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Foto da capa: D.R. Foto da contracapa: Agência Ecclesia
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O Espírito da Democracia |
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José Tolentino Mendonça |
Ao fazer quarenta anos, o 25 de Abril quis celebrar com grande festa. Tem havido um sem número de iniciativas: publicaram-se volumes de história contemporânea com enorme interesse; a música de intervenção voltou a ser escutada nas rádios; organizaram-se colóquios; rebuscou-se imagens e protagonistas no fundo silencioso dos arquivos. A par disso, desencadearam-se polémicas, algumas que parecem ainda inevitáveis, outras talvez nem por isso. Mas tudo cabe numa festa. O 25 de abril de 74 constitui efetivamente um marco. Trouxe-nos o regime democrático e o que ele representa em termos de cidadania e de cultura; operou a descolonização, conseguindo uma saída pacífica e digna para conflitos que pareciam insolúveis; recolocou Portugal no desígnio europeu, ajudando a vencer um persistente isolacionismo. O 25 de abril qualifica-nos assim com uma herança imensa. E, sem dúvida que, como sociedade e nação, precisamos de reencontrar-nos com essa memória, envolvendo nela as novas gerações. Mas o que o 25 de Abril nos legou não é propriamente uma obra acabada, que nos cabe apenas conservar. Pensemos na democracia. Claro que a instauração do regime representa um extraordinário momento histórico. Mas a democracia não está feita. É em cada dia, em cada ciclo que ela se constrói e reinventa para poder |
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cumprir-se. A democracia tem muitas ameaças, que mesmo não sendo ameaças ao sistema, são ofensas ao espírito da democracia: e elas provêm sobretudo da pobreza, do desemprego, da exclusão e da injustiça. Cabe-nos a todos, mas de forma particular aos que democraticamente nos representam, zelar pela saúde da democracia. Quarenta anos |
depois da revolução de abril, o pior que nos podia acontecer era contentarmo-nos por vivermos formalmente num estado democrático e abandonarmos as inquietações do espírito da democracia, que nos obriga a fazer festa, é verdade, mas também a arregaçar as mangas. Como dizia Sophia de Mello Breyner Andresen, o 25 de Abril é o “dia inicial”. |
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Comemorações do 33.º título de campeão português do Benfica |
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“A Universidade do Minho lamenta profundamente o sucedido, apresenta às famílias dos estudantes falecidos as suas mais sentidas condolências e exprime a sua solidariedade para com todos aqueles que foram afetados por esta tragédia” Comunicado da instituição de ensino superior u após o acidente que provocou a morte de três estudantes, Braga, 23.04.2014 |
“O grande desafio que hoje se coloca à sociedade portuguesa é garantir que a disciplina financeira e orçamental seja respeitada”, mas também que “a justiça distributiva e o Estado social sejam preservados e garantidos, em nome da dignidade de todos” Guilherme d’Oliveira Martins, presidente do Tribunal de Contas, em declarações à Lusa, 23.03.2014 |
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"Não é restituir às pessoas os salários que elas tinham, não é isso que eu estou a dizer. Temos de remover estes entorses que esta forte progressividade criou, e fazer a função pública respirar, desbloquear as progressões, desbloquear os prémios de mérito" Pedro Passos Coelho, primeiro-ministro, durante conferência sobre o "pós-'troika'" promovida pelo Diário Económico, Lisboa, 23.03.2014
“Está a constatar-se que é uma moda deste Governo encerrar serviços públicos que vão contribuindo para a desertificação do interior do país” Raul Castro, presidente da Comunidade Intermunicipal da Região de Leiria, 23.03.2014
“Em Portugal, os projetos extremistas não vingam, ao contrário de outros países europeus, e essa é uma virtude da nossa jovem democracia” Rui Ramos, historiador, em entrevista ao programa ‘Terça à Noite”, da Renascença, 22.03.2014 |
Misericórdias criam fundo
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A União das Misericórdias Portuguesas (UMP) e a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) assinaram esta quarta-feira no Barreiro um protocolo de cooperação para ajudar as misericórdias endividadas por causa do desenvolvimento de novas respostas sociais. O fundo ‘Rainha D. Leonor’ tem uma atenção particular à área dos cuidados continuados e segundo o presidente da UMP Manuel de Lemos, representa um momento “inédito e histórico”. “Este acordo é inédito e histórico, porque significa um reencontro com a história, já que a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa foi a primeira a nascer, mas as outras que se criaram em todo o país cresceram tendo em conta o seu exemplo”, disse à Agência ECCLESIA. O fundo pretende “apoiar financeiramente as Misericórdias Portuguesas na finalização da construção e/ou adaptação de unidades de cuidados continuados e outros equipamentos sociais |
comprovadamente necessários para a cobertura da resposta aos cidadãos de todo o país”, refere o protocolo. Manuel de Lemos considera que este acordo é “um exemplo de modernidade, de solidariedade e de coesão” dado que se trata de uma solução “em que todos ganham”, ou sejam “ganham as instituições, porque o fundo Rainha D. Leonor lhes vai permitir melhorar a sua situação financeira, e a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e as pessoas de Lisboa ganham também, porque a partir de agora as pessoas podem ser colocadas noutros locais ao longo do país”. O provedor da SCML, Pedro Santana Lopes referiu à Agência ECCLESIA que a aproximação entre instituições que “têm muito em comum” é “muito importante” e que “não faz sentido nenhum no tempo de crise que se vive atualmente que duas entidades ‘irmãs’ não trabalharem em conjunto”. “Com este acordo vamos por em conjunto os nossos esforços |
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e tentar encontrar os reforços financeiros para conseguir colocar nas unidades paradas, equipamentos e cuidados para muitas pessoas que precisam de apoio e ajuda”, acrescenta. Presente na assinatura deste protocolo esteve o ministro da Solidariedade, Emprego e Segurança Social, Pedro Mota Soares, que disse considerar este acordo “importante”, dado que segue “um caminho de |
contratualização da resposta social”. “Muitas vezes que o Estado tenta fazer por si faz pior, com menos qualidade e mais caro e por isso é importante que o Estado consiga contratualizar essa resposta social com instituições sociais, ajudando à sustentação financeira dessas instituições”, disse o governante aos jornalistas. |
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Alexandrina de Balasar:
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O Santuário Alexandrina de Balasar, na Arquidiocese de Braga, comemora entre hoje e amanhã o 10.º aniversário da beatificação de Alexandrina Maria da Costa. “Esta beata tem uma mensagem muito forte, de alguém que se ofereceu a Deus pela humanidade, consagrou-se pelos pecadores e pelas almas e ao mesmo tempo passa uma mensagem sobre a importância da Eucaristia porque ela viveu pela Eucaristia e da Eucaristia e ofereceu todo o seu sofrimento pelo amor a Deus, pela remissão e salvação das almas”, disse hoje à Agência ECCLESIA o padre Manuel Neiva, pároco de Balasar. O sacerdote acredita que nos tempos conturbados de crise que Portugal vive, “o exemplo desta jovem, da sua fé total em Jesus Cristo, é fundamental”. “É impressionante verificar que o túmulo da beata Alexandrina de Balasar é continuamente visitado por peregrinos todos os dias, sendo que no domingo chegam a passar cerca de 2500 pessoas |
pelo santuário”, conta o padre Manuel Neiva. Alexandrina de Balasar foi beatificada a 25 de abril de 2004 pelo Papa João Paulo II, a quem se referiu como “esposa de sangue”, porque ao longo da sua vida reviveu “misticamente a paixão de Cristo e oferece-se como vítima pelos pecadores, recebendo a força da eucaristia que se toma o único alimento dos seus últimos treze anos de vida”. O Papa João Paulo II lembrou então que “pela esteira da Beata Alexandrina, expressa na trilogia ‘sofrer, amar, reparar', os cristãos podem encontrar estímulo e motivação para nobilitar tudo o que a vida tenha de doloroso e triste com a prova maior de amor: sacrificar a vida por quem se ama”. Uma mensagem que segundo o padre Manuel Neiva, pároco de Balasar e presidente da Fundação Alexandrina de Balasar, “é muito atual”. |
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Fátima lembra João XXIII e João Paulo II |
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O Santuário de Fátima vai associar-se este domingo às cerimónias de canonização de João XXIII e João Paulo II com uma Eucaristia às 11h00. Em comunicado enviado à Agência ECCLESIA, os responsáveis do santuário mariano referem que a instituição “exulta de alegria e dá graças a Deus” pelos dois futuros santos, recordando-os como “exemplos e testemunhos” do que significa “ser-se cristão”. Durante a Missa no Santuário de Fátima, que será presidida pelo vice-reitor do recinto, padre Emanuel Matos Silva, “será feita a evocação das três peregrinações de João Paulo II a Fátima, em |
1982, 1991 e no ano 2000”. Os participantes vão ser convidados a rezarem uma breve oração, pronunciada em Fátima por João Paulo II”, realça a mesma nota. A Missa de canonização dos dois Papas, no Vaticano, contará com a presença do bispo de Leiria-Fátima, D. António Marto, do bispo emérito da diocese, D. Serafim Ferreira Silva, e do reitor do Santuário, padre Carlos Cabecinhas. (Fotografias: D. Angelo RoncalliI na peregrinação de 13 de maio de 1956; João Paulo II naquela que foi a sua última peregrinação ao Santuário de Fátima, a 13 de maio de 2000) |
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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram a atualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizados em www.agencia.ecclesia.pt
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Patriarca latino de Jerusalém vai presidir à peregrinação do 13 de maio em Fátima |
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Cónego António Janela evoca João XXIII, que marcou a sua formação sacerdotal |
