04 - Editorial:

      Paulo Rocha

06 - Foto da semana

07 - Citações

08 - Nacional

14 - A semana de...

      Luis Santos

16 - Opinião

      D. Manuel Linda

18- Entrevista

       D. Gilberto Reis
24- Dossier

      Diocese de Setúbal

46- DNPJ

 

 

 

 

48 - Internacional

54 - Cinema

56 - Multimédia

58 - Estante

60 - Vaticano II

62 -  Agenda

64 - Por estes dias

66 - Programação Religiosa

67 - Minuto YouCat

68 - Liturgia

70 - Fundação AIS

72 - Intenção de oração

         Elias Couto

74 - Liberdade de Escola

         Jorge Cotovio

78 - LusoFonias

 

 

 

 

 

 

 

 

Tema do dossier da próxima edição:

Bento XVI

Foto da capa: D.R.
Foto da contracapa:  Agência Ecclesia

 

 

 

AGÊNCIA ECCLESIA 
Diretor: Paulo Rocha  | Chefe de Redação: Octávio Carmo
Redação: Henrique Matos, José Carlos Patrício, Lígia Silveira, Luís Filipe Santos, Margarida Duarte, Sónia Neves
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Propriedade: Secretariado Nacional das Comunicações Sociais 
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Opinião

 

 

 

 

D. Gilberto Reis, 25 anos de bispo

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Posse canónica do ordinário castrense

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Apelos ao fim da violência

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D. Manuel Linda|Paulo Rocha|Elias Couto|Padre Tony Neves|Jorge Cotovio

 

 

 

 

Mais do que redes de fios

Paulo Rocha

Agência ECCLESIA

 

O Papa Francisco publicou a sua primeira Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais. Como noutras circunstâncias, insiste nos valores e atitudes que têm marcado o seu pontificado: encontro, proximidade, ternura, periferias, diálogo.

Ao olhar os desenvolvimentos tecnológicos e a presença da Igreja, das mensagens do Evangelho nas redes digitais, Francisco inscreve de imediato a marca da humanidade em ambientes que são muito mais do que virtuais. As redes digitais são um “lugar rico de humanidade”. O Papa é firme ao sentenciar que todo esse “continente” não pode ser considerado apenas uma “rede de fios”, mas uma rede “de pessoas humanas”.

É sugestiva na mensagem do Papa a analogia entre a parábola do Bom Samaritano e a comunicação. Para Francisco, a história que Jesus conta depois do escriba lhe perguntar “quem é o meu próximo” ilustra o conceito de proximidade, traduzindo a capacidade de uma pessoa se tornar semelhante ao outro. Tanto dos que estão na periferia da estrada, feridos, como os que percorrem as “estradas digitais”, “congestionadas de humanidade, muitas vezes ferida”.

“Quem comunica faz-se próximo”. De que forma? De novo, como na parábola: “não se trata de reconhecer o outro como um meu semelhante, mas da minha capacidade para me fazer semelhante ao outro”.

 

 

 

 

É por causa deste programa que a comunicação não pode permanecer na lista dos assuntos “pendente”, ou considerados “a tratar” nas sobras do tempo das instituições, também da Igreja Católica.

Na Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, o Papa pede “energias frescas” e “imaginação nova” para transmitir mediaticamente a “beleza de Deus”.

Desafios colocados pelo Papa Francisco numa altura em que na marca Ecclesia surgem novas apostas nas diferentes presenças mediáticas: na agência de notícias, no semanário digital, no programa de rádio e nos programas de televisão. Comum a todas está a determinação em dar passos no imperativo de “fazer-se próximo” de todas as realidades, de todas as pessoas.

As novidades vão surgir progressivamente ao longo das próximas semanas (num projeto de renovação que termina na última semana de Maio,  quando se apresentar o Dia Mundial das Comunicações Sociais) e incluem novos conteúdos e sobretudo novas formas de os produzir e distribuir.

A aquisição de recursos, técnicos 

 

e humanos, para mostrar a ação de mulheres e homens que inspiram o seu quotidiano no Evangelho permitirá revelar 

muitos acontecimentos pela mediação da imagem, pela narrativa na primeira pessoa.

A renovação em curso na marca Ecclesia vai notar-se também pelo maior relevo dado a espaços de opinião, como o demonstram os comentários no programa Ecclesia na Antena 1 ao domingo, a partir do contributo de um painel de colaboradores. No semanário digital, quatro bispos e quatro leigos escrevem mensalmente, um em cada semana, traduzindo em textos de opinião pontos de vista sobre temas em debate público. Já na RTP2, o programa Ecclesia propõe rubricas relacionadas com a ação social (à terça-feira), a formação cristã (à quarta), a família (à quinta) e a Bíblia (à sexta).

Entre muitos projetos sonhados, permanece sempre essa certeza também afirmada pelo Papa: “A comunicação é uma conquista mais humana do que tecnológica” e não depende tanto de "truques ou efeitos especiais", mas de nos "fazermos próximo, com amor, com ternura, de quem encontramos ferido pelo caminho”.

 

 

 

 

 

 

  Grafiti em Roma © LUSA  

 

 

 

“Os militares reclamam a minha entrada, não só os capelães, mas militares católicos, alguns dos quais já conheci há 30 anos, quando também prestei assistência religiosa no Exército, e outros que fui conhecendo.”

D. Manuel Linda, bispo das Forças Armadas e de Segurança, em declarações à Agência Ecclesia, 24/01/2014

 

 

“O Parlamento tem a responsabilidade da fiscalização da acção do Governo e, portanto, eu julgo que o Parlamento poderia ter tido no passado uma pronúncia mais forte sobre esta matéria, nomeadamente no que diz respeito à fiscalização deste tipo de contratos e deste tipo de obras”.

Sérgio Azevedo, relator da comissão parlamentar sobre as parceiras público-privadas, em entrevista à Rádio Renascença, 28/01/2014

 

 

 

 

“A Constituição, matriz fundadora da nossa República, não foi suspensa. Os portugueses revêem-se no modelo do Estado social de direito e querem que este seja preservado nas suas linhas essenciais”.

Aníbal Cavaco Silva, Presidente da República, durante a cerimónia de abertura do ano judicial, 29/01/2014

 

 

 

“Um dos efeitos colaterais de níveis elevados de desemprego jovem é vermos as pessoas a dizerem: 'Estas grandes empresas não têm nada para mim'. Já não funciona aquele modelo antigo de contrato social em que se ia trabalhar durante 40 anos para uma grande empresa. Pensa-se: 'Se eu quero um emprego hoje, é melhor começar eu mesmo a fazer as coisas'." 

Jimmy Wales, fundador da Wikipédia, em entrevista ao jornal Público, 29/01/2014

 

 

Novo bispo das Forças Armadas
tomou posse canónica

O bispo das Forças Armadas e de Segurança, D. Manuel Linda, tomou posse canónica do cargo para o qual foi nomeado pelo Papa Francisco a 10 de outubro de 2013, sucedendo a D. Januário Torgal Ferreira.

A cerimónia, a 24 de janeiro, aconteceu durante a reunião geral de capelães militares que decorreu em Fátima, e o prelado admitiu dificuldades no que diz respeito à definição da sua situação com capelão-chefe no Serviço de Assistência Religiosa das Forças Armadas e das Forças de Segurança. “Os militares reclamam a minha entrada, não só os capelães, mas militares católicos, alguns dos quais já conheci há 30 anos, quando também prestei assistência religiosa no Exército, e outros que fui conhecendo”, disse D. Manuel Linda à Agência ECCLESIA.

“De facto, alguns interrogam-se: Porque é que o poder político não desbloqueia a situação? Não sei responder, mas estou convencido de que haverá boa vontade

 

 da parte de todos”, acrescentou.

O Serviço de Assistência Religiosa das Forças Armadas e das Forças de Segurança foi regulamentado em 2009, na sequência da Concordata assinada entre Portugal e a Santa Sé em 2004, sendo constituído pela Capelania Mor e pelos centros de assistência religiosa da Armada, do Exército, da Força Aérea, da Guarda Nacional Republicana e da Polícia de Segurança Pública.

“Se não me derem os instrumentos indispensáveis para exercer o meu ministério, não o posso exercer, é tão simples quanto isso. Como é que eu de Braga posso prestar assistência, por hipótese, à GNR de Vila Real de Santo António?”, questiona D. Manuel Linda.

O responsável mostra-se “convencido” de que os responsáveis do Estado estão a “trabalhar com empenho” para tentar “desbloquear qualquer coisa que a lei poderia ter de menos preciso”.

D. Manuel Linda, de 57 anos,

 

 

 

 

 era bispo auxiliar da Diocese de Braga desde junho de 2009, tendo sido ordenado em setembro do mesmo ano, na Catedral de Vila Real.

Do ponto de vista do Direito Canónico, a tomada de posse deveria ter acontecido até dois meses após a nomeação do Papa como ordinário castrense e foi 

 

necessário pedir ao Vaticano um adiamento, que foi concedido “até final de janeiro”.

“Outra coisa é o estatuto que o Estado conceda para que eu possa desempenhar funções dentro das Forças Armadas e de Segurança, que são realidades distintas”, acrescenta o prelado.

 

 

 

Missão: Emigrar por amor ao Evangelho

O casal Luís e Estela Almeida vão partir para a Ásia com os cinco filhos, numa missão de evangelização por tempo indeterminado, em nome do Caminho Neocatecumenal, com o objetivo de “anunciar o Evangelho”.

“Enquanto alguns emigram pelo dinheiro, nós vamos emigrar para anunciar o Evangelho, por amor ao Evangelho”, diz Luís Almeida, pai de cinco filhos com idades compreendidas entre 10 anos e 7 meses, eles que são apresentadas como “os principais evangelizadores”.

Sair em missão em nome do Caminho Neocatecumenal “requer muita maturidade até do próprio matrimónio, não é algo que se faz com leviandade”, explica, em declarações à Agência ECCLESIA.

A mudança logística para um país da Ásia “gera algumas preocupações” mas “Deus tem estado presente nas dificuldades”, por isso a partida é feita “com tranquilidade”, adianta Estela Almeida.

Como esta família da Brandoa (Patriarcado de Lisboa) vão partir

 

 

mais oito famílias portuguesas, “três da Diocese de Setúbal, uma da Diocese de Aveiro, uma da Diocese de Portalegre-Castelo Branco, duas da Arquidiocese de Évora” e quatro jovens, “duas da Diocese de Lisboa, uma da Diocese de Angra e um outro da Diocese de Setúbal”.

As nove famílias e os quatro jovens portugueses vão estar este sábado de manhã no Vaticano para, em conjunto com cerca de 10 mil representantes do Caminho Neocatecumenal, participarem numa audiência com o Papa Francisco que através de uma bênção solene e uma oração especial, os vai enviar, em conjunto com mais de 60 famílias, para irem em missão pelo mundo.

 

 

 

Praxes abusivas refletem falta de formação

O padre António Jorge Almeida, membro da equipa executiva do Serviço Nacional da Pastoral do Ensino Superior (SNPES), da Igreja Católica, denunciou “a falta de formação e educação” de muitos estudantes que se refletem em praxes abusivas. “Não sou nem contra nem a favor das praxes: é importante que as associações façam um bom acolhimento dos estudantes, mas vê-se muita coisa que passa pela falta de educação, pela ignorância” o que leva a concluir que “falta formação e educação no Ensino Superior”, revelou o assistente do SNPES, em declarações à Agência ECCLESIA.

Para o sacerdote, as praxes são “uma espécie de entretenimento em que ninguém governa nada e a lei foi posta de lado”.

O tema tem estado em debate, de forma particular, após a morte de seis estudantes da Universidade Lusófona na noite de 15 de dezembro, na praia do Meco, em circunstâncias ainda por apurar.

O padre António Jorge Almeida entende que este episódio “veio abrir um debate muito sério”, lamentando que alguns queiram continuar a “brincar com o Ensino Superior”.

 

 

 

Isto porque “há uma ‘entourage’ económica nas próprias cidades para onde os jovens vão estudar e viver, que também prefere esta forma de existir”.

O responsável alerta os jovens caloiros para “não se deixarem levar pelo ‘bicho papão’”, quando chegam à universidade, porque podem entrar num “sistema” que compromete “a vida e o futuro”.

“Com as limitações que temos [SNPES], procuramos propor em conjunto com as universidades um ambiente, um espaço de acolhimento, mas depois há toda uma arquitetura de praxe que ocupa maioritariamente os estudantes com coisas que não têm a ver propriamente com a formação académica”, lamenta.

