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Tema do dossier da próxima edição: 2013 em Revista Foto da capa: PR/Agência Ecclesia Presépio de António Moreira, na VII Exposição de Presépios de Artesãos do Concelho de Estremoz Foto da contracapa: Agência Ecclesia
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Imagens de Natal |
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Sandra Costa Saldanha |
Recebemos por estes tempos inúmeras imagens de Natal. É o tempo, por excelência, de circulação da imagem cristã. Com as origens mais heterogéneas, com todos os tipos de representações, mensagens de fé ou de esperança, sintetizam também o gosto duvidoso que (com exceções) norteou a criação de muitas delas. Cristalizando estereótipos e testemunhos de santidade, diluídas entre a gentileza da lembrança e a materialidade do adorno são, por via da regra, desprovidas de propósito espiritual, significado ou capacidade de transmissão simbólica. E de facto, tão importante quanto o pressuposto estético é, como sabemos, a força da imagem, na sua capacidade de diálogo, sem nunca banalizar a beleza e a sublimidade da mensagem cristã. Ora, é impossível passar ao lado da mediocridade que grassa por entre as representações massificadas das felicitações natalícias, a avalanche de quinquilharia e souvenires coloridos a que muitos cristãos se resignam. Galerias de coisas banais, que dessacralizam a imagem, adulteram e desmerecem tradições iconográficas seculares. Terá de ser assim? O Natal constitui, pois, oportunidade certeira de dignificação da imagem sagrada. Feliz Natal!
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Sem-abrigo que tomaram o pequeno-almoço com o Papa, no dia do seu aniversário LOsservatore Romano/Lusa
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"Dentro de poucos dias os nossos corações estarão cheios da alegria do Natal do Senhor. Deixando um lugar vazio à mesa da ceia de Natal, pensemos nos pobres, nos que passam fome, nas pessoas sós, nos sem teto, nos marginalizados, nos que sofrem com a guerra, de modo especial as crianças. Jesus, Filho de Deus, feito Homem está presente em cada um deles. Abramos os nossos corações de forma a que tomem parte na nossa alegria." Papa Francisco, Audiência Geral, 18 de dezembro
"O súbito amor da esquerda pelo Papa tem o sabor de uma conversão: não do Papa, como pretende a esquerda, mas da própria esquerda. E como também está escrito (São Lucas), "haverá mais alegria no céu por um pecador que se arrepende do que por 99 justos". Henrique Monteiro, Jornalista
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"Aquilo que está a acontecer é que o Papa Francisco está a compreender, e já compreendeu, que o mundo mudou. A grande parte das instituições que têm responsabilidades públicas ainda não assumiu a necessidade de rever a sua visão do mundo e da vida e acontece o mesmo com os partidos políticos."
Adriano Moreira, em entrevista à Agência Ecclesia
“Por toda a terra os que amam Cristo formam uma grande comunidade de amizade. A isso chama-se comunhão. Têm assim um contributo a dar para curar as feridas da humanidade: sem quererem impor-se, podem contribuir para uma mundialização da solidariedade, que não exclui nenhum povo nem nenhuma pessoa” Irmão Alois, prior da comunidade de Taizé |
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Mensagens de Natal dos bispos
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Os bispos portugueses têm dedicado atenção às consequências da atual crise económica, pedindo atitudes solidárias e de proximidade nas suas mensagens para o próximo Natal, que têm sido divulgadas pela Agência ECCLESIA. “Este ano, e mais uma vez, o Natal volta a ser celebrado em circunstâncias muito particulares de dificuldades vividas pelas famílias, pelos cidadãos portugueses e do mundo inteiro”, admite D. Virgílio Antunes, bispo de Coimbra. O arcebispo de Évora alertou por sua vez para a exclusão dos mais necessitados na sociedade contemporânea e apelou à “defesa dos valores da vida”. “A sociedade dos humanos, que não recebeu o Salvador, continua a não ter lugar para acolher os que precisam”, alerta D. José Alves. Em Braga, o arcebispo D. Jorge Ortiga declarou que é necessário combater o “pecado original do consumismo” e ajudar as lembra vítimas da discriminação, do desemprego e da fome. O bispo de Aveiro vai partilhar |
o jantar de Natal com sem-abrigo da cidade, anunciou na sua mensagem para esta celebração, na qual alerta para as diversas formas de rejeição e exclusão na sociedade. D. António Francisco dos Santos já em 2012 tinha dedicado esta hora a quem está só. D. Gilberto Reis, bispo de Setúbal, dirigiu uma mensagem de Natal à diocese, na qual pede aos cristãos que esta celebração tenha como fruto uma presença de “alegria” e “esperança” junto de quem “esteja a sofrer o desemprego, a droga, a fome, a solidão, o desencanto da vida, a doença, a violência ou outra pobreza”. O bispo da Guarda apelou a um esforço da sociedade portuguesa para assegurar o “direito fundamental” ao trabalho. “Este Natal convida-nos, por isso, a reforçar a proximidade com todos, a começar pelos que mais precisam”, refere D. Manuel Felício. D. Ilídio Leandro, bispo de Viseu, pede na sua mensagem de Natal que se “privilegiem aquelas |
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que vivem com dificuldades”, procurando quem se encontra “nas periferias da vida”. Já D. Anacleto Oliveira, bispo de Viana do Castelo, exortou os fiéis a irem ao encontro dos mais frágeis da sociedade, como doentes ou idosos, para que cada um tenha “mais um Natal cristão”. D. António Vitalino, bispo de Beja, escreveu a mensagem ‘Natal da esperança’ e alerta que o cristão “não pode contentar-se” em viver esta festa sem conteúdo, mas deve “celebrar a fé” com a comunidade e com a família.
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O bispo de Vila Real, na mensagem de Natal pretende que a Igreja diocesana encontre “os homens necessitados, famintos da verdade e amor”. “A Igreja de Cristo vive, sempre, em êxodo, de saída para as periferias”, escreve D. Amândio Tomás. D. Manuel Pelino, bispo de Santarém, afirmou na sua mensagem de Natal que é necessário cuidar “da alegria e da união de todos” e promover os valores natalícios num período de dificuldades sociais e económicas. |
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Cáritas cria rede para desempregados |
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O presidente da Cáritas Portuguesa pretende que a plataforma ‘Inspira’, lançada esta quarta-feira em Lisboa, seja um instrumento de aproximação entre empregadores de desempregados com mais de 45 anos. Eugénio da Fonseca realçou à Agência ECCLESIA que muitas dessas pessoas têm “competências para colocar ao serviço da sociedade”, mas adverte que a plataforma “não dá automaticamente trabalho”. A «Inspira – Rede de competências Cáritas» está online desde hoje e assenta em várias funcionalidades - facilidade de navegação e criatividade – e segundo os promotores é uma ferramenta tecnológica que dá resposta à sustentação do envelhecimento ativo e “combate a exclusão do mercado de trabalho dos mais velhos”. A Cáritas não tem qualquer intervenção no tipo de relação contratual que possa resultar do contacto estabelecido através desta plataforma. O projeto é coordenado por |
Maria do Rosário Carneiro e Eugénio Fonseca e conta, entre outras entidades, com a parceria do GRACE (Grupo de Reflexão e Apoio à Cidadania Empresarial) – na divulgação desta iniciativa. Uma grande franja da população portuguesa “está privada do direito ao trabalho” e com uma “ansiedade compreensível”, pelo que Eugénio Fonseca afirma que a plataforma é “mais uma possibilidade de aproximar quem tem oportunidade de satisfazer esse direito”. Esta plataforma online é uma conjugação de fatores, visto que os empregadores “tem necessidades das competências para se desenvolverem” e as “pessoas necessitam de um trabalho”, disse à Agência ECCLESIA Maria do Rosário Carneiro. A pessoa em busca de trabalho pode colocar online as suas “competências adquiridas” ao longo da vida e a entidade patronal pede pessoas que tenham competências nas várias áreas, frisou uma das coordenadoras do projeto. |
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O Menino Jesus numa estória
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O professor universitário Alfredo Teixeira recebeu esta terça-feira, em Cascais, o 3.º prémio internacional de composição Fernando Lopes Graça pela obra ‘O Menino Jesus numa estória aos quadradinhos’. Nesta edição do prémio instituído pela Câmara Municipal de Cascais em 1994 para homenagear o compositor Fernando Lopes-Graça (1906-1994), o tema proposto foi o Natal, acolhendo obras inéditas para coro infanto-juvenil (vozes iguais) “a cappella” ou com acompanhamento de piano. O rimance para coro infanto-juvenil e piano a partir do poema “Hino de Amor” de João de Deus foi a escolha do compositor Alfredo Teixeira por se tratar de “um poema que já não faz parte regular das coletâneas de Natal mas que em tempos fez parte das coletâneas do ensino primário”, lembra o autor, em declarações à Agência ECCLESIA. “É um poema que narra uma história de encantamento, do Menino Jesus que salva um passarinho do encantamento da serpente, o que do ponto de |
vista é muito interessante trabalhar sobretudo pela qualidade rítmica e métrica do poema”, explica Alfredo Teixeira. O antropólogo, investigador, teólogo e docente da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa reuniu a unanimidade do júri, constituído pelos compositores Sérgio Azevedo e Luís Tinoco, e a maestrina Erica Mandillo. Alfredo Teixeira recebeu este prémio com “alegria” por significar “uma etapa interessante” da sua vida uma vez que a composição não é a sua atividade principal, antes “uma parcela pequena mas importante” da sua vida, vindo assim confirmar “que vale a pena conservar o trabalho na área da composição e direção coral” que tem desenvolvido. |
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Natal em tempo de império |
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D. Manuel Linda |
Os números. Sempre os números… Dizem que o desemprego recua umas centésimas, que as exportações aumentam ligeiramente, que a economia dá sinais de retoma, que o PIB cresce... Ainda bem. Já não era sem tempo! O Governo felicita-se, a Oposição desvaloriza, os sindicatos endurecem a luta, os comentaristas interpretam como lhes apetece, os «opinon makers» insinuam que já se vislumbra luz ao fundo do túnel. E as pessoas? E o povo, meu Deus? Bem, o povo, na sua sabedoria irónica, recorre ao exemplo tradicional: a existência de mais um frango em cima da mesa, só por si, não garante que todos os comensais possam matar a fome. Se um qualquer açambarcador os come todos, o maior número de frangos só faz crescer a água na boca e o efeito de um soco no estômago aos que deles ficam privados. Até porque lhe vêm à memória as recentes estatística e a crueza dos seus dados: que Portugal foi o país da Europa que mais viu agravar-se o fosso entre ricos e pobres; que estes o são cada vez mais e que aqueles prosperam a olhos vistos; que estão a matar a classe média; que nunca se viu por aí tanto «topo de gama» enquanto o resto dos concessionários quase não se estreia nas vendas; que…