A Europa e o regresso do iluminismo |
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Bispo das Forças Armadas e de Segurança |
Vamos ter eleições para o Parlamento Europeu. Se é verdade que os grandes agentes de mudança quase sempre se situam fora do poder legislativo, nem por isso se pode desvalorizar a importância deste sector. Particularmente nesta época em que a Europa parece desencontrada consigo mesma e a navegar à sirga, apenas arrastada pela idolatria de um capitalismo financista, mesmo que nele não creia. Deste modo, os cristãos, quer os eleitores, quer os que se propõem ser eleitos, são chamados a intentar uma séria reflexão ética, já que estão em jogo valores que constituem o homem e a sociedade enquanto tal ou os negam radicalmente. Sabemos que, quanto aos conteúdos, não há uma política cristã, como não há uma química cristã ou um futebol cristão. Não obstante, existe uma singular sensibilidade, um específico conjunto de referências que têm de estar presentes e balizar a actuação legislativa e executiva. A Sagrada Escritura parece apontar para as seguintes, definidas de forma sintética e clara: respeito pelos pobres, defesa dos débeis, protecção dos estrangeiros, desconfiança da grande riqueza, condenação do domínio exercido pelo dinheiro, destruição dos poderes totalitários e defesa acérrima da dignidade de toda a vida humana. Se assim é e na medida em que o é, então uma mente cristã não pode ausentar-se
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desta envolvência. E mesmo os não cristãos poderão reconhecer neste núcleo valores humanos básicos: pelo menos na sua faceta imediata, eles situam-se mais a nível da antropologia que da teologia. Como tal, para todos, deveriam constituir fronteiras inultrapassáveis. Curiosamente, por acção ou omissão dos dirigentes, nos últimos tempos, a Europa comunitária parece ter trocado estas referências pela política imposta por novos gurus sociais que quase sempre se situam num campo novo: o resultante da fusão da economia com o regresso da cultura do Iluminismo. Efeito: uma absoluta e soberana insensibilidade às pessoas concretas, traduzida na mais «normal» aceitação da pobreza, mormente entre os idosos e os estrangeiros. A forma como a Europa se comportou em relação aos três Estados intervencionados (Irlanda, Portugal e Grécia) é disso exemplo acabado. E porque falamos em Iluminismo? Como sabemos, em termos muito simples, este movimento cultural consistiu numa espécie de fé na capacidade da razão |
para resolver todos os problemas humanos. Só que, aplicado à economia, gerou a mais completa desregulamentação liberal-capitalista, porque os administradores e gestores, que raramente são os donos das empresas que dirigem, se atribuem estatutos de excepção e se pagam a si mesmos em função da sua esperteza ou capacidade de aplicarem uma relação de mercado insensivelmente cega, apenas avaliada em função do que, quantitativamente, conseguem sugar. Como responder a esta esclerosada e anti-humana cultura iluminista? Com uma outra cultura alternativa que valorize o justo lucro, mas sempre balizada pelos critérios acima referidos: a “economia de rosto humano” só pode ser fruto de uma «cultura de rosto humano». Os nossos dirigentes europeus possuirão a força anímica para as intentar? A ver vamos. Mas eu, pessoalmente, tenho medo que uma parte significativa não aceite este desafio histórico e se enlameie na obsessão dos temas típicos da ideologia do género. |
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O que resta da revolução de abril |
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José Carlos Patrício Agência ECCLESIA |
Numa semana marcada pela comemoração dos 40 anos da revolução de Abril, importa reter os resultados do inquérito realizado esta semana pela Universidade Católica Portuguesa a 1117 portugueses, de norte a sul do país. De acordo com o estudo, 83 por cento dos inquiridos estavam insatisfeitos com o funcionamento da democracia e 62 por cento apontava para o facto de Portugal ter-se tornado, desde 1974, num país progressivamente mais pobre. Perante estes dados, que colocam em causa não o regime democrático em si mas o seu funcionamento - e aqui o exemplo mais recente é a forma como o poder político tem vindo a lidar com a crise económica – o 40.º aniversário do 25 de abril deveria ser uma oportunidade para uma reflexão geral acerca do tipo de rumo que o país pretende para o futuro. Um dos “capitães de abril”, Vítor Crespo, salientava esta semana que nunca haveria uma democracia completa enquanto subsistisse por exemplo o fosso atual entre ricos e pobres, e alertava para o perigo do regime resvalar para o autoritarismo. De facto, os últimos anos e as últimas decisões políticas fizeram com que a generalidade dos portugueses sentisse que não eram tida nem achada em diversas matérias, essenciais para a sua vida |
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quotidiana e em muitos casos mesmo à própria sobrevivência. Onde tem estado, no meio das medidas de austeridade, a democracia enquanto forma de organização em que a tomada de decisões corresponde à vontade geral? A democracia tem de ser mais do que o simples poder de escolha de um Governo, de uma cor partidária em vez de outra, de um conjunto de promessas em vez de outras, que muitas vezes acabam por ser abandonadas porque “a situação era pior do que parecia” ou “a conjuntura mudou”. Se assim não for, qual é a validade de uma eleição, se |
os pressupostos que estavam em cima da mesa são completamente alterados? Recordar a “revolução dos cravos”, mais do que uma disputa de discursos ou um esgrimir de argumentos, deve ser encarado como uma oportunidade essencial para educar as novas gerações para a importância de respeitarem e defenderem os valores da verdadeira democracia. Só assim teremos também progressivamente elites políticas mais empenhadas e comprometidas com o povo e não com outras “conquistas”, que não têm nada a ver com o bem-comum. |
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Cardeal português evoca dois Papas santos |
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D. José Saraiva Martins conviveu com João XXIII e foi colaborador de João Paulo II, tendo estado ligado ao processo de canonização dos dois, ao serviço da Cúria Romana
Agência Ecclesia (AE) – Como acompanhou o processo de canonização do Papa João XXIII e do Papa João Paulo II? D. José Saraiva Martins (JSM) – Conheci muito bem os dois Papas, tanto João XXIII como João Paulo II. Tive relações profundas com os dois, em especial com João Paulo II, durante os meus anos na Cúria Romana, como secretário da Congregação para a Educação Católica e depois como prefeito da Congregação para as Causas dos Santos. Foram dois papas que conheci bem, não só do ponto de vista pastoral, mas como pessoas. São duas personalidades extraordinárias.
AE – Como acompanhou o pontificado de João XXIII, na altura como professor e reitor nas universidades romanas? JSM - Eu era professor na Pontifícia Universidade Gregoriana (PUG). Uma vez |
encontrei-me com João XXIII demoradamente e ele perguntou-me o que eu fazia em Roma... Eu disse-lhe que era professor na Universidade ao que ele respondeu com espanto: “Já? Tão jovem e já é professor?” Ficou admirado com a minha juventude! Era uma pessoa muito simpática, com uma linguagem muito popular. Era o Papa bom, muito sensível e próximo do povo. A gente amava-o profundamente, era como um pai, um pai bom. Tenho uma ideia muito agradável, muito profunda da personalidade humana, não só pontifícia, mas humana de João XXIII.
AE – Recorda a eleição de João XXIII e o início do seu pontificado? JSM – Recordo-me bem! Sucedeu ao Papa Pio XII, de quem era bastante diferente do ponto de vista humano e no modo de agir, mas sem se contradizerem. Os papas são todos diferentes uns dos outros, consoante a sua personalidade. Completam-se mutuamente. João XXIII completou o pontificado de Pio XII, o Papa Pancelli, para mim um dos grandes Papas, senão o maior da época contemporânea! |
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AE – O pontificado de João XXIII ficou incontornavelmente marcado pela convocação do Concílio Vaticano II… JSM – João XXIII ficou marcado como sendo o autor do Concílio Vaticano II, que foi um verdadeiro Pentecostes para a Igreja, o princípio de uma renovação profunda da comunidade eclesial. No entanto, a ideia do Concilio não é propriamente de João XXIII. A ideia do Concílio é do papa Pio XII. Ele pensou convocar um Concílio Ecuménico para rever vários problemas da Igreja, naquele tempo. Pensou fazer um Concílio e nomeou uma comissão teológica para estudar o problema. Simplesmente tinha já a sua idade e faleceu. Veio João XXIII e retomou a ideia do Concilio e naturalmente convocou-o.
AE – Isso tira algum mérito a João XXIII e ao seu pontificado? JSM – Não tira mérito, antes pelo contrário. Foi um sinal de continuidade do pontificado do Papa Pio XII num campo tão importante como a pastoral da Igreja. |
AE – Que relevo têm as encíclicas sociais de João XXIII, a promoção da paz ao longo do seu pontificado?
JSM – Encontramos parte do seu pensamento nos documentos do Concílio Vaticano II, sobre a renovação litúrgica (a Sacrosantum Concilium), sobre a Igreja e as relações entre Igreja e o mundo, na Constituição Gaudium et Spes, que é um documento muito importante e que exprime o pensamento de João XXIII.
AE – A realização do Concílio e o estilo do Papa gerou alguma viragem no diálogo da Igreja com a sociedade? JSM – Certamente. Era um Papa muito próximo das pessoas. Não se considerava uma pessoa superior ou longe da sociedade. Era um membro da sociedade, via muito bem quais os problemas que existiam entre a Igreja e o Estado, o mundo político e procurou aprofundar vários problemas, inclusivamente os que implicavam a ação pastoral da Igreja. Deixou-nos documentos importantíssimos. |
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AE – O que é que na sua opinião faz de João XXIII um Papa santo?
JSM – Observei sempre em João XXIII a simplicidade evangélica. Era realmente como Cristo. Estava sempre connosco. Para mim era uma interpretação autêntica do Evangelho e renovou a imagem de Cristo, no seu tempo e no seu pontificado.
