a fugir de suas casas. Só na diocese de Maroua-Makolo vivem mais de 80 mil pessoas provenientes da Nigéria. Estes oitenta mil refugiados são apenas uma gota no imenso oceano de tragédia que o Boko Haram trouxe para esta região de África. “Nós procuramos apoiá-los dentro das nossas possibilidades”, explica D. Bruno Edo. Mas a diocese é pobre, muito pobre. O Bispo vive numa 

 

 

 

pequena habitação sem casa de banho sequer. No entanto, tal como ele, os cristãos estão sempre de braços abertos prontos a acolher quem mais necessita, prontos a repartir o pouco que possuem. Apesar da pobreza da comunidade e da ameaça permanente dos islamitas do Boko Haram, a verdade é que a diocese de Maroua-Makolo não tem falta de vocações. No passado dia 1 de Novembro, 3 jovens foram ordenados diáconos e mais trinta preparam-se já para o sacerdócio. Para o Bispo, é normal que assim seja. “A nossa

 

esperança está toda em Deus”, explica D. Bruno Ateba Edo. O terrorismo do Boko Haram bateu-lhes à porta, é verdade, mas não venceu estes cristãos que souberam preservar o mais importante de tudo: a fé em Jesus. “Confiamos na oração e rezamos porque precisamos de paz. Apesar dos atentados, não deixaremos nunca de nos reunirmos para pedirmos a Deus por essa paz. A oração é a nossa força…”

 

Paulo Aido

www.fundacao-ais.pt

 

 

Alfredo Bruto da Costa

  Tony Neves   
  Espiritano   

 
 

Acreditava que é possível um mundo sem pobreza e lutou por esta causa até ao fim. Aliou competência académica e profissional com autoridade ética e moral. Com humor dizia que estudou engenharia e passou a vida no mundo da sociologia (doutorou-se nela!) e economia. O seu vastíssimo curriculum mostra um percurso que alia competência e cidadania: foi Ministro dos Assuntos Sociais, Presidente do Conselho Económico e Social, Conselheiro de Estado. Tudo altos cargos a que ele associou outros compromissos: foi, por exemplo, o Presidente da Comissão Justiça e Paz da Igreja católica em Portugal.

Convicto, livre, aberto, frontal, comprometido…eis palavras que fui ouvindo e lendo após a sua morte, aos 78 anos, em Lisboa. Lutava contra um capitalismo ultra-liberal, o tal que o Papa Francisco diz que mata…e mata mesmo!

A sua morte ocorre no momento em que o Papa Francisco pede perdão aos sem abrigo de todo o mundo pelos cristãos que vêem a miséria de quem vive na rua, mas passam ao lado! Também coincide com a celebração dos 25 anos da Rede Europeia anti-Pobreza.

O investimento de Bruto da Costa na vertente académica é notável. Foi um dos meus melhores professores no Curso de Comunicação social na Católica, em Lisboa. São citadas e consideradas as suas investigações sobre a pobreza em Portugal, sempre a apontar portas de combate a este flagelo que vitima milhares e milhares de pessoas por este país acima e abaixo.

 

 

 

 

 

 

O seu funeral, no Campo Grande (Lisboa) mostrou manifestações de apreço pela vida e missão de ABC. Marcelo Rebelo de Sousa apresentou-o como um lutador pela justiça, igualdade e solidariedade, um homem que lutou pelos mais pobres e excluídos. D. Manuel Clemente disse que ele somou o desafio da Fé à intervenção marcada pela caridade, pela acção social junto dos mais pobres. Recordou ainda que a Boa Nova aos pobres de que fala Cristo era a sua inquietação constante.

Fui aluno, li muito do que ele escreveu, estive em diversas conferências suas, sempre me considerei um admirador. Recordo uma conferência nas Jornadas Missionárias Nacionais, em Fátima, onde ele começou por mostrar o seu humor habitual: ‘alguns querem polir o meu nome e chamam-me ‘Brito’ ou ‘Bruno’. Mas eu sou ‘Bruto’ mesmo!!!’. 

 

 

 

Nessa mesma intervenção, ele apresentava os cristãos como aqueles que amplificam os gritos dos pobres que só podem falar em surdina. Temos que ser a vez e a voz dos sem voz e sem vez.

Deixou-nos a 11 de novembro uma herança enorme. Cabe-nos recebê-la de braços e corações abertos e, tal como se faz com os talentos, é preciso pô-la a render. Os pobres vão agradecer.