04 - Editorial:

   Octávio Carmo

06 - Foto da semana

07 - Citações

08 - Nacional

14 - Internacional

20 - Opinião

     D. Manuel Linda

22 - Semana de...

     Sónia Neves

24 - Dossier

    Irmã Lúcia, memória de Fátima

26 - Entrevista

    Irmã Ana Sofia

 

66 - Multimédia

68 - App Pastoral

70 - Estante

72 - Concílio Vaticano II

74 - Agenda

76 - Por estes dias

78 - Programação Religiosa

79  - Minuto Positivo

80 - Liturgia

82 - Fátima 2017

86 - Fundação AIS

88 - LusoFonias

Foto de capa: DR

Foto da contracapa:  DR

 

 

AGÊNCIA ECCLESIA 
Diretor: Paulo Rocha  | Chefe de Redação: Octávio Carmo
Redação: Henrique Matos, José Carlos Patrício, Lígia Silveira,
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Opinião

 

 

 

 

Alentejo ao encontro de Sevilha

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Mesagem do Papa para a Quaresma

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Lúcia e a memória de Fátima

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D. Manuel Linda | Bento Oliveira | Sónia Neves|Octávio Carmo | Manuel Barbosa | Paulo Aido | Tony Neves

 

Verdade e preconceito

  Octávio Carmo   

  Agência ECCLESIA   

 
 

 

 

A aproximação do centenário das Aparições de Fátima e, mais recentemente, o anúncio do fim da fase diocesana do processo de canonização da Irmã Lúcia, concentraram os holofotes da opinião pública sobre os acontecimentos de 1917, na Cova da Iria. Um momento que mudou a fisionomia da Igreja Católica em Portugal, com implicações mundiais, e que ainda é lido por muitos como se nada tivesse mudado neste século.

Há obviamente várias intenções por trás de investigações e novas publicações, das mais sérias e profissionais às mais sensacionalistas e interesseiras. Ao público compete não cair da cilada de quem vende o velho como novidade nem de quem se copia ao que já foi feito.

Será difícil acreditar em alguém que diz vir agora revelar “toda a verdade” sobre Fátima quando se sabe que há milhares de documentos por estudar. A construção e reconstrução de teses antigas não faz jus à inteligência nem à sensibilidade com que um tema tão delicado merece ser tratado.

Tem já um século esta desconfiança recíproca -

por vezes fundada - entre quem acredita nas

Aparições, reconhecidas pela Igreja

Católica (e este é um caso encerrado)

e quem, mais do que não crer, as

procura desacreditar. O fosso atual 

 

 

 

entre a verdade e o preconceito em nada ajuda à reflexão necessária sobre o impacto deste fenómeno religioso, espiritual, humano, social, turístico e tudo o mais que ainda é preciso descobrir sobre Fátima. 

O longo e detalhado processo de canonização da Irmã Lúcia pode ajudar a compreender melhor  a dinâmica que levou à consolidação e transmissão da memória dos acontecimentos de 1917, com a certeza de que muitos são aqueles que o protagonizaram, de forma mais ou menos anónima, dando-lhe um corpo e uma história que ultrapassa em muito o que conseguimos compreender. Para isso, também são precisas perguntas incómodas que façam nascer respostas adequadas e, sem dúvida, a superação definitiva de um olhar que tende a “menorizar” Fátima, mesmo no seio da Igreja Católica. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

   

 

 

 

 

Memória do ulmeiro que enquadrava a Fundação Gulbenkian e que morreu vítima de grafiose do ulmeiro (Foto: www.gulbenkian.pt)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

"Em relação a essa questão tão sensível [eutanásia], foi um debate que ainda agora começou e deve continuar, envolvendo a sociedade portuguesa. O pior que poderia acontecer seria cristalizar posições. Não pode ser um confronto entre ateus e religiosos, médicos e juristas, diria até entre esquerda e direita" (Jerónimo de Sousa, líder do PCP)

 

“… Há ateus-carrapato, consideravelmente diferentes das pessoas ateias normais minding their own businesses. Caracterizam-se, grosso modo, pelo ódio de morte à religião católica e pela irracionalidade absoluta e agressiva de cada vez que um católico se expressa publicamente – onde estão as purgas nos jornais e nas televisões quando precisamos delas?!” (Maria João Marques, Observador)

 

"Medidas cegas, não fundamentadas numa inteligência sólida, tendem a ser ineficazes pois correm o risco de serem ultrapassadas pelos atuais sofisticados movimentos terroristas globais" (António Guterres, secretário-geral da ONU, sobre a ordem de Donald Trump que suspende a chegada ao país de refugiados por 120 dias)

 

Terras sem Sombra 2017,
do Alentejo à Andaluzia

 

O Festival ‘Terras sem Sombra’ (FTSS) proporcionou este sábado uma noite diferente em Sevilha, com o concerto ‘Imenso Sul’ onde juntou dois grupos de Cante Alentejano ao Flamenco, no Consulado-Geral de Portugal. À Agência ECCLESIA, o diretor artístico do FTSS disse que o Cante Alentejano causou “uma grande sensação” pelo “poder das vozes baixas” e pela 

 

“capacidade de comunicação” que têm os seus cantadores.

“Tudo se uniu a uma cantadora mítica como Esperanza Fernández. 

O público, e eu em primeiro, levamos as mãos aos olhos porque estávamos a chorar de emoção”, destacou Juan Angel del Campo sobre “uma noite mágica, distinta de tudo”.

O concerto “único” juntou o 

 

 

 

 

Património Imaterial da Humanidade Cante Alentejano – do Rancho dos Cantadores de Aldeia Nova de S. Bento, acompanhados por Pedro Mestre, e o dos Cantadores do Desassossego – e o Flamenco da sevilhana Esperanza Fernández, e também o intérprete de viola da gamba Fahmi Alqhai.

Para o mestre Francisco Torrão, dos Cantadores do Desassossego, foi “extremamente importante” esta apresentação, que “aproxima mais” o Alentejo e a Andaluzia. “Foi muito gratificante verificar que não tem havido um processo de aculturação. Foi relevante escutar uma andaluza a cantar modas alentejanas. De facto, a música é universal e aproxima os povos”, acrescentou.

Esperanza Fernández recordou que teve a “sorte” de ter tido uma experiência com um coro alentejano, em 2005, que “foi fantástica”; no final do concerto deste sábado, sentia-se “orgulhosa e como em casa outra vez”.

José António Falcão, diretor-geral do FTSS, comentou que “existe um imenso Sul” que também invade a 

 

música e iluminou quem esteve no Consulado-Geral de Portugal, em Sevilha. “O concerto traduziu-se por elevado nível artístico, não era fácil. Existe aqui uma herança comum, há um fundo lírico e também um conjunto de manifestações que a ele estão associadas que convergiram com uma grande facilidade”, desenvolveu.

Espanha é este ano o país convidado do evento e uma “embaixada cultural” apresentou o certame em Sevilha. José António Falcão fez um balanço positivo do périplo, considerando que “portas que estavam fechadas abriram-se” porque os municípios - Almodôvar, Sines, Santiago do Cacém, Ferreira do Alentejo, Odemira, Serpa, Castro Verde e Beja –  avançaram “como perspetiva de região e não apenas um ou dois pontos do vasto território”.

‘Do espiritual na arte – Identidades e práticas musicais na Europa dos séculos XVI-XX’ é o lema do FTSS que se realiza entre 11 de fevereiro e 1 de julho, iniciativa promovida pelo Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja. 

 

 

Parceria permite juntar apoio espiritual
a cuidados de saúde

Um protocolo assinado entre a Unidade Pastoral de Santo António e a Unidade Local de Saúde do Nordeste, na Diocese de Bragança-Miranda vai permitir levar aos doentes não só cuidados de saúde mas também apoio espiritual. O padre Manuel Ribeiro, responsável pela Unidade Pastoral de Santo António, situada na região de Macedo de Cavaleiros, destacou à Agência ECCLESIA a importância de um projeto “sem paralelo em Portugal”, que vai sobretudo beneficiar as populações mais isoladas e idosas do território transmontano.

“Tudo começou com uma visita que fiz quando entrei para esta unidade pastoral, em que me apercebi do isolamento e da solidão em que muitas pessoas viviam. Particularmente nas localidades mais pequenas“, explicou o sacerdote.

Durante a sua passagem pelas aldeias da freguesia de Santo António, o responsável católico deparou-se com situações de idosos que pouco contacto tinham com os filhos ou outros familiares, e outros mais doentes que nem ao centro de saúde conseguiam ir, porque não tinham preparados para o efeito.

 

 

qualquer tipo de ajuda. “O mal dos outros, que estão ao nosso lado, tem que ser também o mal de toda a comunidade, temos todos de olhar uns pelos outros, e é isso que vai acontecer na nossa unidade pastoral, para que a comunidade se torne cada vez mais atenta aos problemas de cada um”, salientou o padre Manuel Ribeiro.

O acordo assinado com a Unidade Local de Saúde do Nordeste prevê a promoção do apoio espiritual a par dos cuidados de saúde, sempre que isso seja solicitado pelas comunidades ou pelas pessoas.

A ajuda será dada de forma diária e gratuita às 18 comunidades que integram a Unidade Pastoral de Santo António, graças ao envolvimento de agentes pastorais devidamente 

 

 

 

 

Tráfico humano é realidade
presente em Portugal

A presidente da Comissão de Apoio às Vítimas de Tráfico de Pessoas, dos Institutos Religiosos em Portugal, disse à Agência ECCLESIA que o tráfico humano ainda é visto no país como algo “distante” ou que “não existe”, quando “não é verdade”.

A respeito da jornada anual de oração e reflexão contra o tráfico de pessoas (8 de fevereiro) a irmã Maria Manoel realça que há ainda “um longo trabalho de sensibilização e motivação a fazer nesta questão”, que tem de envolver todos os setores sociedade.

“É preciso humanizar a sociedade a todos os níveis e este é um deles, para que se perceba que estamos a falar de pessoas, seres humanos iguais a cada um de nós, não são mercadoria a ser traficada e comercializada. E portanto não nos podemos dar ao luxo que isto aconteça em pleno século XXI”, frisa aquela responsável.

A presidente da Comissão de Apoio às Vítimas de Tráfico de Pessoas recorda que “ainda no início deste ano foi desmantelada uma rede de tráfico humano no Alentejo”, no âmbito da operação ‘Campo Seguro’, da Guarda Nacional Republicana. 

 

Neste caso, dezenas de pessoas provenientes de países como o Nepal, o Senegal e o Paquistão estavam a ser vítimas de exploração laboral e utilizadas na prática de furto de produtos agrícolas.

Segundo a irmã Maria Manoel, a exploração laboral é mesmo “o rosto mais visível” do tráfico humano em Portugal. Os últimos dados divulgados pelo Observatório do Tráfico de Seres Humanos, do Ministério da Administração Interna, referentes a 2015, referem 193 casos sinalizados um pouco por todo o país, mas no entanto apenas foram confirmadas 30 vítimas.

A presidente da Comissão de Apoio às Vítimas de Tráfico de Pessoas nota que é muito difícil detetar e responsabilizar as redes que estão por trás deste género de crime organizado e que são poucas as condenações em tribunal. 

 

 

 

 

 

A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram a atualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizados em www.agencia.ecclesia.pt

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Programa de Quaresma e Páscoa da Diocese do Porto tem visita do Papa no horizonte

 

 

 

Reitora da Católica quer colocar as várias unidades de investigação com a «classificação máxima»

 

 

 

Quaresma em defesa da vida

 

O Papa Francisco apela na sua mensagem para a Quaresma de 2017, divulgada pelo Vaticano, à defesa da vida “frágil” e alerta para as consequências negativas de uma vida centrada no “dinheiro”. “Cada vida que vem ao nosso encontro é um dom e merece acolhimento, respeito, amor. A Palavra de Deus ajuda-nos a abrir os olhos para acolher a vida e amá-la, sobretudo quando é frágil”, escreve, num texto intitulado ‘A Palavra é um dom. O outro é um dom’.

 

 

Francisco questiona em particular a utilização do dinheiro, contestando a “lógica egoísta” que não deixa espaço para o amor e dificulta a paz. “Em vez de ser um instrumento ao nosso dispor para fazer o bem e exercer a solidariedade com os outros, o dinheiro pode subjugar-nos, a nós e ao mundo inteiro, numa lógica egoísta”, alerta.

Segundo o Papa, o “homem corrompido pelo amor das riquezas” não vê nada além de si próprio. 

 

 

 

 

“Assim, o fruto do apego ao dinheiro é uma espécie de cegueira: o rico não vê o pobre esfomeado, chagado e prostrado na sua humilhação”, precisa.

A mensagem parte de uma passagem do Evangelho, sobre um homem rico e um pobre, chamado Lázaro, que lhe pede ajuda mas é ignorado. “Lázaro ensina-nos que o outro é um dom. A justa relação com as pessoas consiste em reconhecer com gratidão o seu valor. O próprio pobre à porta do rico não é um empecilho importuno, mas um apelo a converter-se e a mudar de vida”, assinala Francisco.

O Papa deixa votos de que a Quaresma represente “um novo começo” e recomenda as práticas tradicionalmente ligadas a este tempo de preparação para a Páscoa, “o jejum, a oração e a esmola”, como forma de combater a “corrupção do pecado”.

A mensagem assinala a importância da “Palavra de Deus” como força de “suscitar a conversão” no coração de todos. “Fechar o coração ao dom de Deus que fala tem como consequência fechar o coração ao dom do irmão”, 

 

 

observa Francisco.

O Papa pede que as comunidades católicas promovam a sua “renovação espiritual”, participando também nas Campanhas de Quaresma que muitos organismos eclesiais promovem. “A Quaresma é um tempo propício para abrir a porta a cada necessitado e nele reconhecer o rosto de Cristo. Cada um de nós encontra-o no próprio caminho”, recorda.

A Quaresma, que começa com a celebração de Quarta-feira de Cinzas (1 de março, em 2017), é um período de 40 dias marcado por apelos ao jejum, partilha e penitência, que serve de preparação para a Páscoa, a principal festa do calendário cristão.

 

 

 

 

Tráfico de pessoas: Papa pede determinação para combater crime «intolerável»

O Papa Francisco associou-se no Vaticano à jornada de oração e reflexão contra o tráfico de pessoas, que a Igreja Católica celebra anualmente a 8 de fevereiro, recordando em especial as crianças e adolescentes vítimas deste crime. “Desejo que todos quantos têm responsabilidade de governo combatam com decisão esta praga, dando voz aos nossos irmãos mais pequenos, humilhados na sua dignidade. É preciso fazer todos os esforços para debelar este crime vergonhoso e intolerável”, disse, na audiência pública semanal que decorreu na sala Paulo VI.