AE – De João Paulo II, terá memórias mais próximas, mais pessoais? JSM – Eu mantive relações muito próximas com João Paulo II. Foi ele que me pediu para ficar em Roma. Depois de uns anos como professor na Universidade Pontifícia Urbaniana (UPU), tinham-me pedido para |
ir para Lisboa para a Universidade Católica Portuguesa, para a Faculdade de Teologia. O patriarca de então, o Cardeal Cerejeira, andava à procura de professores de Teologia e soube que em Roma havia um professor português na UPU e escreveu várias cartas a pedir que fosse para a faculdade em Lisboa. João Paulo II nomeou-me para a Congregação para a Educação Católica, que é o ministério da educação da Igreja, e depois para prefeito da congregação para as Causas dos Santos que, segundo ele, era o dicastério mais importante da Igreja, uma vez que trata da santidade, da santidade dos membros da Igreja. |
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AE – A sua permanência em Roma está então muito ligada a João Paulo II? JSM – Devo-a a ele, assim como devo a João Paulo II o meu serviço na Santa Sé. Tive com o Papa um relacionamento muito próximo, com quem estive muitas vezes em almoços de trabalho. Ele também era de uma simplicidade extraordinária e falava connosco como falamos com um amigo. |
Sempre admirei nele a sua humanidade. João Paulo II foi um Papa profundamente humano. A sua vida consistiu em defender e promover a pessoa humana, a sua dignidade, e defender com coragem, muita coragem, por vezes heroica, os direitos fundamentais e naturais do homem. Direitos inalienáveis que têm de ser respeitados e promovidos até ao fim. Hoje fala-se muito também
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do problema da igualdade entre homem e mulher. E esta problemática foi enfrentada por João Paulo II, com espírito de uma compreensão extraordinária. Era um Papa moderno, humano, profundamente humano. A explicação para mim é simples: era um santo. Tinha uma fé profunda, concreta, não abstrata. Era um santo enamorado de Cristo. Como santo era também humano porque, ao contrário do que se pensa, são todos humanos. A santidade e a humanidade não são duas realidades contrapostas, mas intimamente unidas, inseparáveis. A santidade para mim não é senão a plenitude da humanidade e os santos são os que viveram em profundidade à luz do Evangelho a própria humanidade. Foi também o que fez João Paulo II: Um santo muito humano, que o exprimiu de tantas maneiras.
AE – Quais as essenciais, ao longo do seu pontificado? JSM - Foi um Papa missionário, apostólico, evangelizador. Para mim foi o São Paulo dos tempos modernos. Foi ele que começou as viagens apostólicas por todo |
o mundo e, à semelhança de São Paulo, evangelizou os gentios de hoje. As suas viagens por todos os continentes não eram viagens turísticas, mas apostólicas, missionárias e evangelizadoras. Sempre tive uma grande admiração por João Paulo II.
AE – Recorda-se algum momento de encontro com João Paulo II que o tivesse marcado particularmente? JSM – Lembro-me de um facto importante do ponto de vista humano. Depois de ter sido eleito Papa convocou todos os reitores das Pontifícias Universidades Romanas, entre as quais a UPU. Eu era o chefe dos reitores das várias Universidades e discutimos profundamente os vários problemas das universidades de Roma. Depois de uma hora, de discussões, ele tomou a palavra e disse: “Agora vamos começar a segunda parte do nosso encontro, que é ainda mais importante do que a primeira. A segunda parte é a ceia todos nós”. Um gesto extraordinário, de uma grande simplicidade! Tenho outras lembranças com ele e sempre que falávamos era como entre amigos! |
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AE – O que dizia João Paulo II sobre Portugal. Que imagem tinha ele do nosso país? JSM – Muito boa. Para ele foi sempre uma nação fiel à Santa Sé e ao Papa e exprimia-o de muitas maneiras. E quando se fala de Portugal, fala-se naturalmente de Fátima. Ele foi um homem enamorado de Fátima. Foi várias vezes a Fátima e atribuiu sempre a Nossa Senhora de Fátima a proteção e o facto de não ter morrido no dia do atentado (13 de maio de 1981, ndr). Ele dizia que tinha sido Nossa Senhora a desviar a bala para que ele não morresse. Trouxe uma imagem de Nossa Senhora e colocou-a no palácio apostólico de Castel Gandolfo. Depois beatificou os dois pastorinhos, Jacinta e Francisco, processo que eu acompanhei. João Paulo II estimava muito Portugal, como país e nação católica.
AE – Por ocasião do atentado, esteve com ele nos dias imediatos? JSM – Não. Ele foi para o hospital e tinha de descansar. Ainda ficou no hospital bastante tempo. Na altura, o que podíamos fazer, e fazíamos, era rezar por ele. |
AE – Os anos subsequentes do pontificado, depois do atentado, foram de alguma expectativa sobre a possibilidade de João Paulo II continuar ou não? As consequências que aquele atentado poderia ter na sua saúde?
JSM – Não há dúvida de que o atentado teve as suas consequências. Ele suportou sempre aquela situação como um verdadeiro crente. Como uma espécie de associação ou reprodução da Paixão de Cristo.
AE – também nos últimos anos de pontificado? JSM – Também e mais ainda porque havia outros aspetos da sua saúde nada boas. Todos se lembram do dia em que ele foi à janela do seu apartamento, quis falar à multidão presente na Praça de São Pedro mas não saiu uma palavra. Foi um momento, do ponto de vista humano, trágico. Só quem viveu esses momentos com ele se dá conta do significado profundo para o Papa.
AE – E foi a melhor decisão do Papa João Paulo II levar o seu pontificado até à sua morte, tal como aconteceu? JSM – Sim. É preciso ter em conta um facto importante: num certo
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momento ele pensou demitir-se. Pediu conselhos aos colaboradores mas disseram-lhe que seria melhor não se demitir.
AE – Falou consigo sobre isso? JSM – Não. Diretamente não. Ele deu-se conta da sua situação. Também já Paulo VI tinha pensado demitir-se e nomeou uma comissão para estudar o problema, que o desaconselhou. A demissão de um Papa não é uma novidade absoluta. Bento XVI seguindo a mesma linha, para bem da Igreja, e achou melhor demitir-se. É o código de direito canónico, o cânone 83 que diz expressamente que o papa tem o direito de se demitir se achar que é conveniente para o bem da Igreja e ninguém o pode impedir.
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AE – Num pontificado tão longo como o de João Paulo II, alguma coisa ficou por fazer? JSM – Alguma coisa fica sempre por fazer. A Igreja tem de dar importância à pastoral no momento presente. Há sempre problemas, tal como há sempre problemas na sociedade. A Igreja tem de viver no tempo presente, por isso, tem de falar ao homem de hoje, com a linguagem de hoje. A de ontem já não existe. Naturalmente isso pede uma adaptação e levanta problemas. A grande preocupação da Igreja é ajudar a resolver os problemas do ponto de vista pastoral e eclesial. O Papa tinha essa ideia muito clara. |
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AE – João Paulo II terá enfrentado da melhor forma o problema da pedofilia na Igreja? Ter-se-ia apercebido dos problemas e proposto uma resolução? JSM – Este Papa tão próximo das pessoas, deu-se conta do problema e procurou resolvê-lo. Mas nem tudo o que de bom faz um Papa é reproduzido na imprensa. Ele interveio várias vezes por meio da Congregação para a Doutrina da Fé. A Igreja preocupou-se sempre porque este é um problema real. A Igreja é geralmente acusada por não ter denunciado os sacerdotes pedófilos, mas isso não é verdade. Ela procurou com muito cuidado intervir. E interveio, mais do que uma vez em vários casos, não publicamente, tendo sido sábia ao seguir um caminho discreto.
AE – O que faz deste Papa, à semelhança de João XXIII, um Papa santo? JSM – João Paulo II foi santo porque seguiu o Evangelho. Procurar a santidade consiste em seguir o Evangelho, pôr em prática o que diz Cristo. Cumprir a Palavra de Deus. A santidade não é |
uma coisa extraordinária. É muito simples. Consiste em viver o Evangelho de Cristo, seguir a Sua voz, aplica-la no seu dia-a-dia. A santidade consiste nisso. E João Paulo II viveu em profundidade o Evangelho, em todos os sentidos e circunstâncias da sua vida.
AE – O Papa Francisco dispensou a existência de um milagre atribuído a João XXIII para concluir o processo de canonização. É a opção mais acertada na sua opinião? JSM – Certamente. O Papa pode fazer uma exceção se achar mais importante para a Igreja neste momento. Segundo os estatutos em vigor, requer-se um milagre para a beatificação e outro para a canonização feito depois da beatificação. É uma norma, não é de direito divino, mas eclesiástico. O Papa pode, se quiser e achar conveniente em qualquer momento da história, dispensar o milagre. Só não pode dispensar a heroicidade das virtudes. Beatificar ou canonizar não é senão proclamar a santidade daquela pessoa, do candidato |
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aos altares. Um milagre não está unido á beatificação ou canonização. É uma espécie de confirmação por parte de Deus de que aquela pessoa praticou as virtudes em grau heroico. A Igreja achou, e muito bem, que se exija ordinariamente um milagre para a beatificação e canonização. As virtudes heroicas têm de existir sempre. O milagre não é necessário para a canonização. E o Papa Francisco dispensou o milagre para João XXIII.
AE – No caso de João Paulo II o processo conclui-se com um milagre… JSM – A cura de uma pessoa com um aneurisma cerebral da Costa Rica é atribuído à intercessão |
de João Paulo II. Para que uma cura seja considerada milagrosa é preciso que seja completa, instantânea e duradoura à luz da ciência médica atual. Tem de aparecer claramente que aquela cura foi feita por intercessão de alguém.
