04 - Editorial:

      Sandra Saldanha

06 - Foto da semana

07 - Citações

08 - Nacional

14 - A semana de...

      Margarida Duarte

16- Entrevista

       Margarida Cordo
24- Dossier

      Vida Consagrada

38- Internacional

44 - Cinema

 

 

 

46 - Multimédia

48 - Estante

50 - Vaticano II

52 -  Agenda

54 - Por estes dias

56 - Programação Religiosa

57 - Minuto YouCat

58 - Liturgia

60 - Fundação AIS

62 - Ousemos pôr-nos sob o mesmo teto!

         Irmão Alois 

66 - LusoFonias

 

 

 

 

 

 

 

 

Tema do dossier da próxima edição:

Diocese de Setúbal

Foto da capa: D.R.
Foto da contracapa:  Agência Ecclesia

 

 

 

AGÊNCIA ECCLESIA 
Diretor: Paulo Rocha  | Chefe de Redação: Octávio Carmo
Redação: Henrique Matos, José Carlos Patrício, Lígia Silveira, Luís Filipe Santos, Margarida Duarte, Sónia Neves
Grafismo: Manuel Costa | Secretariado: Ana Gomes
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CNIS sugere reformas para o Estado Social

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Por uma comunicação mais humana

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Ousemos pôr-nos sob o mesmo teto

Irmão Alois, Prior de Taizé

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Igreja e Ciência: uma relação possível

Sandra Costa Saldanha,
Secretariado Nacional dos Bens Culturais da Igreja

 

A propósito do debate que, em torno da investigação científica, se intensifica nos últimos dias, importa refletir sobre o que, em matéria de ciências humanas, tem beneficiado a Igreja. Centrada no conhecimento que, de longa data, um vasto leque de profissionais produz em torno do património religioso, mesmo quando focados em interesses mais ou menos vocacionados para os desideratos eclesiais, Igreja e Ciência tardam a conciliar-se neste domínio. Não apenas por reiteradas dificuldades de comunicação e acesso, mas, sobretudo, pelo subaproveitamento dos resultados, cujos frutos - se colhidos - em muito potenciariam a ação da própria Igreja. Ao contrário, repetem-se publicações duvidosas, ausentes de massa crítica, que nada acrescentam às comunidades que fruem esse património.

Importante contributo para um conhecimento adequado, alicerçado em processos de aprendizagem aprofundados - em áreas como a Teologia, a Liturgia ou a Iconologia - é clara a dicotomia entre as instituições. Um alheamento confrangedor, face a um trabalho que se generaliza como não inteligível, ou restrito a um meio académico fechado. E o equívoco começa aqui. Um profissional de mérito dirige eficazmente o seu discurso a qualquer tipo de público. Mas fundamentando-o num conhecimento sólido, que um diletante não possui. 

 

 

 

 

Desvendando caminhos e difundindo saberes, potencia também a valorização do seu âmbito de estudo, consequente e essencial, no processo de salvaguarda e estima coletiva.

Creio mesmo que se desaproveita 

 

- arriscando uma expressão tão contundentemente na ordem do dia - o “retorno científico” desse processo, resultante da transformação do conhecimento em resultados concretos, assente em anos de trabalho e projetos qualificados.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

“O processo de ajustamento não teria sido tão doloroso se Portugal tivesse atuado mais cedo, e não apenas quando já estava encostado à parede, em Abril de 2011”.

Olli Rehn, comissário europeu dos Assuntos Económicos durante uma conferência sobre governação económica no Parlamento Europeu, em Bruxelas, 21-01-2014

 

 

 

“O governo quer uma economia de baixos salários, comprimidos pelo desemprego alto, e produzindo barato para exportar mais (mas não melhor), um país a meio-gás para recursos a meio-gás, e tudo isto complementado por serviços públicos a quem se apertou o torniquete”.

Rui Tavares, em artigo de opinião no jornal Público, 22-01-2014

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

“Esta reunião é uma oportunidade frágil, mas real de travar o sofrimento de milhões de pessoas, vocês têm uma enorme oportunidade e uma responsabilidade para com o povo sírio. Quantas pessoas vão ainda morrer na Síria, se perdermos esta oportunidade?”

Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU durante a cimeira “Genebra II”, 22-01-2014

 

 

 

“A nível global, vemos a distância escandalosa que existe entre o luxo dos mais ricos e a miséria dos mais pobres. Frequentemente, basta passar pelas estradas duma cidade para ver o contraste entre os que vivem nos passeios e as luzes brilhantes das lojas.”

Papa Francisco, na mensagem para o 48.º Dia Mundial das Comunicações Sociais, 23-01-2014

 

 

CNIS sugere reformas para o Estado Social

A Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade Social (CNIS) elaborou uma análise crítica para o debate da reforma do Estado, tendo como objeto de estudo o documento ‘Um Estado Melhor’ elaborado pelo Governo. “No modo de ver da CNIS, haveria ganhos de eficiência e de racionalidade com algumas modificações orgânicas, entre elas “a regulação e fiscalização da atividade do setor social a cargo de uma entidade reguladora independente da administração; a revisão da estrutura orgânica da segurança social, nomeadamente no que respeita à ação social”, propõe o documento, enviado à Agência ECCLESIA.

“Sem cuidar agora de saber se o sistema previdencial exige uma estrutura centralizada, temos como certo que a prossecução das modalidades de ação social não só não a exige, como a repele”, explica o comunicado assinado pelo presidente da CNIS, o padre Lino Maia.

O responsável explica que “os anos mais recentes, em particular de 1997 em diante, têm visto 

 

uma progressiva centralização dos serviços de ação social, no âmbito do ISSS, algo que necessita de ser revisto”.

A restauração da previsão inicial quanto ao formato da Rede Social é apontada também como essencial uma vez que “mais do que um colégio representativo das entidades do Setor Social, em registo de planeamento em parceria, se vem convertendo num instrumento vinculado ao poder municipal”, lamenta a CNIS.

O documento define ainda a necessidade de implementar a “consciência da natureza da escala de intervenção das IPSS e do Setor Solidário em geral, no que respeita à proximidade às populações e às respetivas carências, quando houver que debater transferência de poderes ou de atribuições às autarquias locais”.

No que respeita à educação pré-escolar, a CNIS lembra “que se trata de uma rede surgida inicialmente por iniciativa do Setor Solidário e que vem merecendo igualmente uma persistente ofensiva por parte do mesmo Ministério da 

 

 

 

 

 

Educação, traduzida na construção de Centros Escolares, com salas para jardim de infância, em locais onde já se encontram em atividade jardins de infância da Rede Solidária”.

“Quer quanto à componente educativa da educação pré-escolar, quer quanto ao ensino obrigatório, a CNIS defende a 

 

manutenção das suas características de gratuitidade e universalidade”, refere o comunicado.

O processo de fusão de freguesias que aumentou a escala territorial, afastando o núcleo da periferia, reforçou a importância da proximidade das IPSS para com os cidadãos agora desprovidos da “organização pública local”.

 

 

LOC/MTC pede «trabalho digno»

A equipa nacional da LOC/MTC - Liga Operária Católica/Movimento de Trabalhadores Cristãos – reforçou os seus apelos em favor de um “trabalho digno, justamente remunerado”, criticando a falta de apoio do Estado aos desempregados e pensionistas. “Os trabalhadores estão cada vez mais pobres, esmagados e sem condições de vida digna, sujeitos a grande pressão nos seus locais de trabalho pelas condições que lhe são impostas e sentem-se desmotivados, deprimidos e impelidos a aceitar, muitas vezes, situações que vão contra à sua dignidade”, denuncia a organização, em comunicado enviado à Agência ECCLESIA.

O documento critica a falta de apoio ao desemprego, “onde se encontra mais de um milhão de trabalhadores” em Portugal, “cada vez mais, reduzido e humilhante”, deixando muitas pessoas “sem condições de vida digna”. Os responsáveis do movimento mostram-se solidários com as “angústias e as esperanças destes tempos tão difíceis”, fruto de situações de “injustiça 

 

laboral e social a nível local, nacional e internacional”.

“Por não encontrarem trabalho nem condições de poderem viver com dignidade no nosso país, muitos, principalmente os mais novos, estão a recorrer à emigração, procurando noutros países o que não encontram em Portugal”, sublinha a LOC/MTC.

A Liga Operária Católica afirma, por outro lado, que os pensionistas, “que trabalharam e descontaram toda a sua vida, numa base de confiança”, estão a ser “espoliados de parte das suas pensões, colocando e mantendo muitos abaixo dos níveis de pobreza”. O comunicado aponta a “recessão económica e o ataque generalizado e rápido ao Estado Social” como consequência de políticas “impulsionadas pelo mercado financeiro”.

 

 

 

 

Dia Nacional da UCP

A Universidade Católica Portuguesa (UCP) vai assinalar este ano o seu dia nacional a 2 de fevereiro, com o lema ‘Inspirar o Futuro’, perspetivando o período pós-crise. “Temos um pacto com o presente e queremos fazer tudo, mas mesmo tudo, para estar à altura das suas exigências. Cremos, contudo, que não podemos ficar por aqui. O nosso pacto é também com o futuro, e isso em nenhum momento pode ficar esquecido”, escreve a reitora da instituição, Maria da Glória Garcia, na sua mensagem para esta celebração.

A responsável reconhece as “dificuldades económicas e sociais” que devem “mobilizar” os esforços de todos. “Por isso mesmo queremos habitar a linha da frente: queremos intensificar os nossos pontos fortes, mas investir igual coragem e ambição em redimensionar o que são hoje os pontos mais frágeis. Queremos consolidar o que hoje somos e fazemos, mas também progredir e inovar, pois só assim corresponderemos ao que se espera de nós”, escreve.

 

 

 

A reitora da UCP desafia a instituição a “interpretar, antecipar e garantir as vias de futuro” e a trabalhar com “paixão”, “empenho” para reforçar “a coesão e o impacto deste extraordinário projeto da Igreja portuguesa”.