 

 

 

 

A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram a atualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizados em www.agencia.ecclesia.pt

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Igrejas Cristãs assinaram declaração de reconhecimento mútuo do Batismo, Lisboa, 25.01.2014

 

Entrevista a Frei Filipe Rodrigues, dominicano

 

 

 

 

 

 

Há que repensar o Aborto

D. Manuel Linda,

Bispo das Forças Armadas e de Segurança

 

Cumprindo um dos pontos do seu programa eleitoral, o Governo de Espanha aprovou uma substancial alteração ao estatuto do embrião humano, com inegáveis implicações no tema do aborto: se, até agora, a lei repousava no princípio do direito absoluto da grávida, agora passará a assentar na dignidade do concebido e na obrigação legal da proteção do indefeso, tal como previsto na jurisprudência.

Como era de supor, a opinião pública dividiu-se. Mas, se ao menos, fosse à base de pressupostos racionais… Mas não. Dividiu-se por… irracionalidade. Como o comprovam as cenas deprimentes e patéticas que as televisões mostraram. Lembro-me, por exemplo, de um grupo que assinalava com um cartaz a mudança como sendo “vitória de Cristo Rei”. E, no sentido contrário, de um outro, de menos de duas dúzias de «tias», a quem a provecta idade já, há muito, dispensou dos trabalhos da maternidade, à porta de um hospital, a tomar um qualquer comprimido que apresentavam como sendo a «pílula do dia seguinte», mas que, em meu entender, naquele contexto, deveria tratar-se antes de um medicamento para o reumático ou para a arteriosclerose.

Sobre o aborto, jamais nos entenderemos enquanto não quisermos refletir e usar a massa cinzenta. Não é com cenas dessas que chegaremos ao bom porto da concórdia e da promoção do humano integral. É de esperar, 

 

 

 

 

portanto, que os defensores do aborto apresentem razões objetivas e consistentes. Porque nós, os que nos opomos, também as temos. Eis algumas:

-  não consta que qualquer mulher tenha ido parar à prisão por praticar o aborto, mesmo no tempo em que a lei o proibia;

 - ninguém de bom senso quer que, hoje ou no futuro, alguém seja preso por recorrer a ele;

- não obstante, também não se quer liberalizado, banalizado e quase recomendado, como a atual lei parece fazer;

- por isso, o aborto «legal» está a aumentar a ritmo infernal;

- tudo leva a crer que o mesmo se passa com o clandestino;

- assim sendo, não se verifica a única razão plausível para a despenalização do aborto –acabar com o clandestino- e a lei até se revela incentivadora daquilo que diz pretender dissuadir;

- neste caso, a lei é criminosa e abominável, porque incentiva o contrário daquilo que preconiza;

- numa cultura de massas, em que se confunde o ético com o legal, a lei abaixa, perigosamente, o 

 

tónus moral da sociedade;

- neste contexto, a vida humana passa a ser desvalorizada até ao limite do descartável;

- como tal, a legalização do aborto constituiu um dos mais sérios retrocessos no processo de humanização da humanidade. Por mais que, a alguns, isso custe aceitar.

 

Porque isto lá está subjacente e pela coragem de assumir o «politicamente incorreto», é de aplaudir esta tomada de posição do Governo espanhol. Até porque isso constitui uma novidade absoluta a nível mundial. O que é tanto mais de sublinhar quanto se sabe que a direita partidária, normalmente, sofre de fortes complexos no que se refere a assuntos de natureza ética ou naquilo que implica com a dimensão religiosa: quando se debatem os assuntes fraturantes, diz-se contrária à esquerda; mas depois de aprovados, mantem-nos intocáveis ou até os amplia.

Se eu estiver errado, o Governo que mo demonstre.

 

 

A nudez do plátano confidente 

Luís Filipe Santos,

Agência ECCLESIA

 

É o confidente de muitos anciãos no outono da vida. No meio da sua imponência, aquele plátano quando se despe das suas roupagens na estação certa, mostra a sua transparência com a nudez provocada pelas folhas mortas. Entre os seus longos braços, não existem calafetagens e a ventania do inverno corre entre os seus dedos… Espera que o jardineiro e sua tesoura lhe dê uns retoques. Espera no silêncio estacional porque saber esperar é uma virtude.

Está despojado de tudo e espera que a primavera lhe forneça os primeiros rebentos para voltar a segredar e ouvir os amigos. É um confidente. A minha varanda é um local privilegiado para observar a rotina daquele plátano. Enraizado na terra, autêntica «Clepsidra» – livro de poemas de base simbólica de Camilo Pessanha – aquela árvore é um relógio que mede o tempo… sem reclamar com o tempo.

Com frequência os meus olhos tocam no olhar daquele plátano. Tal como dizia o escritor francês e filósofo, Albert Camus (1913-1960), «O Outono é outra Primavera, cada folha uma flor».

Certo dia, ao olhar para o majestoso plátano recordei um episódio no Santuário de Fátima. Aquele olhar de sofrimento no colo maternal não sai da minha memória… Não tinha mais de seis ou sete anos, mas aquelas lágrimas – tal como as da sua mãe – indicavam que não era o IVA, IRS ou TSU que estavam no centro

 

 

 

 

das suas preocupações. Era o estômago que sentia os efeitos da tirânica política.

Tal como aquela criança e sua mãe, muitos milhares de lenços acenavam à Mãe que podia dar-lhes alento. Estas pessoas deixaram de acreditar no poder terreno e deslocaram o sentido da sua vida para o olhar sereno daquela Mulher vestida de branco.

As lágrimas daquela multidão mostravam o desespero que os meus irmãos/as vivem. Não era a emoção… Era súplica.

Pobre capacidade a dos senhores terrenos, embora escolhidos mas que não compreendem as dificuldades do povo. Apenas visualizam o número de pessoas presentes. Não reflectem sobre o porquê da esplanada daquele santuário estar cheia… Talvez, pensem que são os efeitos da fé. Nem reparam no olhar sofrido daqueles que pagam promessas ou pedem para que no dia seguinte tenham pão.

Autênticos vendilhões do templo que seriam chicoteados pelo Mestre, se ele aparecesse naquele momento. Uma miríade  de «anjos negros» bajula estes vendilhões 

 
 

que não se apercebem que muitos, a maioria deles, dorme ao relento porque os euros não chegam para extravagâncias religiosas. A sandes é o seu sustento…

Chorei de raiva… Olhos nos olhos, com aquele plátano. «O mundo é um livro e aqueles que não viajam lêem apenas uma página», escreveu Santo Agostinho. Aquele plátano, apesar de depenado, é um livro com muitas páginas. Daqui a uns meses voltaremos a vê-lo com a sua imponência e a escutar as lamúrias dos idosos…

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Bispo de Setúbal quer Igreja
nas periferias e pacto político
para atender a «quem mais sofre»

 

Aos 73 anos de vida, e após 15 à frente da Diocese de Setúbal, D. Gilberto Canavarro Reis olha com desassombro para o que ainda não conseguiu fazer em território sadino e lamenta uma «pastoral de manutenção». A ECCLESIA conversou com o bispo que completa em fevereiro 25 anos do episcopado e que se recusa a ver a diocese com «régua e esquadro», enaltecendo a diversidade e a entrega de tantos diocesanos na formação, na ajuda social e na liturgia.

 

Agência Ecclesia (AE) - Nascido em Vila Real, no concelho de Vila Pouca de Aguiar, a sua terra Vreia de Bornes, tem neste momento pouco mais de 600 pessoas. Que marcas guarda na sua personalidade das terras de Trás os Montes?

D. Gilberto Canavarro Reis (GCR) – Vai fazer 16 anos que estou em Setúbal. Guardo uma consciência muito forte da presença de Deus que envolve o mundo. Isso sempre me acompanhou. 

 

 

Tenho sempre presente a proximidade, o encanto das pessoas que se conheciam, confiavam e se  estimavam. As crianças brincavam à vontade. Não é o ambiente das grandes cidades onde ninguém se conhece.

Recordo que quando saí dos meus lugares, pouco depois fui para Roma, e ninguém se cumprimentava. Isso magoava-me muito e continua. Não entendo.

Guardo a frescura da terra e dos rios. Gosto de estar na cidade, mas gosto de ver os campos, as montanhas, os rios e o mar.

Guardo profundamente a fé que me marcou, da minha família, da terra, da Igreja onde celebrava os mistérios de Deus. Tenho ainda muito vivo quando, no Natal, os homens cantavam «alegrem-se os céus e a terra». Parece que ainda hoje me ecoa no coração. Sei lá, tantas coisas bonitas…

 

 

 

AE –Há poucos dados sobre o seu percurso, sobre a sua pessoa….

GCR - Por um lado nunca gostei muito de me expor. Já desde pequeno. Recordo que no seminário os meus colegas disputavam o protagonismo de presidir às orações. Eu sempre que podia deixava que outro o fizesse. Quando todos procuravam ajudar o senhor bispo na missa, eu só quando era obrigado. Lembro-me quando pediram para fazer uma homilia, eu lá fiz - tinha de fazer - mas subi ao estrado e desci sem ver ninguém. Isso não é próprio de mim. Gosto de colocar os outros em relevo, não a mim.

 

AE - É timidez ou é discrição?

GCR - É mais uma maneira de ser e acho que cada um é como cada qual. É o meu estilo.

 

AE - «Ordeno-me para estar onde a Igreja me pede», foram as suas palavras no momento de ordenação. Continua a seguir este ideal?

GCR - É verdade. Tem estado sempre presente no meu coração. Desde sempre fui fiel ao Bispo

 

 

 e disponível. Em relação ao Santo Padre o mesmo. A disponibilidade de ontem é a mesma que tenho hoje. Quer para estar onde estiver, mas também no sentido de sintonizar e entrar dentro das grandes linhas de renovação e abertura da Igreja. Procuro sintonizar essa disponibilidade. Sempre em acompanhou.

Já os meus pais me deixaram a marca de não ser para mim mas para os outros. A partir do encontro com Jesus.

 

AE - É com essa disponibilidade que em 1988 recebe a nomeação para bispo auxiliar do Porto, onde esteve com D. Júlio Tavares Rebimbas e D. Armindo Lopes Coelho. O que guarda dos nove anos que esteve como bispo auxiliar no Porto? Das pessoas e da missão episcopal?

DGCN - Uma boa recordação. Gostava muito do Senhor D. Júlio, uma pessoa muito discreta, mas um homem do povo, com um coração muito rico. Havia um grupo de bispos com quem fazia uma equipa cuja amizade permanece.

 

 

 

 

 

Na diocese do Porto havia comunidades muito variadas. A zona que me era atribuída estendia-se desde o alto da Serra do Marão até ao mar, em Vila do Conde. Faziam-se experiências muito ricas, de participação. Outras zonas eram muito ricas em juventude, em força apostólica, de dinamismo eclesial em Paços de Ferreira, Trofa, Santo Tirso.  Gostei muito de lá estar.

 

 

 

AE - Essas pessoas e essa missão ensinaram-no a ser bispo em Setúbal?

GCR - Naturalmente que aprendi muito. Perceber como as pessoas, os padres e os problemas são diferentes e exigem diversas respostas. Fez-me sentir que a Igreja é plural. Não se pode fazer a esquadro e régua, mas aceitar a pluralidade. Foi uma boa escola. 

 

 

 

AE - O que recorda quando o Papa João Paulo II o nomeou, em 1998 para bispo de Setúbal?

GCR - Antes disso, recordo que quando fui chamado para ser bispo auxiliar do Porto, era o dia 1 de novembro, Dia de Todos os Santos. Estava a rezar o terço, na casa paroquial. Tocou o telefone, pediram-me para vir a Lisboa e eu «rabujei» porque vir de Chaves a Lisboa era complicado, mas vim.

 

AE - Foi surpreendido pela nomeação episcopal para o Porto?

GCR - Sim, fui. Quando foi para Setúbal, foi diferente porque recebi a indicação de que estava convidado para vir. E procurei rezar, pensar e ver se realmente Deus me chamava através do Santo Padre.

 

AE - A resposta não foi imediata?

GCR - Não, não foi imediata. Ainda pensei um bocadinho.

 

AE – Consultou alguém?

GCR – Sim. Procurei rezar primeiro, depois falar com um ou outro amigo que me conhece bem e em quem confiava.

 

 
AE - Que relevância tinha vir substituir D. Manuel Martins?

GCR – Por um lado seria fácil porque o D. Manuel Martins tinha aberto aqui uma autoestrada e andar numa autoestrada é muito fácil. Por outro lado, ele é uma figura que enche, continua muito presente no coração das pessoas. Ele pôs Setúbal no mapa. É natural que as pessoas o tivessem e o tenham no coração.