AE – A comunidade dos crentes que enriquecimento tem com a canonização de dois Papas? JSM – São dois Papas com um papel importante na aplicação do Concílio: O que inaugurou e um dos que mais contribuíram para a aplicação na vida da Igreja do Concilio. Este aspeto conciliar que une os dois Papas Santos. |
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A personalidade mais relevante
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O Papa João Paulo II é a personalidade mais relevante do século XX. Levou a palavra de Deus, palavra de fraternidade, palavras de amor, de tranquilidade, de serenidade, de bem-estar a todos os continentes. Empreendeu desde o início do seu pontificado uma ação vigorosa na Igreja e também no mundo político e diplomático. As suas 104 viagens em todo o mundo contaram com a participação de enormes multidões, bem como as Jornadas Mundiais da Juventude, uma criação que ainda hoje tem um grande sucesso. Tive a alegria de o receber na sua primeira viagem ao México (janeiro de 1979). Não foi fácil a preparação desta primeira visita, porque a Santa Sé não tinha relações diplomáticas com o México, os padres não podiam usar o hábito sacerdotal, era um delito celebrar a Santa Missa fora dos templos e ainda mais estrita era a situação para o clero estrangeiro. Por outro lado, João Paulo II, |
eleito a 16 de outubro de 1978, começava o seu ministério pontifício e os bispos da América Latina tinham a reunião do CELAM, em Puebla de los Angeles (III Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano). O presidente da reunião, os prelados da Cúria Romana e o delegado apostólico da Santa Sé no México foram recebidos pelo Papa, para decidir o quê fazer. Os primeiros não estavam a favor; o delegado apostólico disse ao Santo Padre que era realmente difícil, mas que a sua visita seria um sucesso. Então João Paulo II decidiu participar na reunião, enviou uma carta ao presidente da República, José Lopez Portillo, que lhe foi entregue em mão pelo delegado apostólico, comunicando-lhe a sua intenção de participar no referido encontro como Sumo Pontífice da Igreja Universal. A semana passada no México foi um grande sucesso para todos – bispos, sacerdotes, religiosos, religiosas, membros do corpo diplomático e também |
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para membros do Governo. De facto, o ministro dos Negócios Estrangeiros, apesar de se ter oposto à visita do Papa até ao último momento, abordou a delegação apostólica para pedir que o Santo Padre prolongasse a sua viagem, visitando Monterrey, porque era uma das mais importantes cidades do México e ele não conseguia responder negativamente a tantos pedidos. A visita do Santo Padre foi um grande êxito.
El Salvador A 6 de março de 1983, João Paulo celebrou a Missa em San Salvador e na sua homilia convidou todos e cada um dos salvadorenhos a serem “artesãos da paz e da reconciliação”. O país encontrava-se numa horrível guerra fratricida. O Papa chamou os cidadãos a construir um futuro de esperança, com a “sabedoria da paz”. Recordou as ideologias radicais, que não respeitam a pessoa humana – na qual se encontra escrita a mão do criador – e proclamou: “Nunca mais a guerra”. Na segunda visita, em fevereiro |
de 1996, o Santo Padre convidou os salvadorenhos a construir juntos uma era de paz, uma sociedade nova e a renunciar ao ódio, à violência; a começar um novo caminho de fraternidade e de progresso social procurando o bem social de todos. As orações e as palavras de São João Paulo II foram bem acolhidas. As mensagens dadas ao povo e aos jovens ficaram no coração de muitos e começou-se a procurar o modo de chegar à paz e lá se chegou, mesmo com dificuldade.
Cardeal Manuel Monteiro de Castro |
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João XXIII, «humildade»
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O Papa João XXIII, Angelo Giuseppe Roncalli, futuro santo, deixou um legado de “humildade” e “diálogo”, segundo o cardeal português D. Manuel Monteiro de Castro. “Angelo Roncalli, sacerdote, diplomata, bispo, Papa, evidencia-se pela humildade, amor ao diálogo, amor a Cristo, à Igreja e à humanidade inteira”, refere à Agência ECCLESIA o penitenciário-mor emérito da Santa Sé, que tal como João XXIII passou várias décadas ao serviço diplomático do Vaticano. O Papa italiano, beatificado por João Paulo II em setembro de 2000, nasceu em 1881 na localidade de Sotto il Monte, Bérgamo, onde foi pároco, professor no Seminário, secretário do bispo e capelão do exército durante a I Guerra Mundial. João XXIII iniciou a sua carreira diplomática como visitador apostólico na Bulgária, de 1925 a 1935; foi depois delegado |
apostólico na Grécia e Turquia, de 1935 a 1944, e Núncio Apostólico na França, de 1944 a 1953. “Sobressaiu pela sua capacidade conciliadora, pelo seu interesse ecuménico, sinceridade e coragem, manifestada em salvar a vida a judeus durante a II Guerra Mundial”, lembra o cardeal Monteiro de Castro. Em 1953, Angelo Roncalli foi nomeado patriarca de Veneza e no dia 28 de outubro de 1958 foi eleito Papa, sucedendo a Pio XII. “A vida diplomática, em diversos países, enriqueceu naturalmente os dotes de Angelo Roncalli e o seu modo de atuar”, destaca o cardeal português a respeito de João XXIII, que “convocou o Concilio Vaticano II para explicar a doutrina da Igreja ao mundo atual e publicou oito encíclicas, de grande valor como a ‘Mater et Magistra’ e a ‘Pacem in Terris’”. O homem que alimentava “a possibilidade da paz universal, da fraternidade entre os homens” defendia “uma atuação não |
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para fazer-se ver, mas para levar a todos a paz própria dos filhos de Deus”, acrescenta D. Manuel Monteiro de Castro. O penitenciário-mor emérito da Santa Sé esteve na Arquidiocese de Bérgamo a 24 de junho de 2012 para presidir à festa patronal da paróquia de São João Batista, no dia seguinte, visitar a casa dos pais do Papa João XXIII. |
“Notei uma fotografia junto a uma carta escrita à mão. Aproximei-me e li: ‘Queridos pais, celebrei 50 anos de sacerdote e não vos escrevi porque o tempo não me permitiu, mas quero dizer-vos que li muitos livros mas o melhor da minha vida foi o vosso, foi o que aprendi convosco em casa. A família é a melhor escola’”, relata.
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É impossível esquecer o olhar do Papa João Paulo II, o Peregrino de Fátima |
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Foram momentos inesquecíveis. João Paulo II esteve no nosso país em três ocasiões (e numa breve escala técnica no aeroporto de Lisboa) e cruzou-se com largas centenas de pessoas. Quem teve o privilégio de falar com ele, de o escutar, nunca mais se esqueceu desses momentos. Mesmo que tenham sido apenas breves segundos. O Papa que veio do Leste não deixou nunca ninguém indiferente. Quase todos os que recordaram os momentos em que estiveram com Karol Wojtyla foram unânimes em lembrar um olhar único, penetrante, que chegava à alma, que transmitia uma força enorme e uma serenidade invulgar. Foram três as visitas ao nosso país. Em 1982, 1991 e no ano 2000. Foi sempre em maio e apesar de também ter estado em Braga, Coimbra, Lisboa, Porto, Vila Viçosa, Açores e Madeira, podemos dizer que, de certa forma, João Paulo II nunca saiu do Santuário de Fátima, esteve sempre com ajoelhado na Capelinha das Aparições junto |
da imagem de Nossa Senhora de Fátima. A ela agradeceu a vida, o ter sobrevivido ao atentado de 13 de maio de 1981, facto que iria revelar-se marcante para o resto do seu pontificado e, de certa forma, iria moldar até a própria história da humanidade. |
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na Universidade Católica: “Estava na Católica. Fazia parte do coro. Quando ele chegou, vinha de autocarro, olhei para o Papa e ele olhou para mim. Olhou para mim, tenho a certeza absoluta disso.” Outro testemunho, agora do professor Narana Coissoró, que se encontrou com João Paulo II, na Nunciatura, em representação da comunidade hindu: “O Papa tinha uma personalidade magnética. Uma pessoa olhava para ele e quase ficava conquistada. Era o olhar. Criava logo um sentimento de reverência…” Carlos Carneiro, hoje sacerdote jesuíta, foi |
escolhido para entregar uma prenda simbólica ao Papa em nome da juventude portuguesa. Foi um instante que mudou a sua vida. “Quando me devia levantar e retirar para dar lugar às outras pessoas que vinham na procissão do ofertório não me consegui levantar, o meu corpo não me obedecia e continuei de joelhos (…). Foi nesse instante que olhei para o Santo Padre e disse-lhe: ‘Quero ser jesuíta’. Ainda hoje não sei o que se passou comigo, senti-me levado a falar, era a voz da minha alma, dos meus desejos mais límpidos, liberta das minhas |
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ansiedades e medos, que se verbalizava… era, não sei. Sei que o Papa olhou-me, agarrou-me o rosto e deu-me um beijo. Vi no seu olhar e no seu gesto um sinal de Deus a todas as minhas inquietações, dúvidas e possibilidades. Fiquei louco.” Maria Teresa Monteiro, hospedeira da TAP, na viagem de 1982, lembra-se de tudo o que aconteceu nos momentos em que esteve com João Paulo II a bordo do avião. Até do que ele comeu |
e bebeu. Vinho branco, presunto como entrada, rolo de linguado e queijo da serra como sobremesa, acompanhado por um Vinho do Porto velho. Mas o que guarda mesmo na memória é olhar de Karol Wojtyla. “Fiquei impressionada com o Papa. O seu olhar era penetrante, parece que chegava à nossa alma, que chegava cá dentro. Ele era muito alto e os olhos eram muito azuis.” O Padre António Teixeira também se deixou seduzir pelo Papa.