Maria da Glória Garcia fala na necessidade de “uma cultura de excelência” que permita consolidar a posição da Universidade Católica “no panorama universitário português e internacional”.

A sessão solene do Dia Nacional da UCP, presidida pelo magno chanceler da instituição, D. Manuel Clemente, vai realizar-se a 31 de janeiro, pelas 16h30, na sede da universidade, em Lisboa.  .

 

 

 

A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram a atualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizados em www.agencia.ecclesia.pt

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

XIV Encontro de Formação de Agentes Sociopastorais

 

 

 

Liberdade religiosa: perseguição e projetos de ajuda

 

 

 

 

 

 

A necessidade de olhar para os outros

Margarida Duarte,

Agência ECCLESIA

 

Em reportagem nas Jornadas de Formação do Clero em Coimbra, uma das conferências a que assisti abordava o tema da política e da economia na atualidade do país e do mundo. O conferencista, Francisco Sarsfield Cabral lembrava que “é preciso ter a noção de que todos têm obrigação de ajudar os que sofrem, algo que se tem vindo a perder”.

“Há uma quebra dum sentido ético muito grande” que “levou as pessoas a desinteressarem-se pelos outros”, dizia o comentador da Rádio Renascença que citou estudos recentes que mostram que “quanto mais ricas são as pessoas em Portugal menos têm interesse ou preocupação em ajudar os outros”.

Algo preocupante, não só em Portugal como em todo o mundo, onde quem tem poder quer sempre mais e na caminhada até ao topo faz-se apenas acompanhar pelos “amigos”, criando em todas as estruturas, sejam elas privadas ou públicas, os tão conhecidos, mas sempre negados, “jobs for the boys”, que põem de lado a possibilidade de pessoas dedicadas, profissionais e com créditos mostrados chegarem a patamares que num mundo do trabalho sério e rigoroso, seriam seus por direito.

Uma das entidades que tenta evitar esse tipo de situações é o Conselho de Prevenção da Corrupção (CPC), que ontem apresentou no parlamento o seu caderno de encargos para este ano. Entre outros objetivos o 

 

 

 

 

 

documento explica que o CPC quer investigar as áreas em que o atual Governo se tem mostrado mais ativo, nomeadamente os processos de privatizações.

Durante a audição, o presidente da CPC, Guilherme d'Oliveira Martins, aproveitou para “meter a foice em seara alheia” como disse e apontou lacunas no plano legislativo, aconselhando os deputados a “dar resposta” às recomendações do grupo internacional GRECO, lembrando as “carências na lei de financiamento dos partidos”. “As campanhas internas partidárias não estão sujeitas a qualquer controlo”, alertou para, de seguida, abordar ainda o tema do enriquecimento ilícito.

Guilherme d’Oliveira Martins disse aos deputados o que muitos portugueses pensam e confirmou ainda um dado pouco animador: a austeridade tem tido um impacto no fenómeno da corrupção, há um aumento de “20 para 25 % da economia paralela”, e prova disso é o simples dado de que “temos mais notas de 500 euros a circular em Portugal”, pena 

 
 

é que cada vez mais reunidas nos mesmos bolsos. A contrapor, e porque o bom de ser jornalista é tentar conhecer todas as realidades, no início da semana tive oportunidade de conhecer uma história inspiradora… Uma vida dedicada ao próximo, desprendida de bens materiais. A história da irmã Elvira Nadais, de 76 anos que escolheu ser consagrada aos 27 anos e que há mais de 40 anos trabalha com os mais necessitados no bairro do Fim do Mundo, no Estoril.

Num tempo em que os portugueses vivem descrentes para com a justiça e a falta de equidade de quem governa, o exemplo desta irmã salesiana é uma lufada de ar fresco que mantém a esperança viva.

 

 

Afetividade integrada
e madura é essencial na vida religiosa

Pobreza, castidade e obediência são pilares a propor hoje à sociedade que, quando conhece, valoriza o exemplo e o acompanhamento dos religiosos. A ECCLESIA conversa com Margarida Cordo sobre o contexto familiar e as congregações que favorecem o amadurecimento vocacional. Psicóloga e psicoterapeuta há mais de 20 anos, vai estar presente no encontro sobre «Espiritualidade e afeto na proposta vocacional», promovido pela pastoral vocacional dos Institutos da Vida Consagrada.

 

AE - Que papel tem a vida religiosa hoje? Conseguimos perceber que os votos de castidade, obediência e pobreza continuam a ser pilares importantes a propor à sociedade?

MC - Creio que sim. Tenho um grande respeito pela vocação consagrada. Exige maturidade, uma grande capacidade de entrega e de fé, uma grande confiança em Deus e de abandono. Isto não tem 

 

 

momento nem tempo de vida. É sempre atual.

Sei que, para as pessoas que não se inserem na Igreja, é difícil de conceber, porque, em geral, olha-se para o que uma vocação consagrada representa apenas na perspetiva do que a pessoa tem a perder, ou seja, quais são as coisas da vida que ela não pode viver.

Eu diria de outra forma: o sentido dos pilares que a vida consagrada propõe, predispõe a um melhor posicionamento na ajuda, na entrega ao outro, no acolhimento ao outro na sua condição total. O desprendimento pelas coisas mais visíveis, mais materiais ou físicas, e uma entrega, em fé, onde as pessoas podem transcender-se e, com isso, estar disponíveis para quem as rodeia de uma forma única.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

AE - Sendo um sinal contracorrente, são sinais positivamente acolhidos pela sociedade?

MC - Não sei se positivamente acolhidos por toda a sociedade. Mas tenho a convicção que, quem procura e encontra o sentido na vida consagrada – e não me refiro apenas aos religiosos, mas incluo quem os procura – valoriza muito.

Talvez eu esteja num meio onde esta dimensão de vida seja mais valorizada, mas tenho a noção clara de que é respeitada e valorizada, e não está fora de moda.

Outra parte da sociedade, por falta de informação, acesso ou por falta de determinado tipo de vivência – isto sem culpar ninguém – não têm noção desta riqueza que advém destes pilares da vida consagrada. Vivida com toda a verdade é uma riqueza.

 

AE - Olhando para a sociedade, e para as pessoas que acompanha, como é que a vida religiosa deve ser proposta?

MC - Eu diria através do conhecimento – e nisto refiro-me

 

 a saber, o contactar, a perspetivar e a conceber o que pode ser uma relação com Deus - que é algo vago para quem não tem um caminho neste âmbito.

Acima de tudo pela coerência e exemplo. Quem tem responsabilidade ou representa determinado papel não se pode compactuar com a incoerência. A incoerência entre o agir e o dizer é um perigo. É a forma de não propor.

Mas é uma pergunta difícil porque penso que a vocação não se propõe mas ajuda-se o outro a descobrir.

 

AE - As famílias têm sido esse lugar e demonstram essa competência para acompanhar a descoberta vocacional, seja ela qual for?

MC - Há um conceito, no qual vou refletindo, que aponta para o facto de tantas vezes pensarmos em famílias disfuncionais onde isto não acontece. Quando se fala em «famílias disfuncionais» colam-se padrões clássicos que arranjamos: o divórcio, o segundo casamento,

 

 

 

a monoparentalidade, famílias constituídas entre casais do mesmo sexo. Rotulamos que a disfuncionalidade advém daqui.

O meu conceito aponta para outra forma de disfuncionalidade, até porque conheço famílias monoparentais que são lugares 

 

de afeto e amor. Eu conheço mulheres que adotaram crianças, claramente, como fruto de abundância e do amor que têm e não para receber ou colmatar lacunas afetivas.

 

(continua)

  

 

 

Acho que temos de ter muito cuidado quando rotulamos. As famílias aparentemente funcionais são também uma forma de famílias disfuncionais. As famílias onde tudo se faz como parece bem, tudo se faz para que outros validem como sendo bem feito. Essas não são as famílias onde se ajuda a construir e a aderir à vocação. Não é neste ambiente que se abre um caminho de Igreja e rumo à relação com Deus.

Numa família onde os valores e os princípios não são apregoados mas vividos, não são rótulos de prestígio para os outros mas vivências dentro do núcleo e exemplo exterior quando é necessário, onde as pessoas não vivem para se confirmar narcisicamente - nestas famílias, claramente, há lugar para ajudar a despertar para a vocação. Seja ela qual for.

 

AE - Essa caracterização pode ser aplicada às congregações religiosas? São lugares de família, não de sangue, mas onde a vocação deve ser confirmada?

 

 

MC - Com a experiência que tenho de proximidade a algumas congregações religiosas, e sublinhando o devido valor que a minha opinião tem, diria que claro, as congregações religiosas e as comunidades devem ser lugares de acolhimento do outro. Por vezes, há riscos, porque não são famílias naturais. São pessoas que não se conheceram, não viveram ao longo da vida uma série de experiências e se juntam para integrar uma comunidade.

Entendo que deve ser um lugar de acolhimento mas, se podemos apontar pelo menos uma coisa – nas várias que deveriam ser apontadas – há uma que a mim me parece muito importante: para que o espaço seja de maturidade e que todos possam ir crescendo e dando o melhor de si ao serviço, a ambição de poder e protagonismo não devem ter lugar nas congregações religiosas.

 

 

 

AE - No encontro da pastoral vocacional dos institutos da vida consagrada, vai aludir às “Dores e alegrias dos afetos na construção de uma história vocacional». Pergunto-lhe como é que o percurso pessoal de um religioso se enquadra para haver essa disponibilidade de abertura e acolhimento ao outro?

MC – Nós, porque somos humanos e temos um corpo, condição essencial dessa 

 

humanidade, temos coisas que resultam do próprio corpo. Experimentamos impulsos. Ou seja, não é pelo facto de se estar uma comunidade religiosa que uma pessoa deixa de ser integrado, numa perspetiva psicanalítica, por id, ego e super ego, sendo que o id corresponde à impulsividade e mais primária do eu.