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E mais: recorda-se que quem manda aqui é um império. Sem bandeira nem território. Mas com capital e capitais. Chama-se FMI. E o povo sabe que este império possui uma lei fundamental que aplica no mundo, «chapa cinco», desde os anos sessenta: esmaga os salários para «recapitalizar» as empresas. Ou os donos? Por isso, em nome de uma deusa estranha chamada «competitividade», acha inconcebível que se aumente 15 euros no salário mínimo. Sim, cinquenta cêntimos por dia! Mas parece-lhe crime de lesa-majestade que um qualquer gestor de pacotilha, colocado à frente das empresas públicas pelos «bons serviços» prestados ao Partido, aufira menos de sete, dez ou quinze mil euros por mês. Ou mais! Ou trinta ou quarenta mil! Mas, afinal, isto já não é novo. Há dois mil anos, pelo menos, um |
outro império, chamado romano, também era especialista em tirar. Não aos pobres para dar aos ricos, que Marx foi dos primeiros a falar dessas modernices. Mas tirar a todo o mundo escravizado para dar aos «cidadãos», aos romanos da urbe. Àqueles que nem sequer precisavam de serem gestores ou administradores porque o Estado lhes entregava «pão e circo» de mão beijada. Só que no meio dessa «normalidade» anormal, chegou um Menino. Fraco e indefeso. Mas meigo e amigo de todos. E não se esqueceu do cântico que ouvia à Sua Mãe: “O Todo-Poderoso […] manifestou o poder do seu braço e dispersou os soberbos. Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes. Aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias”. E as coisas mudaram… E há quem garanta que esse Menino continua por aí… |
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Afinal há esperança... |
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Catarina Pereira Agência Ecclesia |
No passado domingo o mundo despediu-se de um dos maiores revolucionários da atualidade. Nelson Mandela foi o principal responsável pelo fim do Apartheid na África do Sul, conseguiu diminuir as desigualdades sociais no país e principalmente mostrou ao mundo a existência de igualdade, independentemente da cor, raça ou religião. A morte de Madiba ganhou repercussão em todos os noticiários do mundo, pela sua vida de lutas e pelo seu ideal igualitário. Nelson Mandela, com certeza, será lembrado como um homem que lutou e principalmente, acreditou em dias melhores para o seu povo. Um exemplo certamente a seguir pelos homens de hoje que, apesar de se dizerem solidários com a causa de Mandela e “chorarem” a sua morte, estão longe de entender o esforço da sua luta. Fica, no entanto, a esperança, de que o seu exemplo seja eterno e inspire, não só os portugueses, mas os homens de todo o mundo, a lutarem por meios justos pelo que consideram correto, ao invés de alhearem responsabilidades. "Prometemos a nós mesmos que amanhã será diferente, contudo, o amanhã é quase sempre uma repetição de hoje", este pensamento do autor James T. McKay, é o retrato do que se vive muitas vezes em Portugal e no mundo. Uma promessa contínua de que amanhã será o dia para tomar decisões e ir à luta, mas quase sempre o conformismo e a preguiça |
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vencem a intenção de agir. Que a vida de Mandela inspire homens e mulheres de todo o mundo a cumprirem a promessa de mudança. Na semana em que morreu um grande líder, outro completou mais um ano de vida. O Papa Francisco celebrou, na passada terça-feira, 77 anos de idade e comemorou a ocasião numa missa com as pessoas da Casa de Santa Marta, onde reside, e com colaboradores da Cúria Romana. A forma como Francisco se expressa e o conteúdo dos seus comentários e pensamentos têm surpreendido a opinião pública, e têm atingido crentes e não crentes em todo |
o mundo. Na liderança da Igreja há mais de meio ano, a sua simplicidade e a atenção que dá aos mais pobres são um forte testemunho das suas reais convicções e da sua intenção de contribuir para um mundo e uma Igreja melhor. Todos esperamos que Francisco complete mais anos como Papa, para alegria do povo que se sente inspirado pelos seus ideais e para alegria das crianças de todo o mundo que parecem estar cada dia mais interessadas em “descobrir” Francisco e dividir a sua atenção. Afinal há esperança, porque ainda há pessoas e gerações que acreditam. |
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Cada um de nós é uma personagem
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O padre José Tolentino Mendonça, poeta e biblista, analisa os primeiros capítulos do Evangelho de São Lucas, à luz do atual tempo do Natal, onde todos os símbolos, como os animais no presépio ou a manjedoura, são importantes e contextualizados.
Agência Ecclesia (AE) – São Lucas é o evangelista que nos dá uma narrativa mais completa e talvez com um rosto mais humano destes episódios do nascimento de Cristo? Padre José Tolentino Mendonça (JTM) – Dentro dos evangelhos, apenas Mateus e Lucas têm o Evangelho da infância e é muito interessante porque ambos os evangelhos, contando a mesma realidade, situam-se em ângulos diferentes. Mateus escolhe falar de Jesus a partir de São José porque lhe interessava apresentar Jesus sobretudo para as comunidades judaicas, que eram cristãs, e então ali o papel do pai, do pai adotivo era o papel principal. Lucas dá-nos duas grandes curiosidades, por um lado quem é o guia até ao presépio é Maria, |
a figura de Nossa Senhora no Evangelho da Infância de Lucas é aquela que abre as portas ao entendimento do primeiro mistério de Jesus. E depois o próprio Evangelho da Infância em Lucas, e isso é muito interessante, é como um musical, é uma polifonia, no final de cada grande cena nós temos um canto. Temos o canto do Benedictus, depois da anunciação a Zacarias que ia ser pai de João Batista, temos o cântico do Magnificat, quando Maria e Isabel se encontram, e temos o cântico do Nunc dimittis quando Simeão tem ao colo o menino na primeira apresentação no templo. De maneira que é também um Evangelho com muita alegria e temos também o coro dos anjos que vêm anunciar aos pastores que hoje lhes nasceu um salvador. É um Evangelho guiado por Maria, atravessado por uma profundidade teológica enorme mas também por um tom alegre, musical, quase como que se Lucas construísse uma polifonia de todas as nossas vozes num louvor ao menino que nasce.
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AE – A narrativa da anunciação, Maria surpreendida pelo anjo que lhe aparece e faz esta revelação. Como podemos contextualiza-la, como surge esta narração ou este processo escolhido por Deus para se anunciar a uma rapariga de Nazaré (Galileia, Israel)? JTM – As anunciações fazem parte da religião de Israel, também no Antigo Testamento nós temos anjos enviados a transmitir uma notícia de Deus, de maneira que quando Maria viu um anjo não morreu de susto porque de certa forma, no coração e na fé dela existia essa prática de Deus, de enviar dessa forma as suas mensagens. E o anjo é sempre condutor de uma mensagem muito importante da parte de Deus. O texto da anunciação é um texto formidável a vários pontos de vista. Um deles é porque estabelece de facto um diálogo, não é uma imposição, é uma proposta que Deus faz aquela rapariga de Nazaré. O anjo revela-lhe o plano de Deus e Maria coloca questões, pergunta como é que isso pode ser, quer |
perceber o mandato de Deus e só quando o seu coração é ganho pela confiança na palavra de Deus e nesta racionalidade na fé que ela vai construindo no diálogo com o anjo Gabriel é que ela diz o seu sim: “Eis escrava do Senhor faça-se em mim segundo a sua palavra”. É um texto de facto fantástico porque situa a mensagem de Deus numa história concreta, o nome da donzela é Maria, ela vive em Nazaré num contexto que é muito identificado, o seu esposo chama-se José, estão todos bem identificados e é assim uma história concreta que Deus se dirige, com a qual Deus dialoga e convida Maria e também José, porque é agregado a esta história, convida-os a viverem a emergência da aventura do divino na história pelo mistério da encarnação de Jesus.
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AE – Este “faça-se em mim”, esta resposta de Maria é um aceitar de uma realidade maior, não vemos aqui uma preocupação com pormenores da parte dela. Ela tem a perceção que será difícil? JTM – Ela quer perceber o essencial. Maria quer perceber o essencial, pergunta “como poderá ser” e quando ela percebe que o próprio Deus virá em auxílio da |
fragilidade humana, que o próprio Deus conduzirá essa história, ela abre o seu coração numa atitude que para nós é um grande modelo. A palavra de Maria continua a ser inspiradora para a Igreja de todos os tempos, Maria no fundo sabendo uma parte mas não sabendo tudo dispõem-se na confiança a viver como parceira esta história sagrada. |
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AE – É um relato que no remete algo idêntico para o anúncio de Zacarias. O anúncio do nascimento de João que é quase o apresentador de Jesus. JTM – É interessante porque São Lucas conta precisamente a |
história de Jesus sempre em paralelo com a história de João Batista. E nós podemos encontrar no Evangelho da Infância, nos primeiros três capítulos do Evangelho de São |
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Lucas uma espécie de pandã de sincronia, a palavra exegética síncrise, uma comparação à anunciação Zacarias à anunciação Jesus: Zacarias canta, Maria também canta; à uma missão confiada a João batista, à uma missão confiada a Jesus; João Batista nasce, Jesus nasce. Depois acabam por se encontrar no capítulo terceiro, na cena do batismo de Jesus precisamente por João Batista mas onde João Batista se assume como percursor, como aquele que prepara o caminho deste Deus que vem em Jesus de Nazaré.
AE – Existe aqui um dado interessante que é a proposta do anjo a dois casais quase impossíveis: Zacarias casado com uma mulher de idade avançada e Maria que era virgem, que não estava casada, que estava apenas prometida. JTM – Essa é de facto uma palavra muito interessante porque são dois nascimentos que têm o seu quê de problemático. Não são evidentes e isso mostra de facto que o modo como Deus vem à nossa história não é evidente, não é pelo caminho mais imediato e previsível mas há a imprevisibilidade de Deus.
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Aquilo que o anjo explica a Maria, a Deus nada é impossível. E de facto o que nós vemos é Deus vencer os impossíveis da história. A história concreta destes dois casais, Isabel e Zacarias, Maria e José para revelar a sua palavra.