O lema escolhido para a jornada pelas vítimas do tráfico humano de 2017 é ‘Elas são apenas crianças, não são escravas’. “Encorajo todos os que, de várias formas, ajudam os menores escravizados e abusados a libertar-se de tal opressão”, referiu o Papa.

Francisco recordou que esta jornada se celebra no dia da festa litúrgica de Santa Josefina Bakhita, religiosa nascida no Sudão em 1869, vítima de tráfico humano aos 9 anos de idade. “Esta mulher escravizada em 

 

África explorada, humilhada, não perdeu a esperança e avançou na fé, acabando por chegar à Europa, como migrante. Aqui, sentiu o chamamento do Senhor e tornou-se irmã”, explicou.

O Papa convidou os presentes a rezar a Santa Josefina Bakhita “por todos os migrantes, refugiados, explorados, que sofrem tanto”.

O Vaticano, em conjunto com organizações da Cáritas de todo o mundo e representantes das várias religiões, vai promover um seminário sobre o tráfico de menores, esta sexta-feira em Roma.

Para o presidente da Caritas Internationalis, cardeal Luis Tagle, é essencial difundir uma mensagem de apoio a todas as pessoas afetadas por esta prática, e são milhões de homens, mulheres e crianças em todo o mundo.

 

 

Por uma Igreja sem corrupção

O Papa Francisco rejeita, em entrevista divulgada esta quinta-feira na Itália, a corrupção na gestão financeira do Vaticano ou investimentos pouco éticos com dinheiro da Igreja, como na indústria de armamentos. “É importante verificar como é que os bancos investem o dinheiro. Nunca deve acontecer que haja investimento em armas, por exemplo. Nunca”, pediu, durante uma conversa com mais de 140 responsáveis mundiais de Institutos Religiosos católicos.

O encontro decorreu em novembro de 2016, à porta fechada, e o conteúdo da intervenção do Papa, que respondeu a várias perguntas dos presentes, é divulgado hoje pela revista italiana dos jesuítas, ‘La Civiltà Cattolica’.

“Os problemas chegam quando se mexe nos bolsos! Penso na questão da alienação dos bens: com os bens temos de ser muito delicados”, assinalou Francisco. “O Senhor quer muito que os religiosos sejam pobres”, acrescentou.

O primeiro Papa jesuíta da história considera que a pobreza é “medular” na vida da Igreja Católica, tendo sempre “consequências fortes” segundo a forma como é observada ou não.

 

 

Francisco recorda que nas reuniões de cardeais antes da sua eleição, em 2013, se falava da necessidade de “reformas” e que todos as queriam. “Há corrupção no Vaticano, mas eu estou em paz”, referiu o Papa, que tem levado a cabo um conjunto de reformas nas áreas financeiras e administrativas da Santa Sé e do Estado da Cidade do Vaticano, internacionalizando a sua gestão e supervisão.

O encontro com a 88ª assembleia geral dos superiores gerais das ordens e congregações religiosas masculinas evocou a surpresa sentida pelo atual Papa, aquando da sua eleição como sucessor de Bento XVI, e a forma como tem vivido desde então, numa “paz profunda”.

 

 

 

 

A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram a atualidade eclesial internacional nos últimos dias, sempre atualizados em www.agencia.ecclesia.pt

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Francisco recorda drama dos «rohingya»

 

 

 

Papa rejeita aborto e eutanásia, em defesa da «cultura da vida»   

 

 

 

 

Vergonha!

  D. Manuel Linda    
  Bispos das Forças   

  Armadas e Forças de  

  Segurança  

 

Todos os anos, no quarto sábado de Novembro, os ucranianos que vivem dentro do país e os da diáspora rezam pelos mortos da tragédia do holodomor. Sabe o que isso é?

Entre 1930 e 1933, o tirano Stalin ordenou os célebres “fuzilamentos de escarmenta” aos camponeses que guardassem ou escondessem para si cereais e comida que eles mesmos produziam, por mais insignificante que fosse a quantidade. Acossados pela fome, estes pobres aldeões dirigiam-se às cidades, à procura do alimento que faltava nos campos. É então que, a mando do ditador, o “soviete” da Ucrânia faz um decreto proibindo os agricultores de entrarem nas cidades. E apresenta razões: “Porque os camponeses invadem os mercados, procurando comprar ou mendigar algum alimento, o que impede seriamente o abastecimento regular das cidades”. 

 

 

Repare-se nesta terrível hipocrisia: privam-se os agricultores de comida, na sua terra, e proíbem-se de a ir procurar à cidade. Resultado: milhões e milhões de vítimas à fome, num genocídio programado para arrasar grupos étnicos que não davam o seu aval à terrível ditadura da então União Soviética. E criou-se a palavra «holodomor» que, em ucraniano, significa literalmente “matar pela fome”.

Vieram-me à memória estes tristes acontecimentos da história recente ao antever o vergonhoso espectáculo de um muro, já ordenado por um perigoso populista, de seu nome Ronald Trump, a impedir ostensivamente os latino-americanos de entrarem nos Estados Unidos. Entre 1930 –ponto de chegada de um regime implantado em 1917, isto é, do qual estamos a comemorar o centenário- e 2017, parece verificar-se uma paralelismo quase perfeito: esbulham-se os donos dos produtos e não se lhes permite, sequer, ir em busca de pão!

  Estou a exagerar? Não creio. Vejam-se estes dados reais, a título de exemplo: em 1970, os USA investiram na América Latina 900 milhões de dólares, mas, desse investimento, levaram para casa 2.900 milhões, de lucro; em 1930, investiram 30 milhões nas minas de cobre chileno, mas, ao longo dos 42 anos de exploração, obtiveram um lucro de 4.000 milhões de dólares… Na América Latina 

ficaram migalhas? Certamente. 

Mas não creio que a mesa tenha sido montada para a presentear com o banquete do festim …

Humanamente falando, um país que se mura vota-se ao isolamento. Espero, pois, que a Europa e o mundo saibam estabelecer especiais laços comerciais e de colaboração com a América Latina, para vantagem das duas partes. E espero, também, que o bom senso permaneça na América, pois, como muitos americanos estão a reconhecer, um país cercado é uma terra sem futuro. Ou, com mais precisão, como sabiamente alerta o Papa Francisco, “não conhece a esperança quem se fecha no próprio bem-estar”.

 

 

 

… vida feliz!

  Sónia Neves   
  Agência ECCLESIA   

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
foto: Miguel Cupido

 

 

Iniciei a minha semana em visitas aos mais idosos da família. A doença vai debilitando os octogenários e os olhos ficam embaciados na nossa presença. As forças já não são as de outrora e a frustração toma o lugar do ânimo. Mergulha-se no Passado: o que se fazia para sustentar a família, a força dos braços, os antepassados, os sorrisos e os episódios felizes. “Recordar é viver” já dizia a canção… para quem ficou limitado na mobilidade ou mesmo no pensamento, recordar (até mesmo sem se aperceber) empurra para seguir a cada dia, ou a cada hora; são momentos felizes que se trazem à vista do Presente.

Assim foi com uma avó de 87 anos que, recostada num sofá, me contava que, na festa, onde esteve, todos cantavam mas, “eu fiz um brilharete e levei muitas palmas!” E riu-se. Aquele riso sumido, que lembrava uma menina envergonhada, fez transparecer um momento feliz em que partilhou com outros uma canção sobre a faina do sal, aprendida na sua meninice. Os olhos verdes, brilhantes acompanhavam a entoação e as mãos batiam ao ritmo da música ali novamente interpretada para nós. Um episódio sentido e que me apontou que estes momentos felizes poderão ser as boas recordações no futuro.

A par disso olho para a minha semana de trabalho e as entrevistas desfiaram-se com pares de 

 

 

 

namorados. “Um amor é feliz ao nascer”, só assim está lançado o mote e como qualquer pormenor, sorriso, afeto ou palavra, faz um namorado sentir-se ‘o mais especial do Mundo’. Olho para os testemunhos recolhidos (que passam no programa de rádio da próxima semana) e dou comigo a pensar que a vocação para o Matrimónio é mesmo um caminho feliz…

Também na próxima segunda-feira, dia 13 de fevereiro, é um dia especial, assinala-se o Dia Mundial da Rádio. A Ecclesia quis reconhecer esta data como feliz e lançou o desafio de ter ‘histórias de vida feliz’ nesse tempo de emissão na Antena 1 da rádio pública. Chegaram histórias, momentos, episódios e vidas felizes contadas através do endereço de email. As novas tecnologias a mediar a partilha da felicidade, a facilitar o imprevisível e a dar a ler ou a escutar pérolas de vida.

Os avós, os namorados, a partilha na rádio… unem-se neste texto pela vida feliz, numa manta de aconchego que toma com cuidado o melhor que a vida tem: o doce, o mel, (o ovo-mole) ou, simplesmente, a “cereja em cima do bolo”.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

E como vale a pena continuar a fazer diferente, a desejar “uma vida feliz” a cada noite, a cada hora. Nos diferentes momentos ou circunstâncias, na cidade ou na aldeia, na velhice ou na juventude, a Vida há-de ter sempre momentos felizes que serão as recordações no futuro.

 

 

E como vale a pena continuar a fazer diferente, a desejar “uma vida feliz” a cada noite, a cada hora. Nos diferentes momentos ou circunstâncias, na cidade ou na aldeia, na velhice ou na juventude, a Vida há-de ter sempre momentos felizes que serão as recordações no futuro.

 

 

A Diocese de Coimbra e a vice-postulação da Causa de Canonização da Irmã Lúcia (1907-2005) vão promover a 13 de fevereiro a sessão de clausura do inquérito diocesano, que exigiu a análise de milhares de cartas e escritos. Esta fase do processo de canonização da vidente de Fátima reúne todos os escritos da Irmã Lúcia, os depoimentos das testemunhas ouvidas acerca da sua fama de santidade e das suas virtudes heroicas, passando agora para a competência direta da Santa Sé e do Papa. Após a sessão de clausura, todo o material recolhido é entregue na Congregação das Causas dos Santos (Santa Sé), de acordo com as normas estabelecidas pela Igreja Católica.

O encerramento da fase diocesana do processo de canonização está em destaque nesta edição do Semanário ECCLESIA, com entrevistas à irmã Ana Sofia, do Carmelo de Santa Teresa, ao bispo de Coimbra e à vice-postuladora da causa, entre outros depoimentos.

 

 

 

   
 

 

 

 

 

 

 

 

Os meus dias com a Irmã Lúcia

 

A Irmã Ana Sofia, natural de Santarém, tem 38 anos e é desde 1996 uma das religiosas residentes no Carmelo de Santa Teresa, em Coimbra. Um local onde chegou pela mão da irmã Lúcia, com quem conviveu durante os últimos nove anos de vida da vidente de Fátima.

A religiosa de clausura integrou a equipa que redigiu a obra ‘Um caminho sob o olhar de Maria’, a biografia completa da Irmã Lúcia.

 

Entrevista conduzida por Henrique Matos

 

Agência ECCLESIA (AE) – O que recorda do convívio de uma pessoa tão especial como a irmã Lúcia?

Irmã Ana Sofia (AS) – Tive a graça e a felicidade de conhecer a irmã Lúcia quase nove anos. Foi uma graça muito grande porque já conhecia a vida dos pastorinhos de Fátima e como se calhar milhares de pessoas desejava falar com a irmã Lúcia, é um desejo que muita gente deve acalentar no coração e que também tinha e depois tive a graça e a felicidade de o realizar.

Conhecer a irmã Lúcia foi fora do normal porque não é normal conhecer uma pessoa como ela e privar de perto mas foi muito bom porque deixou um testemunho muito bonito e de uma boa religiosa. Já não a conheci como pastorinha, logicamente, mas viver ao lado dela e recolher o testemunho de simplicidade, de humildade, de fidelidade na vida do dia-a-dia em

 

que era uma irmã Carmelita como qualquer outra, fazia tudo. Ela ia à oração, recreio, às refeições, trabalhava como qualquer irmã e o esforço era mesmo esse para que fosse considerada uma Carmelita como as outras. Não queria nada de especial, não queria nada de particularidades. E, portanto, era muito humilde, o testemunho dela nesse sentido era muito importante para mim porque podia ter tudo humanamente falando, até mesmo de atenções e ela fazia o mais que podia para passar despercebida.

Ao longo destes nove anos fui recolhendo muitas coisas bonitas, muitos exemplos, as histórias que contava, muitas estão escritas nos livros dela, as ‘Memórias da Irmã Lúcia’, mas contados por ela tinham outro significado, tinham outro sabor. É algo que recordo muito e vai ficar sempre muito marcado.

 

 

 

 

AE – As irmãs insistiam muito com ela para recordar história…

AS – Sim, principalmente nós as mais novas, fazíamos-lhe muitas perguntas e respondia sempre com muita simplicidade e alegria. Não fazíamos propriamente perguntas sobre as Aparições mas sobre a família, a relação que tinha com a Jacinta e o Francisco. Sobre como eram as coisas naquele tempo, e também sobre quando esteve nas Doroteias - como era a vida lá - e muitos episódios que tinha e que recordava com uma memória excelente, porque se lembrava de tudo ao pormenor. 

 

Quando começava a falar da família, por exemplo, lembrava a casa onde nasceu e sabia o que é que estava na gaveta da mesa da cozinha, o que é que estava no quarto. Tinha uma memória fantástica e contava as coisas com muita vida, com muita alegria. De facto, era muito interessante ouvi-la falar, cativava, prendia mesmo a atenção.

 

AE – Era uma irmã como outra qualquer na comunidade mas não havia a tentação de a mimar de forma especial?

AS – Da nossa parte havia um 

 

 

 

 

bocadinho. Nós não podíamos deixar de a ver como uma pessoa especial mas da parte dela havia certa manha, digamos assim, para passar despercebida, não querer essas atenções. E muitas vezes pude ver isso. Sempre que podia a atenção dela era para as outras irmãs. Inclusive, quando vínhamos ao locutório com alguma família da nossa relação mais próxima ou com algum sacerdote, que se justificasse. Ela não vinha ao locutório, como é natural com qualquer pessoa, mas quando a comunidade vinha, ela vinha ou até mesmo quando vinham os cardeais, era uma situação que acontecia muitas vezes vinham a Fátima celebrar no 13 de maio e de outubro, 

 

e depois vinham ao Carmelo visitá-la. Nestes momentos em que estava a comunidade toda e as atenções centravam-se sobre ela, sabia dar a volta ao assunto e começar a falar da comunidade ou qualquer outro assunto que puxasse a atenção e desviasse a atenção dela para outro lado.