É importante que se conserve este amor ao bispo - seria mau se o afeto e a atenção não continuassem. Por outro lado é importante ajudar as pessoas a dar novos passos. Mas acho que o povo é disponível e, se às vezes não vai mais longe, é porque eu não tenho a arte de as ajudar.

 

AE - Ano e meio depois de ter chegado a Setúbal, numa entrevista, referiu haver falta de clero, baixa prática dominical, uma tentação de estar nas sacristias, fraca preparação dos leigos. Este quadro mantém-se?

GCR - Quanto ao clero, não. O clero aumentou muito nestes anos. Apesar de ser uma diocese 

 

 

pequena quanto a prática dominical, ordenámos 26 padres e mais dois vão ser ordenados em julho. É um grande número.

Quanto à saída das sacristias infelizmente não consegui ir mais longe. Sinto que a diocese continua muito fechada dentro em si. Apesar dos esforços, que me agradam muito, que louvo os leigos e o clero, continua fechada. Continua a gastar muitas energias com o que está dentro em vez de ir para fora.

As pessoas são muito boas, mas não basta esta bondade que vem da fé. É preciso conhecê-la para um diálogo com o mundo.

 

 

 

AE - Refere-se a uma fé mais racional?

GCR - Diria mais esclarecida para este diálogo. Sobre a prática dominical, continua muito baixa, temos poucos jovens. Julgo que o número de crianças na catequese diminuiu.

Não consegui com o clero, os religiosos, e os mais comprometidos avançar mais. Quando vou às paróquias, normalmente estão cheias. Dizem-me que de facto aparece muita gente. Não temos uma forte consciência de que precisamos de mobilização para levar o Evangelho e são muitas as pessoas que esperam o Evangelho. Aqui têm-se batizado muitos adultos. No ano passado crismei 500 anos.

 
 

 

 

AE - A formação catequética dos adultos é uma das suas prioridades.

GCR - Sim, e nós percebemos o encanto das pessoas. O brilho nos olhos de quem não conhecia Jesus. Ficam encantadas. O homem tem necessidade de se encontrar com o rosto de Jesus e quando isso acontece ganha luz e esperança, transforma-se.

 

 

AE - Percebo pelas suas palavras que se tem realizado mais uma pastoral de manutenção. O que tem faltado?

GCR - As necessidades dentro das paróquias são grandes. As pessoas olham para os que estão dentro e gastam ali todo o seu tempo. É importante cuidar de quem está dentro, mas quando se vai ao encontro de quem está 

 

 

 

  

 

fora, ganha-se uma nova energia, uma nova luz.

É um engano dizer: «temos pouca gente, vamos cuidar de quem está dentro e depois, vamos para fora». Não. Ainda não consegui ajudar as pessoas a perceber que se têm pouca gente isso não as pode impedir de sair. Por outro lado, tem-se a ideia de que as pessoas estão evangelizadas. Naturalmente o conhecimento cultural de Jesus todas as pessoas o têm. Mas o encontro com Jesus, o encontro da fé, não.

Muitas pessoas fizeram um percurso dentro da Igreja, foram batizadas, casaram, mas não chegou a haver um encontro verdadeiro com Jesus ou não foi aprofundado. Creio que mostra que se gastou tempo e não se saiu ao encontro. Isso também me acontece a mim que me deixo agarrar com quem está dentro. Penso que passará por isso.

 

AE - «Combater a ideia de um Cristianismo irrelevante» é uma predisposição sua. Qual a missão do bispo para combater esta irrelevância?

GCR - O bispo, tal como diz o Papa, deve ir à frente. Deve ser o primeiro a mostrar, pela vida e

 

 pelas palavras e opções pastorais a centralidade de Jesus. Pode pensar-se que Cristo faz parte do passado, mas o encontro com Jesus acontece à frente, no caminho. Esta é uma consciência que tenho. O bispo deverá ir à frente, tendo o cuidado de ficar para trás para agarrar quem fica. E estar no meio das pessoas, rezando, entusiasmando-as e renovando as estruturas. Se as estruturas forem mais leves e adequadas, talvez se possa ir mais longe.

 

AE - Sente o apelo do Papa Francisco de levar a Igreja às periferias?

GCR - Quando cheguei a Setúbal, escrevi uma carta aos diocesanos: «Setúbal, convoco-te para a missão». A Igreja não pode ficar na manutenção, a cuidar de si, tem de ir para a rua, aceitar estar mais desarrumada dentro para sair. A grande tentação é querer arrumar a casa e ir amanhã. Assim nunca se parte. O desafio é partir e a casa vai-se arrumando.

 

 

 

AE - «Setúbal, convoco-te para a missão», foi a sua primeira carta aos diocesanos, em 2001, para dinamizar os diocesanos. Anos depois, faria sentido propor novamente?

GCR - Naturalmente. A encíclica que o Papa escreveu «A Alegria do Evangelho», toda ela é uma provocação para a missão. Ir às periferias, fazer-se próximo, renovar estruturas, ganhar a esperança nos agentes pastorais. Trabalhar não porque tem de ser mas porque o coração arde por dentro e não há outra forma.

 

AE- Nestes anos em Setúbal D. Gilberto procurou formar os leigos, os batizados; lançou o Triénio dedicado à Sagrada Escritura (2005 a 2008), o Ano da Eucaristia, o Ano Paulino, Ano Sacerdotal, Ano da fé; promoveu uma reflexão sobre o Concílio Vaticano II. Que frutos são possíveis recolher destas propostas? Em práticas, em vocação laical?

GCR - Todos andaram à volta do que me parecia essencial. Procurei ajudar as pessoas a ir ao essencial. Tenho dificuldade em avaliar os frutos. No fim dos anos

 

 foi-se avaliando e os ecos foram de participação e beneficio.

Naturalmente sonho sempre mais, mas a Igreja está sempre a começar. Todos os dias tem de ser feita a proposta com novo encanto e nova luz.

 

AE – Referiu haver poucos jovens a participar. De que forma tem a diocese ajudado os jovens a perceber que «são amados e que a vida de cada um é irrepetível»?

GCR - Tem havido um grande trabalho. Queria homenagear o clero e os catequistas. Temos 1500 catequistas.

 

AE - É um bom número para a diocese?

GCR - Para o trabalho atual que temos, chega. Naturalmente é preciso ir mais longe. Mas muitos têm crescido e feito um esforço de formação. Vejo que há entusiasmo e esforço, preocupação de envolver os pais e fomentar à participação na eucaristia.

Mas a formação faz-se na experiência da Igreja e muitas famílias já serão menos Igreja .

 

 

 

 

 

doméstica do que foram ontem. A referência da fé e da Igreja vai-se perdendo. A centralidade da eucaristia na vida cristã perdeu-se. No entanto, tem sido feito um grande trabalho para ir ao encontro das crianças e, através delas, chegar ao coração dos pais.

 

 

 

AE - Os pais que se batizaram mas que se afastaram da Igreja. Resgatar esses batizados faz parte do seu caminho.

GCR - A diocese tem apostado muito e bem. Os pais valorizam o mistério de Deus nos seus filhos e isso abre-os para a experiência. Temos muitos casos, ouço relatos semelhantes e imagino que pelo país aconteça isso também.

 

 

 

 

 

AE – O ir às periferias, na sua realidade, revela-se na presença da Igreja na arte, no contacto com as pessoas sem-abrigo, nos contatos com empresários e empresas?

GCR - É preciso levar Jesus a toda a parte. O nosso mundo está cheio de pobres. Todos os homens, tenham ou não fé, deveriam olhar mais para os pobres. Não é digno que se deixem homens viver ao abandono, não honra ninguém seja crente ou não, seja culto ou não. Muito mais para a Igreja. Quando na quinta-feira santa lavo os pés simbolicamente, interpela-me pelo facto que gostaria de cada vez mais ir ao encontro deles.

A arte é um lugar de encontro. Muitas pessoas através da arte descobrem o raio da beleza e do amor de Deus. Onde há brechas a Igreja deve estar.

 

AE - Também nos empresários e empresas?

GCR - Fiz duas grandes visitas pastorais às paróquias e na primeira tive a grande 

 

preocupação de me encontrar com associações, empresas, escolas. Onde estive, procurei dizer que o seu trabalho é importante e dar esperança. Dizer também que como crente, rezava por eles. Que no meio das suas lutas não estavam sozinhos.

 

AE - Criou o Fundo Social de Emergência, que esgotou. As respostas não são suficientes?

GCR - As respostas são remédios. A situação que vivemos precisa que o governo e os partidos façam um pacto de entendimento para ir ao encontro de quem mais sofre. Esse é um desafio que os vários partidos têm de assumir. Têm de ser respostas mais profundas.

 

AE - Não mostraram ainda essa vontade?

GCR - Às vezes dá impressão que sim, mas é difícil acreditar numa vontade sincera onde todos deem as mãos, independentemente da cor política, olhando para os necessitados, e em vista do bem comum. O diálogo não é uma cedência, mas uma busca para

 

 

 

 

 um ponto de encontro para que o bem comum vá mais longe.

As paróquias são chamadas a avançar mais. Quer dentro das respostas que dão, mas também colaborando com entidades privadas ou civis. Quanto mais nos juntarmos, melhores soluções podemos oferecer. Alguns passos têm sido dados, mas é preciso continuar a dar as mãos e a procurar melhores respostas.

Que na sopa e no pão que se dá se ofereça mais. Que se ensine a poupar, a ter esperança, a aproveitar o tempo. Que ninguém se demita. Todos podem dar mais dentro do pouco que têm. Felicito as instituições e as pessoas; felicito também as instituições fora da Igreja, mas penso que precisamos continuar e ir mais longe.

Nesse sentido vou começar uma visita pastoral temática, em fevereiro, só sobre essa atenção social e caritativa.

 

 

AE - O poder local procura-o?

GCR - Não digo que seja a ideal, mas há uma relação boa com os vários autarcas. Admiro o trabalho conjunto dos autarcas que procuram servir e fazer bem. Noto que estão abertos ao diálogo com a Igreja onde for preciso.

 

 

 

AE - Onde é preciso servir melhor em Setúbal?

GCR - Há muita gente com baixas pensões, desempregada, que vive sozinha. Precisamos inventariar as situações e perceber os casos de habituação a subsídios. É preciso ajudar as pessoas a crescer. Organizar melhor o serviço e apoio a quem vive sozinho e na pobreza envergonhada. Ir mais longe na formação dos agentes no serviço fraterno. Não basta ter um coração bom, mas ajudar as pessoas a fazer rede, a olhar para além das necessidades. Depois de ter recebido algum apoio, que eles possam também ajudar outros.

 

AE – Nos quase 14 anos na diocese, ordenou 26 padres, em breve vai ordenar mais dois. Qual é o segredo para que as vocações surjam na diocese?

GCR - Sempre percebi que a diocese tinha essa preocupação. Já a tinha o D. Manuel e eu mantenho-a. O apelo tem sido feito, mas é uma graça de Deus.

 

 

 

AE – Era grande o seu desejo de ter uma congregação de vida contemplativa na diocese.

GCR - Nós precisamos de sinais. O amor presente numa congregação contemplativa é muito importante. Quem vai à Arrábida, tenha ou não fé, fica encantado. Tive oportunidade indizível de experimentar a alegria daquelas Monjas de Belém.

 

AE – Disse que não queria que o Santuário do Cristo Rei fosse «um miradouro». Que lugar tem o santuário enquanto turismo mas enquanto local congregador da diocese?

GCR - O santuário do Cristo Rei vai sendo descoberto. O reitor, o padre Sezinando Alberto, é um homem dedicado, tem trabalhado para que o santuário seja cada vez menos um lugar de turismo e antes um lugar de fé.

À medida que o santuário tiver mais condições, mais pessoas o procuram para rezar ou para a formação. Essa centralidade em ordem à pastoral diocesana cresce, e crescerá cada vez mais, à medida que for possível construir novas estruturas.

 

 

 

 

 

 

AE – Sem esquecer o esquecer como ponto turístico da diocese. O santuário mas também polos como a Arrábida, Troia, Comporta. De que forma o turismo desafia a diocese?

GCR - Confesso que não temos organizado. Mas sinto que é importante. Há muita gente que 

 

 

 

nos visita no verão e o lugar de turismo é também um lugar de encontro com Deus. Setúbal tem uma grande potencialidade turística. Onde estiverem as pessoas ai deve estar uma proposta de evangelização.

 

 

 

AE - A diocese tem muitas geografias: urbana, a ruralidade, o interior e as praias extensas…

GCR - Apesar de pequena a diocese é muito diversa. Há zonas com um grande aglomerado populacional muito diferente da zona litoral na Arrábida e da Comporta.

 

AE - Elas têm tido igual atenção por parte do poder local?