AE – Esta visita de Maria a sua prima Isabel, que leitura podemos fazer deste pôr-se a caminho? JTM – É uma cena extraordinária que diz muito de Maria: Maria pôs-se a caminho, apressadamente pelas montanhas da Judeia para ajudar Isabel. Por um lado há um fundo histórico normal, uma mulher grávida e uma pessoa já com alguma idade como Isabel precisa de uma presença amiga, feminina, nos trabalhos do parto que a ajude nos últimos tempos da sua gravidez e nos primeiros dias em que é mãe. Isabel precisava de ajuda mas Maria leva no seu seio uma ajuda maior que não é apenas a ajuda que uma mulher amiga pode dar a outra. Que uma parenta pode dar a outra mas é transportar o menino no seu seio, Jesus vai em socorro de Isabel e de João Batista que está para nascer como vem em socorro da nossa humanidade. |
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AE – É neste contexto que surge o Magnificat que é um cântico de exortação, de louvor, de reconhecimento. JTM – É um cântico extraordinário, conta o abraço, o encontro daquelas duas mulheres e é como que uma dança em que se recupera a grande tradição do cântico feminino que anuncia a ação libertadora de Deus. De facto muitas palavras do Magnificat não são originais na boca de Maria, elas já nos aparecem, por exemplo, na boca de Ana, a mãe do profeta Samuel, e em outros passos da escritura e é um texto como uma força de fé extraordinária porque Maria enuncia a libertação de Deus, a alternativa de Deus. Este Deus que rebusca a história, que a revira mostrando as possibilidades inauditas que a história conserva. Ele reira os soberbos dos seus tronos, ele despede os ricos de mãos vazias, ele exalta os humildes, ele realiza as promessas de misericórdia feitas a Abraão e a nossos pais. É o cântico da alternativa de Deus, é de facto um cântico de uma beleza
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extraordinária e é interessante lembrar que Sofia de Mello Breyner quando lhe perguntavam qual é o poema mais lindo que conhece respondia sempre que “é o Magnificat no Evangelho de São Lucas”. É de facto o mais belo poema da humanidade em que se canta não apenas o passado mas canta-se o presente atuante redentor de Deus nas nossas histórias.
AE – Depois o nascimento. Numa primeira parte o texto fala da determinação das autoridades civis, o édito de recensear de César Augusto, de alguma forma também é uma forma de contextualização histórica e é um dado que aconteceu? JTM – Lucas tem essa preocupação histórica de situar Jesus nas coordenadas do tempo e do lugar. E esse prólogo ao nascimento de Jesus é de uma enorme importância porque esse recenseamento de facto aconteceu, é um dado histórico e como em todos os recenseamentos as pessoas tinham de se deslocar de um lado para o outro. A razão pela qual Maria e José vivendo em Nazaré |
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têm Jesus em Belém é cheia de uma grande verossemelhança histórica por causa deste recenseamento.
AE – Depois a questão do não haver lugar, como podemos ler esta situação, mesmo na realidade dos nossos dias em que as pessoas não criam lugar, não há lugar? JTM – Podemos dar-lhe uma conotação histórica que tinha. Eles não estão na sua terra, estão ali deslocados, visitantes, forasteiros. Uma mulher grávida |
e em trabalhos de parto não é uma mulher que se possa acolher em qualquer lugar e é natural que naquela situação eles tenham tido muita dificuldade em encontrar essa hospitalidade mas tem também evidentemente uma leitura simbólica. Como se diz no prólogo de São João, “Ele veio ao que era seu e os seus não o reconheceram”. Este não reconhecimento há de marcar a vida de Jesus desde o primeiro instante da sua passagem pela terra. |
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AE – É escolhida aquela gruta, aquele lugar, não se especifica… JTM – É um lugar de pastores, podia ser um piso térreo onde estavam os animais, podia ser uma gruta onde também os animais se recolhiam, mas era de facto um lugar marginal.
AE – Esta marginalidade tem uma carga que poderemos interpretar? JTM – Tem também uma forte carga simbólica muito interessante. Tudo o que a |
narrativa descreve tem um grande sentido, por exemplo, a presença dos animais, o burro e o boi são muito importante no presépio ao contrário do que se pensa porque têm a ver com uma passagem do início do livro do profeta Isaías que diz, “o burro conheceu o seu dono e o boi conheceu aquele que o alimenta mas Israel não conheceu o seu Senhor”. A presença dos animais tem também quase que um sentido escriturístico, é quase como que
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um ato de fé para dizer que Jesus cumpre de facto aquela palavra e o facto de ser deitado numa manjedoura tem a ver com Jesus ser o alimento e se fazer dom. O seu último grande gesto, aquele que se perpetua no tempo é a eucaristia em que Jesus se torna alimento. Ele é colocado por Maria na manjedoura que é o lugar da comida, dos impuros. Jesus é alimento que se oferece e por isso também a manjedoura é um sinal que mais tarde vamos entender perfeitamente.
AE – Depois há o episódio dos pastores a quem o anjo anuncia este nascimento. O facto de serem pastores também podemos fazer uma leitura noutro prisma? Os pastores não são uma classe sacerdotal. JTM – Há dois sentidos. Um é esse Evangelho da alegria, os anjos que dizem “anuncio-vos uma grande alegria que o será para todo o povo, hoje nasceu para vós um salvador”. É a grande alegria do nascimento de Jesus e o anúncio de uma salvação para todos, não para os eleitos mas uma salvação que chega a todos os homens e por isso veem os últimos. Isto é, aqueles que socialmente têm uma menor dignidade. Os pastores viviam fora das cidades, viviam |
a cuidar dos animais, eram considerados impuros e é interessante que são esses os últimos na escala social que primeiro chegam, que primeiro acolhem a adorar o Deus que nasce. Isso também já diz alguma coisa do ministério de Jesus que é o salvador de todos mas que abre o seu coração de uma maneira muito particular para os últimos de cada tempo e de cada sociedade.
AE- Estes últimos e no caso dos pastores também não se puseram com grandes perguntas para saberem ao certo o que tinha acontecido. Eles perceberam o mistério e puseram-se a caminho. Mais uma vez alguém que está a caminho? JTM – Uma das coisas extraordinárias no Evangelho de Lucas é muitas vezes coloca-nos como modelo, os pecadores, os impuros porque ele diz: “os que se julgam santos justificam-se a si mesmos”, vivem numa autossuficiência e são aqueles que precisam de salvação que nos explicam o que é acolher a salvação. Também hoje podemos viver o mistério do Natal de uma forma muito autossuficiência dispensando o próprio Jesus, como se o Natal fosse apenas uma conversa entre nós. |
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AE – No anúncio aos pastores a criança que nasceu é o salvador, já não é o filho de José e Maria. O que interessa é o salvador dado à humanidade? JTM – Isso mostra a capacidade de ver o invisível. Quando os pastores se inclinam diante de Jesus estão a ver para lá daquilo que os olhos veem e o mistério da encarnação de Jesus pede de nós essa capacidade. Jesus é um de nós, vive a nossa história mas temos de ser capazes de olhar nele o Deus connosco, o Deus que se faz presente nas nossas vidas.
AE – O papel dos pastores não termina no facto de irem visitar porque eles regressam exultantes e anunciando aos outros o que viram. Este nascimento, esta mensagem não é para guardar no segredo, na satisfação pessoal de cada um é para comunicar aos outros? JTM – Um dos traços muito belos na narrativa da infância é essa espécie de propagação. Eu vi e vou chamar outro a ver e vou dizer o que vi e vou contar e tece-se como uma espécie de polifonia. É como que uma luz que não se pode esconder e a propagação |
é hoje para nós um compromisso muito grande. No fundo vemos, ouvimos e lemos o que tocamos acerca do mistério da vida é aquilo que vo-lo anunciamos.
AE – É o desafio hoje passados estes anos nas conjunturas históricas, económicas e sociais que vivemos de nos deixarmos fascinar, emocionar, tocar por este nascimento do salvador que se revisita todos os anos? JTM – Nós cristãos não vivemos estes acontecimentos apenas como acontecimentos históricos de um passado. Vivemo-los também na sua dimensão de presente e de futuro. Jesus não nasceu, nasce. Jesus não foi apenas contemplado por aqueles personagens que nós colocamos no presépio, cada um de nós é uma personagem do presépio e tem de sentir-se envolvido nesta história sentindo que ele nasceu para si. Jesus nasceu para que cada um de nós tenha a possibilidade de nascer mesmo sendo velho, mesmo sentindo que até já viveu coisas contraditórias mas somos chamados a sentir que Jesus nasce hoje para nos fazer nascer neste momento.
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AE – Na forma de viver o Natal, os presépios já estiveram mais fora do imaginário do que agora? JTM – Há um regresso. Penso que o texto de São Lucas pode ajudar muito. Era importante não cair numa estilização do presépio que o deslocasse do seu fundo bíblico porque há uma série de elementos que são muito importantes, como: o burro, o boi, a manjedoura. Pode parecer de facto que são supletivos mas são |
de facto elementos essenciais, tal como claro o menino, Maria e José. É interessante a tradição do presépio que é como o grande teatro do mundo, representam a vida nas aldeias e vemos os presépios populares portugueses, o de Machado de Castro mas mesmo esses de barro anónimos que todo o mundo é colocado no presépio. É muito bonito porque é acreditar que Jesus nasce neste mundo concreto e é muito curioso. |
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Festa de Natal abre portas amanhã
A 25ª Festa de Natal com as pessoas sem-abrigo começa amanhã pelas 15h na Cantina da Cidade Universitária de Lisboa.
Durante os 3 dias são disponibilizados inúmeros serviços de apoio (espetáculos, vestuário, calçado, cabeleireiro, saúde, refeições, apoio jurídico, Espaço Aberto ao Diálogo, área da cidadania, espiritualidade entre outros) aos muitos convidados que se esperam na Festa. Neste ano jubilar a Comunidade celebra a Esperança na Vida assente no Amor e na Justiça, homenageando todos os que fizeram parte da sua história e olhando também para o futuro, de forma a levar a esperança a quem mais precisa.
Em 2012, foram distribuídas cerca de 7.000 peças de roupa a 2.990 convidados, realizados 161 rastreios dentários, 281 consultas médicas e rastreios de tensão arterial e de diabetes, 152 banhos quentes, 576 atendimentos na Loja do Cidadão e 216 cortes de cabelo. Além disso, o Espaço Aberto ao Diálogo atendeu 187 convidados que mostraram interesse em ingressar no programa de recuperação da Comunidade Vida e Paz.