Ela não deixava ser muito mimada, tinha de aceitar certas atenções como esta dos cardeais virem ao Carmelo de Coimbra de propósito para a ver, não vinham ver mais ninguém mas ela queria estar sempre acompanhada da comunidade. Tinha este sentido de fazer parte da Igreja e de uma comunidade concreta.

 

 

 

 

AE – Uma vez veio um ator de cinema…

AS – Sim, tivemos a visita do Mel Gibson, que foi de facto uma novidade muito grande. Ela não tinha a noção de quem era o Mel Gibson, como qualquer um de nós tem porque o conhece do cinema, mas viu o filme porque o Mel Gibson teve essa atenção de mandar uma pessoa que colaborou muito de perto com ele e antes do filme sair nos cinemas pudemos ver o filme no Carmelo. Toda a comunidade e a irmã Lúcia estava presente, naturalmente.

Depois, o Mel Gibson quis vir pessoalmente passado algum tempo.

Quis estar com a irmã Lúcia, falar com a comunidade e foi muito interessante 

 

porque também ai vemos uma pessoa, que é tão conhecida, estava quase que emocionado a falar com a irmã Lúcia que esteve com a sua naturalidade como sempre se comportava.

Tanto faz ser um cardeal, uma pessoa conhecida como uma pessoa muito simples, para a irmã Lúcia o tratamento que tinha era igual. Ela tanto dava atenção a uma pessoa muito humilde, Por exemplo, quando ia votar tinha sempre muita gente à volta dela ou quando foi a Fátima no ano 2000 tanto podia ouvir uma pessoa que não sabia quem era, completamente anónima como depois podia ouvir uma pessoa importante e que se dirigisse a ela. A atenção com aqueles que se dirigiam a ela era 

 

 

 

completamente igual.

As cartas que recebia não fazia distinção se era uma pessoa humilde que mal sabia escrever ou se era um rei ou qualquer outra pessoa porque recebia cartas de governantes, ministros de cardeais, bispos, de todo o mundo e não fazia diferença. Aqueles que precisavam dela recorriam a ela, pediam a oração e isso era o mais importante. Ela estava lá a dar a palavra e o conselho que pudesse e soubesse a quem mais precisava.

 

AE – Talvez nesse dia a irmã Lúcia tivesse ficado muito espantada com o interesse das suas irmãs virem todas ao locutório?

AS – Pois foi, exatamente, até porque 

 

 

ela não vinha com muita naturalidade e nós dissemos: “Vai irmã Lúcia, vai” e ela “mas porquê?”

Acho que foi muito importante mais do que para nós que foi mais uma visita. Eu pessoalmente, e nós as mais novas nunca esperávamos ver o Mel Gibson e a esposa que na altura veio com ele. Para a irmã Lúcia foi só mais uma visita.

Para ele é que ficámos muito admiradas como foi importante, notava-se perfeitamente que ele estava emocionado. Aliás, segundo o que soubemos ele veio a Portugal de propósito para vir ao Carmelo de Coimbra e foi embora num avião particular. Veio da América a Portugal para ver a irmã Lúcia o que significa muito.

 

AE – Talvez nesse dia a irmã Lúcia tivesse ficado muito espantada com o interesse das suas irmãs virem todas ao locutório?

AS – Pois foi, exatamente, até porque ela não vinha com muita naturalidade e nós dissemos: “Vai irmã Lúcia, vai” e ela “mas porquê?”

Acho que foi muito importante mais do que para nós que foi mais uma visita. Eu pessoalmente, e nós as mais novas nunca esperávamos ver o Mel Gibson e a esposa que na altura veio com ele. Para a irmã Lúcia foi só mais uma visita.

Para ele é que ficámos muito admiradas como foi importante, notava-se perfeitamente que ele estava emocionado. Aliás, segundo o que soubemos ele veio a Portugal de propósito para vir ao Carmelo de Coimbra e foi embora num avião particular. Veio da América a Portugal para ver a irmã Lúcia o que significa muito.

 

AE – Ajudou-a no seu percurso vocacional e depois um dia cruzou-se aqui com a irmã Lúcia?

AS – A irmã Lúcia foi um dos vários instrumentos que Deus se serviu para mostrar que o meu caminho era o Carmelo, era a vida contemplativa. Eu pensava mais na vida missionária, ir para África ou para outro país era mais o meu sonho. Entretanto, vim a Coimbra fazer um retiro vocacional em que nos falaram das várias vocações em que nós não percebíamos o que era a vida contemplativa. Era a única vocação que ninguém compreendia.

Decidimos vir ao Carmelo falar com uma irmã e disse-nos entre várias coisas que a irmã Lúcia estava aqui. Foi quando fiquei a saber onde estava a vidente de Fátima e que ela recebia muitas cartas mas que não podia responder a todas porque a idade e as limitações não permitiam. Além disso era muita a quantidade de correspondência.

Fui para casa e pensei “oh, vou escrever à irmã Lúcia”. Era aquele desejo que tinha desde pequenina de falar com a irmã Lúcia. Entretanto, pensei vou escrever mas não vou ficar à espera de resposta porque não vem. Para minha surpresa na semana 

 

a seguir tinha uma carta escrita à máquina, como já escrevia, e assinada.

Foi importante não só por ser da irmã Lúcia mas pelas palavras que ela escrevia, falava um bocadinho da vida no Carmelo e dizia que se quisesse podia passar um tempo com as irmãs e ver como era esta vida. Uma coisa é contar como é outra é viver. Eu aceitei o desafio e vim nas férias do verão porque estava a estudar, só tinha 17 anos.

O primeiro grande impacto foi conhecer a irmã Lúcia, aquela grande emoção e além disso toda a comunidade. Depois foi ouvir e começar a viver esta vida lado a lado com a irmã Lúcia mas também com uma comunidade que vivia uma vida Carmelita de silêncio e oração.

Gostei muito, foi muito importante pelo que decidi passado um ano, quando fiz 18 anos, vir. A irmã Lúcia acompanhou-me quer pelas cartas, quer pessoalmente. Ela passava por mim, é uma imagem que hei de recordar sempre, no corredor ou em algum sítio e perguntava: “Está feliz?”

Era um perguntar interessado, porque se preocupava. Notava que a atenção dela, o carinho era específico, era especial. Isso também guardo com muito carinho e depois as conversas 

 

 

 

 

 

 

que tínhamos porque por ordem médica tinha todos os dias que dar um passeio para que as pernas não deixassem de trabalhar. Com a idade ia tendo muitas dores nas pernas e nós íamos todos os dias lá fora, ao jardim, temos uma rua muito grande até uma imagem muito bonita do Coração Imaculado de Maria e a irmã Lúcia todos os dias ia e vinha fazer esse passeio.

 

 

Cada dia ia uma irmã com ela e nesses passeios ia-se abrindo connosco de uma forma diferente, confidencializando certas passagens da vida dela, conselhos e são momentos que cada uma de nós recordará os seus com muito carinho e ficará sempre muito marcado e foi essa mensagem que nos foi deixando para além da sua vida toda.

 

 

 

 

AE – Depois recebeu uma tarefa difícil…

AS – Exaustiva, digamos assim… (risos)

 

AE – …exatamente, como é que foi este trabalho?

AS – Deus faz tudo muito bem feito. Primeiro precisou de mostrar que realmente a irmã Lúcia era uma pessoa dentro daquilo que nós podemos dizer que viveu a santidade. Uma pessoa que viveu segundo a vontade de Deus, com fidelidade, e quase que vi isso com os meus olhos, toquei com as minhas mãos, vi com

 

 

 os meus olhos. Isso ajudou muito, depois, quando me confiaram esse trabalho do processo de beatificação da irmã Lúcia na parte que competia ao Carmelo de Santa Teresa, que foi onde ela viveu, ajudou-me muito a não desanimar e a sentir-me às vezes com vontade de deixa lá, isto não interessa porque nós já temos o nosso trabalho. Temos o nosso horário bastante apertado e o trabalho da causa da beatificação foi muito sobrecarregante. E, nós queríamos fazer tudo depressa mas começamos a perceber que não podia ser tão 

 

 

 

depressa como queríamos.

Compilar todas as cartas, nós tínhamos as malas de correspondência que a irmã Lúcia foi recolhendo por ordem dos superiores, sobretudo depois dos anos 80. Ela começou a guardar a correspondência que lhe era dirigida porque era um testemunho de fé das pessoas em Nossa Senhora de Fátima e na oração da irmã Lúcia porque estas cartas essencialmente são pedidos de oração.

Entretanto essas cartas foram sendo guardadas em malas, perto de 70 malas, que tivemos de abrir. Cada mala tem milhares de cartas que tivemos de passar uma por uma e ver as que interessavam e não interessavam. Nalgumas a irmã Lúcia deixou a cópia da resposta que tivemos de recolher para transcrever, arquivar, foi um trabalho muito complexo e exaustivo.

 

AE – Também estavam lá as suas?

AS – Também estavam lá as minhas, exatamente. Foi emocionante encontra-las lá.

Todo este trabalho e, claro, não se entende que tratar o processo de beatificação de uma pessoa que viveu quase cem anos não podia ser tão rápido como o processo de beatificação de uma pessoa que morreu jovem. E, depois, a irmã Lúcia  

 
 

teve muitos contactos, muitos acontecimentos na vida dela. Nós íamos explicando às pessoas.

Havia muitas pessoas que diziam que estava a demorar muito tempo e queriam mais depressa porque não tinham dúvida que a irmã Lúcia é santa e dizíamos que também não temos dúvidas. Nunca houve nenhum problema nesta fase do processo diocesano, recolha dos escritos, nunca houve nada que dissesse que o que a irmã Lúcia deixou escrito é um problema. Não, nunca houve nada.

Houve, simplesmente, uma preocupação muito grande da nossa parte, de todos que trabalharam para que as coisas fossem bem-feitas. As pessoas devem entender que foi demorado tanto quanto, porque há processos muito mais demorados, todos – Carmelo de Coimbra, comissão histórica, postuladores, Santuário de Fátima – trabalhamos muito para que chegássemos a esta altura e poder dizer: “O trabalho está muito bem feito. A irmã Lúcia foi realmente bem-apresentada, vai bem testemunhada e vai para Roma com tudo o que devia ir e como devia ir.”

Nós temos a certeza que o processo vai chegar a Roma e vai ter um bom acolhimento, vai ter meio caminho andado porque vai bem-feito.

 

 

 

 

AE – Nessas cartas também estão muitas graças obtidas por intermédio da irmã Lúcia?

AS – Sim, as graças começaram a vir depois da morte da irmã Lúcia. Exatamente no dia em que morreu, pessoas que vieram aqui rezar diante da irmã Lúcia e começaram logo a pedir graças. Não fizemos nada para isso. As pessoas por sua iniciativa é que começaram a escrever a dizer que rezaram à irmã Lúcia e receberam esta ou aquela graça e nós começamos a arquivar as cartas. São mais de mil e não só de Portugal mas de todo o mundo, temos recebido de todos os continentes comunicações de graça, por mail, através do site da irmã Lúcia onde algumas pessoas têm deixado

 

 

a comunicação das suas graças e depois por carta que é a maior parte.

 

AE – Alguma dessas graças têm potencial para chegarmos à beatificação?

AS – Temos tido tanto trabalho que ainda não tivemos tempo para nos preocuparmos com isso. Esta fase até agora, de terminar o processo diocesano foi muito exaustiva e o mais importante era mesmo recolher os escritos, trata-los, prepará-los, tudo.

Depois a parte do milagre virá a seguir quando for tratada as virtudes heroicas mas, sem dúvida, que muitos desses casos podem vir a ser considerados como milagres.

Há pessoas que afirmam que

 

 

 

tiveram um milagre da irmã Lúcia, nós não duvidamos que seja um milagre, a dificuldade vai ser provar que foi um milagre. Isso será um trabalho que faremos depois no futuro porque até agora ainda não se põe essa questão.

 

AE – As muitas cartas eram essencialmente cartas para a irmã Lúcia. As respostas não as tinham e tiveram de as pedir?

AS – Sim, também tivemos de contactar as pessoas que provavelmente teriam resposta. Havia sobretudo famílias de mais intimidade com a irmã Lúcia com que se relacionava, e vinham cá pessoalmente, e tivemos de pedir a essas famílias, pessoas, a fotocópia para termos acesso sendo que  

 

nenhum conteúdo seria divulgado. Não é isso que interessa, para já é a compilação do espólio da irmã Lúcia, das cartas. Foi preciso contactar imensas pessoas, ir a muitos sítios, inclusive à Torre do Tombo, onde havia cartas da irmã Lúcia para o Salazar e temos cá as do Salazar para a irmã Lúcia. Aliás, no memorial está exposta uma. E a outra personalidade com quem a irmã Lúcia teve contacto.

 

AE – O Salazar pediu conselhos?

AS – Não, o Salazar não. O assunto foi a restauração do Carmelo de Coimbra porque quando a irmã Lúcio veio o Carmelo estava a ser restaurado e ele era o presidente. Naturalmente, a irmã Lúcia foi encarregue de contactar e pedir licença para construir os 

 

 

 

 

muros, restaurar o convento que estava muito degradado depois da saída dos soldados. E obteve essa licença, foi esse o contacto que teve com ele.

 

AE – Depois deste trabalho, agora que o processo vai para Roma, a 

 

 

comunidade ficou mais rica e passou a conhecer melhor a irmã Lúcia?

AS – Sem dúvida, que foi conhecer ainda melhor a irmã Lúcia. Acho que ainda há muita coisa a conhecer e é importante que haja mais pessoas a estudar a vida, a mensagem, a obra porque, no fundo, Nossa Senhora 

 

 

 

 

 

confiou-lhe uma missão muito importante de divulgar a mensagem de Fátima.

A Jacinta e o Francisco foram testemunhas, a irmã Lúcia foi a mensageira. Era a que deu a conhecer ao mundo o que Nossa Senhora disse, foi o trabalho de uma vida inteira. É curioso ver que foi sobretudo aqui no Carmelo “fechada” que mais trabalhou pela divulgação da mensagem e Fátima. Foi aqui que conseguiu levar a mensagem de Nossa Senhora mais longe, fazer mais.

Inclusive, a primeira imagem do Coração Imaculado de Maria, que foi um dos grandes desejos que teve desde o início, só conseguiu ser realizada depois da irmã Lúcia estar aqui no Carmelo. Antes, quando esteve em Tui (Espanha), já tinha tentado mas nunca tinha sido possível.

E, depois, todo o trabalho dela de correspondência foi muito em benefício da mensagem e Fátima. Dar a conhecer o que Nossa Senhora pediu, o que é essencial da mensagem foi o trabalho de uma vida que desenvolveu a partir do silêncio e do escondimento da clausura, aparentemente não fazendo nada mas fazendo muito.