(continua)

 

 

 

Diria ainda que, se nas famílias temos o desafio de crescer e ser afetivamente maduros, não temer esse crescimento e essa maturidade progressiva, claramente na vida consagrada, o trabalho e o caminho a fazer na perspetiva da afetividade não é negá-la ou inibi-la, porque isso é parte integrante do homem. Da mesma forma que não é inibir ou negar o que está relacionado com a sexualidade, porque isso advém do facto de termos um corpo.

É com certeza a fazer um caminho de progressiva maturidade no domínio da vertente afetiva. Todos temos cognição, afetos e ação. E a afetividade tem claramente um papel primordial. Por isso, o caminho da maturidade afetiva tem vários estádios, mas tem o objetivo de poder promover o equilíbrio psicológico. Este processo implica alcançar um estado de bem-estar consigo, com os outros e com a vida.

 

 

 

AE - É nessa perspetiva que a obediência, a castidade e a pobreza devem ser entendidos?

MC - Quando se tem de abdicar de coisas fundamentais, claramente estes pilares são um enorme desafio no processo de maturidade afetiva, neste enquadramento, porque se sabe para que é que este processo é feito e por que se abdica.

Atenção que o abdicar não é perder; eu perco quando deixo de ter ausência de vontade e abdico quando, conscientemente, para atingir algo, abro mão de outra coisa e trata-se de abdicar com sentido, não com sofrimento.

 

 

Semana do Consagrado 2014

Pelo quinto ano consecutivo, vai realizar-se, de 26 de janeiro a 2 de fevereiro de 2014, a Semana do Consagrado. Como sabemos, é uma iniciativa da Conferência Episcopal Portuguesa, a concretizar nas Dioceses e Paróquias, Comunidades cristãs e religiosas, em todos os espaços eclesiais e com a qual a Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal (CIRP) colabora de forma particular.

O tema “Transformados na alegria do evangelho” integra-se na caminhada eclesial a que o Papa Francisco nos convida nesta hora.

A CIRP disponibiliza alguns materiais que podem ser aproveitados em momentos de oração, celebração e reflexão, nomeadamente: a mensagem do Presidente da Comissão Episcopal das Vocações e Ministérios (CEVM), a vigília de Oração, as preces diárias, uma pagela de oração para toda a semana, o cartaz com o logótipo (com resolução / qualidade para se imprimir e afixar num placard) e uma proposta de homilia para

 

 o último dia (2 de fevereiro).

Todos estes subsídios estão a ser disponibilizados nas páginas da CIRP (www.cirp.pt) e nos meios de comunicação e redes sociais mais acessíveis.

Apelamos e agradecemos que se faça a máxima divulgação desta Semana junto das Dioceses e Paróquias, bem como dos Institutos, Comunidades Religiosas e Institutos Seculares, mormente através dos Secretariados Regionais da CIRP.

Acolheremos outros contributos complementares dentro desta temática de quem desejar enriquecer o dossier preparado e os fizer chegar à CIRP (secgeral.cirp@gmail.com).

Confiamos à proteção de Maria, a Virgem fiel, a fecundidade desta Semana com todas as atividades que forem desenvolvidas. Roguemos-lhe que nos assista, para que o nosso caminhar quotidiano seja testemunho de fidelidade-felicidade a Deus e ao próximo.

Unida em Cristo Jesus.

 

Ir. Lucília Gaspar, SNSF

Presidente da CIRP

 

 

Transformados na Alegria do Evangelho

1.  O Consagrado é outro Cristo

A maior riqueza da Igreja está na possibilidade que lhe foi confiada de  fazer de cada pessoa outro Cristo por meio do Batismo. Esta é a transformação mais radical que o Sacramento opera e que pode ser assumida na vivência da fé eclesial.

Os Consagrados são, na Igreja, aqueles que receberam a vocação de testemunhar com a totalidade da sua pessoa esta nova realidade, por meio de uma configuração perfeita com o Senhor Jesus Cristo, expressa na vivência dos conselhos evangélicos da pobreza, da castidade e da obediência.

Assumem uma forma específica de viver, transformados por Cristo, caraterizada pela radicalidade do seu estilo de vida. Esse é o contributo que a Igreja lhes pede e de que o mundo precisa como auxílio para vislumbrar o rosto de Deus.

Há uma parte da missão da Igreja que não pode ter a expressão adequada sem a ação destes homens e mulheres totalmente imbuídos de Cristo, transformados por Cristo, rosto de Cristo.

 
2 .O Consagrado encarna a alegria do Evangelho

A vocação de consagração é fruto da descoberta do significado mais profundo da alegria do Evangelho. Não se baseia nas alegrias ou satisfações do mundo, mas fundamenta-se em Deus, no Evangelho de Jesus Cristo, que é anuncio de salvação para os pobres e pecadores, já sobre esta terra, mas sempre a apontar para a alegria definitiva da comunhão com Ele, no Céu.

Face a tantas insatisfações produzidas pela busca insaciável de alegrias fugazes, o Consagrado tem uma experiência de vida diferente a apresentar: o de uma alegria serena, discreta, sóbria, pacificadora. Esse testemunho tem tanto mais valor e capacidade de persuasão quanto mais é autêntico, vivido e sentido, quanto mais radica na comunhão com Cristo e com o Seu Evangelho.

Neste sentido, podemos dizer que o Consagrado assume a vocação de ser, na Igreja, o Evangelho vivo da alegria, que seduz, irradia, transforma e conduz à conversão.

 

 

 

 

 

2. O Consagrado proclama a alegria do Evangelho

Como toda a vocação cristã, a vocação de consagração inclui sempre as duas dimensões: viver e anunciar, ser discípulo e missionário.

No respeito pela especificidade de cada um dos carismas fundadores, há um dinamismo comum a todos, que precisa de ser potenciado de forma 

 

adequada nas presentes circunstâncias da vida da Igreja.

Os consagrados têm a especial missão de ocupar lugar ativo na “Igreja em saída” (cf. Evangelii gaudium 20), convocada pelo Papa Francisco para fazer a Evangelização do mundo. Homens e mulheres esperam esses momentos de graça, que serão de encontro com o Deus da vida e da alegria, mediados pelos que assumiram deixar-se transformar pela novidade do Evangelho.

 

 

 

 

4. Gratidão da Igreja

Em nome da Igreja em Portugal agradecemos a todos os consagrados que, entre nós, têm sido um esplendoroso sinal do Deus que acolhe e ama todos os seus filhos, com especial predileção pelos mais pobres.

Pedimos ao Senhor que confirme todos os consagrados na sua vocação e que os transforme na alegria do Evangelho.

Suplicamos ainda o dom das vocações de consagração nas nossas dioceses e na Igreja, pois acreditamos que têm um lugar privilegiado na construção do Povo que se deixa transformar por Cristo e pela alegria do seu Evangelho.

À solicitude materna de Nossa Senhora, pobre, casta e obediente, confiamos os frutos da Semana do Consagrado 2014, para a qual pedimos a sua intercessão junto de Deus.

 

D. Virgílio do Nascimento Antunes

Presidente da Comissão Episcopal das Vocações e Ministérios

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O padre jornalista
que gosta é de ser missionário

A vocação do padre José Vieira surgiu “cedo”, no meio das suas brincadeiras de menino de aldeia, em Cinfães, e ganhou força num apelo missionário que o levou até África, onde aprendeu a ver e a sentir Deus no meio da simplicidade e da alegria das comunidades locais.

Um dos passatempos favoritos que tinha, em criança, juntamente com os seus amigos, “era fazer procissões e missas” e já nessa altura “fazia sempre de padre”.

Essa “predisposição” natural “para o serviço ao Senhor” foi reforçada aos 12 anos, quando “um missionário comboniano passou pela sua escola em Cinfães”, a sua terra natal – atualmente esse homem, chamado Arnaldo Baritussi, é o postulador da Congregação dos Missionários Combonianos.

Contagiado pela “alegria e pela maneira como o missionário falou” acerca daquilo que fazia, do seu percurso, o jovem José Vieira aceitou o desafio de “fazer um estágio vocacional de três semanas em Famalicão”

 

e depois seguiu o percurso formativo da congregação comboniana.

Uma decisão que foi contra a vontade dos pais, “que queriam mais que ele fosse para o Seminário Diocesano de Lamego, que fosse pároco diocesano”, para terem o filho “mais perto” de casa. Às objeções da família, José Vieira respondeu que “a sua vocação era a missão, se não quisessem que ele fosse missionário, então casava-se”.

E foi assim, com radicalidade e determinação, que há 27 anos abraçou o sacerdócio junto da comunidade comboniana, sempre vincando que “o mais importante era ser missionário, partilhar experiências de Jesus com outras pessoas” e que “ser padre” apenas “qualificava a sua missão”.

O seu percurso de vida levou-o até África onde esteve ao serviço de várias comunidades, sobretudo na Etiópia, durante oito anos, e no Sudão do Sul, onde permaneceu outros sete e teve oportunidade de exercer a sua outra paixão: o jornalismo.

Por necessidade da congregação

 

 

comboniana, trabalhou na Revista Audácia, depois também na revista Além-Mar como diretor e finalmente nos últimos sete anos colaborou no Sudão do Sul com um grupo de combonianos na implantação de uma rede de nove rádios FM.

Depois de consolidado, o projeto coordenado pelo padre José Vieira implicava a produção de “dois boletins diários, para distribuir às 9 rádios em inglês”, cujos responsáveis depois traduziam para o idioma local e passavam aos meios de comunicação da região.

 

 

Através da sua experiência junto das populações africanas, o sacerdote aprendeu a viver uma relação com Deus “mais enraizada no coração do que na cabeça” e a dar mais valor às “pequeninas” coisas da vida, sobretudo ao “encontro com as pessoas”.