Horário da Festa: 6ªf – 15h às 20h30 Sábado e Domingo – 14h às 20h30
Morada: Avenida Professor Gama Pinto 1649-003 Lisboa Cantina da Cidade Universitária de Lisboa (junto ao Hospital Santa Maria)
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“Natal dos Sós” em Campanhã |
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O Natal é a época mais marcante do ano, pois nela vêm ao de cima aqueles valores íntimos que estão ligados ao carinho do berço, pela mão de uma mãe atenta e afável. Evidentemente que Jesus aparece normalmente, pois a marca cristã não morreu de todo. No entanto, a força do Natal transbordou muito para além da vivência cristã... e ainda bem! E assim, pelo Natal, multiplicam-se as iniciativas de apoio aos mais pobres, sejam as prendas, os cabazes ou as ceias... normalmente almoços ditos de Natal. Em Campanhã, Porto, há diversas iniciativas, uma boa parte promovidas por gente de formação cristã, mas também através de associações, centros sociais e Junta de Freguesia. Desde 1987 que a paróquia de Santa Maria de Campanhã promove, no dia 24, às 19 horas, uma Ceia de Natal para os mais sós. Realiza-se no Patronato-Associação Nun’Álvares e destina-se a quem correria o risco de ficar só na grande noite das famílias. Costumam ser meia centena
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aqueles que acorrem, alguns com grande desejo de ajudar os outros... daqui levando o que lhes faz mais falta: o carinho de um ambiente familiar em que todos convivem e se ajudam. De longe ou de perto, alguns economicamente carecidos, todos são pobres naquilo que é a riqueza do Natal: uma família feliz! O acolhimento, pelas 18 horas (Travessa da Corujeira de Baixo, 140) ajuda cada um a sentir-se bem: será tratado pelo primeiro nome, não havendo títulos nem dignidades. Às 19 horas, o pároco, de nome Fernando, aparece, a todos saúda e faz memória do nascimento de Jesus, lendo a narrativa bíblica. Reza-se o Pai-Nosso lembrando todas as famílias e quem esteja em sofrimento para que Jesus lhes faça chegar o carinho da Sua alegria. Os jovens e o grupo coral cantam melodias conhecidas e alguns amigos do Natal apresentam as suas mensagens, indo depois jantar com as suas famílias. Segue-se a tradicional Ceia, num |
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ambiente muito simples em que se tenta pôr a servir quem disso for capaz, misturando quem vem de fora com o grupo de membros da comunidade. No fim, há um tempo de convívio, oferecem-se algumas prendas e, às 22 horas, chegam os “anjos do Natal” para levar cada um a sua casa. Alguns têm já o hábito de interromper a ceia em família para prestarem este serviço... quando chegam a casa é que comem os bolos!
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Esta iniciativa da Paróquia de Campanhã conta com o apoio da Associação Nun’Álvares que abre a dispensa, oferecendo tudo o que é preciso. Aos pobres que podem fazer a Ceia em sua casa, os vicentinos levam um cabaz de Natal com tudo o que é preciso. É assim que em Campanhã haverá Natal para todos.
Padre Fernando Milheiro |
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Bispo de Bragança confraterniza com estudantes na Ceia de Natal |
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Será uma ceia de Natal diferente para dezenas de alunos de programas de intercâmbio internacional que, por estes dias, estudam em Bragança. D. José Cordeiro, Bispo da Diocese de Bragança-Miranda, lançou o repto à cerca de um mês, após uma celebração na Catedral de Bragança. Uma vez que são muitos os estudantes deslocados das suas raízes, que nesta altura do ano estão impossibilitados de ir às suas casas e estar com as suas famílias, D. José Cordeiro desafiou-os a reunirem-se todos à mesma mesa com o prelado na noite do dia 24 de dezembro, antes da celebração da missa do Galo na Catedral diocesana. “A iniciativa nasceu muito naturalmente no final de uma missa de domingo onde jovens estudantes, nomeadamente do programa Erasmus, e de outros, disseram que ficariam cá e nasceu a ideia de jantarmos juntos para celebrarmos também juntos a Fé à noite na Catedral”, explica D. José Cordeiro.
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A ideia foi prontamente acolhida com entusiasmo, que se traduz no número de adesões, de várias dezenas nesta altura, o que permite “a troca cultural”. “E também podermos celebrar a profundidade e a beleza do Ministério do Natal”, sublinha D. José. O sucesso inicial permitiu mesmo alargar o âmbito do convívio. “Inicialmente nasceu para estudantes estrangeiros que não podem ir às suas famílias e aos seus países. Depois a ideia ganhou corpo e os estudantes que vivem em Bragança querem associar-se à missa da noite e à Catedral. Vêm dar um colorido maior à iniciativa, que está a mobilizar muitos deles”, nota o Bispo de Bragança-Miranda. Os alunos que vão participar na ceia natalícia são, sobretudo, oriundos dos Países de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), como Angola, Cabo Verde, S. Tomé ou Brasil, e também de alguns países europeus, sobretudo de Leste. |
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Esta ideia até já não é completamente nova na diocese. Há alguns anos, ainda como capelão do Instituto Politécnico de Bragança, D. José Cordeiro desafiou as famílias da cidade a acolherem nesse dia um estudante estrangeiro. “Conseguiu-se que um número significativo de famílias acolhesse cada aluno daqueles que participavam nas atividades da paróquia escolar e na capelania do Politécnico. Tendo presente isso ousei propor aos
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jovens no encontro que tivemos há um mês”, explica o prelado. Para D. José Cordeiro, a sua experiência como emigrante ajudou-o a compreender melhor a necessidade de uma iniciativa como esta. “Já fiz a experiência como emigrante e sinto ainda, de uma maneira mais vincada, esta necessidade de o ter proposto e da reação imediata e muito positiva da parte dos estudantes”, conclui o Bispo de Bragança-Miranda. António Rodrigues |
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Natal ecuménico |
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Dando continuidade com uma tradição que, desde há já alguns anos, se vem cimentando entre os jovens cristãos das Igrejas Católica Romana, Lusitana (Comunhão Anglicana) e Metodista da região do Porto, terá lugar, na próxima 6ª feira, dia 20 de dezembro, a edição de 2013 dos “Cantares Ecuménicos de Natal pelas ruas do Porto”. Aos transeuntes que, por estes dias, percorrem, “a alta velocidade”, as ruas da Baixa portuense, estes jovens pretendem recordar que “o Natal é de Jesus” (ou, numa versão em inglês já entretanto colocada a circular nas redes sociais, que “Jesus is the reason for the season”). Recordação “em passo lento”, e em total contraponto com a correria dos que com eles se cruzam, também ela sinal de que as coisas verdadeiramente importantes têm “outro ritmo”… Apelo “cantado” à memória, não só das melodias natalícias mais tradicionais mas fundamentalmente daquela que é a (nossa) identidade mais densa, daquela que é a |
essência mais profunda deste Tempo “mágico”: o de sermos Filhos do mesmo Deus, porque renascidos no Nascimento de Jesus, Seu Filho, que nos veio libertar de toda a escravidão e tristeza. É Ele (e só Ele) – e a fé que nele têm e partilham - a razão pela qual estes jovens se reúnem, ano a ano e ao longo de todo o ano, em outras atividades igualmente ecuménicas, não obstante as diferentes “leituras” (Tradições) eclesiais de onde são originários. E é também por isto que estes são uns “cantares” especiais: a sintonia dos acordes e das vozes (devidamente ensaiadas e “aquecidas”), quer ser aqui sinal da “sinfonia do encontro” dos olhares, das vontades, das inteligências e dos corações em direção àquilo que é o mais importante, a saber, a mensagem de fé, de alegria, de paz e de amor que o Filho de Deus veio trazer ao mundo e que o Natal quer celebrar. Em tempo de tantos “ruídos”, a maioria deles ”estranhos” (e, por vezes até, contrários) ao verdadeiro “espírito” do Natal, |
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os “Cantares de Natal pelas ruas do Porto” são, assim, uma forma singela de “testemunho direto” da verdadeira Alegria Natalícia. Re-centrar as atenções naquilo que é o essencial e verdadeiramente refundante, deste Tempo e de toda a nossa História: o nascimento de Jesus, o “Emanuel”, “Deus-connosco”, o seu Advento no nosso coração e na nossa vida – eis o seu objetivo. Para participar, muito pouco é |
exigido: que se apareça no local e hora marcados (Largo de Santo Ildefonso – Batalha) e leve consigo esta mesma vontade e alegria em cantar que “O Natal é de Jesus”!
Luis Leal (Teólogo) – Secretariado Diocesano da Pastoral Juvenil do Porto – Igreja Católica Revº Sérgio Alves – Igreja Lusitana (Comunhão Anglicana) |
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Anúncio do nascimento de Jesus |
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Ao sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um homem chamado José, da casa de David; e o nome da virgem era Maria. Ao entrar em casa dela, o anjo disse-lhe: «Salve, ó cheia de graça, o Senhor está contigo.» Ao ouvir estas palavras, ela perturbou-se e inquiria de si própria o que significava tal saudação. Disse-lhe o anjo: «Maria, não temas, pois achaste graça diante de Deus. Hás de conceber no teu seio e dar à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus. Será grande e vai chamar-se Filho do Altíssimo. O Senhor Deus vai dar-lhe o trono de seu pai David, reinará |
eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim.» Maria disse ao anjo: «Como será isso, se eu não conheço homem?» O anjo respondeu-lhe: «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo estenderá sobre ti a sua sombra. Por isso, aquele que vai nascer é Santo e será chamado Filho de Deus. Também a tua parente Isabel concebeu um filho na sua velhice e já está no sexto mês, ela, a quem chamavam estéril, porque nada é impossível a Deus.» Maria disse, então: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.» E o anjo retirou-se de junto dela.
(Do Evangelho segundo São Lucas, capítulo 1) Maria Teresa Gonzalez, escritora |
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Visita de Maria a Isabel |
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Por aqueles dias, Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se à pressa para a montanha, a uma cidade da Judeia. Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino saltou-lhe de alegria no seio e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. Então, erguendo a voz, exclamou: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. E donde me é dado que venha ter comigo a mãe do meu Senhor? Pois, logo que chegou aos meus ouvidos a tua saudação, o menino saltou de alegria no meu seio. Feliz de ti que acreditaste, porque se vai cumprir tudo o que te foi dito da parte do Senhor.» Cântico de Maria Maria disse, então: «A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador. Porque pôs os olhos na humildade da sua serva.