 

AE – Esta comunidade tocou-a com 17 anos. Hoje continua porventura a 

 

tocar outras jovens. Há potencial para atrair vocacionalmente outras jovens no mundo atual digital, virtual. Continua a fascinar?

AS – Em cada tempo Deus tem a sua maneira de chamar e de tocar as pessoas. Neste momento, temos duas jovens na formação, uma comunidade de 19 irmãs que é boa, bem constituída. Temos irmãs mais novas, mais velhas, é preciso tudo como numa família.

Essencialmente, quem toca os jovens é Deus, faz o chamamento. Podemos apresentar uma comunidade muito bonita mas se Deus não toca, se não dá a vocação isso não importa. O importante é que cada um sinta se está ou não vocacionado para esta missão.

Apesar de tudo, das dificuldades que há na nossa sociedade, os jovens continuam a ser generosos e continuam a ouvir o chamamento de Deus. Não podemos dizer que é uma quantidade muito grande mas o que importa é a qualidade. Os poucos que vão respondendo que sejam generosos e venham com o coração inteiro para se entregarem é o mais importante.

A quantidade não é tão importante embora vá sendo necessária. O mais importante é que Deus vai continuando a chamar e os jovens vão continuando a ouvir.

 

 

 

AE - A Irmã Lúcia, nas cartas que escrevia, também se familiarizou com as novas tecnologias?

AS - Uma das necessidades que a Irmã Lúcia sentiu, para conseguir responder a mais pessoas, foi criar um método mais eficaz. Escrever à mão não era nem prático nem viável, para certas pessoas, porque ela tinha de se privar um pouco. Uma das coisas a que ela recorreu desde muito cedo foi uma máquina de escrever, muito 

 

 

rudimentar, a primeira, que está exposta no memorial. Mais tarde, ofereceram-lhe uma máquina melhor, a que ela chamava uma máquina de escrever computorizada, porque de facto tinha um ecrã, era ligada à eletricidade, tinha memória, e já lhe permitia apagar, quando se enganava. Ela achou que isso lhe facilitou muito o trabalho e foi muito bom.

Mais tarde ainda, quando eu já cá 

 

 

  

 

 

 

estava e já tínhamos computador, como nós falávamos muito do computador, ela um dia pediu à madre se podia saber como é que o computador trabalhada. E disse: se 

isto me ajudar na correspondência, eu ainda aprendo. Era muito interessante ver na Irmã Lúcia esta abertura de mente, até aos 90 anos, esta abertura de espírito. Nada a travava quando se tratava de ajudar os outros.

 

 

 

AE - Não chegou a responder por mail?

AS - Não chegou a responder por mail, não (risos). Mas eu chegue a mostrar-lhe o computador, expliquei como é que funcionava, sobretudo a parte do word. Ela ouviu tudo com muita atenção e no fim disse: “isto até é bom, mas praticamente faz o mesmo que faz a minha máquina. Como eu já sei trabalhar com a máquina, deixa-me ficar…”. Era muito prática, tinha um sentido muito prático da vida.

 

 

Lúcia, a memória de Fátima

A Irmã Lúcia foi testemunha viva das aparições que fizeram de Fátima o “Altar do Mundo”. Os relatos que escreveu das aparições de Nossa Senhora, os “segredos” revelados pela “Virgem vestida de branco” e a vida em clausura daquela que vira e dialogara com Nossa Senhora em muito contribuíram para transformar a Cova da Iria num local de expressão de fé, num espaço de sintonia com o transcendente, num destino de diferenciadas peregrinações e de todo o mundo.

Lúcia de Jesus dos Santos nasceu a 22 de março de 1907, no lugar de Aljustrel, próximo de Fátima. Aos 10 anos foi uma dos três Pastorinhos a ter visto, pela primeira vez, Nossa Senhora na Cova da Iria. Estava com dois primos, Jacinta e Francisco Marto, que morreram pouco tempo após o ano das aparições: no próximo dia 20 assinala-se o 85.º aniversário da morte de Jacinta, e Francisco faleceu a 4 de abril de 1914.

Ambos já foram beatificados pelo Papa e corre para o fim o processo de Canonização. Nossa Senhora disse, numa das aparições, que a mais velha dos videntes ficaria neste mundo "mais algum tempo".

 

Em 17 de junho de 1921, a Irmã Lúcia entrou, como aluna, no colégio das Irmãs Doroteias em Vilar, Porto. Decidida a ser religiosa doroteia iniciou o postulantado, em Pontevedra (Espanha), em 1925. No dia 2 de outubro de 1926 deu início ao noviciado em Tuy. Professou no dia 3 de outubro de 1928 em Tuy e ali permanece uns anos.

Em 1934 voltou para a comunidade de Pontevedra. Em 1937 voltou de novo para a comunidade de Tuy. Em 1946 regressou a Portugal para ser integrada na Casa do Sardão, em Vila Nova de Gaia.

Por ordem do bispo de Leiria, D. José Alves Correia da Silva, Lúcia escreveu as suas “Memórias”: Primeira Memória, em dezembro de 1935 (sobre a Jacinta); Segunda Memória, em 21 de novembro de 1937 (Aparições do Anjo-Imaculado. Coração de Maria); Terceira Memória, em 31 de agosto de 1941 (as 2 partes do segredo: visão do Inferno e devoção ao Imaculado Coração de Maria); Quarta Memória, em 8 de dezembro de 1941 (sobre o Francisco e descrição pormenorizada das Aparições do Anjo e de Nossa Senhora).

 

 

 

 

A pedido do reitor do Santuário, Mons. Luciano Guerra, a Irmã Lúcia escreve outras duas memórias (sobre o pai e sobre a mãe). Através destas memórias ficamos a saber que foi ela a interlocutora com a Virgem, tendo assumido como missão divulgar a sua mensagem.

Nossa Senhora voltou a aparecer-lhe, pedindo que concretizasse os seus pedidos, em 26 de agosto de 1923, no Asilo de Vilar, no Porto; a 10 de dezembro de 1925, em Pontevedra, 

 

 

Espanha (revelação dos primeiros sábados); a 13 de junho de 1929, em Tuy, Espanha, (Nossa Senhora pede a consagração da Rússia); em fins de dezembro de 1927, a Irmã Lúcia escreve a descrição da Aparição do Menino Jesus que teve lugar em Pontevedra, no dia 15 de fevereiro de 1926.

 

Em 25 de março de 1948 entrou para o Carmelo de Santa Teresa em Coimbra. Em 13 de maio de 1948 tomou o

 

 

 

 

hábito de Carmelita e professou em 31 de maio de 1949. Voltou a Fátima a 13 de maio de 1967 no Cinquentenário das Aparições, a pedido do Papa Paulo VI, e nas três peregrinações do Papa João Paulo II (1982, 1991, 2000).

A Irmã Lúcia morreu no dia 13 de fevereiro de 2005 e foi sepultada no Carmelo de Coimbra; o seu corpo foi trasladado para a Basílica do Rosário

 

 de Fátima no dia 19 de fevereiro de 2006, onde foi tumulado ao lado da sua prima, a vidente Beata Jacinta Marto.

A 13 de fevereiro de 2008, o cardeal Saraiva Martins anunciou em Coimbra que o agora Papa emérito Bento XVI tinha decidido antecipar o início do processo de beatificação da Irmã Lúcia, após aceitar o pedido de dispensa do período de espera de cinco anos 

 

 

 

 

após a morte, determinado pelo Direito Canónico.

Uma situação semelhante apenas acontecera, em anos recentes, com os processos de Madre Teresa de Calcutá e do Papa João Paulo II.

Concluída a fase diocesana do processo de beatificação, é elaborada a ‘positio’, um compêndio dos relatos e estudos realizados pela comissão jurídica, por um relator nomeado pela Congregação para a Causa dos Santos (Santa Sé).

Aos bispos diocesanos compete o direito de investigar acerca da vida, virtudes e fama de santidade, milagres aduzidos, e ainda, se for o caso, do culto antigo do fiel, cuja canonização se pede.

Este levantamento de informações é enviado à Santa Sé: se o exame dos documentos é positivo, o “servo de Deus” é proclamado “venerável”.

A segunda etapa do processo consiste no exame dos milagres atribuídos à intercessão do “venerável”; se um destes milagres é considerado autêntico, o “venerável” é considerado “beato”.

Quando após a beatificação se verifica um outro milagre devidamente 

 

reconhecido, o beato é proclamado “santo”.

A canonização, ato reservado ao Papa, é a confirmação por parte da Igreja de que um fiel católico é digno de culto público universal (no caso dos beatos, o culto é diocesano) e de ser dado aos fiéis como intercessor e modelo de santidade.

 

 

 

Irmã Lúcia de Jesus mais perto da beatificação

A fase diocesana do processo de canonização da Irmã Lúcia de Jesus (1907-2005), uma das três videntes de Fátima, chegou ao fim, passando agora para a competência direta da Santa Sé e do Papa.

A sessão solene de clausura da fase do Inquérito Diocesano do Processo de Beatificação e Canonização da Serva de Deus Lúcia de Jesus vai ter lugar a 13 de fevereiro, no Carmelo de Santa Teresa de Coimbra.

Cada processo de canonização é composto por uma fase diocesana e outra romana. A que agora termina foi constituída pela recolha e estudo teológico dos inúmeros documentos escritos pela Irmã Lúcia: os livros publicados, o seu diário a que deu o título ‘O meu Caminho’, a vasta documentação epistolar e outros documentos inéditos. Simultaneamente, foram ouvidas várias pessoas que com ela conviveram e cujo testemunho nos forneceu dados fundamentais para traçar o perfil da vida e das virtudes da religiosa carmelita que foi, um dia, vidente de Fátima.

 

 

Todo este material, juntamente com os documentos relativos à sua fama de santidade, seguirá agora para a Congregação para as Causas dos Santos, no Vaticano, onde se iniciará a fase romana deste processo, em que se estudará a vida e as virtudes da Irmã Lúcia.

Se, em conclusão desse estudo, 

 

 

 

 

se reconhecer na Irmã Lúcia o perfil de quem viveu a configuração com Cristo, o processo será apresentado ao Santo Padre que assinará o Decreto da Heroicidade das Virtudes, proclamando-a venerável. Se assim acontecer, ficará depois a faltar a aprovação de um milagre para a Beatificação e de um outro para a Canonização, terminando assim este processo.

A irmã Lúcia de Jesus (1907-2005) viveu 57 anos de vida carmelita e encontra-se sepultada na Basílica

 

 

 de Nossa Senhora do Rosário, no Santuário de Fátima, desde 2006.

A Sessão de Clausura é aberta à participação dos fiéis, e está marcada para o próximo dia 13 de fevereiro no Carmelo de Santa Teresa, em Coimbra.

Com início às 17h00 com a sessão de clausura, segue-se uma missa de ação de graças. À noite, pelas 21h30, terá lugar o concerto “O meu caminho”, com o Coro Sinfónico Lisboa Cantata, o Coro Infantil do Conservatório Regional de Coimbra e a Orquestra Clássica do Centro, na Sé Nova de Coimbra.

 

 

A parte inicial da causa de canonização da Irmã Lúcia começou em 2008, três anos após a sua morte, depois de o agora Papa emérito Bento XVI ter concedido uma dispensa em relação ao período de espera estipulado pelo Direito Canónico (cinco anos).

Nesta fase diocesana trabalharam a tempo inteiro cerca de três dezenas de pessoas, 18 delas teólogos e 8 elementos na Comissão histórica.

 

 

 

 

 

Irmã Lúcia, uma clausura «absolutamente atenta» à Igreja e ao mundo

O bispo da Diocese de Coimbra destacou que a irmã Lúcia apesar de pertencer a uma ordem religiosa de clausura era uma mulher “absolutamente atenta” ao que se passa na Igreja e no mundo.

“Destacaria uma fé integrada, uma fé inserida, uma fé contextualizada na vida do Carmelo, da Igreja e na realidade do mundo”, disse à Agência ECCLESIA.

D. Virgílio Antunes considera “muito interessante” a ligação da vidente de Fátima e o seu coração “a palpitar com o coração da Igreja” porque uma Carmelita, “uma mulher encerrada dentro dos muros de um convento” podia viver uma espiritualidade mais pessoal, intimista, “alheia à realidade da Igreja ou até à realidade do mundo”.

No caso da irmã Lúcia acontece o contrário e a religiosa esteve atenta ao que se passa na Igreja e conhece a realidade das nações, “as alegrias e as tristezas, os problemas e as grandezas”. O prelado explica que tem a sua “própria perspetiva” que procura ler a partir “da fé, da Sagrada 

 

Escritura”, da dimensão espiritual da sua vida.

“É uma mulher que está plenamente inserida dentro das circunstâncias próprias naturalmente em que se passa a sua vida”, refere.

Para o bispo de Coimbra a “humildade” é outra característica a destacar, uma vez que, “não é fácil”, nem simples, uma pessoa que está no mundo com a “marca tão forte” de ter sido a vidente de Fátima, um dos três pastorinhos, saber situar-se em todos os momentos no seu lugar com “o grau de humildade que se espera”.

D. Virgílio Antunes espera que o mundo continue a descobrir a partir dos textos já publicados e de outros que poderão vir a ser publicado outros aspetos e facetas da prima de Francisco e Jacinta Marto, como a “capacidade de se sentir alegre”, porque era uma mulher feliz e dentro das paredes do convento tinha um “sentido de humor” que foi realçado pelas testemunhas.

“Tinha a capacidade de ver as coisas não só com aquele ar sério e austero de quem vê problemas mas também 

 

 

 

vê alegrias. De quem é capaz de sorrir de si próprio. É uma personalidade muito rica, muito completa com múltiplas facetas”, assegurou.

 

Guardiã da revelação

A irmã Lúcia, a última vidente das aparições de Fátima a morrer, era uma guardiã da revelação de Nossa Senhora na Cova da Iria em 1917 e “voltava muitas vezes ao acontecimento original”. D. Virgílio Antunes refere que à interrogação sobre o que seria a sua vida sem as aparições e “sem aquela experiência forte” considera que poderia ser, “naturalmente, uma mulher a viver da fé, da sua relação com a Igreja e com o mundo, seria diferente mas com uma profundidade algo semelhante”.

“O seu próprio modo, especifico, de encarnar e viver a fé foi tendo em conta aquele acontecimento da sua 

 

 infância e ficou como marca para a sua vida”, acrescentou.

Sobre o encerramento do processo de canonização do inquérito diocesano sobre a vidente de Fátima em pleno Centenário das Aparições é “coincidência” porque pensaram que era possível ter concluído já em 2016.