GCR - Penso que estão próximos e atentos. Julgo que o conjunto dos autarcas é dedicado mas há muita gente. Setúbal é um pouco dormitório e assiste diariamente ao fluxo rumo a Lisboa. Em outros locais a população diminuiu, mas em Setúbal cresceu. As necessidades são grandes e os recursos mais difíceis.

O porto de Setúbal, apesar de estar entre Sines e Lisboa, é um lugar de movimento – de carros, de cimento, de ferros - que mostram a força presente. Mas tem de ir mais longe, o desemprego é elevado. Temos menos imigrantes agora, muitos brasileiros regressaram às suas terras. Numa visão geral, as condições de vida do país, pioraram.

 
 

 

AE - Mas no conjunto há qualidade de vida na diocese?

GCR - No conjunto, penso que há qualidade de vida, se a entendermos como condições para uma vida digna. Há bolsas de pobreza, casas frágeis, desemprego, baixas pensões, sem dúvida. Mas posso dizer que há qualidade de vida.

 

AE – Em ordem à celebração dos 40 anos da diocese (criada em julho de 1975), está em vista uma peregrinação diocesana, marcada para 25 de outubro. Que planos existem para esta celebração?

GCR - Estas datas são importantes para celebrar e fazer balanço. Vou ainda fazer a proposta ao conselho de presbíteros e chegaremos a um consenso. Trata-se de celebrar olhando para trás, percebendo o caminho que se andou, e percebendo como se pode ir mais longe. Queremos fazer isso com Nossa Senhora, que sempre foi modelo para a Igreja.

 

 

 

 

  

 

AE - Essa reflexão será feita em Sínodo?

GCR - Será feita de forma simples. Setúbal precisa, penso que qualquer Igreja só tem vantagem em fazer um Sínodo. Mas não tenho agora condições para o fazer. Estou a fazer 75 anos e não é do meu estilo começar uma iniciativa que outro teria de continuar. Mas creio que quem vier amanhã não deixará de o  

 

fazer, pois é uma experiência rica para a diocese. 

É certo que a reflexão a fazer terá sempre uma forma sinodal mas veremos entre as sugestões a recolher. Gostaria que em cada paróquia, movimento e serviço se fizesse um exame de consciência sobre o que se andou, o que não se fez e que passos se podem dar mais à frente.

 

 

 

 

AE - Se continuasse por mais tempo na diocese convocaria um Sínodo?

GCR - Sem dúvida. Parece-me que um Sínodo é um grande momento de crescimento, experiência de comunhão e de arranque para o futuro.

O Concílio Vaticano II, o grande Sínodo da Igreja, foi um marco belo para a Igreja e para o mundo.

 

AE - Foi-o também para si enquanto sacerdote?

GCR - Eu tive a oportunidade de estar a estar em Roma quando o Concílio aconteceu. É uma experiência indescritível. Louvo o Senhor por ela porque pessoalmente só me fez bem.

 

AE - Como já indicou, em maio de 2015 vai pedir a sua resignação?

GCR - Sim. Disse, no princípio, que me insiro na comunhão da Igreja. O Direito Canónico é muito claro e não deixarei de estar atento. Pessoalmente, já o disse, se o Santo Padre me perguntasse eu diria que 75 anos é muito - se fosse aos 70 ou 72 não se perderia nada. O bispo com essa idade pode fazer outra coisa, 

 

pode vir outro com frescura e não há mal.

Sempre admirei o Papa Bento XVI e admirei mais ainda quando ele teve a lucidez e a coragem de dizer que é melhor sair.

As mudanças trazem frescura, dinâmica. Chegamos a um momento que mesmo que se queira, já não vemos, não somos capazes. É bom ter a capacidade de sair a tempo.

 

AE - Que plano tem para depois dos 75 anos?

GCR - Ainda é muito longe para lá chegar. Não pensei. Gosto de ler, de rezar. Logo se verá. Ainda não me ponho esse problema. Penso que é fácil resolver. Os bispos são sempre bem acolhidos, aqui ou noutro local.

 

AE - Em Vila Real, por exemplo?

GCR - Na minha terra será mais difícil porque já não tenho ninguém de família. Saí pequeno, mas em Vila Real sim, não faltariam lugares. É a minha terra. 

 

 

Oração pelas Vocações

Caros Diocesanos

No dia 12 de fevereiro completam-se 25 anos da minha ordenação episcopal. A Igreja tem a tradição de celebrar os jubileus sacerdotais como momento propício para crescer na fé e no amor pelo ministério ordenado.

Gostaria de ver, por isso, a Diocese em oração pelas vocações ao ministério ordenado, pelo nosso seminário e pelas vocações à vida religiosa e missionária. Neste contexto, peço a todos os diocesanos que me acompanhem nesta oração.

Nesta carta há um quadro para que cada criança, jovem, adulto, são ou doente anote, diariamente, a oração ou outro exercício espiritual que fizer por esta intenção. Nos dias 8 e 9 de fevereiro, nas missas, serão recolhidos estes 'cartões ' como folhas dum grande ramo de oração pelas vocações a oferecer a Jesus, na Eucaristia jubilar no dia 12 de fevereiro na Sé, às 18h30.

Espero que todos participem na composição deste ramo, para que fique mais belo.

Peço a colaboração 

 

indispensável de cada sacerdote e diácono, dos catequistas junto das crianças e adolescentes e do Secretariado das Vocações. Peço-a também às chefias locais do CNE e aos responsáveis dos vários grupos e movimentos, especialmente dos que cuidam dos doentes.

Que Nossa Senhora ajude a Diocese a reunir-se em oração pelas vocações, com renovado fervor.

Agradeço a colaboração de cada um de vós e peço ao Senhor que abençoe a todos.

 

+ Gilberto, Bispo de Setúbal

 

 

 

 

 

 

 

 

A Igreja de Setúbal nos tempos de crise  

Desde há décadas que a região de SETÚBAL tem vivido crises económico-sociais tremendas.

Lembremos a crise do pós-guerra que levou ao fecho da quase totalidade das fábricas de conservas de peixe.

Recordemos o fracasso das fábricas de montagem de automóveis e até o esgotamento das indústrias químicas.

E já diante dos nossos olhos o estrangulamento das pescas com o abate de treinaras a par do fim duma siderurgia, da Setenave e dos entraves colocados ao desenvolvimento do porto de Setúbal (estrangulado por Lisboa e Sines).

Eis os ingredientes e os factos geradores de forte desemprego

 

 e duma pobreza aflitiva, conduzindo a uma fase de verdadeira fome na região, de fome doença e criminalidade.

Neste contexto a Igreja aparece tentando minorar as consequências de todas estas crises, não só através da Cáritas mas também de várias iniciativas de apoio social em algumas paróquias.

E eis-nos em força dentro da crise atual iniciada em 2008 e aos efeitos duma governação assente em tremendas restrições, numa ação esmagadora sobre o fator trabalho e numa despudorada proteção do fator capital – como diz o atual Papa Francisco: vivemos num sistema que MATA.

Mata a classe média, 

 

 

 

 

 

aumenta a pobreza, exclui a juventude bem formada e concentra a riqueza em meia dúzia de mãos, mata a esperança e a alegria.

Sempre foi prioridade, mas é hoje mais prioritária que nunca uma presença viva dos cristãos num processo de mudança deste paradigma em que se vive no mundo, na Europa, em Portugal e, especialmente, na zona da nossa diocese.

Tem o “povo de Deus” – todos os que se dizem cristãos – e os seus pastores de tornar presente no 

 

 

dia a dia da vida da nossa Diocese, com o seu exemplo e com a sua palavra, a “Boa Nova” que Jesus mandou gritar de cima dos telhados e nos ensinou com o Seu exemplo a viver em prol dos desprotegidos e dos pobres.

Esta presença é uma prioridade da nossa ação pastoral, com o nosso Bispo orientando o seu rebanho.

 

Mário da Silva Moura,

Comissão Diocesana Justiça e Paz - Setúbal

 

 

 

Santuário 
de Cristo Rei

A 18 de janeiro de 1946, na Pastoral Coletiva do Episcopado Português, lemos: “A estátua do Redentor, erguida em lugar bem alto com a mão estendida, em gesto de abençoar Portugal, ficará atestando às gerações vindouras que, no segundo quartel do século XX, a gente portuguesa soube confiar em Deus e por Ele foi paternalmente acarinhada e defendida”.

Neste trecho atestamos que o Santuário de Cristo Rei é fruto da fé de um povo que em horas de grande aflição sentiu o amor paternal de Deus.

Passados quase cinquenta e cinco anos, a imagem de Cristo Rei continua a ser um convite à (re)descoberta desse amor que brota do próprio Coração do Senhor.

No Coração de Jesus sentimos o amor misericordioso de Deus. Este Coração é fonte inesgotável de força e de vigor, sempre nova e atual.

 

 

  

Esta força chega para compensar e inquietar os corações humanos.

É com esta força que os homens fizeram e fazem maravilhas. Sem ela nada. Com ela tudo.

No Alto do Pragal, em Almada, Cristo Rei continua a indicar ao homem que não há outro caminho para o amor e para a paz sem ser pela via do coração.

De coração no peito, é um convite constante para mergulharmos no mistério desse Amor, que nos envia a anunciá-Lo neste mundo marcado por vários tipos de explorações.
Amar é o grande desafio que nos é colocado. Quem ama refuta todo o tipo de egoísmo, sofre com os que sofrem, alegra-se com os que se alegram. Procura a verdade, o perdão, a humildade. Consola os desamparados, dando a mão a quem está caído. Acima de tudo procura servir à semelhança de Jesus.

De braços abertos, diz a todos os homens que venham a Ele aqueles que procuram a verdade porque Ele é a luz, os que estão sobrecarregados, porque o Seu jugo é suave, os que têm fome e sede de justiça, porque Ele é o 

 
pão vivo descido do Céu, os que estão escravizados pelo mal, porque Ele é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.

De braços abertos, coração no peito, sorriso nos lábios, cabeça inclinada sobre a capital do país, diz-nos:

“Vinde a mim vós todos os que andais cansados e oprimidos e Eu vos aliviarei. Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração”.Por graça de Deus há quinze anos que está confiado à solicitude pastoral do Bispo de Setúbal. Pelo património de fé que este local representa, pela atualidade da mensagem a ele associada, não há dúvida que este é um santuário de referência para a vida eclesial da Diocese de Setúbal, uma vez que todo o agir cristã parte de Cristo e volta a Cristo.

A imagem de Cristo Rei é um convite quotidiano à santidade de vida por todos aqueles que têm o nome de cristãos.

 

Padre Sezinando Alberto,

Reitor do Santuário de Cristo Rei

 

 

D. Gilberto e a formação sacerdotal
na Diocese de Setúbal

A formação dos futuros padres bem como a pastoral vocacional e a formação permanente do clero diocesano de Setúbal têm merecido o maior cuidado ao nosso bispo D. Gilberto e são um dos seus maiores investimentos. Ao chegar à Diocese em 1998, recebeu e acarinhou o Seminário Diocesano já instituído por D. Manuel Martins, primeiro bispo de Setúbal; mas coube já a D. Gilberto concretizar a sua transferência de Setúbal para o Seminário de S. Paulo de Almada. Bem poderíamos dizer que, desde então, a Diocese tem a cabeça em Setúbal, o coração em Almada e assim procura agir e caminhar harmoniosamente em todo o seu território, guiada pelo seu Pastor.

No Seminário de Almada, Deus bafejou-nos com um magnífico enquadramento natural e edificado, um manancial histórico quase inesgotável… e a proximidade dos mestres da “Católica” que estão ali mesmo em frente. Com a frequente e interventiva presença do nosso Bispo que está muitas vezes 

 

 

 

por cá e segue os seminaristas desde a sua admissão até à sua ordenação, aqui vamos formando, em geral em sete anos de Seminário Maior, aqueles que virão a ser os padres da Diocese. Louvado seja Deus: a Diocese de Setúbal vai tendo clero experimentado e clero jovem para as necessidades imediatas das suas comunidades e até para os necessários rasgos missionários a que Deus nos chama.

 

Terra de imigração, é natural que os cristãos e padres desta região viessem inicialmente em grande parte de fora. Mas, à medida que a população foi estabilizando, as comunidades se foram robustecendo e se cuidou das vocações sacerdotais, elas foram surgindo no território da Diocese. Nos tempos mais recentes quase todos os seminaristas e jovens padres residiam na Diocese antes entrarem para o Seminário. A Pastoral Vocacional, animada em grande parte pelo Seminário e na qual avulta a Obra do Bom Pastor e o Pré-Seminário que D. Gilberto

 

 

 

 nunca deixou de prover com meios humanos e materiais necessários (inclusivamente com instalações próprias) têm relevante papel neste campo.