De hoje em diante, me chamarão bem-aventurada todas as gerações.
O Todo-poderoso fez em mim maravilhas. Santo é o seu nome. |
A sua misericórdia se estende de geração em geração
sobre aqueles que o temem. Manifestou o poder do seu braço e dispersou os soberbos. Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes. Aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias. Acolheu a Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia, como tinha prometido a nossos pais, a Abraão e à sua descendência, para sempre.» Maria ficou com Isabel cerca de três meses. Depois regressou a sua casa. (Do Evangelho segundo São Lucas, capítulo 1) Sara Ideias, atriz |
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Nascimento de Jesus |
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Por aqueles dias, saiu um édito da parte de César Augusto para ser recenseada toda a terra. Este recenseamento foi o primeiro que se fez, sendo Quirino governador da Síria. Todos iam recensear-se, cada qual à sua própria cidade. Também José, deixando a cidade de Nazaré, na Galileia, subiu até à Judeia, à cidade de David, chamada Belém, por ser da casa e linhagem de David, a fim de se recensear com Maria, |
sua esposa, que se encontrava grávida.
E, quando eles ali se encontravam, completaram-se os dias de ela dar à luz e teve o seu filho primogénito, que envolveu em panos e recostou numa manjedoura, por não haver lugar para eles na hospedaria.
(Do Evangelho segundo São Lucas, capítulo 2) Padre Tolentino Mendonça, biblista e poeta
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Os Magos do Oriente |
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Tendo Jesus nascido em Belém da Judeia, no tempo do rei Herodes, chegaram a Jerusalém uns magos vindos do Oriente. E perguntaram: «Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer? Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo.» Ao ouvir tal notícia, o rei Herodes perturbou-se e toda a Jerusalém com ele. E, reunindo todos os sumos sacerdotes e escribas do povo, perguntou-lhes onde devia nascer o Messias. Eles responderam: «Em Belém da Judeia, pois assim foi escrito pelo profeta: E tu, Belém, terra de Judá, de modo nenhum és a menor entre as principais cidades da Judeia; porque de ti vai sair o Príncipe que há de apascentar o meu povo de Israel.» Então Herodes mandou chamar secretamente os magos e pediu-lhes informações exacas sobre a data em que a estrela lhes tinha aparecido. E, enviando-os a Belém, disse-lhes: «Ide e informai-vos |
cuidadosamente acerca do menino; e, depois de o encontrardes, vinde comunicar-mo para eu ir também prestar-lhe homenagem.» Depois de ter ouvido o rei, os magos puseram-se a caminho. E a estrela que tinham visto no Oriente ia adiante deles, até que, chegando ao lugar onde estava o menino, parou. Ao ver a estrela, sentiram imensa alegria; e, entrando na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se, adoraram-no; e, abrindo os cofres, ofereceram-lhe presentes: ouro, incenso e mirra. (Do Evangelho segundo São Mateus, capítulo 2) Júlio Martin, ator e encenador |
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Bento XVI - «A Infância de Jesus» |
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Mateus e Lucas – cada um à sua maneira – queriam não tanto narrar «histórias», mas escrever história: história real, sucedida, embora certamente interpretada e compreendida com base na Palavra de Deus. Isto significa também que não havia a intenção de narrar de modo completo, mas de escrever aquilo que, à luz da Palavra e para a comunidade nascente da fé, se revelava importante. As narrativas da infância são história interpretada e, a partir da interpretação, |
escrita e condensada. Entre a palavra de Deus e a história interpretadora há uma relação recíproca: a Palavra de Deus ensina que os eventos contêm «história da salvação», que diz respeito a todos. Mas os próprios eventos desvendam, por sua vez, a Palavra de Deus e levam a reconhecer a realidade concreta que se esconde nos diversos textos.
Padre João Lourenço, biblista |
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Eu disse à minha diocese que este Advento vivido em tema de missão jubilar e em caminhada das bem-aventuranças tem de ser Advento de tempo futuro. O Natal é isso. É o anúncio da esperança num tempo novo, em que não haja neblinas no horizonte e em que as pessoas marcadas por mais sofrimentos recuperem o ânimo, a força, a alegria e a esperança. Isto só é possível com a ajuda e com a comunhão de todos. A Igreja tem de ser presença de anúncio e certeza de proximidade para ajudar todos a viver um santo e feliz Natal.
D. António Francisco dos Santos Bispo de Aveiro
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Aproveito a ocasião, na proximidade da celebração do mistério da encarnação do Senhor, do Natal, para saudar todos e partilhar a alegria que nos vem do nascimento de Jesus. E tomo as palavras que marcam esta quadra festiva para, com votos de paz e de harmonia, desejar que o Natal de Cristo nos ajude a construir essa harmonia e essa paz com todos à nossa volta. Que o Natal seja um tempo de alegria, de esperança e de harmonia. Umas boas festas para todos.
Padre João Lourenço Diretor da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa
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O Natal do presente
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O padre Vasco Pinto Magalhães, da Província Portuguesa da Companhia de Jesus (jesuítas), explica a importância de criar espaços para que exista o acolhimento de Deus no Natal, que por excelência é também o encontro da família. “Às vezes podemos ficar só nas rabanadas e no bacalhau, nas luzinhas e na árvore, no presépio, que é um Natal devocional”, começa por revelar o sacerdote jesuíta, que destaca mais três géneros natalícios para assinalar esta data: “O Natal mais teológico, um mais espiritual e um mais cultural e social”. “Tudo envolve uma preparação já que é um momento de grande celebração”, acrescenta o padre Vasco Pinto Magalhães que considera que “ninguém consegue passar ao lado de uma ideia tão bonita como o de nascer, por isso, o Natal tornou-se muito social e humano”. “Festejamos o nascimento, uma coisa ternurenta, Maria, José, o menino pequenino, a ideia que qualquer coisa devia renascer |
mais profundamente porque podemos ficar apenas no ato poético e revirados para o passado”, desenvolve em entrevista à Agência ECCLESIA. Para o autor de diversos livros de espiritualidade, a celebração deve ser o “Natal do presente e não só a memória de 2 mil anos” mas um Natal do futuro: “Creio que tem de ser mais consistente se não ficamos pelo decorar a cidade ou as casas, não se pode ficar muito exterior”, acrescenta. Nesse sentido, para além do acolhimento à família, o sacerdote destaca também a necessidade de dar uma “atenção muito especial aos pobres, aos marginalizados, aos excluídos e não só por uma questão de solidariedade social que já era bom mas porque percebemos que é esse o sentido da fé cristã e o Natal concretiza-se porque se não fica abstrato”. Num tempo em que a crise “não deixa que haja tantas prendas”, o presente de Natal é significativo uma vez que foi e é Deus que se faz presente num apelo |
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“bastante mais fundo não tanto de dar presentes” mas de cada um tornar-se “presente, próximo” porque o Natal é a festa da proximidade de Deus à humanidade”, clarifica. A consoada é por excelência a noite do encontro da família, do acolhimento que o sacerdote jesuíta considera uma “dimensão muito certeira” porque percebe-se que “a vida só faz sentido” |
se as pessoas se aproximarem umas das outras. Para o dia 24 de dezembro, o padre Vasco Pinto Magalhães aconselha como “grande gesto o abraço, ter vontade de dizer ao mundo que a vida vale a pena”; como leitura o Evangelho ou “Um Deus à Flor da Terra”, de Christian Bobin, e como celebração um “ato de agradecimento”. |
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Humildade e solidariedade
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O Papa defendeu no Vaticano que a melhor forma de celebrar o Natal são os gestos solidários com “os mais fracos e marginalizados”, à imitação de Jesus, que quis nascer “pequenino e pobre”. “Se no Natal Deus não se revela como alguém que olha do alto e domina o Universo, mas como alguém que se humilha e desce à terra pequenino e pobre, isso significa que para nos parecermos com Ele não devemos colocar-nos acima dos outros, mas humilhar-nos, pôr-nos ao seu serviço, fazer-nos pequenos com os pequenos e pobres com os pobres”, declarou, na catequese da última audiência pública semanal de 2013.
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Perante dezenas de milhares de peregrinos reunidos na Praça de São Pedro, Francisco convidou os católicos a “abrir o coração”, na celebração de Natal. “Deixando um lugar livre na mesa da Ceia de Natal, pensemos nos pobres, nos que têm fome, nas pessoas sós, nos sem-abrigo, nos marginalizados, nos que sofrem por causa da guerra e, de forma especial, nas crianças”, declarou, na saudação aos peregrinos de língua polaca.
O Papa insistiu na importância da humildade e afirmou que “um cristão que se pavoneia é uma coisa feia, não é cristão: o cristão serve, humilha-se”. “Façamos que os nossos irmãos e irmãs nunca se sintam sós: a nossa presença solidária ao seu lado explica, não só com as palavras mas também com a eloquência dos gestos, que Deus está próximo de todos”, acrescentou. Francisco repetiu um gesto habitual, nestes encontros, e deixou de lado o texto para |
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convidar os presentes a repetirem, consigo, uma frase: “Jesus é Deus connosco”. Segundo o Papa, a celebração do Natal é uma “festa da confiança e da esperança”, que ultrapassa “a incerteza e o pessimismo”. “A razão da nossa esperança é esta: Deus está connosco”, para se deixar encontrar “onde o homem passa os seus dias, na alegria e na dor”, precisou. Francisco destacou o facto de Jesus ter assumido a história humana “com todo o peso dos seus limites e dos seus dramas”, o que demonstra a sua “inclinação misericordiosa e plena de amor” para com todas as pessoas. |
“Daqui vem o grande presente do menino de Belém: uma energia espiritual que nos ajuda a não nos afundarmos na nossa fadiga, no nosso desespero, na nossa tristeza, porque é uma energia que aquece e transforma o coração”, disse ainda.