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Aliás, foi pela televisão, ao ver as multidões que o aclamavam em Portugal, em 1982, que se interrogou quem seria aquele homem vestido de branco que fascinava tanto as pessoas e que ele desconhecia por completo. E a sua vida mudou. Entrou para o Seminário e, em 1991, já diácono, foi escolhido para acompanhar o Papa na celebração eucarística no Restelo. Tinha apenas 24 anos. “Ficou cá tudo gravado. Ainda hoje mexe comigo e me arrepia. O Papa exercia em mim um fascínio total e estar ali, tocar-lhe, beijar-lhe as mãos, celebrar ao lado dele, Dar-lhe o abraço da paz naquela eucaristia, são momentos que |
nunca vou esquecer. Foi o culminar de um projeto de vida”. Nessa viagem a Portugal, o Santo Padre também foi aos Açores. Durante essa estadia esteve sempre acompanhado por Mário Pinto, então Ministro da República para os Açores. Em São Miguel celebrou-se missa. “Fiquei mesmo em frente a João Paulo II. Então, tive uma sensação impressionante, porque ele parecia que estava sempre a olhar para mim. Mas depois, outras pessoas disseram-me o mesmo. Cada um, ali, sentia que o Papa estava a olhar para ele e o Papa não podia estar a olhar para todos ao mesmo tempo. |
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O olhar dele era muito impressionante, intenso, havia ali uma luz que parecia que estava sempre a ser-nos dirigida. Era um olhar luminoso, muito belo”. Depois dos Açores e da Madeira, o regresso a Portugal Continental, rumo à pista de Monte Real, da Força Aérea. Por pedido expresso de João Paulo II, o avião sobrevoou, em círculos, o Santuário de Fátima, já então apinhado de gente. Maria Helena, hospedeira da TAP, viu como ele se comoveu nesse instante, “e os seus olhos ficaram cheios de lágrimas”. Ela acrescenta: “O Papa falava com o olhar. Eu não digo que ele incomodava, mas, às vezes, desviava-me, pois era
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muito intenso. Era um olhar azul. Ele não precisava de falar com palavras. Bastava-lhe olhar”. António Marujo, então jornalista do “Público”, também viajou com o Papa a bordo do mesmo avião. Também ele recorda a enorme atração que o Papa polaco exercia sobre as pessoas. “O olhar dele era brutal. Eu senti isso uma vez. Foi em Roma. Assisti à missa na capela privada e ele vinha sempre cumprimentar as pessoas. O olhar era fulminante, intensíssimo. Havia magnetismo”. Anos mais tarde, Aura Miguel haveria de voltar a estar de perto várias vezes com Wojtyla, já não como estudante na Universidade |
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Católica, mas sim como jornalista da “Rádio Renascença”. Foi a confirmação do poder magnético do olhar de João Paulo II que pressentiu na primeira viagem a Portugal para agradecer a intercessão da Virgem de Fátima na sua história pessoal e na história de todos nós. “O Papa olhava-nos na alma. Só havia duas hipóteses de encarar o seu olhar, porque ele nos deixava completamente expostos. Era encará-lo ou fugir. Houve casos de colegas meus que não foram capazes de enfrentar o olhar do Papa e isso impressionou-me imenso. Não aguentaram e desviaram o olhar…”
Paulo Aido, jornalista pauloaido@gmail.com |
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O amor de João Paulo II pelos portugueses |
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27 de Abril de 2014. A data coincide com o segundo Domingo do tempo pascal, da Divina Misericórdia. Celebração instituída por João Paulo II e na véspera da qual o Papa polaco faleceu, em 2 de Abril de 2005. Nesta data assinala-se um acontecimento religioso que merece a nossa maior atenção: a solene Canonização de João Paulo II (1978-2005), pelo actual Sumo Pontífice: Francisco I. É a confirmação daquilo que já há muito tempo se comentava, se desejava e se atribuía como certo. Com o anunciar oficial desta decisão no dia 30 de Setembro de 2013, e depois da emoção com que a recebemos, sentimos o dever de contribuir, ainda que modestamente, para assinalar esta memorável data. Contributo que damos através destas palavras aqui escritas e da obra que lançamos recentemente: «João Paulo II e Portugal». Um álbum a cores, com dezenas de fotografias (muitas delas inéditas), em que nos é revelada a memória ilustrada dos dias inesquecíveis em que João Paulo II visitou |
o nosso País e que fazem parte integrante da nossa História de crentes e de portugueses. A nossa ideia, confessamos, era escrever uma obra de duração, que subsistisse e encontrasse leitores quando as pessoas e as circunstâncias tiverem passado. Este livro (ou uma parte dele) esteve para ser publicado em 2011, na altura da solene Beatificação de João Paulo II, mas uma série de vicissitudes acabou por nos levar a prolongar a sua escrita durante mais algum tempo. Várias vezes, ao longo destes anos, deixamos esta obra parada. Sentíamos que, apesar do nosso desejo de escrever um retrato totalmente vivo sobre o protagonista, era humanamente impossível escrever a palavra final. Porém, chegamos à conclusão de que quando se tem a oportunidade de prolongar a escrita e a saída do livro, oferece-se-nos uma prova explícita de afecto e amor para com o tema. Quase poderíamos dizer que ao longo destes muitos anos em que nos dedicamos a ler centenas de livros sobre e de João Paulo II, |
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fomos ficando íntimos desta personalidade e vida fantásticas. Nesta obra, e enquanto a fomos escrevendo, ficamos a conhecer os segredos das visitas do Papa Wojtyla ao nosso País. As mensagens que nos deixou. As conversões operadas em muitos daqueles que contactaram com João Paulo II. A relação de amor de Sua Santidade pela Virgem |
de Fátima. O Amor do Pontífice pelos Portugueses. Mas também algumas histórias menos conhecidas. Histórias que, nesta época tão especial, desejamos que todos possam recordar e conhecer. Obrigado, João Paulo II!
José Carvalho, Professor e Investigador de História |
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João XXIII, um testemunho |
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João XXIII marca profundamente a minha vida sacerdotal, a partir do Concílio Vaticano II: como pessoa e como orientação pastoral que ele imprimiu à Igreja com o Concílio. Li e meditei vários livros sobre ele. Inclusivamente fui visitar, com alguns amigos, a sua terra natal (21.09.1982), Sotto il Monte de Bérgamo, no norte da Itália. Vimos as suas raízes rurais e o espólio do seu ministério e falámos com o seu secretário, o Bispo D. Loris Capovilla, a quem pedimos uma relíquia que guardamos na Capela João XXIII, na Casa do Oeste. Cativou-me a sua maneira de ser afável, alegre, intrépido e corajoso, simples e enérgico. É exemplo nas obras de misericórdia, visitando prisioneiros e doentes, pobres e excluídos, pessoas de todas as nações e credos, mostrando-se para todos um “pai” cheio de ternura. Cativaram-me as suas virtudes de Fé, de simplicidade e de humildade, o seu otimismo e o seu zelo pastoral e a sua paternal caridade. Respirava Fé a plenos pulmões. Não se envergonhava de confessar o Evangelho. O seu |
olhar, os seus gestos e as suas palavras respiravam bondade e alegria. Especialmente nos diversos países onde exerceu o seu ministério, com o seu humor e otimismo ele quebrava o gelo, derrubava barreiras e construía pontes restabelecendo a paz entre pessoas e instituições. Por isso o cognominavam de “Anjo da Paz” e ficou conhecido pelo “Bom Papa João”. A sua simplicidade e abertura cativou-me tanto que, quando fui nomeado pároco, acampando no meio do povo, decidi deixar de usar colarinho eclesiástico e, nos dias que podia, ia para o campo ajudar os agricultores modestos, nos seus trabalhos da pulveriza e da apanha da azeitona. É que nos últimos anos da minha formação no Seminário dos Olivais, anos do Concílio (1962-65), marcou-me a nova eclesiologia da comunhão e da participação responsável, inseri-me no Escutismo e constitui com outros uma Equipa de Espiritualidade que me levou às Equipas Sacerdotais e pastorais com quem trabalhei durante 40 anos. Disto dei testemunho, em 1996, |
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em Fátima no Simpósio “O estilo da vida do padre: problemas e apelos” (p.245-248): “O mundo quer encontrar no padre um homem que possua espiritualidade fundada sobre a comunhão, para que transpareça do rosto do padre a alegria e a beleza de seguir Cristo, juntamente com os irmãos no sacerdócio e com todo o povo de Deus” Também a minha nomeação de Assistente Eclesiástico dos |
movimentos rurais da Ação Católica (ACR, JARC e ACN) que perdura até agora me deu a oportunidade de cultivar e expandir o espírito conciliar com as mais diversas atividades: nos programas dos Grupos dos Movimentos e nas várias paróquias, em colóquios e semanas de estudos, campos de formação e férias, conferências, divulgação de documentos |
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do magistério (encíclicas, cartas pastorais, exortações apostólicas…). Exemplifica isto António Batalha no seu livro Caminhar na Existência, quando afirma: “A Ação Católica Rural, por influência do Concílio Vaticano II, começou a desenvolver um tipo de reflexão muito real e profundo: os acontecimentos nas fábricas, as realidades da área rural do Oeste e de todo o país, as realidades e acontecimentos mundiais a nível da Igreja e a outros níveis passaram a estar presentes nos momentos de reflexão, nas publicações, nas conversas de amigos, etc… mas sempre em confronto a Fé e a Vida. A Equipa Diocesana empenhou-se em procurar pessoas de valor para ajudar neste tipo de reflexão. A Bíblia, as Encíclicas, os documentos do Concílio e outros documentos da Igreja constituíram a linha orientadora…” (p.99). Foi com este espírito que nasceu a Casa do Oeste e a instituímos em Fundação João XXIII/Casa do Oeste em Ribamar da Lourinhã que desde 1973 com os Movimentos rurais da Ação Católica tem sido uma grande “Escola de evangelização” da Região do Oeste (entre outros Movimentos). Entre outras |
iniciativas destaco o “Congresso de Cristãos do Oeste” em 1996/97, onde o Cardeal Ribeiro, na homilia de encerramento disse: “O Congresso veio na hora certa, neste final do século e do milénio, para as tarefas da nova evangelização, que certamente todos consideramos necessária e urgente…Necessitamos de um novo ardor apostólico, uma renovada paixão por Jesus Cristo e pela Igreja que nos inflame o coração e faça de nós verdadeiras testemunhas e arautos destemidos da ação evangelizadora”. Por isso, na sequência do Congresso se gerou o Núcleo de Diálogo Social que já produziu o livro “Ação Social da Paróquia”, porque o serviço da Caridade é indispensável ao anúncio da Palavra e à celebração dos Sacramentos (CE 25a). O Concílio despertou a Igreja para a missão que é promover a dignidade e levar à salvação todos os homens, partilhando alegrias e esperanças, tristezas e angústias das suas vidas e por isso levou a Fundação à solidariedade com a Guiné/Bissau, onde criámos o Centro João XXIII, em Ondame/Biombo. Aí apoiamos, há 23 anos, projetos de desenvolvimento nas áreas |
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do ensino, da saúde, da agricultura, da educação e das comunicações (Vide livro “Solidariedade com a Guiné – duas décadas”. Na Casa do Oeste a presença de João XXIII é bem assinalada com vários registos: a dedicação da Capela, a sua relíquia que trouxemos da Itália, painel de azulejo com ele no campo que tanto amava, uma pintura no
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auditório e um monumento na via pública com a sua imagem. Promovemos a celebração do Centenário do seu Nascimento, em novembro de 1981, no Oeste (Óbidos) com uma encenação da sua vida “O novo Pentecostes” e uma Eucaristia presidida pelo Bispo-auxiliar, D. António Rodrigues. Promovemos o estudo e divulgação do Concílio, abrindo caminhos de renovação |
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da Igreja com rosto novo, caracterizando-a “Igreja-Povo de Deus; Igreja-Mistério de Comunhão e Igreja-Serviço do Evangelho ao mundo”. Promovemos a celebração dos 25 anos do Concílio, com 40 Grupos Bíblicos no Altoconcelho de Alenquer, com estudo dos documentos encerrando com uma Festa do Concílio. Promovemos a celebração do Cinquentenário do Concílio: nas duas Paróquias de Ribamar e Santa Bárbara (Vigararia de Lourinhã Mãe do Salvador), durante cerca de três meses realizámos a “Visitação do Concílio” com Grupos de estudo dos documentos principais do Concílio e Procissões do Concílio com o SSmo Sacramento, tendo culminado na “Festa do Concílio” das duas Comunidades Paroquiais; e também mobilizámos os Grupos da Ação Católica com Guiões de estudo do Concílio que encenaram noutra “Festa do Concílio” a nível diocesano, na Casa do Oeste. Juntamente com o Concílio outros dois grandes acontecimentos marcaram o Pontificado de João XXIII: - a encíclica, |
Mater et Magistra (1961) sobre numerosos problemas sociais tratando pela 1º vez e com realce os problemas agrícolo-rurais (MM.120-154).. Sem dúvida que isso se deve à sua origem camponesa e ao seu carinho |
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pela gente humilde que trabalha a terra. Outro, foi a encíclica Pacem in Terris (1963), a grande carta sobre os Direitos Humanos – proclamação revolucionária dos direitos da Vida que despertou ecos profundos. Estes dois grandes documentos com a Populorum Progressio e constituição conciliar Gaudium et Spes (e outros posteriores) têm sido a cartilha da educação/formação dos leigos ligados à Ação Católica Rural do Patriarcado.