Do Seminário tem igualmente partido e nele se realiza em grande parte a Formação Permanente dos nossos padres que D. Gilberto igualmente muito acarinha. Nela o programa de vida de cada sacerdote é essencial, bem como os encontros vicariais. Mas procura-se também que, praticamente ao ritmo de uma vez por mês, haja alguma atividade de dimensão diocesana a incentivá-la e dar-lhe contributos: dois plenários do clero, 

 

recoleção, retiro anual, passeio-convívio, jornadas anuais de formação, três terças-feiras temáticas, procuram desempenhar esse papel tanto no domínio da espiritualidade como no da teologia e pastoral, sem descurar a dimensão humana. E os cuidados de D. Gilberto também têm conseguido que os padres recém-ordenados beneficiem de apoio específico durante os dez primeiros anos de exercício do seu ministério, o que muito os tem ajudado.

Padre J. Rodrigo Mendes

Vice-reitor do Seminário de Almada e responsável pela Formação Permanente do Clero

 

 

“Setúbal, convoco-te para a missão”
– o perfil missionário de um Bispo

D. Gilberto dos Reis iniciou o ministério de Bispo de Setúbal em 1998. Os anos precedentes, particularmente os da Igreja diocesana, foram de intensa atividade evangelizadora.

No entanto, a diocese de Setúbal é uma região em constante transformação, não só pelo aumento demográfico resultante da imigração interna e externa, mas pela rápida mudança de mentalidades, fruto do encontro – e desencontro – de diferentes culturas e também da instabilidade provocada por sucessivas ondas de crises económicas e sociais.

Por outras palavras: a região em que a Igreja diocesana de Setúbal é terra de missão sempre por fazer, sempre a recomeçar, mesmo depois de muitos trabalhos e esforços.

D. Gilberto chega a Setúbal em vésperas do grande jubileu do ano 2000. Tudo o que se fez – e o que ficou por fazer – permitiu-lhe uma visão clara da necessidade de recomeçar um esforço renovado na evangelização.

 

 No 3º aniversário da tomada de posse, D. Gilberto publica a sua primeira exortação pastoral com o significativo título: “Setúbal, convoco-te para a missão”.

Logo neste título, D. Gilberto deixa claras uma das linhas que vão – e continuam – a marcar o seu ministério: reconhece-se o pastor que tem como incumbência convocar e reunir a Igreja diocesana em ordem à missão. Cabe ao Bispo ir à frente, indicando o caminho. Ele é o primeiro missionário! Relendo os seus escritos, a começar por esta exortação, relembrando as suas intervenções em múltiplos lugares e circunstâncias, sobressai a preocupação não apenas de lançar projetos, mas de apontar caminhos concretos, atitudes e soluções práticas, numa atenção minuciosa às realidades (alguns chamar-lhe-iam “pormenores”).

Por isso, esta primeira exortação é, para além de um documento que apontava para a realização de uma missão diocesana (cf. nº 19), um verdadeiro programa de 

 

 

 

 

vida do pastor que desafia toda a comunidade diocesana a segui-lo.

 

O texto é organizado, não em capítulos, mas em alíneas (ao todo 21), num estilo de carta cordial dirigida aos seus diocesanos. Não deixa, porém, de apontar a fundamentação teológica e bíblica da missão. Veja-se o nº 2, centrando a missão na pessoa de Jesus e colocando como finalidade primeira da missão a revelação do amor de Deus por cada pessoa.

Depois, vai apresentando de forma muito clara, no estilo de pergunta-resposta, o que é 

 

evangelizar, quem evangeliza, a quem é destinada a evangelização, como evangelizar, o que implica evangelizar (fazer-se próximo, estar presente nas realidades, fazer comunidade…), a evangelização e a vida sacramental, a oração.

Esta exortação, quase treze anos depois, revela-se muito fresca e próxima em conteúdos e linguagem daquilo em que hoje o Magistério da Igreja tanto insiste. Um convite à releitura, até para conhecer melhor D. Gilberto dos Reis, há 25 anos Bispo da Igreja.

 

Padre José Lobato,

Vigário-geral da Diocese de Setúbal

 

 

Caminhos de paz

Porque é que uma página em branco – ou o branco da página… - tem o nome da “paz” antes, sobretudo, de começar a ser escrita? E porque é que as palavras convocadas podem perturbar (ou mesmo obstaculizar e destruir…) essa paz primordial?...

São perguntas que brotam espontâneas e que acompanham o esforço destas breves reflexões no declinar de um mês (e de um ano) iniciado com um dia especialmente dedicado à paz.

Regresso então à Mensagem do Papa Francisco e encontro na ideia e proposta de fraternidade aí aprofundada a chave para as questões iniciais. Porque a paz entre folhas em branco não é a paz entre “vazios” ou “demissões”, na ilusão de pensarmos a não-existência como caminho para a sua edificação. A paz nasce da aceitação e reconhecimento de cada um como um dom – “dado”, por isso – em que nos reconhecemos filhos de um mesmo Pai e sem o que mais dificilmente nos percebemos como irmãos.

 
No que escrevemos nas páginas em branco de nossas vidas está ao nosso alcance transformarmos o dom de sermos filhos na missão de nos reconhecermos como irmãos. Talvez porque nem filhos nem irmãos nos fazemos de nós mesmos mas mais como irmãos do que até como filhos nos podemos reciprocamente reconhecer.

Na Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos que neste mês celebramos, vivemos, no nosso país, um pequeno mas significativo gesto que pode ilustrar tudo isto: várias Igrejas Cristãs reconheceram mutuamente a celebração do Batismo. Filhos de um mesmo Pai, acolhemos e reconhecemos o outro como irmão, na diversidade (e por isso riqueza) da própria história e tradição. O Pai deu-nos a “página em branco” da filiação – nós podemos escrever nela “fraternidade”.

Poderão parecer insuficientes estes passos para a paz tão desejada e tão em falta em tantos pontos do globo de onde se levanta esse anseio

 

 

 

e clamor. Mas são também passos como este que muitos outros poderão inspirar: diretamente, à nossa volta e, indiretamente, pelo princípio de “vasos comunicantes” em que acreditamos viver, nesses e em tantos outros pontos da terra, nessa e em tantas outras dimensões.

É inevitável também assim referir, neste mês, a Cimeira de Davos e tudo o que nega a comum filiação e a universal fraternidade que aí não se escreveu no fosso, cada vez mais profundo, entre quem ali se reuniu e a vida da gente normal. Mas também é espontâneo citar, exatamente no seu dia, São Tomás de 

 

Aquino que como o Papa Francisco recordou na mensagem referida, afirmava não só a necessidade da propriedade dos bens mas ainda, quanto ao seu uso, «não dever cada um considerar as coisas exteriores que legitimamente possui só como próprias, mas também como comuns, no sentido de que possam beneficiar não só a si mas também aos outros».

Saibamos então escrever “sementes de fraternidade” nas páginas em branco de nossas vidas e com os bens, pouco ou muitos, que nos são confiados para administrar.

Pe. Antóno Bacelar

 

 

Pelo fim da violência

O Papa Francisco apelou este domingo ao fim da violência na Ucrânia e deixou várias mensagens de paz para o mundo, num domingo em que foram lançadas simbolicamente duas pombas brancas desde a janela do apartamento pontifício. “Estou próximo da Ucrânia com a oração, em particular dos que perderam a vida nestes dias e das suas famílias. Desejo que se desenvolva um diálogo construtivo entre as instituições e a sociedade civil, evitando qualquer recurso a ações violentas, e que prevaleça no coração de cada um o espírito de paz e a busca do bem comum”, declarou, após a recitação da oração do ângelus, perante milhares de pessoas reunidas na Praça de São Pedro.

A Ucrânia tem sido palco desde há cerca de dois meses de manifestações, que já provocaram vários mortos, suscitadas pela decisão do seu presidente, Viktor Ianukovitch, de suspender os preparativos para a assinatura de um acordo com a União Europeia e optar por estreitar os laços comerciais com a vizinha Rússia.

 
 

Francisco referiu-se depois ao recente assassinato de uma criança italiana Nicola ‘Cocò’ Campolongo, que foi queimado dentro de um carro, na Calábria (Itália), num ajuste de contas da Mafia local, algo “que parece não ter precedentes na história da criminalidade”, e pediu orações pela vítima e pela conversão dos autores do crime.

O Papa recordou ainda os “milhões de pessoas” que vão celebrar o Ano Novo lunar no Extremo Oriente, em particular “chineses, coreanos e vietnamitas, e a celebração do Dia Mundial dos Leprosos, instituído pela ONU em 1954, a pedido de Raoul Follereau.

“Esta doença, apesar de estar em regressão, atinge ainda infelizmente muitas pessoas em condições de grave miséria”, sublinhou.

Segundo o Papa, é importante “manter viva a solidariedade” com todos os que são afetados pela doença, a quem Francisco assegurou a sua oração.

O momento de oração concluiu-se com uma saudação aos jovens

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 da Ação Católica da Diocese de Roma, que encerraram no Vaticano a sua iniciativa anual ‘Caravana de Paz’, lendo uma mensagem junto do Papa e lançando duas pombas brancas, “símbolo de paz”.

A tradicional catequese de Francisco falou da Galileia,  

 

 

terra onde Jesus iniciou a sua missão pública, como uma zona de “trânsito, onde se encontram pessoas de raças, culturas e religiões diferentes” que se transformou num “lugar simbólico para a abertura do Evangelho a todos os povos”.

 

 

Usura viola dignidade da pessoa

O Papa Francisco deixou esta quarta-feira apelos à criação de emprego e à luta contra a usura, no final da audiência pública semanal que reuniu dezenas de milhares de pessoas na Praça de São Pedro, Vaticano. “Deixo votos de que se façam todos os esforços possíveis, por parte das instâncias competentes, para que o trabalho, que é fonte de dignidade, seja uma preocupação central de todos. Que não falte o trabalho, é fonte de dignidade”, declarou, ao cumprimentar uma delegação da empresa ‘Shellbox’ de Castelfiorentino, acompanhados pelo arcebispo de Florença (Itália), o cardeal Giuseppe Betori.

O Papa dirigiu-se depois às fundações associadas ao Conselho Nacional Antiusura da Itália, desejando que estas instituições possam “intensificar o seu compromisso ao lado das vítimas da usura, dramática chaga social”.

“Quando uma família não tem o que comer, porque tem de pagar juros a usurários, isso não é cristão, não é humano!”, 

 

 

sublinhou, sob uma salva de palmas dos presentes. “Esta dramática chaga social fere a dignidade inviolável da pessoa humana”, acrescentou.

Francisco saudou ainda outras associações italianas pelo seu compromisso “junto dos necessitados e dos refugiados”, pedindo que promovam os valores “da solidariedade e da hospitalidade”. O Papa encerrou a sua intervenção com uma evocação da figura de “pai e mestre” de São João Bosco, fundador dos Salesianos, cuja festa litúrgica vai ser celebrada esta sexta-feira.

 

 

 

Avalanche de cartas no Vaticano

Milhares de cartas, ofertas, desenhos e outros objetivos são recebidos semanalmente no Vaticano pelo Departamento de Correspondência do Papa, situado no Palácio Apostólico, revelou o responsável por este serviço, mons. Giuliano Gallorini.

Em declarações ao semanário de informação ‘Vatican Magazine’, do Centro Televisivo do Vaticano (CTV), o sacerdote explica que todas as cartas são lidas pelo departamento, procurando distinguir os diferentes conteúdos e, nalguns casos, encaminhando a correspondência para o próprio Papa. “São os casos um pouco mais delicados, como os casos de consciência. Nesse caso, é feito um apontamento e passam-se as cartas aos secretários, para que o Papa as veja diretamente: ele lê, coloca uma abreviatura e indica-nos como devemos responder”, relata.

As cartas incluem relatos de “dramas pessoais”, pedidos de conselhos e oração ou poemas, e são endereçadas para a Casa de Santa Marta, onde Francisco reside, na Cidade do Vaticano.

No total, o departamento recebe aproximadamente 30 sacos de 

 


 

correspondência por semana e monsenhor Giuliano Gallorini refere que as respostas procuram “fazer sentir a proximidade do Papa que acolhe os sofrimentos”.

“Naquilo que é possível, procuramos ajudar endereçando os pedidos para departamentos específicos: por exemplo, os pedidos de ajuda económica são transmitidos às Cáritas diocesanas”, revela.