Francisco deixou uma saudação peregrinos de língua portuguesa, com votos de “um santo Natal repleto de consolações e graças do Deus Menino”. “Nos vossos corações, famílias e comunidades, resplandeça a luz do Salvador, que nos revela o rosto terno e misericordioso do Pai do Céu. Ele vos abençoe com um Ano Novo sereno e feliz”, acrescentou. |
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Vaticano divulga estatísticas
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O Vaticano revelou que mais de 1,5 milhões de pessoas estiveram com o Papa nas audiências concedidas por Francisco desde a sua eleição, em março. Os dados foram divulgados pela Prefeitura da Casa Pontifícia, organismo da Santa Sé, e referem-se às 30 audiências semanais de quarta-feira, para as quais são emitidos bilhetes (gratuitos). No dia da última audiência geral do ano, o Vaticano referiu que os números deixam de fora “os fiéis que participaram de forma espontânea nas audiências ao longo da Avenida da Conciliação”, que liga Roma à Praça de São Pedro. A Prefeitura da Casa Pontifícia distribuiu 1,54 milhões de bilhetes para estes encontros, entre 27 de março e hoje, que nalguns casos levaram ao Vaticano mais de 100 mil pessoas. “Muitas vezes foram colocados ecrãs gigantes na Praça Pio XII [junto à Praça de São Pedro] e a Avenida da Conciliação transformou-se numa zona pedonal”, destaca a sala de |
imprensa da Santa Sé. O “pico” na distribuição de bilhetes aconteceu a 29 de maio, com mais de 90 mil entradas, num dia em que o Papa passou pelo meio da multidão num carro aberto, à chuva. Estes são números aproximados, calculados com base nos pedidos de participação nos eventos dirigidos à prefeitura e nos bilhetes gratuitos distribuídos pela mesma, bem como nas estimativas de presença nas grandes celebrações na Praça São Pedro. De fora ficam os dados relativos a outras celebrações no Vaticano, à viagem internacional ao Brasil (Rio de Janeiro e Aparecida) e às três viagens na Itália, incluindo uma passagem pela ilha de Lampedusa. A Prefeitura da Casa Pontifícia estimava que no pontificado de Bento XVI (abril de 2005-fevereiro de 2013) mais de 21 milhões de pessoas tenham participado em encontros com o agora Papa emérito no Vaticano e na residência de verão de Castel Gandolfo. |
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Santa Sé pede diálogo intercultural
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O Vaticano divulgou hoje em conferência de imprensa o documento ‘Educar para o diálogo intercultural na Escola Católica. Viver juntos para uma civilização do amor’, da Congregação para a Educação Católica (CEC), organismo da Santa Sé. O prefeito da CEC, cardeal Zenon Grocholewski, disse aos jornalistas que “a palavra-chave que liga em conjunto todos os aspetos abordados no documento é ‘diálogo’”, em resposta às indicações dadas pelo Papa Francisco. O cardeal polaco evocou os “sofrimentos” das 70 milhões de crianças que segundo dados da UNICEF (2013) não vão à escola e citou, a esse respeito, a jovem paquistanesa Malala, alvo de um ataque dos talibãs em 9 de outubro de 2012, quando voltava a casa num autocarro escolar. “Uma criança, um professor, um livro, uma caneta podem mudar o mundo. A educação é a única solução”, disse a vencedora do prémio Sakharov 2013, concedido pelo parlamento Europeu. |
![]() O prefeito da CEC afirmou que o direito de “todas as crianças a uma instrução justa” é “demasiadas vezes descurado quando se trata de meninas”, falando em fatores “muito preocupantes” que ameaçam a educação. Durante a conferência de imprensa foram apresentados os dados relativos ao número de alunos nas escolas católicos a nível mundial, entre 2008 e 2011, registando um aumento de quase 3 milhões (5%) de estudantes. No total, 209 670 escolas católicas nos cinco continentes acolhiam 57,6 milhões de alunos em finais de 2011, com crescimento na Ásia, África e Oceânia e diminuição na Europa (de 8,64 milhões para 8,46) e América. |
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O passado |
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Ahmad, de origem iraniana, regressa a Paris após anos de ausência no Irão. À sua espera no aeroporto está Marie, sua mulher e motivo do seu regresso. De vida amorosa refeita, Marie requereu o divórcio. Na casa que foi sua, onde ambos vivem os últimos dias de casados juntamente com as duas filhas da mulher, o novo namorado desta, Samir, e o seu filho, Ahmad e Marie confrontam-se com o tempo, a distância e as palavras nunca ditas que os separaram. Entre um passado carregado de interrogações e um presente atribulado que urge definir, Ahmad tenta ajustar-se, redescobrindo o seu lugar naquela família que lhe é simultaneamente tão estranha e tão próxima… Passam dois anos desde que crítica e cinéfilos foram surpreendidos por ‘Uma Separação’, o filme de Asghar Farhadi que arrebatou o júri do festival de Berlim, dali saindo com o Urso de Ouro e os prémios para melhor ator e atriz, e arrecadou o Oscar da |
Academia de Artes e Ciências Cinematográficas para melhor filme estrangeiro, entre muitos outros prémios e nomeações por vários pontos do mundo cinematográfico. Ali, Farhadi mostrou uma capacidade invulgar para lidar com a verdade, ao mergulhar no sentido e significado profundos de uma cadeia de acontecimentos que, comumente possíveis, evidenciam fragilidades sociais, afetivas e éticas do nosso tempo. Mais uma vez, em ‘O Passado’ a separação de um casal é a fenda através da qual transpomos a trivialidade e o anonimato das ruas de uma cidade, o desmazelo de uma vizinhança com que não temos grande afinidade, os estrangeiros que somos uns para os outros, os desconhecidos com que casualmente nos cruzamos, para atribuir nome, sentido e alma a um conjunto de personagens, agora pessoas, nos seus conflitos e desafios. Ahmad que sofreu uma depressão calada a que escapou extemporaneamente deixando para trás a família. Marie |
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que procura resposta à dureza dos dias no afeto de homens vários e nos filhos gerados, Samir que deambula entre a vida possível com Marie e a morte anunciada da mulher, em coma. E finalmente Lucie, a filha perdida numa adolescência povoada de medos e segredos. Uma trama feita de uma memória acumulada de culpas e silêncios geradores de ruturas e de enganos que o divórcio, expondo por catarse verdades escondidas, vem resgatar, reunindo em vez de separar e abrindo espaço para a reconciliação. Gerida com delicadeza, na progressiva intimidade dos |
espaços e das personagens, a narrativa fílmica de Asghar Farhadi faz-nos olhar por dentro e por fora o que há de único e comum nas relações, ao mesmo tempo que levanta questões pertinentes sobre a complexidade das famílias, do papel do homem e da mulher, das relações de trabalho e de imigração que não se reduzem nem ao contexto francês nem ao iraniano. Prémio do júri ecuménico na última edição de Cannes, o filme foi elogiado como ilustração do versículo ‘…e a verdade vos libertará’ (Jo 8, 32).
Margarida Ataíde |
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Presentes Solidários 2013 |
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Pelo terceiro ano consecutivo, por altura do Natal, recomendamos este extraordinário espaço virtual, porque consideramos que esta nossa proposta faz sentido todos os anos. Como é sabido a internet é cada vez mais um meio para promoção de entidades, ideias, projetos e negócios. Agora que a possamos utilizar para dar mais sentido ao nosso Natal e principalmente ao Natal dos outros? Não acredita? É verdade, basta que visite o sítio www.presentessolidarios.pt e facilmente percebe que a sua base de trabalho está sustentada nas tecnologias, como forma de atingir um maior número de aderentes. Com uma apresentação gráfica bastante eficaz e clara, ao entrarmos neste espaço virtual, somos facilmente envolvidos no espirito solidário. Da responsabilidade da Fundação Fé e Cooperação, organismo de Igreja Católica Portuguesa, esta campanha «Presentes Solidários 2013», contribui “de forma
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concreta para a melhoria das condições reais de vida de inúmeras famílias dos Países Lusófonos”. Através da página inicial poderemos imediatamente acompanhar diariamente a evolução da campanha, clicando em barómetro. É possível também, aceder às mais recentes notícias que vão dando ecos deste extraordinário projeto. Na opção “presentes 2013”, podemos conhecer ao pormenor cada um dos onze presentes que estão ao dispor para este ano. Clicando em cada um deles, fica informado acerca do custo do presente, a quem se destina, quem são as entidades responsáveis pela sua administração, bem como qual o local para onde vai a sua oferta. Caso pretenda saber como se opera esta ação solidária, aceda a campanha. Aí pode assistir a um vídeo promocional que explica detalhadamente o seu funcionamento, ler um conjunto de respostas às dúvidas mais comuns e ainda saber quais são as entidades que apoiam este |
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projeto. No item resultados, somos informados sobre o sucesso das campanhas dos anos anteriores, onde facilmente acedemos aos resultados efetivos dos presentes entregues e a algum feedback dos beneficiados. Como forma de aumentar o sucesso e a divulgação desta ação, foi criado o conceito de padrinho solidário, onde diferentes personalidades nacionais abraçam mais de perto este projeto. Por último, está ao dispor das escolas um conjunto |
de manuais, divididos por ciclos de estudo, que ajudam de uma forma muito concreta a divulgar a campanha junto de toda a comunidade escolar. Como referíamos no início, claramente este é já um projeto vencedor, quer pela magnificência dos objetivos a que se propõe, quer pela qualidade da sua presença virtual. E não se esqueça, com os presentes solidários, dá a duplicar!
Fernando Cassola Marques |
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Moral cristã e responsabilidade
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O jesuíta italiano Sergio Bastianel, especialista em Teologia Moral, disse à Agência ECCLESIA que os católicos são chamados a assumir a “responsabilidade do viver social”, a todos os níveis, incluindo a economia e a “correta distribuição das riquezas”. “É preciso proceder de modo a que não usemos as dificuldades de facto, que são reais, e os problemas que são maiores do que nós para nos desculparmos e, por isso, dizer que não podemos fazer nada”, referiu o autor, que apresentou duas obras, em Lisboa. A reflexão do docente |
universitário destaca a responsabilidade pessoal no modo como os problemas sociais são compreendidos e assumidos, porque “a questão não passa pelas regras éticas, mas pela atitude da consciência, a formação da própria pessoa”.