O prelado afirma que a fase de reclusão do processo da irmã Lúcia de Jesus na diocese portuguesa “não tem nenhum significado para além disto”, do seu encerramento, porque “tudo o resto” vai depender das instâncias da Santa Sé que vão receber e assumir “a condução do futuro”.

“Felizmente estamos a chegar ao fim e é sempre o tempo oportuno”, observou, acrescentando que ficam  “felizes enquanto diocese” e o Carmelo também enquanto “comunidade que pediu a abertura desta causa”.  

 

 

 

O prelado observa que a vida da irmã Lúcia foi “muito longa” e teve a oportunidade de “viver muitos episódios” e escrever também, o que “alongou em muito” esta fase do processo “sobretudo tendo em conta as expetativas o processo ser uma coisa muito acelerada”.

 

História e testemunhos

A religiosa que escreveu muito, onde se destacam os diários, teve inclusivamente oportunidade de contactar com muitas pessoas numa extensa troca de correspondência com “todo o tipo de pessoas” dentro da sociedade e da Igreja dentro dos limites que a sua condição de freira  

 

 

 “de clausura lhe impunha”.

Segundo o bispo de Coimbra pensaram que seria possível concluir o processo já no ano passado e havia essa disponibilidade desde que “se  

 fizesse um trabalho com todo o rigor, com o profissionalismo que exige” quando se trata de documentos históricos que tiveram de ser transcritos e analisados. “Houve a grande série de trabalhos relacionado com o diário que tiveram de passar pelos sensores teólogos. 

Todos os textos passaram pelas mãos de dois sensores que independentes, sem conhecer os outros, deram o seu parecer sobre a questão da fé, dos 

 

 

 

costumes, se nada nos escritos ou na vida da irmã Lúcia ia contra a Doutrina da Igreja”, desenvolve.

D. Virgílio Antunes adianta ainda que houve um longo trabalho do tribunal que ouviu dezenas de testemunhas, “porventura, mais até do que seriam necessárias”, segundo o desenvolvimento habitual deste tipo de processos. Neste âmbito, refere que o trabalho vai ser enviado para Roma “bem organizado” afinal o processo “foi bem conduzido nesta fase”.

O prelado quando chegou à Diocese de Coimbra, em 2011, informou-se sobre o andamento do inquérito, que o agora Papa emérito Bento XVI tinha dispensado de se esperar cinco anos após a morte da vidente, e tinham sido feitas algumas diligências, nomeada a comissão histórica.

“O trabalho foi ganhando corpo, as pessoas começaram a disponibilizar  

 

  tempo, era necessário muito tempo para agarrar este processo em mãos, e, portanto, houve uma metodologia, um esquema e um programa de trabalho”, explica.

D. Virgílio Antunes conta ainda que sempre procurou acompanhar este tema desde que era presbítero na Diocese de Leiria-Fátima e mais tarde como reitor do Santuário mariano da Cova da Iria mas foi em Coimbra que entrou “em maior profundidade”.

Com outra responsabilidade neste processo, teve oportunidade de ler textos públicos e privados, as memórias, os apelos da mensagem de Fátima, “a questão sobre a sétima aparição”. O bispo diocesano conheceu com “maior profundidade” a vida da irmã Lúcia: “Os seus sentimentos interiores, as virtudes, as relações com Deus, com os outros, com a sociedade, esse grande pacote que é a relação com a Igreja, concretamente com os Papas.”

 

Para o andamento e conclusão da fase diocesano do inquérito, que se encerra esta segunda-feira, dia 13, existiu o recurso a muitas pessoas, “a muitas boas vontades”, porque o prelado “nunca” encontrou “uma hesitação, nem um não”. “Quando se trata da irmã Lúcia as pessoas estão disponíveis para dar o seu contributo porque sabem inclusivamente que tanto no nosso país como fora de Portugal é um nome muitíssimo conhecido”, sublinhou.

O bispo de Coimbra destacou que o nome da vidente de Fátima, “mesmo no estrangeiro”, é “muitíssimo conhecido”, uma das “figuras grandes de referência”.

 

 

Se fosse pelo povo Lúcia já era santa

A vice-postuladora da causa de canonização da Irmã Lúcia falou à Agência ECCLESIA sobre o trabalho desenvolvido, numa altura em que está concluído o processo diocesano relacionado com a vidente de Fátima e a documentação vai ser enviada para Roma.

O processo diocesano da Irmã Lúcia de Jesus (1907 – 2005) teve como objetivo “recolher as provas necessárias para mostrar que, ao longo da sua vida, a vidente de Fátima praticou as virtudes heroicas que se esperam de um santo canonizado, de alguém que pode ser modelo para os outros irmãos na fé”.

Como salientou a irmã Ângela Coelho, vice-postuladora desta causa de canonização, nesta fase não houve a preocupação em identificar um milagre, até porque neste âmbito “é a Santa Sé que se pronuncia”.

No entanto, isto não quer dizer que não tenham sido encontradas, ao longo da investigação, “graças importantes em termos de conteúdo, que poderão eventualmente dar milagres”, salientou a religiosa.

O foco esteve em mostrar em primeiro lugar que esta mulher chamada

 

 Lúcia de Jesus, ao longo da sua vida, deixou no meio das pessoas, do povo de Deus, uma “fama de santidade”.

Outro conceito essencial nesta fase é a “fama dos sinais”, ou seja, provar que através da intercessão da vidente de Fátima “muitas graças foram alcançadas”.

E de acordo com a irmã Ângela Coelho, as evidências encontradas foram “muitas” e até “mais do que as necessárias” para comprovar as virtudes da Irmã Lúcia.

“Aliás muita gente não entende porque se tem de fazer este processo, porque para o povo Lúcia já é santa”, frisou a vice-postuladora.

A fase diocesana da causa de canonização da Irmã Lúcia de Jesus envolveu a análise de dezenas de milhares de cartas que a vidente trocou com pessoas que a questionaram acerca da mensagem de Fátima, nas décadas posteriores às Aparições de Nossa Senhora em 1917 e quando já estava no Carmelo de Coimbra.

Esta troca de correspondência começou entre 1930 ou 1940 e até à sua morte, a 13 de fevereiro de 2005, a Irmã Lúcia “recebeu mais de 70 mil 

 

 

 

cartas e respondeu praticamente a todas”, destaca a irmã Ângela Coelho.

Segundo a religiosa do Instituto Aliança de Santa Maria, tratavam-se sobretudo de “pessoas que dela se aproximavam e às quais ela respondia”.

“Ela tinha autorização para responder às cartas que chegavam, aliás era aconselhada, davam-lhe até esta indicação, de conservar as cartas que vai recebendo, que faz a partir dos 

 

anos 70”, explica aquela responsável.

Antes disso, muitas cartas recebidas foram destruídas, “também por uma questão de proteção de confidencialidade do autor da carta”.

Os dados analisados nesta fase disseram não só respeito à “documentação epistolar da Irmã Lúcia“ mas também ao conteúdo do seu “diário” pessoal.

“Depois ela recebeu a visita de muita gente”, revela a irmã Ângela Coelho,

 

 

 

 

frisando que foram “pelo menos 48 cardeais, muitos bispos, sacerdotes, religiosos e leigos”.

Muitos obtinham autorização através do núncio apostólico (representante da Santa Sé) em Portugal, da Secretaria de Estado do Vaticano ou mesmo do Papa, e a nível mais diocesano através do bispo de Coimbra.

Além de toda esta documentação, a irmã Ângela Coelho recorda que “já 

 

 

está à disposição a edição crítica das memórias da Irmã Lúcia, algo precioso para aprofundar o mistério de Fátima e o seu impacto na vida social em Portugal e no mundo”.

 

«A difusão que a Irmã Lúcia faz da Mensagem de Fátima é extraordinária»

Nascida em Aljustrel a 18 de março de 1907, Lúcia dos Santos, mais tarde 

 

 

 

Lúcia de Jesus quando entrou para a Ordem das Carmelitas Descalças, viveu as Aparições de Nossa Senhora em Fátima com 10 anos.

Um conjunto de acontecimentos que testemunhou em conjunto com dois primos mais novos, os outros videntes conhecidos de Fátima, Francisco e Jacinta Marto.

Até à sua morte, a pouco mais de um mês de fazer 98 anos, a Irmã Lúcia dedicou a sua vida à transmitir às pessoas o que experimentou no encontro com Nossa Senhora e na mensagem que recebeu, mesmo depois de ter entrado para a vida consagrada e de clausura, como religiosa carmelita, em 1949.

“Uma aparente contradição é que, embora fosse uma religiosa carmelita na clausura, e tendo a protegê-la ainda algumas disciplinas por parte da Igreja que a tentaram proteger ao longo destes últimos anos, Lúcia é uma mulher que comunica com muita gente”, recorda a irmã Ângela Coelho.

“A irmã Lúcia nunca esteve distante do mundo, das nossas preocupações, daquilo que é o nosso quotidiano, sempre esteve próxima e qualquer pessoa que lhe escrevesse a relatar uma dificuldade familiar, pessoal, 

 

de trabalho, de saúde, a irmã Lúcia respondia preocupando-se concretamente com essas coisas”, acrescenta.

Segundo a vice-postuladora, “a difusão que a vidente faz da Mensagem de Fátima”, ao longo da sua vida, “sobretudo por carta, por escrita, mas também no contacto pessoal é extraordinária”.

As temáticas são do mais variado possível, desde a mensagem de Fátima à vida concreta das pessoas, na resposta aos pedidos que faziam.

Nos primeiros anos, “sobretudo quando Lúcia ainda escrevia muito livremente”, a prioridade era “difundir o que Nossa Senhora lhe tinha pedido”.

“Era o que ela sabia que, deixe-me expressar assim, agradava ao céu, que Deus gostava, que o deixava feliz, o que dava glória à Santíssima Trindade, portanto esta preocupação com o transcendente, com o sagrado”, recorda a irmã Ângela Coelho.

Uma das grandes “linhas de força” na comunicação da Irmã Lúcia era portanto esta consciência de que ela era “portadora desta mensagem para o mundo, e sozinha uma vez que os primos tinham morrido”.

 

 

 

 

De acordo com a irmã Ângela Coelho, outra prioridade presente nas suas cartas e memórias era a “preocupação sincera pelo quotidiano das pessoas, com as suas dores, com os seus sofrimentos, também com as suas alegrias do quotidiano”.

“Nós temos a Lúcia a alegrar-se com as alegrias das famílias, dos trabalhadores, de profissionais e temos a Lúcia a sofrer e a preocupar-se com problemas de saúde, com aflições e angústias de todo o tipo que lhe chegavam”, conta a religiosa, que realça também a preocupação e a atenção da pastorinha de Fátima aos pormenores.

“Quando alguém lhe conta um problema, a irmã Lúcia reza, da próxima vez é a irmã Lúcia que pergunta sobre essa situação. Vê-se que ela fixa, que guarda e que reza”, complementa.

 

As qualidades que abrem o caminho da santidade

Sobre as caraterísticas da Irmã Lúcia, as qualidades pessoais que foram detetadas também ao longo deste processo diocesano, como forma de atestar as suas “virtudes heroicas”,

 

 a vice-postuladora diz que “ela apontou em primeiro lugar o caminho da fidelidade à vocação e à missão”.

“Tal como com os seus primos, a santidade de Lúcia não está dependente das aparições de Fátima, mas da fidelidade com que respondeu ao dom que o Senhor lhe deu”, aponta a irmã Ângela Coelho, recordando as palavras que o Papa João Paulo II proferiu durante a cerimónia de beatificação de Francisco e Jacinta Marto, a 13 de maio de 2000, no Santuário de Fátima.

Na opinião da religiosa do Instituto Aliança de Santa Maria, esta “fidelidade à vocação, à missão, ao dom de Deus”, é mesmo “o primeiro sinal de que a Irmã Lúcia irá ser modelo” para os outros, na fé.

Um exemplo de vida que, para a mesma responsável, também pode ser modelo para todos quantos abraçam hoje a vida consagrada.

 “Não apenas porque foi fiel mas porque foi fiel durante muito tempo e este ser fiel no tempo, em 97 anos, é um sinal de esperança e de encorajamento para aqueles de nós que também formos vivendo assim”, defende a irmã Ângela Coelho.

Outras três qualidades importantes 

 

 

 

em Lúcia, para a vice-postuladora, são a sua capacidade de obediência, a sua humildade e a sua alegria.

“Sabemos que teve as suas dificuldades, teve os seus momentos onde não foi fácil, mas a Lúcia escolheu sempre o caminho da obediência, de obediência à Igreja, uma caraterística também de todos os santos”, acentuou.

No que toca à humildade, a irmã Ângela Coelho nota que Lúcia teve “o dom extraordinário” de perceber, no meio da “quantidade de pessoas que a

 

 procuravam”, que não era ela o centro das atenções mas sim “Nossa Senhora”.

Ou seja, ela conseguiu sempre “referir toda a ação, todo o bem a Deus e não a ela”, apresentou-se “sempre” como “instrumento e não protagonista da história da salvação”.

“Isto é uma caraterística cada vez mais importante. Numa época onde tanto se deseja o protagonismo, a irmã Lúcia aponta-nos a humildade, e que diante de Deus somos todos instrumentos, e que na medida em que formos dóceis instrumentos a ação de Deus se realiza”, assinala a vice-postuladora.

 

 

Quanto à terceira qualidade, da alegria, a irmã Ângela Coelho releva o “sentido de humor” da vidente de Fátima, um traço da sua personalidade que sobressaia mesmo em “momentos muito difíceis” e independentemente do contexto, quer estivesse a falar “sobre si, das circunstâncias ou sobre o agir de Deus”.

 

Trabalhar «noite dentro» para que nada falhe

Depois de concluída a fase de investigação a nível diocesano, a irmã 

 

Ângela Coelho está agora a coordenar a construção formal do processo, de modo a que ele possa ser enviado depois para a Santa Sé, para ser analisado pela Congregação para as Causas dos Santos.

A vice-postuladora destaca a importância de cumprir “com todas as formalidades jurídicas” e todas as “exigências” definidas pela Igreja Católica.

Para Roma vai seguir um processo composto por mais de 15 mil páginas, que têm de estar todas carimbadas e numeradas.

 

 

 

 

“Temos de fazer duas fotocópias, um será o chamado ‘transunto’ e a outra será uma cópia pública, esta sim enviada para Roma. Tem que estar tudo controlado, saber que não falha

 nem um número nem uma fotocópia nem um carimbo, porque em Roma a primeira análise que irão fazer não será tanto ao conteúdo dos documentos mas à forma como o processo está apresentado”, frisa a irmã Ângela Coelho.