Os responsáveis procuram seguir o estilo do pontificado de Francisco e “ler estas cartas mais com o coração do que com a mente, partilhar o sofrimento e procurar as palavras certas para exprimir o que o Papa quer verdadeiramente que se exprima: a proximidade, a partilha”. 

 

 

 

 

 

 

 

A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram a atualidade eclesial a nível internacional, nos últimos dias, sempre atualizados em www.agencia.ecclesia.pt

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Porta-voz critica artigo da «Rolling Stone» que ridiculariza Bento XVI para elogiar Francisco

 

 

 

Audiência Geral do Papa Francisco. 29 de janeiro de 2014

 

 

‘Se eu fosse ladrão… Roubava’

Um ano após a morte do cineasta português Paulo Rocha, a Cinemateca Portuguesa apresenta em antestreia o seu derradeiro filme, ‘Se eu fosse ladrão… roubava’. A exibição ocorre no próximo dia 31 às 21h30 e espera-se que percorra outras salas do país, seja em circuito comercial ou cultural.

Construção complexa com referências autobiográficas implícitas, ‘Se eu fosse ladrão… roubava’ é, nas palavras de Jorge Silva Melo, autor do texto que acompanha a divulgação oficial do filme a nível internacional, ‘uma imensa despedida, não com arrependimento, mas com vitalidade’.

Partindo de uma evocação da infância e juventude do seu pai, no início do século XX, do ímpeto e do desejo por tantos portugueses partilhado de procurar no Brasil aquilo que Portugal então não lhes daria, Rocha olha a sua vida, história e identidade, como pessoa e cineasta, entrecruzando família e obra, com o mesmo desejo de procura de um emigrante. 

 

Alguém a quem a geografia e biografia terrena não bastaram para se cumprir e se prepara para passar fronteira, deixando para trás o registo do espaço habitado, revisitação e reinterpretação da obra cinematográfica incluídas, e lançando adiante uma enorme interrogação. Uma interrogação tocante e por vezes dolorosa, que destemidamente perscruta a vida, enfrenta a morte, a doença, não se limitando à individualização mas antes ampliando-se ao olhar sobre um país, o que de resto sempre fez no seu cinema.

Nascido no Porto em 1935, Paulo Rocha iniciou a licenciatura em Direito que abandonaria para se dedicar inteiramente ao cinema. Na década de cinquenta, anos antes da fundação da revista ‘O Tempo e o Modo’ mas dentro do mesmo espírito não-conformista e progressista que vibrava num grupo significativo de jovens da Acão Católica de que não fez parte mas de que se aproximou, funda o Cineclube Católico e o Centro Cultural de Cinema, juntamente com Nuno de Bragança, Pedro Tamen, Duarte de Almeida

 

 

 

 

e Alberto Vaz da Silva. O cinema pulsa assim em Lisboa como motor vivo de transformação.

Em 1963, após concluir os estudos de cinema em Paris e ter participado como assistente na realização de Jean Renoir em ‘O Cabo de Guerra’ , realiza ‘Os Verdes Anos’, marco do Cinema Novo português e de pelo menos uma geração de público. Um olhar límpido, corajoso e revolucionário sobre o Portugal de então.

No entanto, para alguns realizadores nacionais, como Joaquim Sapinho ou Raquel Freire, que assim o expressam em testemunho divulgado no ‘Público’ aquando da sua morte, ‘Mudar de Vida’ (1966) é o seu 

 

melhor filme, um dos melhores da cinematografia nacional e o mais inspirador para a sua própria obra.

João Salaviza, o jovem realizador das curtas ‘Arena’ e ‘Rafa’ reconhecidas com a Palma de Ouro de Cannes e o Urso de Ouro de Berlim, afirma ter recebido de ambas as obras de Paulo Rocha um legado de cinema como ‘veículo de observação da realidade, apaixonado e comprometido’.

Quase cinquenta anos depois, ‘Se eu fosse ladrão… roubava’ é um olhar a longe e para longe sobre um Portugal de que todos somos parte.

 Margarida Ataíde

 

 

Associação Portuguesa
Amigos de Raoull Follereau

http://www.aparf.pt

 

Sabia que no passado domingo (último de janeiro) celebramos o dia Mundial dos Leprosos? Assim, mais uma vez, como forma de chamarmos a atenção para esta celebração, sugerimos uma visita ao sítio da Associação Portuguesa Amigos de Raoull Follereau (APARF). Esta IPSS sem fins lucrativos, tem por objectivo “prestar assistência material, sanitária e moral às pessoas afectadas pela doença de Hansen; promover, acções de luta contra a doença de Hansen e outras causas de marginalização social; colaborar com as organizações congéneres existentes noutros países e celebrar em Portugal o dia mundial dos leprosos, sensibilizando a opinião pública para a situação dos doentes de lepra em Portugal”.

Neste espaço virtual poderemos ficar “a conhecer a associação, saber quem é o seu fundador, ver os seus projectos e ainda 

 

consultar a versão online do jornal da associação”. O grande destaque na página inicial passa pela consulta da versão online da publicação periódica intitulada “O Amigo do Leproso”. Isto porque, todas as opções do menu lateral são precisamente as secções que a publicação possui.

Além da consulta do jornal, podemos no menu superior, descobrir quem é esta associação e o que faz, em “quem somos”. No item “Raoull Follereau”, acedemos à biografia deste grande homem, que nasceu em França no ano de 1903 e veio a morrer em Paris em Dezembro de 1977. A sua vida mudou, após um contacto com os leprosos durante um safari em África. Posteriormente, com o surgimento da II guerra mundial teve de se esconder num convento de religiosas, onde a Madre Maria Eugénia, tinha o sonho de criar a cidade dos leprosos. Então o “apóstolo dos leprosos” disse à religiosa “avance com o projecto, que no dinheiro penso eu”. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

E assim foi, decidiu percorrer o mundo a fazer conferências para sensibilizar as pessoas para esta doença. O sonho das religiosas tornou-se realidade em 1953.

Caso pretendamos aceder às publicações anteriores de “O Amigo do Leproso”, basta clicar em “arquivo”.

Por último, apenas referimos que de acordo com os mais recentes dados da Organização Mundial de Saúde, por ano surgem 250 mil novos casos de lepra em todo o mundo.

Fica então aqui a sugestão de visita para conhecermos mais acerca do enorme trabalho que é feito por esta organização, pois como dizia este grande filantropo, “Ser feliz é fazer os outros felizes”.

Fernando Cassola Marques

 

 

 

 

 

Cada vez mais tu

A banda SIMPLUS vai apresentar em Fevereiro o seu novo álbum, intitulado ‘Cada vez mais tu’, o seu quarto projeto.

"«Cada vez mais tu» é uma música que fala daquilo que significa para mim o encontro com a Igreja. Quando dentro de nós sopra aquele vento inquieto e desconfortável que nos deixa assustados e tristes, só o encontro com esta companhia humana nos pode devolver o que procuramos incansavelmente: o nosso eu. Esse certeiro olhar, tão diferente, tão inimaginável e ao mesmo tempo tão desejado, tornou-se carne para que tu, 

 

olhando-o, pudesses ser cada vez mais tu" (Maria Durão)

 

Os SIMPLUS são um grupo musical, formado em 2001 por dois primos: Maria Durão e Luís Roquette, naturais e residentes no Estoril. O grupo tem como objetivo, difundir através da música, uma mensagem positiva e de esperança, sustentada em valores Católicos.

Estrearam-se em 2001 com o álbum ‘Entrega’, na sequência do qual foram dados vários concertos em Lisboa e no Porto, nomeadamente na Tenda ‘Por um mundo melhor’ do Rock in Rio.

 

 

 

 

A arte de educar

S. João Bosco deu a sua vida em prol da educação dos jovens. Poucos, como ele, terão sentido a urgência em formar a juventude que recolhia das ruas de Turim e acolhia nos oratórios. Mas ele sabia que sozinho não conseguiria realizar os seus sonhos e projetos. Por isso, desde o início, procurou comprometer catequistas, professores, formadores, técnicos, educadores, animadores, benfeitores, párocos, autoridades civis, cooperadores....

Escrevia-lhes cartas onde lhes dava conta das suas iniciativas, intuições, dificuldades e preocupações. Desta forma foi estruturando o seu sistema educativo, a que deu o nome de preventivo.

Neste livro recolhe-se uma boa parte desses textos onde se percebe, na primeira pessoa, qual a arte de educar de S. João Bosco.

Edições Salesianas

 

 

 
 

 

 

D. António Ferreira Gomes:
Um bispo conciliar no exílio II

 

D. António Ferreira Gomes foi um dos bispos portugueses que participou nos trabalhos do II Concílio do Vaticano. Só que tinha a particularidade de estar exilado. A Agência ECCLESIA continua a entrevista, iniciada na semana anterior, ao padre e investigador Nuno Vieira que trabalha na diocese de Segorbe-Espanha sobre o exílio do prelado portuense na Diocese de Valência.

 

AE – Como foi o acolhimento de D. Marcelino Olaechea [bispo titular de Valência] ao bispo português exilado?

NV – Não foi uma situação nova na diocese de Valência. Quando o bispo do Porto chegou, já vivia em Valência o arcebispo de Lima, (Peru), D. Emílio Francisco Lissón Chaves, que estava em condições similares. Tinha trabalho pastoral na diocese, mas estava muito limitado devido à doença e à idade (faleceu dois meses após a chegada do bispo português). Valência contava apenas com um bispo auxiliar, D. Rafael González Moralejo, que se tornou íntimo amigo de D. António Ferreira Gomes.

 

AE – D. António Ferreira Gomes foi fazer o «papel» de um bispo auxiliar?

NV - Pode dizer-se que sim. D. Marcelino Olaechea era um homem muito independente e, em simultâneo, muito organizado. É da tradição dos arcebispos de Valência, homens de grande actividade pastoral. O arcebispo 

 

 

titular contou com D. António Ferreira Gomes para as visitas pastorais.

 

AE – Nos três anos (1960-63) que esteve nesta diocese espanhola realizou 173 visitas pastorais. Um número muito alto, sabendo que passou bastante tempo no Vaticano na preparação e no concílio?

NV – Verdade. Fez, talvez, aquelas que teria feito na diocese do Porto (risos…).

 

AE – Este número, demonstra o seu empenho pastoral.

NV – A diocese de Valência é enorme. D. António Ferreira Gomes deu uma ajuda preciosa.

 

AE – A chegada do bispo do Porto à diocese de Valência suscitou um interesse especial nos movimentos com sensibilidade social. Estes movimentos tinham conhecimento do percurso de D. António Ferreira Gomes?

NV – Foi uma chegada muito abafada. Os jornais espanhóis da época não dizem absolutamente nada da questão. Visitei a hemeroteca onde pesquisei todos os jornais daqueles dias (antes e depois) e não há nenhuma referência à chegada do bispo do Porto. Excepto a

 
 
 

ECCLESIA (revista espanhola), que noticia que o bispo do Porto estabeleceu a residência na diocese de Valência. Por outro, através de testemunhos das religiosas que atendiam D. António Ferreira Gomes, as visitas eram bastante controladas e escassas.

 

AE – Visitas de portugueses?

NV – Sim. Essencialmente de padres e, muito poucas vezes, de leigos. Sabe-se também que eram visitas rápidas. As visitas mais alargadas aconteciam quando D. António saía de Valência.

 

AE – O General Franco não mostrou reticências em acolher um bispo que foi expulso por António Oliveira Salazar?

NV – Franco era um homem profundamente católico, com uma eclesiologia antes do II Concílio do Vaticano. Sempre respeitou os bispos. Se houve algum temor do poder político foi na chegada de D. António Ferreira Gomes… Algum temor por aquilo que pudesse acontecer e da possível aproximação de alguns grupos sociais que pudessem tomar o bispo do Porto para a questão social. Tal como noutras ocasiões, D. António Ferreira Gomes demonstrou a sua inteligência e não se deixou expor a nenhum tipo de contacto.