“O objetivo de se procurar a partilha a todos os níveis nunca pode deixar ser primário”, acrescenta. Os livros ‘Entre Possibilidades e Limites’ (autoria e coordenação) e ‘Moralidade Pessoal na História’ foram editados em português pela Cáritas. Entre os problemas |
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abordados está o da fome, que está no centro da mais recente campanha internacional da organização católica de solidariedade. “Fazer uma campanha, projetada ao mais alto nível, envolvendo todas as organizações da Cáritas é importante, porque o primeiro nível de resultados é o da sensibilidade e de mentalidade”, afirmou o padre Bastaniel. O especialista considera que, do ponto de vista ético, “é preciso que se dê atenção, para a vivência pessoal, ao facto de os diversos problemas, de uma forma ou de outra” colocarem em questão cada pessoa. “Nunca acontecerá que aqueles que têm bens achem que é razoável dá-los aos outros a não ser que tenham realmente percebido que o único modo de viver humanamente é esse”, exemplifica. Outro elemento “fundante”, prossegue, é o “centrar a reflexão ética sobre a realidade da consciência, com confiança na pessoa e com a possibilidade de ser exigente”. |
As obras publicadas pela Cáritas fazem parte das propostas do Curso sobre o Pensamento Social Cristão, lecionado na Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa. Um dos volumes publicados, ‘Entre limites e possibilidades”, reúne textos sobre os 50 anos do Concílio Vaticano II (1962-1965) e evoca os cem anos do nascimento de uma das referências da Teologia Moral na época conciliar, o jesuíta Josef Fuchs. Sérgio Bastianel, professor catedrático de Teologia Moral, foi diretor da Faculdade de Teologia da Pontifícia Universidade Gregoriana (Roma). |
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II Concílio do Vaticano:
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Na reunião de encerramento da segunda sessão do II Concílio do Vaticano (04/12/1963), o Papa Paulo VI anuncia que iria, em Janeiro, à Terra Santa. Será a primeira vez, desde o cativeiro de Pio VII, em «Fontainebleau» (França), no reinado de Napoleão, que um Papa irá ao estrangeiro. Os últimos Papas que ultrapassaram as fronteiras de Itália são Pio VI (1775-1799) e o seu sucessor, Pio VII, (1800-1823). Convém referir que “o fizeram constrangidos por considerações diplomáticas ou até, como se sabe, contra vontade” (In: Henri Fesquet; «O Diário do Concílio» Volume I; Lisboa; Publicações Europa-América; pág. 353). O Papa Pio VI foi a Viena (Áustria) em 1782, junto de José II, “cuja política o inquietava”. Em relação ao seu sucessor, Pio VII, foi «conduzido», em 1812, como «refém» a Fontainebleau. O Papa só alcançou a sua liberdade em 1814. Cerca de um século e meio depois, um Papa anuncia que irá realizar uma viagem além-fronteiras. Paulo VI declarou que iria aos lugares santos e julgou-se, na altura, no Vaticano, que a viagem não iria durar mais de um dia. Afinal, Paulo VI esteve na «Terra Santa» de 04 a 06 de Janeiro de 1964. Convém recordar que os lugares santos estavam repartidos entre Israel e a Jordânia, e, na altura, o Vaticano e Israel não tinham relações diplomáticas. A viagem é um regresso às fontes. Não podia ser interpretada de outro modo senão como |
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a vontade de Paulo VI de reintegrar a Igreja Católica no estilo evangélico que se “esfumou pouco a pouco a partir da época de Constantino” (In: Henri Fesquet; «O Diário do Concílio» Volume I; Lisboa; Publicações Europa-América; pág. 353). Além disso, é um acto ecuménico da mais alta importância, a que os orientais foram extremamente sensíveis. Paulo VI deslocou-se à Terra Santa e encontrou-se com Atenágoras, Patriarca Ecuménico de Constantinopla. No seu discurso quando anunciou a viagem, Paulo VI disse: “Veremos o solo bendito donde partiu Pedro e aonde não voltou qualquer dos seus sucessores. Nós, humilde e brevemente, voltaremos ali em sinal de oração, penitência e renovação, para oferecer a Cristo a Sua Igreja, para chamar a Ela, que é única e santa, os irmãos separados, para implorar a misericórdia divina em favor da paz entre os homens, essa paz que nestes dias mostra uma vez mais como é frágil e
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trémula, para suplicar a Cristo Senhor pela salvação da humanidade inteira”. As palavras do Papa foram saudadas pelas aclamações dos padres conciliares e de toda a assistência. Na mensagem de Natal de 1963, o sucessor do Papa que convocou o II Concílio do Vaticano escreveu um autêntico tratado sobre as grandes necessidades do mundo actual. A primeira – apontou Paulo VI – é «A solução da fome no mundo», a segunda é «A promoção das novas nações» e a terceira passa pelo «Garantir a paz internacional». «A verdadeira união dos Espíritos» é a quarta necessidade. Como conclusão da sua mensagem natalícia, o Papa Montini revela o «Sentido da Viagem à Terra Santa». No documento, o sucessor de Pedro escreveu: “A nossa peregrinação pretende ter aspecto e finalidade exclusivamente religiosos”.
LFS |
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Dezembro 2013 |
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Dia 20
* Vaticano - Lançamento do segundo número da banda desenhada «Papa Francisco em quadrinhos». |
* Setúbal - Almoço dos sem-abrigo promovido pela Cáritas Diocesana. |
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* Lisboa - Cantina 1 da cidade universitária - Exposição fotográfica com o tema «Enquadrar a Vida», que resulta do curso de fotografia destinado aos utentes das Comunidades Terapêuticas e de Inserção da Comunidade Vida e Paz. (20 a 22)
Dia 21
* Portalegre - Pedrogão Pequeno (Igreja Matriz) - Concerto de Natal.
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* Porto - Sé (21h30m) - Concerto de Natal pelo Coro da Sé do Porto. |
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Com o aproximar da festa do nascimento de Jesus, os concertos de Natal, de norte a sul do país, dão sonoridade à festa dos cristãos. As igrejas portuguesas recebem melodias natalícias. Os coros e as orquestras dão sentido e interioridade ao nascimento do menino de Belém.
O Papa Francisco vai visitar as crianças internadas no Hospital Pediátrico «Menino Jesus» de Roma, propriedade da Santa Sé, no próximo dia 21, anunciou o secretário de Estado do Vaticano, D. Pietro Parolin “Tal como os seus predecessores, Francisco demonstra pelas crianças um extraordinário amor paterno. Quanto mais promovermos a infância, melhor será o nosso futuro”, declarou o arcebispo italiano.
O «Presépio na Cidade», organizado para anunciar o sentido cristão do Natal por um grupo de leigos católicos, está de volta novamente, com presença na Basílica dos Mártires no Chiado. O «Presépio da Cidade» está em Lisboa, com um “espaço de encontro e acolhimento”, no exterior da Basílica dos Mártires, até 24 de dezembro, das 14h00 às 19h00.
O Secretariado Diocesano das Comunicações Sociais de Bragança-Miranda, em parceria com a Pastoral do Turismo, desafiou os diocesanos a fotografarem coroas de Advento e presépios como iniciativa do tempo de Advento e de Natal. As fotografias das Coroas de Advento “estarão em votação até ao Natal” e devem ser enviadas até ao dia 22 de dezembro, e serão publicadas no facebook da Diocese Bragança-Miranda.
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Programação religiosa nos media |
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Antena 1, 8h00 RTP1, 10h00 Transmissão da missa dominical
11h00 - Transmissão missa
12h15 - Oitavo Dia
Domingo: 10h00 - O Dia do Senhor; 11h00 - Eucaristia; 23h30 - Ventos e Marés; segunda a sexta-feira: 6h57 - Sementes de reflexão; 7h55 - Oração da Manhã; 12h00 - Angelus; 18h30 - Terço; 23h57-Meditando; sábado: 23h30 - Terra Prometida. |
RTP2, 11h22
RTP2, 18h00
Terça-feira, dia 24 - Natal em Alter do Chão e entrevista ao padre Vasco Pinto de Magalhães.
Quarta-feira, dia 25 -Presépios de Estremoz e entrevista ao padre Vasco Pinto de Magalhães.
Quinta-feira, dia 26 - Informação e entrevista ao padre Vasco Pinto de Magalhães.
Sexta-feira, dia 27 - Apresentação da liturgia dominical pelos padres Robson Cruz e Vitor Gonçalves.
Antena 1 Domingo, dia 22 de dezembro, 06h00 - O padre José Tolentino Mendonça reflete sobre o evangelho de Lucas lido na noite de Natal.
Segunda a sexta-feira, dias 23 a 27 de dezembro, 22h45 - Leitura e análise de textos biblicos com Maria Teresa Gonzalez, Sara Ideias, José Tolentino Mendonça, Júlio Martin e João Lourenço. |
Cremos num Deus ou em três deuses?
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Ano – 4.º Domingo do Advento |
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Acolher o Deus connosco |
O Evangelho do quarto domingo do Advento apresenta Jesus como a incarnação viva do Deus connosco. Contém um convite implícito a acolher de braços abertos a proposta de salvação que Ele traz e a deixar-se transformar por ela. No episódio de hoje temos, não uma descrição de factos históricos, mas uma catequese sobre Jesus. Fundamentalmente, procura-se mostrar que Jesus o Messias vem de Deus, que a sua origem é divina. Procura-se ensinar qual será a missão de Jesus: o nome que Lhe é atribuído mostra que Ele vem de Deus com uma proposta de salvação para toda a humanidade. A figura de José desempenha aqui um papel muito interessante. Pela sua obediência, a quem o anjo se dirige como o filho de David, realizam-se os planos e as promessas de Deus ao seu Povo. A festa do Natal que se aproxima deve ser o encontro de cada um de nós com este Deus que vem ao nosso encontro; e esse encontro só será possível se tivermos o coração disponível para O acolher e para abraçar a proposta que Ele nos veio fazer. Com frequência, o Natal é a festa pagã do consumismo, das prendas obrigatórias, da refeição melhorada, das tradições familiares que têm de ser respeitadas mesmo quando não significam nada. Nós, cristãos, celebramos o Natal – preparado no nosso coração – à maneira pagã ou como verdadeiro encontro com esse Deus libertador, cuja proposta de salvação estou interessado em escutar e acolher? Mais ainda: no esbanjamento, na opulência, no desperdício, |
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cometemos autênticos atentados e pecados a tantos pobres e excluídos de bens essenciais para viver ou sobreviver. E se calhar fazemos isso olhando para a simplicidade e a pobreza do presépio… As figuras de Maria e de José aí estão para nos apelar à essência das coisas para quem prepara mesmo o Natal como deve ser: escutar os apelos de Deus, responder com um “sim” de disponibilidade total. Deus está sempre a dar-nos sinais, mas nós procuramos quase sempre do lado do extraordinário. Raramente Deus está no extraordinário. O sinal que Ele nos oferece é o de uma família humana, como as nossas, em que Ele se faz corpo para ser “Deus connosco”. Que espaço Lhe abrimos nas nossas vidas de homens e de mulheres para que o Sinal da sua Presença e do seu Amor seja legível para todos os que O procuram hoje? Só com o coração aberto a Deus poderemos acolher os irmãos. Só deixando que Deus seja Natal nas nossas vidas poderemos ser Natal para os outros. Nem mais! |
Mãos à obra em mais uma semana que Deus nos concede, a semana do Natal! Manuel Barbosa, scj www.dehonianos.org
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RCA: Igreja acolhe milhares de pessoas em fugaAs panquecas do irmão Mathieu |
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Antes da chegada das tropas francesas à República Centro-africana, viveram-se dias trágicos, com combates entre gangues armados. O balanço é tremendo: centenas de mortos, milhares de pessoas em fuga, igrejas e mosteiros transformados em centros de acolhimento. É o caso do convento carmelita de Bangui, que é agora dormitório para mais de 2 mil pessoas
O irmão Mathieu nunca imaginara que o seu talento para a culinária fosse tão aplaudido como naquela manhã. Quem chegasse ao convento carmelita de Bangui, a capital da República Centro-africana, ficaria perplexo. Numa fila, cerca de 800 crianças aguardam que lhes deem a mais saborosa panqueca das suas vidas. Lá dentro, na cozinha, está o irmão Mathieu. Há pouco, Yousuf, um amigo muçulmano dos carmelitas, dono de um pequeno aviário, oferecera 2 mil ovos. Foi providencial. Milhares de pessoas fugiram de suas casas e correram para as |
igrejas em busca de abrigo. Nas ruas, em total impunidade, bandos armados semearam o terror, numa espiral de violência que começou em Março, quando um grupo islamita, os Seleka, fizeram um golpe de Estado e depuseram o presidente. Desde então, o caos tomou conta do país. Os Cristãos tornaram-se um dos seus alvos principais. Há relatos de pessoas mutiladas, torturadas, mortas a sangue-frio. As aldeias foram abandonadas, as casas saqueadas, reduzidas a cinzas. Em Bossangoa, no norte, a Caritas teme pela segurança de 40 mil pessoas acampadas junto da missão católica. Nas ruas jazem corpos que ninguém se atreve a ir buscar.