O trabalho de compilação do material está a envolver várias copistas e irmãs da Aliança de Santa Maria que se voluntariaram para esta missão.

De acordo com a irmã Ângela Coelho, todos os elementos têm “trabalhado pela noite dentro para que tudo se apresente de acordo com as indicações da Congregação das Causas dos Santos”.

A burocracia é substancial, na elaboração de um processo desta natureza, mas para a vice-postuladora era não é só “necessária” mas também “uma questão de justiça, para com a irmã Lúcia” e “para com a verdade que a Igreja tem de defender”.

Por um lado, está em causa a vida da irmã Lúcia, “batizada, cristã, consagrada”, e por outro “um pronunciamento da Igreja, com 

 

certeza, acerca da santidade de um dos seus membros”, e “esta verdade tem que ser investigada”, aponta a mesma responsável.

Apesar de considerar “extemporâneo” abordar a hipótese de o processo seguir para a beatificação, a irmã Ângela acredita que o processo contém provas que “no futuro poderão ser submetidas a uma investigação mais profunda” e chegar a esse “desejado” desfecho.

No entanto, “primeiro” tem que vir de Roma “uma primeira manifestação jurídica de que o processo foi feito validamente”, de acordo com as tais regras definidas”.

“Só depois é que vai ser construída a positio (nr. avaliação da documentação), é que haverá o decreto de validade, o decreto de heroicidade das virtudes e só depois do decreto de heroicidade das virtudes é que pode entrar o milagre ou o estudo de um presumível  milagre. Estamos a falar de um tempo muito dilatado”, frisa a vice-postuladora.

 

«Vida dos pastorinhos é um excelente instrumento de evangelização»

 A par deste empenho na concretização do processo de 

 

 

 

beatificação de Lúcia, e do processo de canonização dos Beatos Francisco e Jacinta, a irmã Ângela Coelho destaca a importância de “potenciar” a vida e o exemplo dos pastorinhos de Fátima enquanto recurso pastoral da Igreja Católica, a começar na relação com as crianças.

Para aquela responsável, “ainda se pode fazer muito mais” nesse sentido, “junto dos mais novos e dos agentes da pastoral, responsáveis, sacerdotes, catequistas”.

“Desde a receção dos sacramentos, a forma como os pastorinhos receberam a comunhão da parte do Anjo, como viviam toda a questão da adoração eucarística, é um potencial evangelizador muito grande. E temos recebido convites para falar com crianças que se preparam para a primeira comunhão e é um impacto tremendo, porque basta dizer a idade dos pastorinhos que eles logo se identificam”, conta a religiosa.

 

A vice-postuladora acredita que também na pastoral ligada a Nossa Senhora, “a Maria como mãe da Igreja, como mãe de cada um na vida espiritual, na própria oração, da dimensão quotidiana de vida da  

 

oração”, o exemplo dos três videntes de Fátima pode ser uma grande mais-valia junto dos mais novos.

E também esta dimensão da pertença à Igreja, uma pertença responsável, que se for trabalhada desde a infância creio que até pode de alguma forma evitar aquilo que nós constatamos que é, após o crisma, abandona-se a vida da Igreja”, sustenta a irmã Ângela Coelho.

A dimensão familiar é outro aspeto que pode ser trabalhado através da vida de Francisco e Jacinta Marto e da Irmã Lúcia, na opinião desta consagrada, que lembra que “eles são o que são pela família que tiveram”, foi na família que aprenderam “os primeiros e principais valores humanos e cristãos, por exemplo o amor à verdade”.

A religiosa das Irmãs da Aliança de Santa Maria recorda o exemplo “extraordinário do pai de Francisco”, que “acredita que as Aparições ocorreram porque vai perguntar ao filho se é verdade” e sabe que sim porque “o seu Francisco não mente”.

“O amor à verdade, sabemos que hoje pode ser trabalhado nas famílias, a questão da união familiar, por exemplo em termos de oração em comum,

 

 

 

 

foi nas famílias que os  pastorinhos aprenderam a rezar e a família rezava junta”, diz a irmã Ângela Coelho, para quem é fundamental que as famílias “não se demitam do seu papel” de educar, de evangelizar, de transmitir a fé aos seus filhos. “Depois vem a paróquia, os catequistas, os movimentos, e não há ninguém como o pai e a mãe para transmitirem, pelo exemplo, o que é a vida cristã. Por isso há toda esta pastoral familiar, que ao falarmos dos pastorinhos como falamos das famílias, pode ser trabalhado, é um excelente instrumento de evangelização”, acrescenta.

E como cativar os mais novos para a espiritualidade, neste caso para a Mensagem de Fátima, numa época marcada pelas tecnologias, pelos tabletes e pelas playstations que tanto atraem os mais novos?

Para a irmã Ângela Coelho, este “é um desafio que se apresenta a toda a Igreja, a qualquer nível, aos mais novos, aos mais velhos, aos adultos”.

Mas “é possível, porque estes meios podem ajudar a veicular a fé”. No entanto, tudo “depende” da capacidade dos agentes pastorais em utilizarem estas “plataformas de comunicação”.

 

 

“Acredito que há muita gente à procura, porque se percebe que estas tecnologias não saciam a alma”, defende aquela responsável, que salienta ainda a necessidade da Igreja Católica ter a capacidade de apresentar às pessoas alternativas de vida diferentes. 

O “ritmo que vivemos não facilita o contacto com Deus, não facilita o contacto e as relações entre as pessoas, não facilita a relação das famílias, em profundidade, não facilita a relação entre amigos, entre pessoas, colegas de trabalho. Não tem porquê ser sempre assim, podemos tentar ir contra a corrente e perceber que queremos um ritmo de vida diferente para nós. O que temos que fazer é aproveitar estes meios tecnológicos para ir sugerindo”, acrescenta a irmã Ângela Coelho, que recorda que mesmo no meio do atual contexto social existem “exemplos de santidade a acontecer”.

 

 

Sete anos com a Irmã Lúcia

O atual bispo de Angra foi capelão do Carmelo de Coimbra durante 10 anos, após ter sido ordenado sacerdote na Diocese de Coimbra, sete dos quais acompanhando a Irmã Lúcia espiritualmente, entre 1998 e até ao ano 2005, quando morreu.

“Tinha a sua forma de estar dentro da comunidade, em tudo igual às outras, com a particularidade de ter alguma salvaguarda, uma vez que tinha muita correspondência para responder”, lembra D. João Lavrador.

Natural da Diocese de Coimbra, o então sacerdote e capelão do Carmelo da Santa Teresa, na cidade, recorda a “vida normal” da vidente de Fátima, também na vida sacramental, de direção espiritual e de formação.

“Era igual a todas as outras”, sublinha D. João Lavrador, acrescentando que se sentia o “privilégio” de “sentir” que o relacionamento era com alguém que tinha “presenciado o diálogo com Nossa Senhora” e ser “protagonista da Mensagem de Fátima”:

“Nunca a questionei sobre seja o que for”, disse o atual bispo de Angra.

D. João Lavrador sublinhou a fé da Irmã Lúcia, a sua “serenidade sobre qualquer acontecimento”, mesmo 

 

 

“confrontos com a Igreja em Portugal”, como “alguém que tinha a lição do céu para reconhecer que tudo isto é passageiro”.

O antigo capelão da Irmã Lúcia lembra também a sua “inteligência perspicaz que se aliava ao seu sentido de humor”.

“Ela era uma mulher que tirava humor de todas as coisas, na ralação com as 

 

 

 

 

 

pessoas, mesmo com o capelão, criticando a sua forma de falar. Dizia-me: ‘pensa que por falar alto que vai converter alguém?’”, recordou.

D. João Lavrador lembra também a “possibilidade de ter estado com ela nos últimos meses da sua vida” e, na hora da sua morte, ter-lhe segredado “algumas recomendações que levasse para Nossa Senhora e para junto de Deus”. 

 

 

 

 

 

 

 

Memórias do primeiro retiro à Irmã Lúcia

 

O padre Joaquim Teixeira, da Ordem dos Carmelitas Descalço pregou o seu primeiro retiro a uma comunidade de carmelitas em Coimbra, meses após a ordenação sacerdotal, onde estava também a Irmã Lúcia.

O atual superior provincial da Ordem dos Carmelitas Descalços (OCD) recorda o “carinho” da Irmã Lúcia e a “preocupação” que manifestou ao jovem sacerdote diante do “nervosismo” que manifestava por ter de lhe pregar o retiro.

“O primeiro retiro que orientei a um

 

 

Carmelo foi o de Coimbra, tinha meses de ordenado, e entre as pessoas que estavam em retiro, estava também a Irmã Lúcia. Podem imaginar um sacerdote recém-ordenado, ainda a tremer, a orientar um retiro a um Carmelo, onde estava a irmã Lúcia que é alguém muito especial”, recordou o padre Joaquim Teixeira.

“Ela percebeu naturalmente as minhas tensões, o meu nervosismo e, mesmo estando em retiro, fez questão de vir falar comigo e dizer ‘tenha calma, estou a gostar muito das suas 

 

 

 

partilhas, dos seus temas’”, lembrou o padre Joaquim Teixeira.

O superior provincial da OCD referiu também que a irmã Lúcia sempre “gostava de convidar os carmelitas para o seu aniversário”, ocasião em 

 

 

que privavam com ela “mais em família”.

“Recordo com muito carinho as atenções que tinha comigo”, disse o padre Joaquim Teixeira.

 

Conferência dos Institutos Religiosos
de Portugal Online

http://www.cirp.pt/

 

No passado dia 2 de fevereiro celebrou-se o vigésimo primeiro dia mundial do Consagrado, sendo também o culminar da semana da Vida Consagrada. Assim, esta semana, proponho uma visita ao sítio da Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal (CIRP). A CIRP “é um Organismo de direito pontifício, com personalidade jurídica canónica e civil, sem fins lucrativos. Foi instituída por decreto da Sé Apostólica a 16 de Abril de 2005. Resulta da fusão da Conferência Nacional dos Superiores Maiores dos Institutos Religiosos (CNIR) e da Federação Nacional das Superioras Maiores dos Institutos Religiosos (FNIRF). Tem como objetivo principal realizar um trabalho de coordenação e auxílio mútuo entre os diversos Institutos”.

Ao digitarmos o endereço www.cirp.pt entramos num espaço eminentemente informativo e com uma apresentação gráfica que torna a navegação bastante facilitada. Na página principal além das várias opções encontra-se em destaque

 

 a semana da Vida Consagrada 2017 que este ano teve como tema “Consagrados ao Serviço da Vida”.

Em “quem somos” descobrimos que a missão da CIRP passa por “intensificar a visibilidade” profética da Vida Religiosa em Portugal”. Ficamos também a conhecer quais são as comissões a compõem. Nomeadamente somos informados acerca dos diferentes grupos de trabalho que, entre outras coisas, promovem “o estudo, a reflexão, a consulta, a prospeção de problemas e propostas de solução, bem como outras atividades e iniciativas concretas que entrem no âmbito dos respetivos sectores”.

Um espaço bastante interessante encontra-se em “institutos religiosos”. Aí pode ficar a conhecer todas as instituições que compõem a CIRP. Dividido em duas grandes áreas (masculinos e femininos) é possível, clicando em cada instituto, obter um resumo com informações relevantes de cada um (fundador(a), carisma, endereços, data da fundação, etc.).

Por último em “ano da vida consagrada”, apesar de já terem

 

 

 

encerrado as iniciativas eclesiais no âmbito desse ano, o convite feito pelo papa Francisco a toda a Igreja continua bem presente. É assim nesse espaço que podemos revisitar essa vivência, seja através dos vários vídeos testemunhos ou mesmo consultando os diversos documentos.

Fica então lançado o repto de conhecerem melhor a CIRP. Porque, “no silêncio dos mosteiros, orando, ou na agitação das ruas, ajudando os mais necessitados, os religiosos são,

 

seguramente, o rosto mais visível da Igreja, oferecendo desinteressadamente os outros, os mais fragilizados, os mais pobres dos pobres, sejam eles crianças ou idosos, órfãos, doentes ou até moribundos, traumatizados, pessoas que desistiram da vida ou que ainda buscam um sentido para os seus dias”.

 

Fernando Cassola Marques

fernandocassola@gmail.com

 

 

 

 

10 bancos de imagens gratuito

A imagem adquiriu uma grande importância na vida quotidiana. Uma imagem tem a capacidade de transmitir a mensagem de forma rápida, objetiva e direta. Uma boa imagem perdura na nossa memória.

A imagem tem um poder instantâneo: muitas vezes, o uso de imagem para transmitir informação é mais eficaz do que um texto escrito.

 

A minha prática diz-me que um bom texto acompanhado por uma excelente imagem ganha mais destaque, é mais lido, é mais partilhado.

Nas imagens há dois critérios que são fundamentais nos projetos que coordeno no momento de seleção: a qualidade e os direitos das mesmas. A generalidade das imagens que uso respeitam este critério.

 

Por isso, hoje um conjunto de 10 sites com imagens gratuitas de grande qualidade, sem qualquer ordem de preferência.

 

1. FREE STOCK PHOTOS BANK

O site não necessita de registo para baixar as imagens. As imagens estão organizadas por temas: basta selecionar em Quick navigation!

 

2. FREE IMAGES

É necessário fazer registo para baixar as imagens. Com cerca de 400 mil imagens e ilustrações gratuitas. Site de fácil acesso e utilização. As imagens estão agrupadas por categorias, sendo possível encontrar imagens por “procurar”, por “novas imagens” e por “imagens populares”.

 

 

3. PICJUMBO

O site não necessita de registo para baixar as imagens. As imagens estão organizadas por categoria e últimas. Existe uma versão premium que contém imagens exclusivas, versão paga.

 

 

4. MORGUEFILE

O site não necessita de registo para baixar as imagens. As imagens estão organizadas por categoria. Existe a possibilidade de pesquisar para selecionar a imagem preferida. É possível ver as imagens organizadas pelas mais populares, mais recentes, últimos downloads e e as mais descarregadas.

 

 

 

 

 

5. PIXABAY

É necessário fazer registo para baixar as imagens. É o site que mais uso. É possível encontrar imagens, imagens vetoriais, ilustrações e vídeos gratuitos. Dispõe de aplicação para iOS e Android.

 

 

6. RGBSTOCK

É necessário fazer registo para baixar as imagens. As imagens podem ser pesquisadas por palavra-chave e por categorias.

 

 

7. FLICKR

O Flickr é uma comunidade de fotógrafos. Muitos deles partilham gratuitamente as fotos. Bas fazer uma pesquisa por fotos, pessoas ou grupos para encontrar milhares de fotografias. Para encontrar as fotografias com licença Creative Commons.