 

 

janeiro/fevereiro 2014

Dia 31

* Fátima - Steyler Fátima Hotel - Reunião da Coordenação Nacional da Pastoral Penitenciária.
* Filipinas - Encerramento da visita do presidente do Conselho Pontifício «Cor Unum» (Santa Sé), cardeal Robert Sarah, às regiões afetadas pelo tufão Haiyan
* Portalegre - Auditório do Centro de Formação Profissional de Portalegre - Assinatura de protocolo entre o Instituto de Emprego e Formação Profissional e as cáritas diocesanas de Portalegre, Beja e Évora
* Lisboa - UCP - Sessão solene do Dia Nacional da UCP que inclui a atribuição do doutoramento «Honoris Causa» a Roberto Carneiro, antigo ministro da Educação, bem como a Arménio Miranda e Fernando van Zeller Guedes
* Coimbra - Casa de Santa Zita (18h00m) - Celebração dos 15 anos do Centro de Aconselhamento Familiar (CAF) com conferência de João Paulo Barbosa sobre «Família e políticas públicas»

 

 

 

* Leiria – Seminário de Leiria – Conferência sobre a exortação apostólica «Evangelii Gaudium» por D. António Marto
* Lisboa - Colégio São João de Brito - Conferência promovida Confederação Nacional da Educação e Formação (CNEF) com Paulo Portas, Joaquim Azevedo e David Justino integrada na «Semana da Liberdade de Escolha da Escola»
* Coimbra - Encerramento (início a 01 de novembro) da campanha de solidariedade «Vamos aquecer Coimbra» para atenuar o inverno dos sem-abrigo e promovida pela Associação Integrar.
* Porto - Igreja do Corpo Santo de Massarelos - Concerto de encerramento das festas natalícias pelo coro de São Veríssimo.
* Coimbra - Pavilhão Centro de Portugal (21h30m) - Café concerto sobre «Musicoterapia: Fundamentos e prática» com Daniel Serrão e Carla Baptista Alves.

 

 

 

* Évora - Encerramento (início a 1 de outubro) do concurso fotográfico digital promovido pelo Departamento Diocesano da Pastoral da Família
* Funchal - Tecnopolo - I Simpósio Internacional "História, Cultura e Ciência na/da Madeira: Que saber(es) para o século XXI".  (31 a 01 de fevereiro)
* Lisboa - Alfragide (Seminário de Nossa Senhora de Fátima - Dehonianos) - Primeiro Encontro Internacional de Formação do Voluntariado Dehoniano orientado pelo padre Adérito Barbosa. (31 a 02 de fevereiro)

 

Dia 01

* Santarém - Golegã - Reflexão centrada sobre os direitos das gerações futuras à luz da Exortação Apostólica «Alegria do Evangelho» proferida por Helena Pereira de Melo, professora na Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa e promovida pelo GRAAL (Movimento Internacional de Mulheres)

* Vaticano - Sala Paulo VI - O Papa Francisco encontra-se com cerca de 10 mil representantes do Caminho Neocatecumenal.

 


* Porto - Igreja de Cedofeita - Celebração integrada na semana do consagrado para todos os religiosos e religiosas das várias comunidades locais da diocese do Porto
* Porto - Gaia (Cine Teatro Eduardo Brazão) - Espetáculo musical de encerramento do ciclo de conversas amplas
* Santarém - Encontro diocesano de catequistas sobre «Conhecer Cristo-Cuidar do Irmão»
* Lisboa - Sé (21h30m) - Concerto com a Liturgia da Apresentação do Senhor, que inclui a tradicional Procissão das velas, pelo Coro Gregoriano de Lisboa
* Guarda - Centro Apostólico D. João de Oliveira Matos - Encontro de formação destinado a cooperadores pastorais orientado por D. Manuel Felício.
* Porto - Casa do Vilar - Jornada diocesana da Família sobre «A Fé no coração da família».  
* Lisboa - Igreja do Sagrado Coração de Jesus (21h00m) - Vigília dos Consagrados presidida por D. Manuel Clemente. 
* Porto - Ermesinde (Seminário do Bom Pastor) - Dia dos acólitos da diocese ao encontro do seminário.
* Braga - Barcelos - Encontro arciprestal de catequistas.

 

 

 

 

 

- A Universidade Católica Portuguesa (UCP) vai assinalar este ano o seu dia nacional a 2 de fevereiro, com o lema ‘Inspirar o Futuro’, perspetivando o período pós-crise. A sessão solene presidida pelo magno chanceler da instituição, D. Manuel Clemente, vai realizar-se a 31 de janeiro, pelas 16h30, na sede da universidade, em Lisboa.

O arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga, vai presidir a 2 de fevereiro à missa evocativa do Dia Nacional, às 11h30, na catedral da arquidiocese minhota.

 

- Decorre até domingo a semana do consagrado, que teve este ano como tema “Transformados na alegria do evangelho”. Estes dias servem para dar a conhecer que “a vocação de consagração é fruto da descoberta do significado mais profundo da alegria”, como afirma D. Virgílio Antunes, na mensagem para a celebração da semana

 

- Destaque para o I Simpósio Internacional "História, Cultura e Ciência na/da Madeira: Que saber(es) para o século XXI", a decorrer no Tecnopolo do Funchal de 31 de janeiro a 1 de fevereiro. O encontro decorre de uma das maiores investigações sobre História, Cultura e Ciência do arquipélago e que terá tradução no Dicionário Enciclopédico da Madeira.

 

- Ainda este sábado o Papa vai encontrar-se, no Vaticano, com 10 mil representantes do Caminho Neocatecumenal, movimento católico presente em mais de 120 países, incluindo Portugal. Após bênção e oração especial, Francisco vai enviar “cerca de 75 famílias do movimento que resolveram deixar tudo para ir em missão pelo mundo”.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Programação religiosa nos media

Antena 1, 8h00

RTP1, 10h00

Transmissão da missa dominical

 

11h00 - Transmissão missa

 

12h15 - Oitavo Dia

 

Domingo: 10h00 - O Dia do Senhor; 11h00 - Eucaristia; 23h30 - Ventos e Marés; segunda a sexta-feira: 6h57 - Sementes de reflexão; 7h55 - Oração da Manhã;  12h00 - Angelus; 18h30 - Terço; 23h57-Meditando; sábado: 23h30 - Terra Prometida.

 
RTP2, 11h22

Domingo, dia 02 - percursos de Vida Consagrada.

 

RTP2, 18h00

Segunda-feira, dia 03 - Entrevista a Luís e Estela Almeida, família em missão na Ásia.

Terça-feira, dia 04 - Informação e entrevista sobre a Editorial Cáritas, com Lages Raposo.

Quarta-feira, dia 05 - Informação e entrevista sobre a disciplina de EMRC com Dimas Pedrinho.

Quinta-feira, dia 06 - Informação e entrevista sobre a Família, com Luís Reis Lopes.

Sexta-feira, dia 07 - Apresentação da liturgia dominical pelo cónego António Rego e frei José Nunes

 

Antena 1

Domingo, dia 02 de fevereiro,  06h00 - Dia do Consagrado: psicóloga Margarida Cordo e as religiosas Maria Amélia Costa e Eliete Feliciano falam dos desafios da vida religiosa hoje. Comentário com o padre José Luis Borga.

 

Segunda a sexta-feira, dias 03 a 07 de fevereiro, 22h45 - A Igreja antes da resignação de Bento XVI: pontos de vista de António Matos Ferreira, Ondina Matos, José Manuel Fernandes, P. Tiago Freitas e P. Manuel Morujão. 

 

 

Para que criou Deus o ser humano?

 

 

 

 

 

 

 

 

Ano A - 4º Domingo do Tempo Comum - Festa da Apresentação do Senhor

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Consagrados para despertar o mundo
 

Neste quarto domingo do tempo comum, a liturgia celebra a Apresentação do Senhor no Templo de Jerusalém. Esse ícone do Evangelho de hoje, que expressa a entrega total de Cristo, desde os primeiros momentos da sua existência terrena, nas mãos do Pai, convida todos os consagrados e consagradas a renovar a sua entrega nas mãos de Deus e a fazer da própria existência um dom de amor, um testemunho comprometido da realidade do Reino, ao serviço do projeto salvador de Deus para nós. Convida igualmente todos os cristãos a dar graças a Deus e a conhecer melhor esta forma de vida na Igreja, na sua vocação e missão.

Jesus é apresentado como “a salvação colocada ao alcance de todos os povos”, a “luz para se revelar às nações e a glória de Israel”, o Messias com uma proposta de libertação.

Acolhemos Jesus como a luz que ilumina as nossas vidas e nos conduz pelos caminhos do mundo? Ele é o caminho certo e inquestionável para a salvação, para a vida verdadeira e plena? É n’Ele que colocamos a nossa ânsia de libertação e de vida nova? A pessoa de Jesus Cristo tem real impacto na nossa vida, nas nossas opções, nos passos que damos no nosso caminho de consagração, cristãos em geral e membros dos institutos religiosos e congregações em especial, ou é apenas uma figura decorativa de um certo cristianismo de fachada?

A exemplo das figuras de Simeão e Ana apresentadas no Evangelho, temos a responsabilidade de apresentar Jesus ao

 

 

 

 mundo e de O tornar uma proposta questionadora, iluminadora e salvadora para os nossos irmãos. Toda a Igreja, e em especial os consagrados, são chamados a despertar o mundo, como pediu há dias o Papa Francisco. Anunciamos e propomos Cristo com entusiasmo e alegria, como luz libertadora de situações gritantes e dramáticas no nosso mundo?

A Festa da Apresentação do Senhor coincide com a celebração do Dia da Vida Consagrada, celebrado todos os anos a 2 de fevereiro, por iniciativa de João Paulo II desde 1997.

A Semana do Consagrado que hoje termina na Igreja em Portugal teve como lema 

 
«transformados na alegria do Evangelho». Será que isso é atitude permanente das nossas vidas?
À luz do evangelho de hoje, procuremos rezar, conhecer e difundir entre nós esta forma de existência cristã dos consagrados e consagradas, que assumem o seguimento especial de Cristo nos votos de pobreza, castidade e obediência.

Que isso seja enriquecimento da vida da Igreja e apelo para todos vivermos com autenticidade a nossa vocação de pessoas sintonizadas com o único Senhor das nossas vidas, que é Cristo Jesus.

Manuel Barbosa, scj

www.dehonianos.org

 

 

Síria: O sofrimento terrível dos refugiados cristãos

A vida num abismo

O olhar diz tudo. São olhares carregados de medo, cheios de memórias de sangue, de violência, de morte. São olhares também vazios, de quem está perdido, sem saber para onde ir, o que fazer da sua vida. Os refugiados da guerra síria têm isso em comum. Estão como que perdidos na vida.

 

Os refugiados da guerra civil que está a destroçar a Síria estão num abismo. Deixaram para trás o seu país, as suas casas, as suas vidas. Fugiram para sobreviver. A destruição é tanta que já não há possibilidade de regresso. O futuro será sempre um recomeço.

Líbano. Cidade de Zahle. Com os seus 200 mil habitantes, Zhale é, hoje, a maior cidade cristã do Médio Oriente. Fronteira com a 

 

Síria vivem aqui alguns milhares de cristãos em fuga da guerra civil. Talvez uns 10 mil. A maior parte fugiu da cidade de Homs. O medo que estas famílias têm do que lhes possa vir a acontecer é tanto que evitam registar-se até junto dos centros de apoio das Nações Unidas. Se o fizerem, podem ser identificados como Cristãos e sofrer represálias. Por causa disso, muitos não estão sequer nos campos de acolhimento. Estão em casas particulares, em quartos alugados, quase sempre em condições muito frágeis, quase indignas. A Igreja local tem procurado ajudá-los, descobrindo onde estão escondidos, procurando apoiá-los, para não serem despejados por não terem mais recursos financeiros, 

 

 

 

 

procurando encontrar-lhes algum trabalho, secando-lhes as lágrimas.

 

Necessidades básicas

O Arcebispo John Darwish, responsável pela Arquidiocese de Furzol, Zahle e Bekaa, no Líbano, não tem mãos a medir. Numa carta enviada à Fundação AIS, pede-nos ajuda. “Muitas destas famílias cristãs precisam de apoio até para as coisas mais básicas do dia-a-dia”, diz. “Comida, escola para os filhos, cuidados médicos. Nós procuramos ajudar estas pobres famílias cristãs pagando as suas rendas ou tentando encontrar-lhes trabalho. Muitos estão em situação muito difícil, a nível emocional e material. Eles deixaram tudo para trás e chegaram até aqui rigorosamente sem nada, estão traumatizados”. O Arcebispo acrescenta: “Muitos nem tiveram tempo para chorar 

 

os seus mortos”. Ninguém parece escutar o martírio dos Cristãos Sírios.

Em Portugal, a Fundação AIS associou-se a uma corrente de oração, a nível mundial, pela paz na Síria e lançou uma campanha de ajuda de emergência às famílias que, aos milhares, fogem deste holocausto que parece não ter fim.
As palavras do Patriarca Gregorios III espelham bem a angústia dos Cristãos sírios: “Imploramos a Deus que escute as nossas orações, responda aos nossos gritos de socorro e ao sofrimento das vítimas, e que nos conceda o dom da paz”. Como ficar indiferente a este apelo?