Ele levou-nos a beber desta fonte da doutrina social da Igreja. Percorremos tantos caminhos promovendo encontros de formação humana e cristã, de formação agrícola: Seminário Agrícola “Jovens na agricultura- que futuro?”; Encontros de agricultores sobre a entrada na CEE; o Encontro com João Paulo II em Vila Viçosa; Jornadas Rurais “Mundo rural – que desenvolvimento?”. Tivemos o estímulo do Cardeal Ribeiro, Patriarca de Lisboa que no dia da Bênção da Casa do Oeste, em 03.06.1979, aniversário de João XXIII, nos incitou: “Tornai o Espírito de Deus presente na vida dos homens. Formai Grupos de Ação Católica.
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Organizai-vos! Atuai!... Formai grupos vigorosos, firmes, de adolescentes, jovens e de adultos – grupos organizados – que tenham presente a promoção do mundo rural e ao mesmo tempo a dimensão do Evangelho, do apostolado cristão”. Porque o Espírito manifestado no Bom Papa João, fecundou de novo a Igreja, velha Sara, como fecundou a jovem, Maria de Nazaré.
Nas Paróquias da Lourinhã, foi com o espírito conciliar que restaurámos o Convento de Santo António, implantando a estátua do Bom Papa João e tornando-o um Centro Pastoral da Igreja do Concílio – sobre a qual disse o Patriarca Ribeiro: “Diante do Convento restaurado erguestes a estátua do Papa João XXIII. Esta estátua ali posta é também ela um desafio para que continuemos a obra deste grande Papa”.
Como não me é permitido desenvolver mais este testemunho, resumo à maneira de conclusão os 4 polos principais do meu ministério pastoral influenciado pelo Bom Papa João: · Os Movimentos rurais da Ação Católica, com a sua sede |
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dinamizadora que é a Casa do Oeste, inspirada e abençoada pela proteção do Bom Papa João XXIII. Daqui expandimos o seu espírito e o ensinamento conciliar, promovendo o seu conhecimento e propondo a sua vivência testemunhal, segundo a pedagogia do Ver-Julgar-Agir (MM, n. 236). · O Centro Pastoral da Merceana (de 1975 a 1989): aqui em Equipa Sacerdotal inspirada pelo Concílio deu à Bíblia toda a importância que ela merece ter no coração e na vida do Povo de Deus. Então promovemos Cursos Bíblicos, Festas da Palavra de Deus; Grupos Bíblicos (chegámos a ter 40 Grupos Bíblicos) com Encontros semanais apoiados com o caderninho “Palavra na vida”. Fizemos 10 catecismos Bíblicos para a Catequese da Infância e Adolescência. · O Centro Pastoral da Lourinhã (1989 a 2005): a dinâmica das Equipas Sacerdotais e cooperação de Leigos teve diversos dinamismos para a Evangelização: Escola de Leigos, Semanas Bíblicas, Jornadas da Pastoral da Fé, Jornadas sobre o Domingo, |
Conferências e Encontros diversos; Peregrinações ao Santuário Jubilar Ano 2000, Visita Pastoral do Patriarca, Visitação da Imagem Peregrina de Fátima, Visita Pastoral às Famílias; Congressos: um sobre o Domingo, outro Congresso de Cristãos do Oeste; e Congresso Eucarístico Interparoquial. · Nos 8 anos mais recentes, nas Paróquias de Ribamar e Santa Bárbara tentei imitar o Bom Papa João a trabalhar pela unidade e pela paz das duas paróquias com Visitação da Imagem Peregrina de Fátima; a implantação da estátua à Senhora da Paz e respetivas Peregrinações anuais, a Escola Paroquial, as Jornadas do Ano Paulino e a implantação da estátua de S. Paulo a porta da Igreja; a Visitação da Palavra Peregrina; a Visitação do Concílio e o Catecismo do Ano da Fé O Bom Papa João me proteja. Louvor e glória ao Senhor!
Padre Joaquim Luís Batalha |
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João Paulo II: O peregrino de Fátima |
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O futuro santo João Paulo II é particularmente recordado em Portugal pela sua ligação a Fátima, reforçada pela intercessão a Nossa Senhora na recuperação do atentado de 1981 e pela beatificação dos pastorinhos Francisco e Jacinta, em 2000. A Nota Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) divulgada em 2011, aquando da beatificação do Papa polaco, Karol Wojtyla (1920-2005), sublinhava essa ligação. “É considerado o Papa de Fátima, que um ano depois do atentado na Praça de São Pedro, em Roma, a 13 de maio de 1981, veio à Cova da Iria agradecer à Rainha da Paz o ter providencialmente sobrevivido”, assinalavam os bispos, a respeito de Wojtyla, eleito Papa em outubro de 1978. João Paulo II esteve no Santuário de Fátima em 1982, 1991 e, pela última vez, em 2000, altura em que beatificou os videntes Francisco e Jacinta Marto. Nessas três visitas, sempre no mês de maio, passou ainda por Braga, Coimbra, Lisboa, Porto, Vila Viçosa, Açores e Madeira, somando-se uma |
escala técnica no aeroporto de Lisboa (2 de março de 1983), a caminho da América Central. A ida a Roma, em outubro 2000, da imagem original de Nossa Senhora de Fátima da Capelinha das Aparições, no Jubileu dos Bispos, consagrando-lhe o terceiro milénio, confirma a particular ligação do Papa polaco com o santuário da Cova da Iria. Simbolicamente, a bala que lhe atravessou o abdómen num dia 13 de maio repousa hoje na mesma imagem da Virgem. João Paulo II sempre se mostrou seguro de que “uma mão maternal” guiou a trajetória da bala naquela tarde de 1981, no Vaticano. Um ano depois, Karol Wojtyla chegava a Fátima para “agradecer à Divina Providência neste lugar que a mãe de Deus parece ter escolhido de modo tão particular” Em 2005, passados apenas 42 dias sobre a sua morte, o 13 de maio foi a data escolhida para que Bento XVI anunciasse o início imediato do processo de beatificação – dispensando o período de espera de cinco anos. A CEP elencou “grandes traços da personalidade e da missão |
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do Papa João Paulo II”, apresentado como um “homem de intensa vida interior” com uma “invulgar capacidade de comunicação pessoal, tanto diante das multidões, como em particular, atraindo magneticamente tantos jovens, entre os quais muitos que se afirmavam estar distantes da Igreja”. |
A este respeito, cita-se um episódio acontecido a 15 de maio de 1982, em Coimbra, quando o Papa Wojtyla “não hesitou em pôr aos ombros a capa preta que um estudante lhe ofereceu e, no pátio da Universidade, gritou à multidão: «Olá, malta! O Papa conta convosco! Melhor, Cristo conta convosco!»”.
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João XXIII: O Papa da paz e da bondade |
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Angelo Giuseppe Roncalli nasceu em 1881 na localidade de Sotto il Monte, Bérgamo, onde foi pároco, professor no Seminário, secretário do bispo e capelão do exército durante a I Guerra Mundial. João XXIII iniciou a sua carreira diplomática como visitador apostólico na Bulgária, de 1925 a 1935; foi depois delegado apostólico na Grécia e Turquia, de 1935 a 1944, e Núncio Apostólico na França, de 1944 a 1953. Em 1953, Angelo Roncalli foi nomeado patriarca de Veneza e no dia 28 de outubro de 1958 foi eleito Papa, sucedendo a Pio XII. “Manso e atento, empreendedor e corajoso, simples e cordial, praticou cristãmente as obras de misericórdia corporais e espirituais, visitando os encarcerados e os doentes, recebendo homens de todas as nações e crenças e cultivando um extraordinário sentimento de paternidade para com todos. O seu magistério foi muito apreciado, sobretudo com as Encíclicas ‘Pacem in terris’ e ‘Mater et magistra’", recorda a biografia oficial do Vaticano. |
O Centro Televisivo do Vaticano (CTV) evocou o futuro Santo João XXIII como o “Papa do amor, da unidade e da paz”. “O Papa Roncalii permanece no coração de muitos como um pontífice capaz de dirigir-se a todos com simplicidade, respeito, espontaneidade, o sucessor de Pedro que deu início à revolução conciliar”, refere o CTV, num trabalho a respeito da canonização do próximo domingo.