Um convento em azáfama Voltemos ao irmão Mathieu. Desde que aquelas duas mil pessoas pediram abrigo aos carmelitas que a vida no convento mudou. A Igreja agora é um dormitório. Oiçamos o padre Trinchero: “Celebramos a missa da manhã lá fora para não |
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acordarmos as 350 crianças que dormem na capela. Duas até dormiram debaixo do altar. Temos de tomar conta deles todos, a cuidar de tudo.” |
garante que as portas estarão
Paulo Aido | Departamento de Informação | www.fundacao-ais.pt | info@fundacao-ais.pt |
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Amigo, neste Natal do Senhor quero vê-lo! |
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D. José Cordeiro, Bispo de Bragança-Miranda |
«…e o Verbo fez-se homem e veio habitar connosco» (Jo 1, 14).
Hoje, o Natal continua a ser a habitação do imenso amor de Deus que se mostra àqueles cujo anseio fundamental é “ver” a Deus, isto é, que aceitam a vocação de ver o invisível. E esta revelação é de tal modo forte que se torna presença na realidade real. Para onde olhar, então, senão para a realidade de todos os dias? É mesmo aí que Deus habita. Aqui e agora sentimos que a vida de cada pessoa vai «de início em início, através de começos sempre novos» (cf. S. Gregório de Nissa). «Amigo, neste Natal do Senhor quero vê-lo!», assim disse Francisco de Assis, no início de dezembro de 1223, voltando-se para o amigo Giovanni Velita, um proprietário rico de Greccio. Francisco explicou ao seu amigo o que queria dizer “ver” o Natal. Daquela compreensão nasceu o presépio como é conhecido na cultura cristã, na piedade e na arte dos países latinos. Francisco é um crente com um coração de criança. Os antigos diziam: «para quem acredita tudo é prova, para quem não acredita nenhuma prova basta». A sua fé “vê” o que crê, mas ele sentia uma lacuna na representação do nascimento do Filho de Deus. Graças às suas peregrinações a Roma, ele conhecia o nascimento |
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representado nos mosaicos das grandes basílicas, mas não lhe bastava. Por isso, criou uma imagem viva do Menino de Belém, feito de carne, de um olhar, de um gemido, de um sorriso e, ao mesmo tempo, pediu um sacerdote para celebrar naquela noite a Eucaristia. Com efeito, a Eucaristia é, já, semeada em Belém, casa do pão. E isto ainda |
hoje se pode ver, no fresco da gruta do Presépio em Greccio, próximo de Rieti em Itália. A simplicidade da fé ilumina toda a vida e faz-nos aceitar com docilidade as grandes coisas de Deus. Experimentamos como a alegria perfeita é possível também neste mundo, apesar dos sofrimentos e das dores de cada dia. Uma vida sem
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reconhecimento é uma vida triste, difícil, que ignora o prazer e a beleza do dom, que acredita que tudo seja sempre devido, e antes de se alegrar pelo que possui, vive na raiva por aquilo que pensa que lhe foi retirado.
A nós foi-nos dada a alegria de poder dizer obrigado, de voltar a descobrir as palavras mágicas que tornam a vida mais leve, os gestos de fineza e de atenção que ultrapassam as tensões mais duras e abre a janela do encontro. Responder à vocação de ver o invisível é próprio da pessoa humana, um ser natal. «Se Cristo tivesse nascido mil vezes em Belém, mas não nasce em ti, então nasceu em vão» (A. Silesius).
A procura de Deus é também uma atenção ao outro, àquele Jesus que nasce às vezes como um “incómodo” na nossa vida, mas quando a habita torna-a experiência de bondade e um lugar de comunhão e de paz. O Natal reforça em nós a capacidade de interpretar a imagem de Deus e de O ver nos rostos sofredores de tantas famílias, em muitos desempregados, pobres, doentes, migrantes, presos, vítimas da |
violência doméstica, mais sós, pessoas idosas. Rezo, vejo e contacto diariamente com alguns irmãos e irmãs assim, especialmente nestes tempos desafiantes e tão exigentes. Aqueles que são a manifestação das chagas de Deus e da sua fragilidade, mostram a necessidade de tecermos as relações solidárias e de proximidade. Deus continua a escolher a periferia das periferias, para que ninguém se sinta excluído do seu abraço e faz-se homem, amando-nos com um coração de carne. O grande M. Torga também o expressou deste modo poético: «sei o teu nome na página da noite, Menino Deus… E fico a meditar no milagre dobrado de ser Deus e menino. Em Deus não acredito. Mas em ti, como posso duvidar?» Aos crentes e não crentes, auguro um coração de carne na alegria da Esperança, Cristo Jesus, o Deus Menino. Deixa Deus habitar a tua casa e deixa-te olhar por Ele! Boas festas e um Santo Natal Buonas fiestas i un Santo Natal. |
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Menino Jesus - Miranda do Douro Fotografia - oferta de Luis Cordeiro |
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Natal 2013 |
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Tony Neves |
Cristo vai nascer. Vem sempre até nós quando o nosso coração é uma porta aberta a Deus e a todas as pessoas. Natal é uma festa sem fronteiras. Este Natal é especial, como cada um dos que vivemos até hoje. O mundo sente a perda de Nelson Mandela, um cristão-estadista que quis tomar a sério o caminho da não-violência e a solução dos conflitos através da reconciliação e do perdão. Tentou fazer da África do Sul um ‘país arco-íris’, com todas as raças, tribos, cores e religiões. Ele - como disse D. Manuel Clemente - merece estar na História ao lado de homens como Gandhi e Luther King, por terem acreditado que era possível vencer-se sem recurso á força das armas. A 'não-violência' será sempre a arma mais poderosa. Ao olhar para o mundo onde vivemos e onde Cristo quer nascer, vejo manchas de sangue que atentam contra a dignidade das pessoas e beliscam a mensagem do Natal. A República Centro Africana está a ser saqueada por bandidos armados, que pertencem a um movimento de fundamentalistas islâmicos. O Sudão do Sul continua a braços com uma pobreza extrema da maioria da sua população. Uma parte da Nigéria continua a ferro e fogo, com lutas entre fações cristãs e muçulmanas. A guerra na Síria continua sem fim á vista… de facto, o Príncipe da Paz precisa de chegar depressa |
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a muitas partes do mundo onde quem manda é a violência. Mas o mundo tem obrigação de sorrir porque o Papa Francisco publicou a ‘Alegria do Evangelho’, um hino à felicidade, à justiça, à paz, aos direitos humanos, á opção pelos mais pobres. Francisco pede mais espiritualidade para que também haja mais missão, mais compromisso efetivo com os excluídos deste mundo. Pode haver melhor Natal porque a Caritas lançou a Campanha Mundial ‘uma só família humana, alimento para todos’. Haver tanta gente a passar fome é um escândalo, uma crise de civilização e o Papa Francisco alertou para o facto de que ‘não se pode virar a cara para o lado e fingir que os quase mil milhões de famintos não existem’. |
No postal que enviei a muita gente, por todos os meios, escrevi: ‘Natal é a Festa da Família, a Festa dos Pobres, a Festa da Ternura de um Deus que se fez um de nós. Acorda-nos o Papa Francisco quando escreve: ‘devemos dizer não a uma economia da exclusão e da desigualdade social. Esta economia mata. Não é possível que a morte por enregelamento de um idoso sem-abrigo não seja notícia, enquanto o é a descida de dois pontos na bolsa. Isto é exclusão. Não se pode tolerar mais o facto de se lançar comida no lixo, quando há pessoas que passam fome. Isto é desigualdade social’. (A Alegria do Evangelho, nº53)’. Desejo, do fundo do coração, um Natal com Amor e um 2014 cheio de Alegria, Justiça e Paz. |
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«Meu irmão de Dezembro, levanta-te, olha em redor e vê que já nasceu o dia, e há-de andar por aí uma roda de alegria. Se não souberes a letra, a música ou a dança, não te admires, porque tudo é novo. Olha com mais atenção. Se mesmo assim ainda nada vires, então olha com os olhos fechados, olha apenas com o coração, que há-de bater à tua porta uma criança. Deixa-a entrar. Faz-lhe uma carícia. É ela que traz a música e a letra da canção. Ela é a Notícia». (Da Mensagem de Natal d e D. António Couto, Bispo de Lamego) |
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