“A relação com Deus deve levar-nos à relação com os outros, se não fecha-nos numa relação estéril, se não conseguimos transpor para o plano pessoal a relação com Deus, fecha-nos a nós próprios, não é enraizada na vida”, conclui.

 

Uma vida dedicada aos pobres

A salesiana Elvira Nadais, de 76 anos escolheu ser consagrada aos 27 anos. Ao serviço dos pobres acolheu as crianças desfavorecidas e brincava com elas como principal vocação sendo que foi no bairro do Fim do Mundo, no Estoril, que encontrou um cenário pobre que a cativou e onde até hoje trabalha ajudando os mais necessitados.

“Desde novita que comecei a sentir uma inclinação grande para a vida religiosa, tinha o desejo de viver uma vida de doação aos outros, ajudar as pessoas, os doentes e também de ser uma pessoa despojada, imitando Cristo”, começa por contar a irmã Elvira Nadais em entrevista à Agência ECCLESIA.

Estudou, trabalhou e integrou-se na vida da Igreja como forma de se aproximar de Deus mas dizia ao padre da sua paróquia “que queria ser irmã”, algo a que “ele não ligou muito” dizendo que o seu papel “era na ação católica”.

No seio de uma família com 5 irmãos o desejo de Elvira também não foi bem recebido: “disse à minha mãe que queria ser religiosa,

 

mas deu-lhe um ataque de choro e eu mudei de conversa e continuei a trabalhar”, recorda.

Foi um pedido de um sacerdote às irmãs para que alguém fosse dar catequese ao bairro do Fim do Mundo, no Estoril que mudou a vida da irmã Elvira Nadais que assim que chegou ao bairro “ficou imediatamente encantada”. “Sentia a ternura de uma criança pobre, às vezes com os pés cheio de areia e feridos, com o cabelo todo desalinhado e cheio de piolhos, mal alimentados e mal vestidos mas apesar de tudo para mim era uma compensação, uma alegria muito grande!”. E se muita gente pode pensar que trabalhar com as pessoas do bairro do Fim do Mundo “é uma vida de sacrifício” para a irmã Elvira nunca o foi, “tivesse mais tempo, mais horas ainda dava muito mais de mim ainda a estas pessoas”, diz a consagrada à Agência ECCLESIA.

“Quando ia para o bairro ficava toda feliz e depois quando estava a dar aulas no colégio salesiano contava às alunas a vida dos meninos do bairro para mostrar-lhes que mais tarde poderiam vir a estar ao serviço de pessoas pobres como estas”, revela.

 

 

Os meninos do passado são agora adultos que atualmente quando se encontram com a irmã Elvira “sorriem e lembram-se dos tempos passados”, mostrando ter “muito respeito e carinho”.

O convívio, os valores e a educação que a irmã Elvira Nadais transmitiu às crianças quando chegou ao bairro do Fim do Mundo ajudou a torná-las em adultos “diferentes e com outras maneiras de agir, de compreender, colaborar e de ter respeito pelas pessoas e a ter uma irmandade entre eles, a serem amigos”, uma 

 

estabilidade que muitos dizem não existir em mais nenhum bairro problemático da zona.

Aos 76 anos, a irmã Elvira Nadais, que tem no bairro do Fim do Mundo, agora remodelado, uma rua com o seu nome, acredita que “fez o que podia com o impulso de Deus”. “Estou de consciência tranquila de que fiz quanto podia por eles e por todos, felizmente não tenho inimigos nem nunca tive, procurei sempre cumprir o meu dever, aliviando o sofrimento de algumas pessoas e dando alegria”, diz.

 

 

Ir em missão e descobrir uma família

A caminhada vocacional do padre Nuno Rodrigues, da Congregação dos Missionários do Espirito Santo, confunde-se com a história da sua família, que sempre teve uma grande dimensão missionária.

“Desde criança em casa falava-se da missão, do partir e do voltar”, recorda o sacerdote, que passou a sua infância em Angola, onde “o pai foi fazer o serviço militar” e onde alguns anos mais tarde, encontrou “dois tios missionários espiritanos”.

Um “quando vinha de férias enchia-lhe o coração com as suas histórias” mas foi o outro que desempenhou um papel fundamental na sua vida, primeiro como “padrinho de Batismo” e depois como “diretor do seminário” onde “despertou” para a sua vocação.

A entrada para o seminário aconteceu cedo, aos 10 anos, mas a verdadeira transformação de vida aconteceu oito anos mais tarde, quando o jovem conheceu um colega seminarista que tinha vindo de Cabo Verde para concluir a formação em Portugal.

O convívio com esse rapaz,

 

 

 

10 anos mais velho, vindo de uma realidade completamente diferente, reforçou ainda “mais” a vontade de Nuno Rodrigues em “partir”, em servir as pessoas, as comunidades mais distantes, mais carenciadas, como missionário.

Entusiasmado, seguiu para Cabo Verde, ainda como seminarista, e depois realizou lá a sua profissão de fé religiosa, na comunidade espiritana, e foi ordenado diácono.

Desde logo, o jovem Nuno “percebeu rapidamente que a sua família agora estava do lado de lá”, em Cabo Verde, “pelo acolhimento tão grande que lhe tinham feito”.

“Foi amor à primeira vista”, recorda o sacerdote, que “aprendeu coisas que estava longe de imaginar”, principalmente ao nível do contacto humano: destaque para o “acolhimento” e a rapidez com que o povo local se “familiarizava com o missionário”, algo que “enchia a alma, o coração”.

Durante os 14 anos que passou em Cabo Verde, na paróquia de São Miguel (Ilha de Santiago), o padre Nuno Rodrigues começou primeiro por dar aulas a 

 

 

 

crianças e adolescentes de uma escola secundária da região, experiência que o ajudou depois na concretização de um outro projeto, a criação do secretariado paroquial da juventude.

Ainda como diácono, prestou apoio aos grupos de escuteiros e realizou diversas “experiências de pastoral, de visita às comunidades” que faziam “quilómetros a pé para irem às eucaristias”.

“Aqui na Europa as pessoas estão instaladas e têm todas as comunidades, ali as pessoas faziam quilómetros a pé e faziam-no com amor”, destaca o missionário espiritano.

O ano passado marcou outra 

 

etapa na caminhada do padre Nuno Rodrigues, o regresso a Portugal para abraçar a animação missionária do país, sobretudo entre a região de Leiria e do Algarve.

Um desafio difícil, confessa o padre espiritano, porque implicou inserir-se numa realidade à qual já não estava habituado e que despertou muitas “resistências”. São precisos “homens, missionários, sacerdotes, religiosos ou leigos, movidos pelo Espirito Santo, com convicções interiores, profundas”, que transformem “as pastorais de hoje e as maneiras de fazer nas comunidades, sobretudo à volta da celebração”. 

 

 

Papa Francisco com os consagrados

No final do recente encontro do dia 29 de novembro passado que teve com os Superiores Gerais, que durou três horas, o Papa Francisco anunciou aos presentes, antes da saudação final, que o ano de 2015 seria dedicado à Vida Consagrada.

Os doze meses de 2014 não são muito tempo para bem preparar esse ano celebrativo. Até porque, a meu parecer, a preparação de um acontecimento e a sua continuidade são mais marcantes que o próprio evento em si. A agenda de eventos está já bastante preenchida. Mas será que tantos fazeres ou afazeres correspondem a uma autêntica renovação da Vida Consagrada?

Os consagrados devem estar e marcar presença em variadas situações para despertar o mundo, como diz o Papa: «A Igreja deve ser atrativa. Despertar o mundo! Sede testemunho de um modo diferente de fazer, de agir, de viver! É possível viver de um modo diferente neste mundo. Estamos a falar de uma visão escatológica, dos valores do Reino encarnados aqui, 

 

nesta terra. Trata-se de deixar tudo para seguir o Senhor. Não, não quero dizer "radical". A radicalidade evangélica não é somente dos religiosos: pede-se a todos. Mas os religiosos seguem o Senhor de maneira especial, de modo profético. Espero de vós este testemunho. Os religiosos devem ser homens e mulheres capazes de despertar o mundo».

E ajunto mais este naco de essencial centralidade pronunciado pelo Papa Francisco: «Deus pede-nos para sair do ninho que nos protege. Também quem vive em clausura é enviado com a sua oração, para que o Evangelho possa crescer no mundo. Estou convencido que a chave hermenêutica mais importante e o cumprimento do mandato evangélico seja este: Ide! Ide!»

Centrado nesta identidade da Vida Consagrada, o Papa abordou, sempre em diálogo, outros temas, que apenas elenco: as vocações e a formação, a vida fraterna, a vocação dos irmãos leigos consagrados, as relações mútuas entre religiosos e as 

 

 

 

 

Igrejas particulares, as fronteiras da missão dos consagrados, o desafio da cultura e da educação.

Despertar o mundo com o seu modo especial de ser e de estar, é todo um programa para a vida consagrada nas iniciativas de sempre e deste ano de preparação na perspetiva celebrativa de 2015, a coincidir com os 50 anos do Decreto do Concílio Vaticano II «Perfectae Caritatis» sobre a conveniente renovação da vida religiosa.

 
Os consagrados, transformados na alegria do Evangelho, serão capazes de contribuir de modo especial para despertar o mundo ou os mundos por eles habitados, se assumirem a sua consagração com interioridade na santidade, com coerência na vida comunitária, com testemunho na missão.

 

Manuel Barbosa

Diretor da revista «Vida Consagrada»

 

 

Por uma comunicação mais humana

O Papa Francisco desafiou hoje os profissionais dos media a promover a “cultura do encontro” entre seres humanos num mundo cada vez mais globalizado, em que persistem problemas como a “exclusão, marginalização e pobreza”. “A nível global, vemos a distância escandalosa que existe entre o luxo dos mais ricos e a miséria dos mais pobres. Frequentemente, basta passar pelas estradas duma cidade para ver o contraste entre os que vivem nos passeios e as luzes brilhantes das lojas”, escreve o Papa na sua mensagem para o 48.º Dia Mundial das Comunicações Sociais.