João XXIII convocou o Sínodo romano, instituiu uma comissão para a revisão do Código de Direito Canónico e convocou o Concílio Vaticano II (1962-1965). O Papa italiano faleceu na tarde do dia 3 de junho de 1963 e foi beatificado por João Paulo II em setembro de 2000, com que será canonizado este domingo, pelo Papa Francisco, após este ter decidido dispensar um segundo milagre atribuído à intercessão de João XXIII. O padre Ezio Bolis, diretor da Fundação João XXIII, diz ao CTV que o futuro santo tinha “uma espiritualidade ferial, corrente, familiar”, que nasceu da sua “experiência rural, de uma |
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família muito unida”. “Podemos dizer que o êxito do Papa João durante os anos do pontificado se deveu precisamente a esta capacidade de relacionar-se com as pessoas, mesmo as mais simples, de se fazer ouvir de forma imediata, sem impor sujeições”, explica. O cardeal Loris Francesco Capovilla, que foi secretário particular de João XXIII, recorda por sua vez o momento da morte do Papa italiano, quando se |
juntavam várias pessoas para acompanhar os seus últimos momentos. “Um dia disse-lhe: Santo Padre, aqui à volta da sua cama estamos três, quatro, cinco, seis pessoas, mas se visse a Praça [de São Pedro]… Eu pensava que ele não iria ligar, dado que não estava habituado a estar na ribalta, mas nessa ocasião olhou para mim e disse-me: ‘Bem, é natural que seja assim, é o Papa que morre. Eu amo-os, eles amam-me’”, relata. |
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Papa solidário com trabalhadores italianos |
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O Papa mostrou-se “verdadeiramente comovido” e “triste” com uma videomensagem que lhe foi enviada pelos trabalhadores da empresa siderúrgica Lucchini Piombino, na Itália, que lutam pelos seus empregos. “Caros trabalhadores, caros irmãos, nos vossos rostos era visível uma profunda tristeza e preocupação de pais de família que pedem apenas o seu direito a trabalhar e viver dignamente, para poder guardar, alimentar e educar os seus filhos. Ficai certos da minha proximidade e da minha oração”, declarou esta quarta-feira, no Vaticano. Francisco explicou às dezenas de milhares de pessoas reunidas na Praça de São Pedro para a audiência pública semanal que a mensagem chegou antes do encerramento do forno da instalação siderúrgica, situada em Livorno, cerca de 250 quilómetros a norte de Roma. “Não percais a esperança, o Papa está convosco, reza por vós, para que, quando se perdem as esperanças humanas, fique sempre acesa a esperança divina, que nunca desilude. Abraço-vos |
fraternalmente”, afirmou. Francisco dirigiu-se depois a “todos os responsáveis”, pedindo esforços de “generosidade e criatividade” para voltar a “acender a esperança nos corações” destas pessoas e de “todas as pessoas desempregadas por causa do desperdício e da crise económica”. “Por favor, abri os olhos e não fiqueis de braços cruzados”, apelou. A intervenção aconteceu após a catequese, na qual o Papa disse que só a fé na ressurreição de Jesus oferece a alegria “verdadeira”. A alegria pascal é “uma alegria verdadeira, profunda, baseada na certeza de que Cristo ressuscitado já não morre, mas está vivo e atua na Igreja e no mundo”, declarou. Os peregrinos de várias línguas saudaram Jorge Mario Bergoglio no dia da festa litúrgica do seu onomástico, São Jorge. Antes de chegar à Praça de São Pedro, por onde passou em carro coberto, por causa da ameaça de chuva, o Papa cumprimentou um grupo de pessoas com deficiência, na sala Paulo VI. |
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Francisco convidou os presentes na Praça de São Pedro a repetir, com ele, uma frase do Evangelho de São Lucas, dita aos discípulos após a morte e ressurreição de Jesus: ‘Porque procurais entre os mortos aquele que está vivo?’. “Estas palavras são como uma pedra milenar na história mas também uma pedra de tropeço,
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se não nos abrimos à Boa Nova, se pensamos que é menos incómodo um Jesus morto do que um Jesus vivo”, assinalou. Segundo o Papa, é preciso repetir no “caminho diário” a pergunta do anjo aos discípulos, ‘Porque procurais entre os mortos aquele que está vivo?’. |
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Mensagem pascal lembrou vítimas
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O Papa Francisco deixou um apelo à paz, aludindo aos focos de conflitos que atingem a humanidade, à fome e ao tráfico de seres humanos, na sua mensagem de Páscoa. “Pedimo-vos, Jesus glorioso, que façais cessar toda a guerra, toda a hostilidade grande ou pequena, antiga ou recente”, pediu, antes da bênção ‘urbi et orbi’ [à cidade (de Roma) e ao mundo], desde a varanda central da Basílica de São Pedro. Neste contexto, o Papa recordou a situação na Síria, rezando para que “quantos sofrem as consequências do conflito possam receber a ajuda humanitária necessária” e as partes em conflito deixem de “usar a força para semear morte, sobretudo contra a população indefesa, mas tenham a audácia de negociar a paz”. Num ano em que cristãos do Ocidente e do Oriente celebram a Páscoa no mesmo dia, Francisco apelou à pacificação na Ucrânia. “Que todas as partes interessadas, apoiadas |
pela Comunidade internacional, possam empreender todos os esforços para impedir a violência e construir, num espírito de unidade e diálogo, o futuro do país”, declarou. O Papa pediu “a reconciliação e a concórdia fraterna” na Venezuela, saudou o reinício das negociações entre israelitas e palestinos e rezou pelas “vítimas da violência fratricida no Iraque”. A intervenção destacou ainda vários conflitos em curso no continente africano e as populações atingidas pela epidemia de ébola na Guiné Conacri, Serra Leoa e Libéria, bem como os que são afetados por “tantas outras doenças, que se difundem também pela negligência e a pobreza extrema”. O Papa rezou ainda pelo fim da “chaga da fome, agravada pelos conflitos e por um desperdício imenso” de que muitos são “cúmplices”.
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Alegria deve marcar vivência da Páscoa |
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O Papa Francisco destacou a importância de viver o tempo da Páscoa com “alegria”, de forma genuína, transmitindo-a aos outros, como aconteceu nas primeiras comunidades cristãs. “Deixemos que esta experiência, impressa no Evangelho, se imprima também nos nossos corações e transpareça na nossa vida. Deixemos que o espanto alegre do Domingo de Páscoa irradie nos pensamentos, nos olhares, nas atitudes, nos gestos e nas palavras”, declarou, perante milhares de pessoas reunidas na Praça de São Pedro para a recitação do ‘Regina Caeli’, na ‘segunda-feira do Anjo’. Segundo o Papa, esta alegria “não é uma maquilhagem”, mas vem de dentro, “de um coração mergulhado na fonte”, como o de Maria Madalena, testemunha da ressurreição. Por isso, cada cristão deve ser capaz de levar um “raio” da luz de Jesus ressuscitado “às diversas situações humanas: às felizes, tornando-as mais belas e preservando-as do egoísmo; às dolorosas, levando serenidade e esperança”. |
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Francisco renovou os votos de “boa Páscoa” e pediu que todos continuem a trocar os “votos pascais” durante esta semana “como se fosse um único dia”. “O sentimento dominante que transparece dos relatos evangélicos da Ressurreição é a alegria plena de espanto e na liturgia revivemos o estado de espírito dos discípulos por causa da notícia que as mulheres trouxeram: Jesus ressuscitou”, precisou. O Papa convidou os católicos a reler os capítulos dos Evangelhos que falam da ressurreição de Jesus e a pensar na “alegria de Maria, Mãe de Jesus”, durante esses momentos. |
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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram a atualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizados em www.agencia.ecclesia.pt
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Papa condena assassinato de jesuíta holandês na Síria |
O acto de matar |
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O projeto nascera com o objetivo de registar o testemunho das vítimas, seus familiares, e sobreviventes de três décadas de regime repressivo na Indonésia, sob a presidência de Hadji Mohamed Suharto. Com cerca de um milhão e meio de mortos e desaparecidos estimados nesse negro período da história indonésia, resultado da tenebrosa ação dos esquadrões da morte criados para exterminar qualquer assumido defensor ou simpatizante de esquerda, a importância de um documento cinematográfico seria fulcral e meritória, registando para o mundo e a posteridade o valor dos que, de fragilizados pelo abuso de poder, se fizeram fortes no seu combate. No entanto, perante as dificuldades em estabelecer livre contacto com esses testemunhos, não obstante as diversas tentativas e meios para o conseguir, a equipa liderada pelos realizadores Joshua Oppenheimer e Christine Cynn encontrou-se na insólita situação de ter, ao seu dispor e despudoradamente, um |
outro calibre de testemunha: membros dos esquadrões da morte, orgulhosos dos seus atos e hoje celebrados como heróis nacionais. O inesperado desafio é aceite e eis que surge ‘O Acto de Matar’, um documento impressionante e de dificílima digestão que nos obriga a pensar, da mais séria e dura forma, sobre os limites da (des)humanidade e, inevitavelmente, sem vislumbre de arrependimento, sobre a possibilidade de perdão. Com a participação de Werner Herzog (A Gruta dos Sonhos Perdidos) na produção, ‘O Acto de Matar’ é um documento quase tão brutal como as mortes perpetradas às mãos dos seus protagonistas, que as relatam e recriam com a despudorada liberdade permitida pelos realizadores. Uma opção discutível que, se por um lado visa evidenciar a fidelidade do retrato dos homicidas, por outro resulta numa perversa espetacularização do desumano, do horror, o que deslocaria partes do filme do género documental para o de terror e o insólito se fosse |