Apoie os refugiados da Síria. Ligue agora 760 450 190 (0,60 € + IVA)

 

Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt

 

Foto 1 – O apoio da Igreja tem sido para muitos refugiados a única ajuda que recebem. Foto 2 - Tal como milhares de mães, esta mulher aguarda por ajuda num campo de refugiados, no Líbano.

Foto 3 - Quantas pessoas têm de morrer para que as armas se calem e se consiga ouvir o choro das crianças, das viúvas, dos velhos? Foto 4 - O Patriarca Gregorios III, líder da comunidade católica, apela a todos os homens de boa vontade à oração pela paz na Síria. 

 

 

 

 

APOSTOLADO DE ORAÇÃO

As pessoas valem por elas mesmas

Para que a sabedoria e experiência de vida dos idosos sejam reconhecidas na Igreja e na sociedade. [Intenção universal do Papa para o mês de Fevereiro]

1. Durante muito tempo, os idosos foram olhados com respeito e carinho – salvo excepções fruto do egoísmo ou da maldade. Actualmente, porém, nas sociedades ocidentais os idosos são olhados, sobretudo, como um problema: porque são cada vez mais e têm uma expectativa de vida cada vez mais longa – o que implica despesas acrescidas para o chamado “Estado social”; porque as famílias, desestruturadas ou sem capacidade para os acolher e cuidar deles, esperam do Estado resposta para obrigações que, durante séculos, foram suas; porque são, com frequência, vítimas de maus tratos, burlas e roubos; porque sociedades envelhecidas e com cada vez menos crianças e jovens são, inevitavelmente, sociedades economicamente pouco dinâmicas, incapazes de produzir riqueza suficiente para responder às expectativas dos mais velhos, em termos de reformas, cuidados médicos e serviços sociais.

 

 

2. Na Igreja, o problema coloca-se a outro nível. Durante muito tempo, as paróquias e as dioceses preocuparam-se sobretudo com a educação na fé das crianças e dos jovens. E quando estes, apesar de terem feito todo o percurso da catequese, começaram a abandonar em massa a Igreja, as paróquias e as dioceses investiram ainda mais em formas de os «cativar». Os mais velhos, entretanto, eram considerados como «da casa» e, por isso, pouca atenção mereciam. Agora, com as paróquias reduzidas praticamente aos «mais velhos» e com um clero também ele, em grande parte, envelhecido, começa a ser evidente que, sobretudos nas regiões com menos população, as paróquias poderão «fechar as portas» num prazo relativamente breve. Além disso, é necessário acorrer às necessidades, não só espirituais mas também materiais, dos idosos. Como fazê-lo, porém, se as comunidades são

 

 

 

 

 maioritariamente constituídas por idosos? Haverá quem diga que esta é uma generalização e, como tal, uma caricatura da realidade. Sem dúvida. Mas se pensarmos a uma distância de quinze anos, a situação actual das paróquias não deixa margem para muito optimismo.

 

3. O incontestável aumento dos idosos não deve obscurecer o contributo que os mesmos podem dar à sociedade e à Igreja. Em muitos casos, as pessoas reformam-se ainda com uma enorme vitalidade. Nas comunidades cristãs, este facto constitui uma oportunidade para conseguir colaboradores mais disponíveis, com sabedoria e experiência, capazes de um contributo generoso, quer na dinamização da vida paroquial, quer na transmissão da fé e das tradições comunitárias. E se muitos já não podem, por questões de saúde, dar um tal contributo, podem e devem ser sensibilizados para a importância da sua presença na comunidade e para o valor da sua oração, como alicerce espiritual de tudo quanto a comunidade procura realizar 

 

em vista ao anúncio do Evangelho. Isso implica, talvez, um trabalho mais sério de sensibilização para a vida de oração – e uma fé mais assumida na sua eficácia.

 

4. Numa sociedade na qual os idosos estão cada vez mais presentes, importa fazer o possível para que não se sintam excluídos e menos ainda um peso. Valorizar a sua presença, a sua participação, o seu contributo para a vida familiar e comunitária é uma obrigação de todos. Mas não pode surgir como uma espécie de condescendência simpática para com pessoas que, de facto, já não se valoriza muito. Tem de ser uma atitude assumida e vivida, porque as pessoas valem por elas mesmas, tenham vinte, trinta ou oitenta anos. A Igreja pode e deve, também neste âmbito, ser exemplo de humanização numa sociedade cada vez mais tecnocrática, na qual os débeis e improdutivos são facilmente relegados para as margens e olhados como um peso. Pode e deve. Falta saber se o está a ser verdadeiramente.

 

Elias Couto

 

 

Liberdade de escol(h)a

Estamos em plena Semana da Liberdade de Educação. Com ela pretende-se alertar a opinião pública e os governantes para o direito constitucional que assiste os pais de escolherem a escola para os seus filhos.

Paradoxalmente, quando era expetável o consenso, estamos perante uma questão fraturante nas agendas políticas e sociais do nosso país. Como é possível isto acontecer a um povo que lutou pela liberdade e a alcançou (?) há 40 anos?

Quando se fala de liberdade de escolha, imediatamente nos ocorre o ensino privado. E aqui temos uma primeira confusão. É que esta liberdade é muito mais ampla: ela permite que um pai opte por uma determinada escola, independentemente de ela ser estatal ou não estatal. Portanto, para a generalidade dos pais, a questão não se coloca na propriedade da escola, mas sim na qualidade da escola. Nesta perspetiva, não se entende por que razão alguns partidos políticos, alguns sindicatos 

 

e alguns nichos da sociedade  querem à força, proteger a escola dita «pública», em detrimento das escolas privadas. Esta superproteção e este receio até parecem esconder a ideia de que a escola estatal é pior e tem menos potencialidades do que a escola não estatal. Como esta ideia é errada, não entendo por que razão, num país tão adepto da liberdade, há tanto medo da liberdade na educação. Será porque o Estado é obrigado a ter escolas? Não, o Estado tem sim que “garantir” uma rede suficiente de escolas, acessíveis, gratuitamente, a todos os cidadãos; mas não é obrigado a “prestar” esse serviço (aliás tal como sucede em outros setores essenciais). Será porque as escolas privadas financiadas pelo Estado ficam mais caras ao erário público do que as estatais? Não, pelo contrário, ficam mais baratas, a maioria dos casos, mesmo muito mais baratas (neste particular, quanta distorção da opinião pública não tem sido desencadeada por parte de setores estratégicos 

 

 

 

da comunicação social, procurando, intencionalmente, denegrir a imagem de todo o ensino privado; esquecem-se estes senhores que muitos deles não estariam em 

 

sindicatos ou no Parlamento ou em televisões se não fosse a extensa rede de colégios que durante o Estado Novo invadiu as nossas vilas e cidades). Será porque se quer manter 

 

 

 

 

a todo o custo os empregos dos professores e funcionários das escolas estatais? Se assim for, à custa do encerramento de escolas privadas, gera-se à mesma o desemprego (ou os professores e funcionários destas escolas valem menos do que os daquelas?).

Acolho, pois, todas as iniciativas, governamentais e da sociedade civil, que visem promover a liberdade de educação, ou seja, que procurem valorizar as escolas estatais e as escolas não estatais, sem estigmas e preconceitos. O que os pais necessitam é de boas escolas para, em liberdade, escolherem a que mais se adapte ao seu estilo de educação. O que o país precisa para se desenvolver é da inteligência, capacidade de trabalho e criatividade de todos – da gente que labora em escolas estatais e da gente que labora em escolas privadas. O que o país dispensa são discussões estéreis e marginais sobre esta matéria que nos é tão querida.

Também aqui, a Igreja e os cristãos têm um papel 

 

interventivo importante, não só porque no mundo da educação há muitas escolas católicas (pioneiras em quase tudo, até na escolarização do nosso país), mas sobretudo porque a educação católica é uma obrigação de todos os batizados, como refere o Magistério da Igreja. E porque a sociedade, com mais acuidade neste momento, tem muita necessidade dos valores e da “ideologia” pregada e experienciada nas escolas católicas.

A melhor resposta que o ensino privado, mormente as escolas católicas, podem dar às acusações que, volta e meia, em meios mediáticos de grande audiência, surgem, é a excelência do serviço, colaborando com os pais na educação dos seus filhos. E neste aspeto crucial, não tenho dúvidas do reconhecimento público do importante e insubstituível contributo das escolas privadas para a educação das nossas crianças, adolescentes e jovens.

Na esteira dos nossos bispos, «o Estado deve apoiar projetos educativos, confessionais 

 

 

 

 

ou outros, e velar para que cumpram o serviço à educação, no respeito pela diversidade de opções». E caberá aos pais exercer o direito fundamental de escolher a escola, inscrito na Constituição desde há quase quatro décadas.

Que esta Semana da 

 

Liberdade de Educação seja mais um contributo válido na busca deste desafio nacional.

 

Jorge Cotovio

Secretário-Geral da APEC

- Associação Portuguesa

de Escolas Católicas

 

 

 

 

O holocausto ainda mexe…

Tony Neves

 

‘O terror de Auschwitz – Birkenau’ foi o título que dei à reportagem que fiz nestes campos de extermínio nazi, em território polaco. A história é triste e dolorosa, com um único dia de alegria e esperança: 27 de Janeiro de 1945. O terror de Auschwitz e Birkenau acabou com a chegada das tropas aliadas. 60 anos depois,  nevava e Auschwitz estava vestido de branco, naquele inverno de 2005. As televisões do mundo inteiro mostravam figuras grandes do nosso mundo que ali foram recordar os horrores, para que não se repitam outra vez. Como dissera em Nova Iorque o enviado do Papa à Assembleia Geral da ONU: é importante ‘recordar a libertação de Auschwitz para não esquecer o terror de que o homem é capaz.’.

J. Paulo II enviou uma mensagem a Auschwitz, lida pelo Núncio Apostólico na Polónia, com o objectivo de ‘recordar o trágico fruto de um ódio programado’. Dizia ainda: ‘A ninguém é lícito, diante da tragédia do Holocausto, ignorá-la. (...). É um crime que ameaça para sempre a história da humanidade. (...). E o Papa pediu que se fizesse justiça histórica à Polónia, ‘esta nação que havia enfrentado tantos sacrifícios na libertação do continente europeu da nefasta ideologia nazista, e tinha sido vendida em escravidão a outra ideologia destruidora: o comunismo soviético.’

Em dia gelado, o mundo inteiro pôde escutar a voz rouca e cansada do velho Cardeal Lustiger de Paris, enviado especial do Papa. 

 

 

 

Luso Fonias

 

Filho de judeus, Jean-Marie Lustiger, fez uma peregrinação dolorosa a esta ‘fábrica de morte’, pois a sua mãe ali morreu nos fornos crematórios às ordens de Hitler. Com voz embargada, disse que esta tragédia deve soar como um aviso às gerações presentes e futuras.

Escrevi, após a visita: ‘Auschwitz e Birkenau são símbolos eloquentes da barbárie humana. Aqui foram mortos (nas câmaras de gás, por fuzilamento...) milhões de pessoas, durante a 2ª Grande Guerra Mundial. Uma visita a estes lugares de morte faz abalar todos os conceitos de dignidade humana que possamos ter. Ver as roupas, os sapatos, as malas, os óculos, as escovas de 

 

dentes e de calçado, os locais de dormitório, os arames farpados e electrificados... e, sobretudo, os fornos crematórios e o muro de fuzilamento, faz doer a alma. É, apesar de tudo, bom recordar as barbaridades do passado para as não repetir no presente e no futuro’.

Os Bispos da Alemanha ali estavam, lado a lado, com os Bispos da Polónia e muitos sobreviventes do holocausto. Em declaração conjunta, os prelados germânicos reprovaram a vergonhosa humilhação a que foram submetidos milhões de seres humanos e formularam um voto: erradicar da humanidade todas as formas de anti-semitismo.

 


 

“Pode ouvir o programa Luso Fonias na rádio SIM, sábados às 14h00, ou em www.fecongd.org. O programa Luso Fonias é produzido pela FEC – Fundação Fé e Cooperação, ONGD da Conferência Episcopal Portuguesa.”

 

 

 

 

          Já Bocage não sou!... À cova escura

          Meu estro vai parar desfeito em vento...

          Eu aos céus ultrajei! O meu tormento

          Leve me torne sempre a terra dura.

 

          Conheço agora já quão vã figura

          Em prosa e verso fez meu louco intento.

          Musa!... Tivera algum merecimento,

          Se um raio da razão seguisse, pura!

 

          Eu me arrependo; a língua quase fria

          Brade em alto pregão à mocidade,

          Que atrás do som fantástico corria:

 

          Outro Aretino fui... A santidade

          Manchei!... Oh! Se me creste, gente ímpia,

          Rasga meus versos, crê na eternidade!

 

                                             Bocage