“Estamos já tão habituados a tudo isso que nem nos impressiona”, adverte ainda.

O texto, intitulado ‘Comunicação ao serviço de uma autêntica cultura do encontro’, refere que a globalização tornou as pessoas “mais interdependentes”. “Neste mundo, os media podem ajudar a sentir-nos mais próximo uns dos outros; a fazer-nos perceber um renovado sentido de unidade da família humana,

 

que impele à solidariedade e a um compromisso sério para uma vida mais digna”, precisa.

Francisco aponta o dedo a “múltiplas formas de exclusão, marginalização e pobreza”, como causas “económicas, políticas, ideológicas e até mesmo, infelizmente, religiosas”. “Hoje, corremos o risco de que alguns media nos condicionem até ao ponto de fazer-nos ignorar o nosso próximo real”, alerta, criticando ainda a comunicação que visa "induzir ao consumo ou à manipulação das pessoas".

Nesse sentido, convida os media a uma “solicitude pela humanidade, chamado como é a exprimir ternura”. “A rede digital pode ser um lugar rico de humanidade: não uma rede de fios, mas de pessoas”, escreve.

O Papa destaca, a este respeito, que "a comunicação é uma conquista mais humana do que tecnológica".

Francisco aborda a questão da “neutralidade” e sustenta que “quem comunica só pode 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

constituir um ponto de referência colocando-se a si mesmo em jogo”. “O envolvimento pessoal é a própria raiz da fiabilidade dum comunicador”, prossegue.

A mensagem convida ainda a 

 

 

Papa a Igreja Católica a promover um “testemunho cristão” no mundo digital para chegar, através da rede, às “periferias existenciais”.

 

 

 

Papa Francisco apela
à unidade entre cristãos

O Papa Francisco disse no Vaticano que as divisões entre cristãos são um “escândalo”, apelando à valorização das diferentes tradições e realidades eclesiais. “As divisões entre nós cristãos são um escândalo, não há outra palavra: um escândalo”, declarou, durante a catequese que apresentou a milhares de pessoas reunidas na Praça de São Pedro, para a audiência pública semanal.

Francisco centrou a sua intervenção na semana de oração pela unidade dos cristãos, que decorre desde sábado, uma “iniciativa espiritual” que tem como tema, em 2014, a pergunta ‘Estará Cristo dividido?’, inspirada numa passagem da primeira carta de São Paulo aos Coríntios. “Cristo não foi dividido, certamente, mas temos de reconhecer com dor, sinceramente, que as nossas comunidades continuam a viver divisões que são de escândalo”, afirmou o Papa.

A intervenção apresentou o “Batismo e a Cruz” como elementos centrais 

 

 

do “discipulado cristão” que todos têm em comum. “As divisões, pelo contrário, enfraquecem a credibilidade e a eficácia do nosso empenho de evangelização e arriscam-se a esvaziar a cruz do seu poder”, advertiu Francisco.

O Papa convidou os católicos a acolher as “graças concedidas por Deus aos outros cristãos”, apesar das divisões que existem entre Igrejas. “Temos o mesmo Batismo, o mesmo Espírito Santo que nos deu a graça: reconheçamo-lo e alegremo-nos”, sublinhou.

 

 

 

Papa escreve ao Fórum Económico Mundial

O Papa Francisco escreveu aos participantes no 44.º Fórum Económico Mundial, que começou esta quarta-feira na cidade suíça de Davos, pedindo uma ação conjunta em favor dos excluídos, refugiados e vítimas da fome. “Os objetivos concretizados, ainda que tenham reduzido a pobreza de um grande número de pessoas, foram muitas vezes acompanhados por uma ampla exclusão social e, de facto, a maior parte dos homens e mulheres continuam hoje a experimentar a insegurança quotidiana, não raramente com consequências trágicas”, assinala o Papa.

A mensagem foi dirigida a Klaus Schwab, presidente executivo do Fórum, que tem este ano como tema ‘Reforma do Mundo: consequências para a Sociedade, Política e Negócios’.

Segundo o Papa, não se pode “tolerar” que milhares de pessoas “morram de fome todos os dias, apesar de estarem disponíveis enormes quantidades de alimentos que são simplesmente desperdiçadas”.

 

 

 

Francisco sublinha ainda que ninguém deve “ficar indiferente” perante os refugiados que procuram “condições de vida minimamente dignas” e que muitas vezes “vão ao encontro da morte, em viagens desumanas”. “Sei que estas são palavras fortes, mesmo dramáticas, mas ao mesmo tempo querem reafirmar e desafiar a capacidade deste Fórum para marcar a diferença”, escreve.

A mensagem papal deixa votos de que este encontro constitua ocasião para uma “reflexão mais aprofundada sobre as causas da crise económica” no mundo.

 

 

 

 

 

 

 

 

A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram a atualidade eclesial a nível internacional, nos últimos dias, sempre atualizados em www.agencia.ecclesia.pt

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Visita à basílica romana do Coração de Jesus

 

 

 

 

Audiência Geral de 22 de janeiro 2014

 

 

Daniel Sousa: um português
na corrida aos oscars

Anunciada na passada quinta-feira a lista de nomeados para os cobiçados Oscars, Portugal recebeu com enorme surpresa e orgulho a notícia de um candidato luso na categoria de curtas metragens de animação. Um feito inédito conseguido pelo jovem realizador Daniel Sousa que, juntamente com Dan Golden e o seu ‘Feral’, se juntam a uma já longa lista de realizadores portugueses merecedores do reconhecimento internacional pelo valor das suas obras.

Em três dezenas de filmes que tentaram a sua sorte desde 1980, aos quais se associam nomes como os de Manoel de Oliveira, Miguel Gomes, Pedro Costa, João Botelho, Marco Martins, João Canijo ou Teresa Villaverde, ‘Feral’ é finalmente a obra que se eleva a um dos mais desejados ecrãs do panorama cinematográfico mundial. Certamente por combinar qualidade artística e temática com uma linguagem ágil e, pelo menos, universal.

O facto de se tratar dum formato menos sujeito à poderosa 

 

concorrência da indústria cinematográfica, caso das longas metragens de ficção, ajudará ao feito, tal como não é alheia a sua radicação, há muito, nos Estados Unidos, com curriculum reconhecido. Uma das mais populares linhas deste curriculum regista a passagem pelo Cartoon Network.

Cofundador da Handcrankedfilm, produtora independente, dedica grande parte da sua vida ao ensino e formação, com passagem pela universidade de Harvard, a Museum School e o Instituto de Artes de Boston e a Escola de Design de Rhode Island.

Os seus filmes, todos curtas metragens e todos de animação, destacam-se pela renovação de uma gramática de busca, de sentido de existência e de relação, partindo de temas e contos clássicos para equacionar um ser-se humano no nosso tempo.

‘Minotauro’ (1998), reinterpreta o mito grego colocando-nos na perspetiva de um monstro perdido numa labiríntica solidão em que a ideia de si, entre sombras e 

 

 

 

espelhos, e a procura de um outro, que lhe confira existência, se encontram e desencontram no imaginado e real.

Anos mais tarde, ‘O Moinho’ (2007) é uma evocação de infância que combina técnicas de vídeo e impressão com pintura a acrílico para ilustrar um lugar de silêncio e recolhimento, numa passagem da vida mundana para a espiritual.

Finalmente, ‘Feral’, a obra que passou pela última edição do Indielisboa, que corre mundo em projeções e se espera chegue ao circuito comercial português, no seu devido formato em sala de cinema (independentemente de arrecadar o Oscar) é uma  

 

nova incursão à infância na história de um menino encontrado na floresta que tenta adaptar-se a uma civilização alheia, usando os mesmos recursos do seu ambiente.

Tirando o melhor partido da animação digital de ponta e combinando-a com outras tantas técnicas de expressão plástica, Daniel de Sousa é sem sombra de dúvida um criador a acompanhar, pelo uso inteligente da sua criatividade, pela amplitude do olhar sobre o mundo contemporâneo valorizando narrativas intemporais e pela profundidade da sua reflexão.

 

Margarida Ataíde   

 

 

Igreja Evangélica Metodista Portuguesa

http://www.igreja-metodista.pt

 

De 18 a 25 de janeiro, um pouco por todas as Igrejas do mundo, se exprime a vontade e a ambição de juntas caminharem rumo à unidade dos Cristãos. Este ano o tema "Estará Cristo dividido?" baseia-se na primeira carta de Paulo aos Coríntios (1,1-17). Assim em plena semana de oração pela Unidade dos Cristãos sugerimos uma visita ao sítio da Igreja Evangélica Metodista Portuguesa que se encontra disponível no endereço http://www.igreja-metodista.pt.

Na página inicial dispomos de uma perspetiva geral de todo o sítio tendo acesso imediato às principais notícias que de alguma maneira estão relacionadas com a Igreja Metodista. De seguida somos convidados a aceder ao menu de navegação que nos transporta para a realidade desta confissão religiosa.

Logo na primeira opção temos, além de uma breve palavra de boas vindas do Bispo Sifredo Teixeira, uma perspectiva do enquadramento histórico que

 

 deu origem ao Metodismo, desde o seu surgimento com os irmãos Wesley até à passagem de movimento a Igreja. Ainda nesse item podemos perceber o aparecimento desta Igreja em Portugal no ano de 1854, trazido por dois leigos de origem inglesa.

No tópico seguinte somos convidados a conhecer um pouco mais da teologia, doutrina, catecismo, hinologia e artigos de fé desta confissão religiosa. Após uma leitura atenta aos princípios metodistas, passamos para um ambiente de carácter mais informativo, a sua estrutura organizativa.