 

 

8. DREAMSTIME

É necessário fazer registo para baixar as imagens. A grande maioria das imagens são gratuitas. É possível pesquisar imagens por categoria ou por “pesquisar”

 

9. UNSPLASH

O site revela dez novas fotografias a cada dez dias. Permite subscrição via e-mail.

 

 

10. PEXELS

O site não necessita de registo para baixar as imagens. As imagens estão organizadas por temas. Permite a pesquisa por tema.

 

 

Bom trabalho ilustrado com boas imagens.

 

Bento Oliveira

@iMissio

http://www.imissio.net

 

 

Cartas a Lúcia

Quando era seminarista, o padre João Luís Gonçalves sentiu o impulso de escrever algumas cartas à Irmã Lúcia de Jesus, uma das videntes de Fátima. Com o título «Cartas que a oração escreveu», este padre natural de Chaves, agora na Arquidiocese de Évora, resolveu publicar aquelas palavras escritas nascidas durante o tempo de formação académica e de preparação para o sacerdócio.

Com a chancela da Paulus Editora, o autor recordou à Agência ECCLESIA que tudo começou no Jubileu do Ano 2000, quando o Papa João Paulo II veio a Fátima para beatificar Francisco e Jacinta.

Depois de ler “muita bibliografia sobre Fátima” e também as «Memórias da Irmã Lúcia», o seminarista escreveu, no mês de junho, uma carta à mão que não guarda a cópia à vidente de Fátima.

A carta tinha três motivos: “agradecer o testemunho deixado nas memórias”, “dar os parabéns pela beatificação do Francisco e da Jacinta” e “para lhe pedir um terço”.

Quando já estava a estudar na Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa, João Luís escreveu pela segunda vez à Irmã Lúcia. Nessa 

 

missiva pediu-lhe que rezasse pelo seu percurso vocacional.

Durante os estudos, o autor da obra que tem 72 páginas fez quase um compromisso pessoal. “Partilhar com ela as reflexões teológicas”. Até 2005, ano do falecimento da Irmã Lúcia, o padre de Évora escreveu-lhe cartas, “quase como um segredo que gostava de partilhar com ela”.

O padre João Luís Silva nunca obteve respostas da Irmã Lúcia porque ela “tinha 93 anos e já não escrevia”, mas pela madre prioresa do Carmelo de Coimbra, Irmã Celina, o sacerdote sabe que ela as “leu todas e que rezava por esta intenção”, disse à Agência ECCLESIA.

Apesar de “não ter conhecido pessoalmente” a vidente de Fátima, o padre João Luis sabia que “a oração os unia um ao outro”.

A oração da Irmã Lúcia – considerou o autor – foi uma âncora no seu percurso vocacional porque ela ajudou-o “a conhecer e a amar Fátima”. Fátima é “um abraço da ternura de Deus no século XX”.

A obra vai ser lançada no dia 13 de fevereiro, no Memorial da Irmã Lúcia, Coimbra, às 15:00, com apresentação a cargo da atriz Maria José Pascoal.

 

 

 

Com o título «Cartas que a Oração Escreveu», o autor “dá-nos a conhecer as cartas que, durante o tempo de formação académica e de preparação 

 

 

para o sacerdócio, escreveu à Irmã Lúcia”, refere D. José Alves, Arcebispo de Évora, na apresentação da obra.

 


 

 

II Concílio do Vaticano: Abolição dos índices dos livros proibidos I

 

Embora o II Concílio do Vaticano tenha encerrado no mês de dezembro de 1965, só no ano seguinte (14 de junho), se abria para muitos católicos uma nova época com a abolição do índice dos livros proibidos. Com esta medida, o Vaticano cumpria as palavras proféticas de João XXIII proferidas na abertura deste acontecimento magno da Igreja Católica. Para o Papa que o convocou, a Igreja devia ir ao encontro das necessidades dos tempos actuais, propondo-se antes de mais demonstrar a validade da sua doutrina e não enveredando pelo caminho das condenações.

Num artigo publicado no jornal «Correio de Coimbra» (22-08-96), Manuel Augusto Rodrigues realça que, actualmente, “já pouco se fala dos índices de livros proibidos, tema que durante quatro séculos tanto agitou a Igreja e o mundo culto em geral”. Para trás da referida decisão de 1966 ficava uma “longa história de censuras e proibições” da leitura de livros de autores célebres, como a «Madame Bovary» e «Salammbô» (escritos por Gustave Flaubert).

«Les Misérables» de Victor Hugo (novelista, poeta, dramaturgo, ensaísta e ativista pelos direitos humanos francês do século XIX) e Emanuel Kant (filósofo alemão do século XVIII) com a sua «Critica da Razão Pura» também tinha o seu nome na lista dos livros censurados. Estes não foram os únicos pensadores/filósofos que sofreram com a rede apertada, antes do II Concílio do Vaticano, que incluía também Pascal, Descartes, David Hume, Espinoza e Voltaire. Filósofos marcantes da cultura europeia que “viram os seus nomes registados no rol dos livros defesos” (In: Jornal 

 

 

 

«Correio de Coimbra» [22-08-96]).

A censura eclesiástica também actuou em relação aos teólogos e, neste caso, são de recordar os “livros dos reformadores” e de “grande número de católicos” que durante o pontificado de Pio X se “tornaram suspeitos de modernismo”, entre os quais se contam Alfred Loisy (teólogo e filósofo francês nascido em 1857 e falecido em 1940 e grande conhecedor das Sagradas Escrituras, que ensinou no Institut Catholique de Paris) e Hermann Schell (teólogo e filósofo alemão nascido em 1850 

 

e falecido em 1906).

Aconteceu também ser incluída no rol de livros proibidos a obra completa de determinado autor, o que tinha como consequência ser proibida a leitura de toda e qualquer parte da mesma, “embora se tratasse de assuntos que nada tinham a ver com a fé e os costumes. Incluem-se nestes casos Balzac, Giordano Bruno, Alexandre Dumas (pai e filho), André Gide, Anatole France, George Sand, Jean Paul-Sartre e Emile Zola. Depois do II Concílio do Vaticano estes autores ganharam nova vida literária…

 

 

fevereiro 2017

11 de fevereiro

. Portalegre - Encontro diocesano de doentes

 

. Leiria - Seminário de Leiria - Ação de formação «O património de que somos herdeiros» para os membros dos conselhos económicos da Diocese de Leiria.

 

. Celebração do Dia Mundial do Doente

 

. Lisboa - Lumiar (Monjas Dominicanas) - Conferência sobre «Em Deus, "os lugares do impossível se deslocam" - Uma leitura de José Augusto Mourão» por Luísa Ribeiro Ferreira

 

. Fátima - Assembleia geral da Família Andaluz (Servas de Nossa Senhora de Fátima)

 

. Beja - Início do «Festival Terras Sem Sombra»

 

. Fátima - Centro Pastoral Paulo VI - O Renovamento Carismático Católico está a celebrar os seus 50 anos e a Comunidade Emanuel organiza um fórum, dias 11 e 12 de fevereiro, 

 

 

em Fátima, sobre «Re-encontrar Deus». A iniciativa que decorre no Centro Pastoral Paulo VI tem como oradora principal, a co-fundadora da Comunidade Emanuel, Martine Catta.

 

Porto - A Associação dos Médicos Católicos Portugueses (AMCP) promove a sua reunião nacional subordinada ao tema «Médico – curador ferido?» Este encontro, a realizar no Centro de Congressos da Secção Regional do Norte da Ordem dos Médicos (Porto), tem como conferencistas os professores José Manuel da Silva e Rui Mota Cardoso e o padre José Frazão.

 

Évora - Quinta de Valbom -Encontro de namorados sobre «Fazer ou Construir Amor?» orientado pelo padre jesuíta Fernando Ribeiro

 

Braga - Santuário do Sameiro - O Centro Apostólico do Sameiro vai acolher um encontro de namorados promovido pelo Departamento Arquidiocesano da Pastoral Familiar. A questão «Quero-te à minha medida ou aceito-te como és?» é o ponto de partida para a reflexão, das 09:30 às 18:30, que vai debruçar-se sobre a «Alegria do Encontro».

 

 

 

 

 

Braga - Igreja de Sequeira, 16h00 - Lançamento do livro «Via-Sacra: Orai Assim» da autoria do padre Marcelino Paulo Ferreira com a chancela das Edições Salesianas.

 

12 de fevereiro

Fátima - Conferência sobre «Santa Maria, Mãe de Deus» por Laurinda Alves

 

Albufeira - Igreja de São José das Ferreiras - A Diocese do Algarve vai promover as suas jornadas da Pastoral da Deficiência com o lema ‘Com Maria, somos testemunhas do amor e da alegria’, na igreja de São José das Ferreiras, em Albufeira.

 

Braga - Igreja de São Lázaro, 11h30 - O Movimento «Shalom» comemora 50 anos com celebração presidida por D. Jorge Ortiga, arcebispo de Braga.

 

13 de fevereiro

Vaticano - Reunião do Conselho dos Cardeais do Papa Francisco – até 15 de fevereiro

 

Fátima - A peregrinação jubilar dos operadores do Turismo ao Santuário de Fátima vai ser presidida por D. Jorge Ortiga, presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e 

 

 

Mobilidade Humana. Depois da celebração, às 11:00, na Basílica da Santíssima Trindade, realiza-se, às 14:30, o encontro com os operadores de turismo onde o padre Carlos Cabecinhas, reitor do Santuário de Fátima, falará sobre «A Mensagem de Fátima».

 

Bragança - Capela da Sagrada Família da Fundação Betânia, 12h00 - Festa comemorativa dos 40 anos de ordenação episcopal de D. António Rafael, bispo emérito da Diocese de Bragança-Miranda.

 

Coimbra - Memorial da irmã Lúcia (Carmelo de Santa Teresa), 15h00 - Apresentação do livro «Cartas que a oração escreveu» da autoria do padre João Luís Silva pela atriz Maria José Paschoal com a chancela da Paulus Editora.

 

Coimbra - Carmelo de Santa Teresa, 17h00 - A sessão de clausura do inquérito diocesano do processo de beatificação e canonização da Irmã Lúcia vai realizar-se no Carmelo de Santa Teresa de Coimbra. A cerimónia começa às 17:00 e uma hora depois celebra-se uma missa de ação de graças.

 

Lisboa - Capela do Rato - Sessão do curso «grandes correntes da ética ocidental» na Capela do Rato.

 

 

 

 

11 de fevereiro

25.º Dia Mundial do Doente, na comemoração de Nossa Senhora de Lourdes.
Não deixe de ler a mensagem do Papa Francisco ‘O Senhor fez por mim maravilhas

 

Beja

Começa a 13.ª edição do Festival ‘Terras sem Sombra’: Aos sábados à tarde visitas temáticas e à noite concerto, aos domingo de manhã ações de biodiversidade, até 1 de julho.

 

12 de fevereiro

Diocese do Algarve promove jornadas da Pastoral da Deficiência com o lema ‘Com Maria, somos testemunhas do amor e da alegria’, a partir das 10h15, na igreja de São José das Ferreiras, em Albufeira.

 

13 de fevereiro

Carmelo de Santa Teresa de Coimbra recebe a sessão de clausura do inquérito diocesano do processo de beatificação e canonização da Irmã Lúcia às 17:00 e uma hora depois celebra-se uma missa de ação de graças

 

É também o Dia Mundial da Rádio. O programa ‘Fé dos Homens’, na Antena 1 da RDP, a ECCLESIA vai partilhar histórias de vidas felizes. Não perca, às 22h45.

 

17 de fevereiro

Presidente da República vai abrir o 3.º ciclo de conferências «Nova Ágora» da Arquidiocese de Braga, às 10h00, no Auditório Vita. Marcelo Rebelo de Sousa vai falar sobre ‘Cristãos e Democracia: um testemunho’ na sessão introdutória do ciclo de conferências.

 

Programação religiosa nos media

Antena 1, 8h00

RTP1, 10h30

Transmissão da missa dominical

 

 

11h00 - Transmissão missa

 

 

 

Domingo:

10h00 - Porta Aberta; 11h00 - Eucaristia; 23h30 - Entrevista de Aura Miguel

 

Segunda-feira:

12h00 - Informação religiosa

 

Diariamente

18h30 - Terço

 

 

 
RTP2, 13h00

Domingo, 12 de fevereiro, 13h30 - Irmã Lúcia: da clausura para o Mundo inteiro

 

Segunda-feira, dia 13, 15h00 

Entrevista ao padre João Luís Gonçalves e ao jornalista Paulo Aido sobre a Irmã Lúcia 

 

Terça-feira, dia 14, 15h00  - Informação e entrevista à irmã Paula Carneiro, sobre os cuidados continuados em doença mental

 

Quarta-feira, dia 15, 15h00 - Informação e entrevista  a Henrique Joaquim sobre a petição "Pela Dignidade Humana das Pessoas Sem Abrigo"

 

Quinta-feira, dia 16, 15h00 - Informação e entrevista à irmã Maria Manoel, sobre o trafico humano

 

Sexta-feira, dia 17, 15h00  -  Análise à liturgia de domingo com os padres Robson Cruz e Vitor Gonçalves.

 

Antena 1

Domingo, dia 12 de fevereiro - 06h00 - 13ª edição do Festival Terras Sem Sombra

 

Segunda a sexta-feira, dias 13 a 17 de fevereiro - 22h45 - Dia Mundial da Rádio e "histórias de vida feliz"; Dia dos Namorados: namorar depois de casar, com Miguel Panão; os namorados Carolina e Miguel; João e Ana e o casal Bruno e Sofia de Jesus

 

  

 

 

     

 

 

 

 

 

 

Ano A – 6.º Domingo do Tempo Comum

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
Lei como caminho de encontro com Deus
 
 

Escutemos a Palavra de Deus neste 6.º Domingo do Tempo Comum. Que compromisso assumimos ao recebê-la?

Na segunda leitura, Paulo apresenta o projeto de Deus, que chama sabedoria de Deus ou o mistério que preparou desde sempre para aqueles que o amam, que esteve oculto aos olhos dos homens, mas que Jesus Cristo revelou com a sua pessoa, as suas palavras, os seus gestos e, sobretudo, com a sua morte na cruz. Como acolhemos este projeto do amor de Deus?

A primeira leitura recorda-nos que somos livres de escolher entre a proposta de Deus, que conduz à vida e à felicidade, e a nossa própria autossuficiência, que conduz quase sempre à morte e à desgraça. Para ajudar a pessoa que escolhe a vida, Deus propõe mandamentos: são os sinais com que Ele delimita o caminho que conduz à salvação. Que sentido damos às leis?