No item seguinte temos um olhar sobre os departamentos nacionais (juventude mulheres e crianças). Por outro lado, são ainda apresentadas as comunidades locais, agrupadas em quatro grandes circuitos (Braga, Porto, Aveiro e Lisboa) bem como as obras sociais que são desenvolvidas pelas comunidades regionais.

Noutra opção acedemos com facilidade ao manancial das publicações produzidas 

 

 

 

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podendo-se efectuar encomendas online. Todos os textos que vão sendo concebidos, desde artigos a estudos, documentos de teor mais legal a documentos pastorais e ecuménicos, bem como a textos litúrgicos estão ao alcançe do utilizador no penúltimo tópico.

Para terminar esta sugestão de navegação acedemos então à opção “diversos”, onde temos informação de carácter mais prático, nomeadamente o lecionário, o calendário 

 
e registo fotográfico das principais atividades.
Seguramente que este convite de visitarem o sítio desta Igreja Evangélica, serve como uma ponte que é lançada a esta confissão religiosa ajudando-nos a conhecê-la melhor. Este pequeno gesto que podemos fazer nesta semana tão rica e importante para todas as Igrejas Cristãs, só demonstra que todo podemos “partilhar Cristo na palavra e na ação”.

 

Fernando Cassola Marques

 

 

Imprensa católica tem muita força

A imprensa regional da Igreja em Portugal é um “fenómeno único e irrepetível” da Europa, considerou o jornalista e investigador Alexandre Manuel. No lançamento da obra da sua autoria «Da imprensa regional da Igreja Católica: o que é, quem a faz e quem a lê» no ISCTE-IUL (Instituto Universitário de Lisboa), Alexandre Manuel referiu à Agência ECCLESIA que pensava 

 

 
que sabia “bastantes coisas da comunicação social da Igreja”, mas foi “surpreendido com muitas novidades”.

A apresentação da obra, que contou com intervenções de José Rebelo e Mário Mesquita, foi feita por D. Manuel Clemente, onde o autor sublinhou que a Igreja Católica em Portugal tem um conjunto de jornais que “vende tanto ou mais que alguns da 

 

 

 

imprensa laica”, mas ficou “espantado” porque “estão todos divididos uns com os outros”.

Alexandre Manuel é apologista da colaboração entre estes órgãos de comunicação social e defende a ideia de um “grande jornal nacional” onde todos podiam “ter uma secção separada”. O autor da obra realça que a imprensa regional da Igreja “tem muita força”, mas 

 

ainda “está limitada no seu aspeto gráfico”.

A imprensa de inspiração católica “confunde bastante o discurso do altar com o discurso dos media” e “muitas vezes é demasiada subserviente ao poder local e ao poder da sua igreja”, disse. Nestes jornais existe uma “confusão grande entre notícia e opinião”, frisou o autor.

 
 
Alexandre Manuel

Alexandre Manuel, doutorado em Sociologia (ISCTE) e pós-graduado em Jornalismo (ISCTE/Escola Superior de Comunicação Social), é professor, desde 1992, na UAL; investigador do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (CIES/ISCTE-IUL) e membro do conselho de redação da revista ‘Trajectos’ (ISCTE).

Como jornalista, iniciou a profissão na Flama (1969), tendo trabalhado ainda, designadamente, na Vida Mundial, Século Ilustrado, Jornal do Fundão e Diário de Notícias. Colaborou também com a RDP e a RTP.

Além de autor ou coautor de vários livros, dirigiu ou coordenou editorialmente diferentes obras coletivas, tendo ainda sido diretor editorial da Casa das Letras e administrador e diretor editorial da Editorial Notícias.

Foi deputado na Assembleia da República nas IV e V legislaturas.

Presidiu à AG do Sindicato dos Jornalistas e foi vice-presidente da direção do Clube de Jornalistas, de que é sócio fundador.

Foi distinguido, pelo Presidente da República, com a comenda da Ordem do Infante D. Henrique (10 de Junho de 2005).

 

 

 

D. António Ferreira Gomes:
Um bispo conciliar no exílio I

 

Durante o período do II Concílio do Vaticano (1962-1965), D. António Ferreira Gomes, bispo do Porto, encontrava-se exilado. Este começou a 24 de julho de 1959 e prolongou-se até 19 de junho de 1969. Após uma breve estadia na Galiza, onde foi acolhido pelo bispo de Santiago de Compostela, passou a residir em Valência, por ser mais longe da fronteira portuguesa. Aí trabalhou com o bispo D. Marcelino Olaechea.

A Agência ECCLESIA entrevistou o padre e investigador Nuno Vieira que trabalha na diocese de Segorbe-Espanha sobre o exílio do prelado portuense na Diocese de Valência.

 

Agência ECCLESIA (AE) – No início do II Concílio do Vaticano, D. António Ferreira Gomes estava exilado na diocese de Valência (Espanha). Apesar das contingências, não deixou de exercer o seu múnus episcopal nas terras levantinas?

Nuno Vieira (NV) – Além de um exílio forçado, se um bispo se retirasse – ainda para mais com a idade que tinha D. António Ferreira Gomes e tal como se encontrava de saúde – seria uma dupla humilhação. Foi acolhido em Valência e o bispo da diocese espanhola contou com ele para fazer as visitas pastorais. Sabe-se que deu também algumas conferências no seminário, mas em âmbitos mais reduzidos. O grande contacto que teve foi com as paróquias e com as comunidades religiosas que visitou também durante as visitas pastorais.

 

 

 

 

AE – Visitas pastorais que eram preparadas de forma minuciosa?

NV – Verdade. D. António Ferreira Gomes tinha uma desvantagem muito grande porque não conhecia o meio. Por isso, tinha reuniões periódicas com o bispo titular (D. Marcelino Olaechea) e também com o bispo auxiliar (D. Rafael González Moralejo) para poder organizar essas visitas. Além do mais, era fundamental perceber o momento político e histórico que se vivia.

 

AE – Antes de chegar a Valência, D. António Ferreira Gomes esteve em Santiago de Compostela. Existe alguma razão para este salto territorial?

NV – Alguns historiadores apontam para a proximidade da fronteira portuguesa. No entanto, suponho que quando esteve em Santiago de Compostela esperava-se que não fosse um exílio tão prolongado. O facto de estar perto, a qualquer momento possibilitava a entrada em Portugal.

Como essa entrada em terras portuguesas não se verificou,  os bispos espanhóis e o núncio não tinham grande desejo que D. 

 
 

António Ferreira Gomes estivesse fora de Espanha. Chegaram à conclusão que esta parte da Península Ibérica seria uma boa opção. Consta também que, o primeiro contacto feito é com a diocese de Segorbe-Castellón porque estava recém-nomeado o bispo para aquela diocese espanhola (formou-se em 1960).

 

AE – A hipótese da diocese Segorbe-Castellón foi colocada de lado?

NV – Suponho que sim. Vi um documento onde se perguntava ao bispo da diocese se tinha disponibilidade em recebê-lo – não sei a resposta porque o arquivo da nunciatura ainda não está disponível -, mas suponho que os motivos alegados foram que a diocese era recente e pequena. Numa informação obtida com um padre colaborador directo do bispo da época, este disse-me: “Seria melhor que ele [D. António Ferreira Gomes] estivesse numa diocese maior e com outro dinamismo pastoral”.

 

(A entrevista continua
nas próximas semanas)

LFS

 

 

janeiro 2014

Dia 24

* Vaticano - Encerramento do encontro anual dos coordenadores regionais do Apostolado do Mar
* Aveiro - Estarreja (Biblioteca Municipal) (21h30m) - Tertúlia sobre «Gentes da nossa terra... Cónego Filipe Figueiredo»
* Porto - A comissão ecuménica do Porto apresenta o roteiro ecuménico de oração para 2014, no contexto da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos
* Porto - Padrão da Légua - Tertúlia denominada «Conversas de Café» onde Joel Cleto falará sobre a importância da paróquia na sociedade ao longo da história e integrada nas comemorações dos 50 anos da paróquia do Padrão da Légua.
* Porto - Gaia (Centro Social da Paróquia de Gulpilhares) - Encontro da LOC/MTC sobre «Economia Social - Assistenciaçismo não resolve a pobreza» orientado por Jorge Teixeira da Cunha.

 


* Santarém - Centro Educativo e de Solidariedade Social EZN da Fonte Boa (09h30m) - A UDIPSS Santarém realiza uma iniciativa sobre a realidade das cantinas sociais.
* Porto - Associação Católica do Porto (21h30m) - Conferência «D. António Barroso, as circunstâncias do seu exílio e da sua ação pastoral» pelo padre José Adílio de Macedo com sessão presidida por D. Manuel Martins, bispo emérito de Setúbal. 
* Aveiro - Glória (Patronato de Nossa Senhora de Fátima) (21h00m) - Tertúlia sobre «Envelhecer com qualidade»
* Bragança - Encontro de D. José Cordeiro com profissionais da comunicação social para assinalar o dia de São Francisco de Sales, padroeiro dos jornalistas.
* Coimbra - Igreja de Santo António dos Olivais - Celebração ecuménica.
* Aveiro - Águeda (Igreja Paroquial) (21h00m) - Oração ecuménica.

 

 

 

* Leiria – Bidoeira (Salão paroquial) – Encontro de catequistas sobre «Educação dos afectos» com a psicóloga Elsa Rodrigues.
* Fátima - Reunião de D. António Francisco Santos com os secretariados diocesanos da catequese.
* Porto - Igreja Ortodoxa (Patriarcado de Moscovo) - Celebração pela Unidade dos cristãos promovida pela Comissão Ecuménica do Porto
* Vaticano - Papa Francisco recebe o presidente francês, François Hollande
* Fátima - Casa do Carmo - Encontro da Comissão da Pastoral das Vocações da CIRP com o tema «Espiritualidade e afecto na proposta vocacional à vida consagrada». (24 a 26)

Dia 25

* Aveiro - CUFC - Sessão de esclarecimento sobre «Parentalidade e Deficiência: Um Tema Para Todos - Importância do papel da família no processo de inclusão»
* Lisboa - Sobral de Monte Agraço (Salão paroquial de Nossa Senhora da Vida) - Actividade «Pátio dos Gentios» com o tema «O outro»

 

* Suiça - Davos - Encerramento (início a 22 de janeiro) do 44.º Fórum Económico Mundial.
* Vaticano - Conferência sobre neurociências, natureza humana e linguagem proferida por Noam Chomsky e promovida pelo Conselho Pontifício da Cultura
* Leiria – Ourém (Paróquia de Nossa Senhora da Piedade) (15h00m) – Conferência sobre «Grandes desafios para a Igreja e para o mundo» (A partir do exortação «O Evangelho da Alegria» pelo padre João Aguiar.
* Porto - Comemorações do 50º aniversário da Obra Diocesana de Promoção Social do Porto (ODPS) com lançamento do Pin e apresentação do programa de iniciativas.
* Porto - Ermesinde (Seminário do Bom Pastor) - Dia com os institutos seculares na Diocese do Porto.
* Lisboa - Paróquia de São Domingos de Benfica (15h00m) -Conferência sobre «Evangelizar na Caridade» por D. Manuel Clemente
* Portalegre - Sertã - Jornadas diocesanas da Família com o tema «A Família em tempos de mudança»

 

 

 

 

 

- Representantes das Igrejas Católica, Lusitana, Presbiteriana, Metodista e Ortodoxa (Patriarcado Ecuménico de Constantinopla) em Portugal vão assinar este sábado em Lisboa, uma declaração de reconhecimento mútuo do Batismo, às 18h00 na catedral Lusitana (Igreja Anglicana) de São Paulo.

 

- A sociedade das Filhas do Coração de Maria promove na próxima terça-feira em Lisboa um serão com o padre e médico José Manuel Pereira de Almeida sobre as uniões de facto, os separados e divorciados recasados, ideologia de género e a adoção por casais do mesmo sexo, na Residência Universitária Domus Nostra, às 21h15

 

- O Corpo Nacional de Escutas vai iniciar na quarta-feira, dia 29 de janeiro, um ciclo de reflexão intitulado “Os Cristãos e…”. A primeira sessão, na sede do CNE em Lisboa, conta com a presença de Américo Pereira, professor da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa, que abordará a relação entre cristianismo e política.    

 

- O bispo de Leiria-Fátima, D. António Marto, vai apresentar dia 31 de janeiro a exortação apostólica “Evangelii Gaudium” (A Alegria do Evangelho), do Papa Francisco, às 21h00 no Seminário diocesano. A sessão, aberta ao público, prevê uma encenação da exortação feita pela comunidade formativa da Aliança de Santa Maria.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Programação religiosa nos media

Antena 1, 8h00

RTP1, 10h00

Transmissão da missa dominical

 

11h00 - Transmissão missa

 

12h15 - Oitavo Dia

 

Domingo: 10h00 - O Dia do Senhor; 11h00 - Eucaristia; 23h30 - Ventos e Marés; segunda a sexta-feira: 6h57 - Sementes de reflexão; 7h55 - Oração da Manhã;  12h00 - Angelus; 18h30 - Terço; 23h57-Meditando; sábado: 23h30 - Terra Prometida.

 
RTP2, 11h22

Domingo, dia 26 - Padre António Vieira: Palavras que libertam.

 

RTP2, 18h00

Segunda-feira, dia 27  - Entrevista à Irmã Laurinda Faria e padre António Fernandes sobre a Semana do Consagrado.

Terça-feira, dia 28 - Informação e entrevista sobre a Semana do Consagrado.

Quarta-feira, dia 29 - Informação e entrevista sobre a Semana do Consagrado

Quinta-feira, dia 30 - Informação e entrevista sobre a Semana do Consagrado

Sexta-feira, dia 31 - Apresentação da liturgia dominical pelo cónego António Rego e frei José Nunes

 

Antena 1

Domingo, dia 26 de janeiro,  06h00 - Ecumenismo: entrevista com José Eduardo Borges de Pinho. Passos dados com a assinatura do reconhecimento mútuo do batismo pelas igrejas cristãs de Portugal.

 

Segunda a sexta-feira, dias 27 a 31 de janeiro, 22h45 - Semana do consagrado: testemunhos na primeira pessoa - P. José Vieira, P. Marcelo Barros, P. Rui Pedro, P. Nuno Rodrigues e Ir. Elvira Nadais 

 

 

O que significa dizer que o ser humano
foi criado à "imagem de Deus"?

 

 

 

 

 

 

 

 

Ano A - 3º Domingo do Tempo Comum

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Irradiar a unidade em Cristo
 

Neste terceiro domingo do tempo comum, a Palavra de Deus apresenta-nos o projeto do Reino de Deus, que nos quer oferecer a salvação e a vida plena.

A primeira leitura indica-nos o profeta Isaías a anunciar uma luz que Deus irá fazer brilhar por cima das montanhas da Galileia e que provoca alegria naqueles que a acolhem.

A segunda leitura apresenta a realização do Reino numa comunidade concreta de discípulos, que esqueceram Jesus e a sua proposta. Paulo exorta-os a redescobrirem os fundamentos da sua fé e dos compromissos assumidos no Batismo, em particular a unidade em Cristo. «Falai todos a mesma linguagem e não haja divisões entre vós, permanecendo bem unidos, no mesmo pensar e no mesmo agir».

A belíssima oração do salmo envolve-nos no dinamismo do Reino centrado em Jesus. Vale a pena saborear: «o Senhor é minha luz e salvação, é o protetor da minha vida; confia no Senhor, sê forte».

O Evangelho aponta Jesus como a luz que começa a brilhar na Galileia. Há discípulos que respondem ao apelo de Jesus e se comprometem com o Reino.

Em Jesus o Reino torna-se uma realidade em construção no mundo. O anúncio de Jesus toca e enche de júbilo o coração dos pobres e humilhados, daqueles cuja voz não chega ao trono dos poderosos, nem encontram lugar à mesa farta do consumismo, nem protagonizam as histórias balofas das colunas sociais. Deus quer oferecer-lhes a vida feliz que os grandes e poderosos insistem em negar-lhes.

 

 

 

 

Para que o Reino seja possível, Jesus pede-nos a conversão: refazer a existência, de forma a que só Deus ocupe o primeiro lugar na nossa vida; despir-nos do egoísmo que impede de estarmos atentos às necessidades dos irmãos; renunciar ao comodismo, que impede o compromisso com os valores do Evangelho; sair do isolamento e da autossuficiência, para estabelecer relação e para fazer da vida um dom e um serviço aos outros.

A história do compromisso de Pedro e André, Tiago e João com Jesus e com o Reino é uma história que define os traços essenciais da caminhada de qualquer discípulo: é chamado, aceita seguir Jesus,

 
 compromete-se na missão. Uma missão que passa por testemunhar a salvação que Deus tem para oferecer a todos, sem exceção.

Vivamos esta semana na lógica do Reino, do amor, da doação da vida, da comunhão fraterna, da tolerância, do respeito pelos outros, da unidade, também dos cristãos. A Semana de Oração por esta intenção terminou mas a procura da unidade no mesmo Cristo é um processo a continuar com permanente insistência.

Procuremos espalhar a luz do Reino que é Cristo. Deixemos de ser candeeiros opacos e passemos a ser focos que irradiam luz. A conversão passa por aí.

Manuel Barbosa, scj

www.dehonianos.org

 

 

Werenfried van Straaten, uma história com 100 anos

O segredo do Padre Toucinho

Foi um lutador pela paz. A escolha do próprio nome, Werenfried, já o prenunciava muito antes de imaginar que, um dia, iria lançar uma obra internacional em favor da Igreja que sofre. Mas qual foi, afinal, o segredo do Padre Werenfried van Straaten?

 

Obstinado, nunca desistiu perante um desafio, e isso viu-se logo no início, quando, praticamente sozinho, resolveu acudir aos milhares de alemães que vagabundeavam pelos escombros da Europa, no final da II Guerra Mundial. Começou tudo nesse instante. Onde os outros viam o antigo inimigo, ele olhava mais longe e percebia que eram apenas pessoas, seres humanos com fome, com frio, perdidos entre ruínas. Muitos eram católicos. Não havia tempo a perder. E o Padre Werenfried começou a bater às portas a pedir ajuda.
Pedir a quem tinha pouco, quase nada, que o compartilhasse com aqueles que foram os antigos inimigos, era quase loucura.

 

 Mas foi precisamente essa loucura pelo amor ao próximo, na certeza de que Deus nunca o iria deixar de mãos vazias, que mobilizou o Padre Werenfried ao longo de toda a sua vida. Essa loucura pelo amor aos outros, à Igreja necessitada, foi o seu grande segredo.

 

Gigante da caridade

O Padre Werenfried deixou um legado enorme. Recordado como um “gigante da caridade”, chegou a ser nomeado para o Prémio Nobel da Paz. Calcorreou dezenas de países e conheceu, como poucos, o mapa-mundo da miséria e partilhou as lágrimas dos que sofreram por causa da perseguição religiosa. Conheceu a Madre Teresa de Calcutá, no início dos anos sessenta, quando quase ninguém tinha ainda ouvido falar na freira franzina que cuidava dos moribundos na Índia e rapidamente entre os dois se estabeleceu uma amizade que duraria a vida inteira, tal como aconteceu, mais tarde, 

 

 

 

com o Papa João Paulo II.

O Padre Werenfried testou até aos limites a confiança em Deus. “Prometia o que não tinha e Deus dava-lho.” Foi sempre assim. Desembaraçado, não havia problema que não tivesse solução. Era preciso fazer, fazia-se! O seu chapéu de mendigo ficou famoso e ele ganhou a alcunha de “Padre toucinho”. Ao longo da vida, ajudou milhões de pessoas, “secando as lágrimas de Deus”, mostrando a um mundo indiferente que Cristo continua a ser crucificado nos dias que passam, que é preciso acudir às multidões famintas, aos que são perseguidos por causa da sua fé, aos que não têm voz, 

  àqueles que ninguém parece querer escutar.