O Evangelho completa a reflexão, propondo a atitude de base com que a pessoa deve abordar esse caminho balizado pelos mandamentos: não se trata apenas de cumprir regras externas, no respeito estrito pela letra da lei, mas de assumir uma verdadeira atitude interior de adesão a Deus e às suas propostas, que tenha correspondência em todos os passos da vida.

As interpelações dos vários exemplos apresentados por Jesus comprometem as nossas vidas com a Palavra de Deus. Somos convidados a viver na dinâmica do Reino, a acolher com alegria, entusiasmo e total adesão o projeto de vida plena que Deus nos quer oferecer.

Os nossos comportamentos externos têm de resultar, não do medo ou do calculismo, mas de uma verdadeira 

 

 

 

 

atitude interior de adesão a Deus e às suas propostas. Os mandamentos não são princípios sagrados que temos de cumprir mecanicamente, sob pena de receber castigos, o maior dos quais será o inferno, mas são indicações que nos ajudam a potenciar a nossa relação com Deus e a não nos desviarmos do caminho que conduz à vida. O cumprimento das leis, de Deus ou da Igreja, não é uma obrigação que resulta do medo, mas o resultado lógico da nossa opção por Deus e pelo Reino.

Não podemos deixar nunca que as leis, mesmo que sejam leis muito sagradas, se transformem num absoluto ou que contribuam para escravizar a pessoa. 

 

As leis ou os mandamentos devem ser apenas sinais indicadores desse caminho que conduz à vida plena.

O que é verdadeiramente importante é que caminhemos na história, com as nossas alegrias e esperanças, tristezas e angústias, em direção à felicidade e à vida definitiva, que só acontece no encontro com Deus. Deste modo poderemos rezar como o Salmista: «Ditoso o que anda na lei do Senhor. Felizes os que seguem o caminho perfeito e andam na lei do Senhor. Felizes os que observam as suas ordens e O procuram de todo o coração».

 

Manuel Barbosa, scj

www.dehonianos.org

 

 

 

Santuário promove primeiras Jornadas
de Comunicação Social

 

O Santuário de Fátima vai promover a 22 de março as suas primeiras Jornadas de Comunicação Social, no contexto do Centenário das Aparições e da visita do Papa Francisco, em maio deste ano. O bispo de Leiria-Fátima, D. António Marto, e o reitor do Santuário de Fátima, padre Carlos Cabecinhas, vão falar sobre “os eixos teológicos da mensagem de Fátima”, num primeiro painel da formação, destinado a 

 

 

todos os profissionais de comunicação.

A Sala de Imprensa do santuário mariano da Cova da Iria informa que as suas primeiras Jornadas de Comunicação Social pretendem enquadrar os jornalistas nos “aspetos essenciais do fenómeno e da mensagem de Fátima”, aproveitando as comemorações do Ano Jubilar.

O segundo painel da manhã é uma conferência sobre “as fontes de 

 

 

 

 

Fátima”, com o diretor do Serviço de Estudos e Difusão do Santuário, Marco Daniel Duarte.

Segundo o programa, o Centro Pastoral de Paulo VI vai receber mais dois painéis na tarde de 22 de março, que começam sobre “como comunicar Fátima”, com as intervenções do chefe de redação da Agência ECCLESIA, o jornalista vaticanista Octávio Carmo, e Paulo Agostinho, editor de Lusofonia e Internacional da Agência Lusa.

As primeiras Jornadas de Comunicação Social do Santuário de Fátima terminam com as conferências do porta-voz do Opus Dei em Portugal, Pedro Gil, e Carmo Rodeia, diretora de comunicação do 

 

santuário, que vão abordar “aspetos mais específicos” da visita do Papa Francisco, nos dias 12 e 13 de maio.

A diretora de Comunicação do Santuário de Fátima explica que a Igreja Católica “sempre procurou” estabelecer um diálogo com o mundo que hoje faz-se, sobretudo, através da comunicação, “seja nos media tradicionais generalistas seja nas redes sociais”.

As jornadas de comunicação do Santuário de Fátima destinam-se aos jornalistas, assessores, repórteres e comunicadores em geral e as inscrições devem ser feitas online e têm um custo de 10 euros.

 

A postuladora da causa de canonização dos Beatos Francisco e Jacinta Marto disse à Agência ECCLESIA que gostaria de ver os dois pastorinhos canonizados em 2017, no Centenário das Aparições de Fátima. “Eu desejo que sim, espero que sim, estamos a trabalhar para isso”, assinalou a irmã Ângela Coelho.

A responsável disse ainda não ser possível projetar uma data para o fim do processo, atualmente nas mãos do Vaticano, precisando que a análise do eventual milagre "ainda não está concluída".

A canonização de Francisco (1908-1919) e Jacinta Marto (1910-1920), beatificados a 13 de maio de 2000 pelo Papa João Paulo II, em Fátima, depende do reconhecimento de um milagre atribuído à sua intercessão, após esta data.

 

 

Figuras de Fátima: Luis Kondor

 

Nascido a 22 de junho de 1928 na Hungria, Luis Kondor entrou aos 18 anos para a Congregação do Verbo Divino. Fugiu da ocupação russa para a Áustria e, depois, para a Alemanha, onde foi ordenado em 1953, e veio para a casa da congregação na diocese de Leiria em 1954. Aqui se tornou um verdadeiro “apóstolo de Fátima” pelo mundo.

 

 

Editava um boletim regular em sete línguas sobre os pastorinhos Francisco e Jacinta, para cuja causa de beatificação foi nomeado vice-postulador em 1960 e que desempenhou até à morte, em 2009.

Em 2006 foi agraciado com a insígnia de Comendador da Ordem de Mérito, atribuída pelo presidente da República, Jorge Sampaio.

 

 

 

 

O Secretariado Nacional para os Bens Culturais da Igreja vai promover a 11 de março, em parceria com o Museu do Santuário de Fátima, a segunda de uma série de Jornadas de Conservação e Restauro. A iniciativa, com o tema ‘Património Recuperado - Boas Práticas no Santuário de Fátima’, tem por base o trabalho de requalificação e conservação levado a cabo na Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima.

Os trabalhos vão ser abertos pelo padre Carlos Cabecinhas, reitor do Santuário de Fátima, por Sandra Costa Saldanha, diretora do Secretariado Nacional para os Bens Culturais da Igreja, e por Marco Daniel Duarte, diretor do Museu do Santuário de Fátima.

 

 

Após a sua morte foi lançado o livro – uma edição do Secretariado dos Pastorinhos - «Quereis oferecer-vos a Deus? O Apelo à Reparação na Mensagem de Fátima».

O bispo de Leiria-Fátima, D. António Marto assina o prefácio, onde descreveu o padre Luís Kondor: “Para ele, o núcleo da Mensagem de Fátima é a exigência da reparação: ‘Tanto o Anjo como, posteriormente, Nossa Senhora, ainda com mais insistência, apelaram à reparação dos pecados cometidos contra Deus, contra Jesus e contra o próprio Coração de Maria”.

Em 2015, o Papa associou-se às 

 

 

celebrações promovidas pela 

Embaixada da Hungria e a Associação Portugal Hungria para a Cooperação, para assinalar os 50 anos da inauguração do ‘Calvário Húngaro’.

Numa mensagem enviada ao bispo de Leiria-Fátima, lida durante a Missa a que D. António Marto presidiu, Francisco evocou o padre Luís Kondor, que residiu mais de 50 anos em Fátima. O Papa convidou “quantos o conheceram e amaram a seguir o rasto por ele deixado no seu multiforme, jubiloso e incansável serviço à difusão da mensagem de Fátima”.

 

 

 

(CAIXA)

O Secretariado Nacional para os Bens Culturais da Igreja vai promover a 11 de março, em parceria com o Museu do Santuário de Fátima, a segunda de uma série de Jornadas de Conservação e Restauro. A iniciativa, com o tema ‘Património Recuperado - Boas Práticas no Santuário de Fátima’, tem por base o trabalho de requalificação e conservação levado a cabo na Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima.

Os trabalhos vão ser abertos pelo padre Carlos Cabecinhas, reitor do Santuário de Fátima, por Sandra Costa Saldanha, diretora do Secretariado Nacional para os Bens Culturais da Igreja, e por Marco Daniel Duarte, diretor do Museu do Santuário de Fátima.

Iraque: Reconquista não significa regresso imediato
dos cristãos

A sombra do medo

Igrejas esventradas, imagens decepadas, paredes queimadas, livros sagrados espalhados pelo chão. Aos poucos, com a libertação de vilas e aldeias no Iraque, em especial na chamada Planície de Nínive, percebe-se que os jihadistas se alimentam de ódio puro contra os cristãos. Nada foi poupado. Agora, mesmo sem terroristas por ali, a sombra do medo prevalece. O regresso a casa é uma incógnita

 

Nos últimos meses, o exército iraquiano tem vindo a libertar grandes áreas de território conquistado pelos jihadistas no Iraque. Muitas dessas aldeias e vilas agora libertadas eram o lar de comunidades cristãs desde há séculos. Agora estão vazias. Os jihadistas foram expulsos mas a sua memória ameaçadora continua presente em todos os lugares por onde andaram. Especialmente em todas as igrejas. Parece que um vendaval de terror passou por ali. Em Tal Keppe, por exemplo, a Igreja do Santíssimo Sacramento foi usada como centro de treino militar para

 

crianças e adolescentes. O diácono Basim al Wakil foi um dos milhares de cristãos que teve de fugir de casa. Vivia em Bartella e não teve alternativa senão juntar numa mochila umas calças, duas camisas e um pouco de comida. Deixou tudo o resto para trás. Nem a Bíblia levou. “Apenas o terço.” Fugiu para Erbil que se transformou, de um dia para o outro, num gigantesco campo de lágrimas. Regressou há semanas, depois de a cidade ter sido libertada, para saber se já seria possível voltar definitivamente a casa. Quando viu o grau de destruição em Bartella, quando voltou a franquear a porta da igreja, as lágrimas continuaram a correr-lhe pelo rosto.

 

Padre Sharbil

Qaraqosh. Igreja de São Jorge. Tal como o diácono Basim, também o padre Sharbil Eeso deitou as mãos à cabeça quando voltou a entrar na sua igreja, ocupada durante meses pelos jihadistas, que a transformaram numa fábrica de bombas. A reconquista da cidade obrigou à fuga dos  

 

 

terroristas que deixaram para trás, alinhadas, a um canto, centenas de bombas e granadas prontas a derramar sangue. As marcas da passagem dos terroristas, estão em todo o lado. O seminário está num caos, as imagens foram todas destruídas, até o forro do tecto foi arrancado…

Se o padre Sharbil não escondeu o desalento pela destruição na sua igreja, Louis Petrus ficou quase sem palavras quando voltou a casa. “Tinha ouvido histórias e visto fotos da destruição. Agora que estou aqui, a ver a cidade com meus próprios olhos, não sei o que sentir. Os jihadistas destruíram as minhas coisas, mas eu ainda estou, apesar de tudo, melhor do que muitos dos meus vizinhos cujas casas foram queimadas ou completamente destruídas.” O padre Sharbil, o diácono Basim ou Louis Petrus sentem-se órfãos no próprio 

 

país, na própria terra onde sempre viveram. Tal como eles já compreenderam, para milhares de famílias cristãs que se encontram refugiadas em Erbil, o regresso a casa poderá ainda demorar muito tempo. Sem segurança, nada será possível. Por isso, é necessário continuar a ajudar estes cristãos em mais um Inverno rigoroso. Alojamento, medicamentos, roupa, aquecimento e comida fazem parte da ajuda – essencial – que tem sido providenciada pela Fundação AIS. Aos poucos, com a libertação da Planície de Nínive, percebe-se que os jihadistas se alimentaram de ódio puro contra os cristãos. Por isso, também, além da nossa solidariedade, é tão importante, para estes cristãos, a certeza das nossas orações. Haverá melhor antídoto ao ódio?

Paulo Aido

www.fundacao-ais.pt

 

 

 

Jornalismo com ética

  Tony Neves   
  Espiritano   

 
 

Isso de anunciar ‘boas notícias’ tem muito que se lhe diga. Mas a missão de um jornalista é essa mesma. Há que dizer o que se passa, o que se vive, o que se sente. Fazer uma reportagem, uma entrevista, uma notícia, um comentário, um editorial, uma crónica… pode mostrar um género jornalístico diferente, mas o objetivo tem de ser o mesmo: a aproximação á verdade. Sim, há que dizê-lo com humildade: da verdade apenas nos podemos aproximar e ela será sempre mais do que aquilo que nós possamos pensar, elaborar ou escrever.

Ainda vivemos num tempo em que parece que o sangue e a tragédia vendem mais. Mas não nos podemos resignar a esta quase fatalidade. Temos de ousar dizer boas notícias e convencer o mundo de que elas valem mais que todas as desgraças.

Há que investir muito na defesa dos jornalistas que trabalham em situações de risco. Condenemos todos os atentados ao direito à informação, à liberdade de expressão e de imprensa e gritemos contra quem quer, a todo o preço (até com ameaças de morte) ‘açaimar’ os direitos dos jornalistas. Também são inadmissíveis as relações de promiscuidade entre o jornalismo e a política, bem como as pressões do mundo dos negócios, das finanças e do desporto sobre o trabalho dos profissionais da comunicação social.

Os códigos deontológicos nasceram da necessidade de se orientar o exercício do jornalismo. Dão linhas de orientação ética aos profissionais da comunicação social, mas também mostram 

 

 

 

 

 

 

quais são os seus direitos que todos devem reconhecer. Há que investir na formação séria e competente dos jornalistas para que o seu trabalho seja isento (o mais possível), na busca de uma objetividade que nunca se alcança, mas que se pretende como horizonte.

O Papa Francisco convida os jornalistas a anunciar a ‘Alegria do Evangelho’, a ‘Alegria do Amor’, a ecologia integral, as boas notícias que traduzem optimismo e geram justiça, abrem caminhos de paz… É, reconhece-o, um grande programa de vida para quantos acreditam na força dos media e das tecnologias da comunicação que fazem do mundo uma aldeia e formam (formatando) a mentalidade e a cultura dos tempos que correm. Merecem ainda reflexão os alertas que o Papa lança sobre os 

 

novos media: ‘Também emails, SMS, redes sociais, chat podem ser formas de comunicação plenamente humanas(…) As redes sociais são capazes de favorecer as relações e de promover o bem da sociedade, mas podem também levar a uma maior polarização e divisão entre as pessoas e os grupos. O ambiente digital é uma praça, um lugar de encontro, onde é possível acariciar ou ferir, realizar uma discussão proveitosa ou um linchamento moral’.

Com ética e competência profissional, o jornalismo ajudará a construir um mundo com menos muros e mais pontes.