Hoje, continuar a obra do Padre Werenfried van Straaten é tão urgente como no Natal de 1947. Em demasiados países há multidões de homens, mulheres e crianças que vagueiam sobre escombros de cidades dilaceradas pela guerra, que fogem da morte, que têm estampados no rosto o medo e o horror da violência. Hoje, o mapa-mundo da miséria e da perseguição religiosa é mais vasto do que nunca. Hoje, são precisos muitos “werenfried” para ajudar a Igreja que Sofre. Ele pode contar consigo?

 

Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt

 

 

 

Ousemos pôr-nos sob o mesmo teto!

Recentemente (de 28 de dezembro a 1 de janeiro), trinta mil jovens de todos os países da Europa reuniram-se durante cinco dias em Estrasburgo, França. Foram acolhidos por milhares de famílias da cidade e de pequenas terras situadas dos dois lados da fronteira franco-alemã. Para os jovens cristãos e para os que os acolheram, estes dias de encontros e de escuta mútua revelaram o forte desejo de que surja uma melhor compreensão entre os povos.

Este Encontro de Estrasburgo, cidade que é símbolo de reconciliação, foi o 36.º Encontro Europeu organizado pela nossa Comunidade de Taizé numa grande cidade da Europa. Ao multiplicar estas oportunidades para o estabelecimento de relações pessoais, gostaríamos de ajudar os jovens a adquirirem uma verdadeira consciência europeia. O trabalho das instituições é essencial, mas, sem o encontro das pessoas umas com as outras, não se constrói a Europa.

É evidente que a Europa conhece um período de paz sem 

 

precedentes na sua história. Contudo, mesmo se entre o Oriente e o Ocidente deixou de haver um Muro, permanece o muro nas consciências. Os jovens que vieram a Estrasburgo gostariam de uma Europa aberta e solidária: solidária entre todos os países europeus e solidária com os povos mais pobres dos outros continentes. Desde logo, aspiram a uma outra organização económica: pedem que à mundialização da economia esteja associada uma mundialização da solidariedade. Em primeiro lugar, da parte dos países ricos esperam uma generosidade, que se exprime através de investimentos que sejam verdadeiramente a favor de uma maior justiça nos países em vias de desenvolvimento e por um acolhimento digno e responsável oferecido aos imigrantes destes países.

Estes jovens estão conscientes de que, como cristãos, devem estar na primeira linha para viver a reconciliação e a partilha. As feridas da história deixam frequentemente traços profundos e marcam durante várias

 

 

 

 gerações as consciências e as mentalidades. Contudo, as humilhações sofridas não conduzem necessariamente à violência, mas podem ser saradas. Para participar neste processo, os jovens têm sempre uma possibilidade: recusar transmitir à próxima geração os rancores e amarguras por vezes ainda vivos. Não se trata de esquecer um passado doloroso, mas de interromper a cadeia que faz perdurar os ressentimentos e, assim, sarar aos poucos a 

 

memória através do perdão. Sem perdão não há futuro para as sociedades. O estímulo formidável que esteve na origem da construção europeia nasceu em boa parte desta convicção.

Com os jovens de diversas confissões reunidos em Estrasburgo, recordámo-nos que, quando procuramos a reconciliação entre cristãos, não é para nos fecharmos sobre nós mesmos. Procuramo-la para que ela seja um sinal do Evangelho e para que se torne fermento 

 

 

 

de aproximação entre os homens e entre os povos. Os cristãos reconciliados farão ouvir a voz do Evangelho de forma mais clara, num mundo que precisa de confiança para preparar um futuro de justiça e de paz.

Atualmente, entre cristãos que estão separados em múltiplas confissões, arriscamo-nos a ficar contentes com uma coexistência tranquila. Como ir mais longe? Em Taizé, surpreendemo-nos ao constatar que os jovens que passam juntos alguns dias na nossa colina, ortodoxos, protestantes e católicos, se sentem profundamente unidos, sem com isso rebaixarem a sua fé a um mínimo denominador comum, nem procederem a um nivelamento dos seus valores. Pelo contrário, eles aprofundam a sua própria fé. A fidelidade à sua origem coabita com uma abertura aos que são diferentes. De onde vem isto? Eles aceitam colocar-se sob o mesmo teto e voltarem-se juntos para Deus. Se é possível em Taizé, por que não será isso possível noutros lugares?

Gostaria, por isso, de encontrar as palavras apropriadas para perguntar aos cristãos das 

 

diferentes Igrejas: não chegou a hora em que será preciso coragem para nos colocarmos todos sob o mesmo teto, sem esperarmos que todas as formulações teológicas estejam completamente harmonizadas? Não será possível expressarmos a nossa unidade em Cristo – Ele não está dividido – constatando que as diferenças que permanecem na expressão da fé não nos dividem? Haverá sempre diferenças: elas necessitarão de conversas francas, mas muitas vezes podem também conduzir a um enriquecimento.

Façamos com os cristãos de outras confissões tudo o que é possível fazermos juntos. Não façamos mais nada sem ter em conta os outros. Dou alguns exemplos: rezarmos juntos uma vez por ano, durante a semana para a unidade dos cristãos, pode não ser suficiente; pode mesmo tornar-se numa formalidade. Por isso, por que não rezarmos juntos com mais frequência? Em muitos locais, há colaborações interconfessionais, principalmente na pastoral das prisões e nos hospitais. Por que não multiplicá-las, em vez de trabalharmos em paralelo? 

 

 

 

 

 

 

Isso poder-se-ia mesmo fazer em domínios sensíveis, como a catequese das crianças ou a pastoral juvenil. 

Abordo um dos pontos mais delicados. Não poderiam todos os cristãos considerar que o bispo de Roma é chamado a apoiar a comunhão entre todos, uma comunhão em Cristo, onde podem 

 

permanecer algumas expressões teológicas que comportam diferenças? Não nos indica o Papa Francisco a direção, ao apresentar como prioridade para todos o anúncio da misericórdia de Deus? Não falhemos neste momento providencial. Estou consciente de estar a tocar um assunto muito quente e de o fazer de forma talvez deficiente. Contudo, para avançar, parece-me inevitável que procuremos modos de entrar neste caminho de uma diversidade reconciliada.

No final do Encontro de Estrasburgo, muitos jovens regressaram aos seus países decididos a serem portadores de paz e de reconciliação. Sabem que todos podem participar numa civilização marcada não pela desconfiança mas pela confiança. Na história, bastaram por vezes poucas pessoas para fazer pender a balança na direção da paz.

Irmão Alois,

prior de Taizé

 

 

Religiões: para que servem?

Tony Neves

 

É difícil falar da vida do dia a dia sem uma referência a crenças religiosas. Mesmo as grandes notícias que enchem telejornais e jornais vão citando questões religiosas, para o melhor e para o pior.

Ao olharmos para a Europa, é comum dizer-se que se vive numa era pós-cristã. A própria qualificação chama a Religião a terreiro. Muitas são as figuras públicas que se consideram felizes quando se afirmam agnósticas e, nesta profissão de fé na não-crença, acabam por colocar a Religião como elemento importante para a vida das pessoas e sociedades.

O panorama do mundo, no que respeita a grandes grupos humanos, mostra sempre a dimensão religiosa como fundamental. Assim, o bloco europeu e americano é essencialmente cristão, o bloco árabe e de uma parte significativa da África são, na sua maioria, muçulmanos e o bloco asiático tem presentes as grandes famílias religiosas cotadas, mas acrescentam uma grande percentagem de seguidores das filosofias religiosas como o Budismo e o Confucionismo, para apenas falar das mais numerosas. Aqui, mais uma vez, se salienta a importância do ‘crer’ para a caraterização das sociedades hodiernas.

Na minha perspetiva, o grande papel da Religião hoje está na atribuição de sentido à vida. A resposta a perguntas como ‘donde venho? Para onde vou? O que ando aqui

 

 

 

Luso Fonias

 

 

 a fazer?’ só se dá no âmbito das crenças Religiosas. São elas as fornecedoras do sentido da vida e, por isso mesmo, geradoras de esperança. Diria mais: ao afirmar o valor da fraternidade, as Religiões injetam nos seus crentes e na sociedade em geral o sentido da responsabilidade social e da preocupação com os mais frágeis e pobres. Além disso, todos os textos que constituem património das grandes Religiões apostam na paz, na justiça e no respeito pelas pessoas, mesmo que, na hora 

 

de praticar tais valores, nem sempre os compromissos sejam coerentes. Daí a história criticar as Religiões pelas guerras santas e barbaridades do género.

Os líderes das grandes Religiões estão preocupados com o aumento do número dos que se dizem ateus e agnósticos. E têm razão para estar preocupados. Este sinal indicia que as Religiões não estão a cumprir bem a sua missão; por outro lado, sem Deus, os crentes temem por um mundo menos solidário e fraterno. Tudo isto, por falta de sentido.

 

 

 


 

“Pode ouvir o programa Luso Fonias na rádio SIM, sábados às 14h00, ou em www.fecongd.org. O programa Luso Fonias é produzido pela FEC – Fundação Fé e Cooperação, ONGD da Conferência Episcopal Portuguesa.”

 

 

 

 

Os consagrados têm a especial missão de ocupar lugar ativo na “Igreja em saída” (cf. Evangelii gaudium 20), convocada pelo Papa Francisco para fazer a Evangelização do mundo. Homens e mulheres esperam esses momentos de graça, que serão de encontro com o Deus da vida e da alegria, mediados pelos que assumiram deixar-se transformar pela novidade do Evangelho.

(Da Mensagem do Presidente da Comissão Episcopal das Vocações e Minsitérios, para a Semana dos Consagrados/2014)