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de ficção e não de realidade o que se trata. Assim, o filme interessa sobretudo pelos dois tipos de reflexão que oferece: uma, certamente a mais óbvia e mais terrível, sobre o conteúdo; e outra, menos evidente mas igualmente importante, sobre a sua forma. No que respeita a esta última, vale a pena ter em atenção que, no cinema, um realizador atua sempre. Mesmo por omissão. Pois a forma como câmara e sujeito se encontram é sempre sua opção. E, sabe, desde logo, que um encontro entre duas pessoas não é o mesmo que um encontro entre alguém e uma câmara. É nesse sentido que a liberdade conferida aos testemunhos que aqui se apresentam, com a particularidade de cada um representar a sua memória e a relação de consentimento com os seus tenebrosos atos de forma própria, pode (e deveria) ser, |
mais que estética, eticamente discutida. Combinados com imagens de arquivo e da atualidade social e política que provam que a negra nuvem que pairou sobre a Indonésia não foi ainda dissipada por nenhum vento de mudança suficientemente forte, os testemunhos não deixam de constituir uma portentosa denúncia sobre o estado de desrespeito pelos mais elementares direitos humanos de um país que, desde que perdeu Timor, não terá voltado a despertar o interesse e preocupação merecidos entre muitos de nós, portugueses. No final do filme, atendendo sobretudo à motivação que lhe deu origem, é ainda mais profunda e quase mesmo insuportável a ausência sentida dos que morreram lutando contra o regime, e é principalmente por isso que a obra resulta. Margarida Ataíde |
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Uma revolução para lá da «cosmética» |
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A jornalista argentina Elisabetta Piqué, autora do livro ‘Francisco - Vida e Revolução’, considera que as mudanças levadas a cabo pelo primeiro Papa sul-americano no primeiro ano de pontificado são mais do que uma operação de “cosmética”. “Ele está a desmantelar um Vaticano que era uma espécie de corte imperial, fechado em si próprio, eurocêntrico. É um Papa que fala ao mundo”, disse à Agência ECCLESIA. A jornalista e correspondente no Vaticano, que conhece Jorge Mario Bergolgio há mais de uma década, recolheu testemunhos e documentação inédita numa obra em que procura projetar as mudanças que o Papa argentino irá promover. “É o primeiro Papa que se atreve, que tem a coragem de chamar-se Francisco, como o santo de Assis, filho de um mercador rico que se despoja de tudo” e simboliza “uma Igreja que tem de estar ao lado dos excluídos”, refere a autora. Para Elisabetta Piqué, a popularidade explica-se pela sua “autenticidade” e a “coerência absoluta” entre o que faz agora
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e toda a sua vida, com um perfil “muito discreto”. “É a voz dos excluídos”, sustenta. A jornalista recorda que o ainda padre Jorge promovia acampamentos para os alunos do Colégio de que era reitor e para as crianças dos bairros em volta, relatando que foi assim que viu o mar pela primeira vez. “Claro que ele não tirava férias nem participava nesses acampamentos que tinha ajudado a organizar”, sublinha. Para a especialista, as “surpresas” do atual pontificado ainda não acabaram, admitindo que algumas pessoas se possam sentir “deslocadas” face às reformas que estão a ser levadas a cabo. “Francisco chama a uma nova atitude, a uma vida simples, |
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austera, mas é possível que alguns não o entendam”, afirma. O contraste entre o atual Papa e a imagem generalizada de um Vaticano como um “ninho de víboras” levou o “imaginário coletivo” a projetar ameaças à própria vida de Francisco, que a jornalista desvaloriza. “Desde o primeiro dia que a minha padeira, a senhora dos jornais dizem-se: ‘Ah, vão matá-lo’. É verdade que, para lá deste imaginário coletivo, ele tem um discurso que incomoda, fala contra as máfias, contra o tráfico de pessoas”, observa Elisabetta Piqué, para quem o Papa vai “continuar a expor-se”, porque acredita que é essa a sua maneira de viver a sua missão. Francisco telefonou-lhe menos de 24 horas após a eleição pontifícia, a 13 de março de 2013, um exemplo do que a autora apresenta como o “escândalo da normalidade” de um homem de Igreja que privilegia o contacto direto. “Muitos perguntam-me qual é a estratégia mediática do Papa, mas não há nenhuma, é ele próprio. Consegue comunicar, mesmo com as crianças, porque fala de forma simples”, conclui. |
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II Concílio do Vaticano: Abolição dos índices dos livros proibidos (1) |
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Embora o II Concílio do Vaticano tenha encerrado no mês de dezembro de 1965, só no ano seguinte (14 de junho), se abria para muitos católicos uma nova época com a abolição do índice dos livros proibidos. Com esta medida, o Vaticano cumpria as palavras proféticas de João XXIII proferidas na abertura deste acontecimento magno da Igreja Católica. Para o Papa que o convocou, a Igreja devia ir ao encontro das necessidades dos tempos actuais, propondo-se antes de mais demonstrar a validade da sua doutrina e não enveredando pelo caminho das condenações. Num artigo publicado no jornal «Correio de Coimbra» (22-08-96), Manuel Augusto Rodrigues realça que, actualmente, “já pouco se fala dos índices de livros proibidos, tema que durante quatro séculos tanto agitou a Igreja e o mundo culto em geral”. Para trás da referida decisão de 1966 ficava uma “longa história de censuras e proibições” da leitura de livros de autores célebres, como a «Madame Bovary» e «Salammbô» (escritos por Gustave Flaubert). «Les Misérables» de Victor Hugo (novelista, poeta, dramaturgo, ensaísta e ativista pelos direitos humanos francês do século XIX) e Emanuel Kant (filósofo alemão do século XVIII) com a sua «Critica da Razão Pura» também tinha o seu nome na lista dos livros censurados. Estes não foram os únicos pensadores/filósofos que sofreram com a rede apertada, antes do II
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Concílio do Vaticano, que incluía também Pascal, Descartes, David Hume, Espinoza e Voltaire. Filósofos marcantes da cultura europeia que “viram os seus nomes registados no rol dos livros defesos” (In: Jornal «Correio de Coimbra» [22-08-96]). A censura eclesiástica também actuou em relação aos teólogos e, neste caso, são de recordar os “livros dos reformadores” e de “grande número de católicos” que durante o pontificado de Pio X se “tornaram suspeitos de modernismo”, entre os quais se contam Alfred Loisy (teólogo e filósofo francês nascido em 1857 e falecido em 1940 e grande conhecedor das Sagradas Escrituras, que ensinou no Institut Catholique de Paris) e Hermann Schell (teólogo e filósofo alemão nascido em 1850 e falecido em 1906). Aconteceu também ser incluída no rol de livros proibidos a obra completa de determinado autor, o que tinha como consequência ser proibida a leitura de toda e qualquer parte da mesma, “embora se tratasse de assuntos que nada tinham a ver com a fé e os costumes. Incluem-se nestes |
casos Balzac, Giordano Bruno (Na foto), Alexandre Dumas (pai e filho), André Gide, Anatole France, George Sand, Jean Paul-Sartre e Emile Zola. Depois do II Concílio do Vaticano estes autores ganharam nova vida literária… |
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Abril |
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Dia 25
* Aveiro - Salão da junta de freguesia de Santa Joana - Dia Diocesano do Catequista. |
* Algarve - Portimão (Ferragudo) - Actividade «Mariápolis Regional no Algarve» promovido pelo Movimento dos Focolares. (27 a 27) Dia 26
* Vaticano - O Papa Francisco recebe o primeiro-ministro da Ucrânia, Arseniy Yatsenyuk. |
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* Setúbal - Barreiro (Igreja de Santa Maria) (21h00m) - Concerto de Páscoa «Cânticos da tarde e da Manhã». |
* Setúbal - Almada (Seminário de São Paulo) - Retiro para casais promovido pela Pastoral Familiar do Patriarcado de Lisboa e orientado pelo padre Nuno Amador. (26 e 27)
Dia 27
* Vaticano - Canonização de João Paulo II e de João XXIII. |
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No Barreiro este sábado, dia 26 de abril, a cantora Teresa Salgueiro vai estar na Igreja de Santa Maria para um concerto de Páscoa intitulado ‘Cânticos da Tarde e da Manhã’.
No domingo, dia 27 de abril, às 10h00 (menos uma em Lisboa), o Papa Francisco vai presidir à Missa de canonização dos Beatos João XXIII e João Paulo II.
Também no Vaticano inicia-se na segunda-feira, dia 28 de abril uma reunião do Papa com o Conselho de Cardeais. Nesta reunião de dois dias Francisco vai reunir pela quarta vez com os oito cardeais dos cinco continentes que nomeou em abril de 2013 para o aconselharem, abrindo caminho à redação de uma nova constituição para o Vaticano.
Os bispos portugueses vão estar reunidos em Fátima, a partir de terça-feira, dia 29 de abril, em Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa. A agenda do encontro, que vai decorrer até dia 1 de maio, prevê publicações de três notas pastorais e eleições para o triénio 2014-2017.
No dia 30 de abril, quarta-feira, o Instituto Universitário Justiça e Paz de Coimbra promove uma descida noturna no rio Mondego intitulada ‘Recebe a luz e orienta-te’. |
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Programação religiosa nos media |
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Antena 1, 8h00 RTP1, 10h00 Transmissão da missa dominical
11h00 - Transmissão missa
12h15 - Oitavo Dia
Domingo: 10h00 - O Dia do Senhor; 11h00 - Eucaristia; 23h30 - Ventos e Marés; segunda a sexta-feira: 6h57 - Sementes de reflexão; 7h55 - Oração da Manhã; 12h00 - Angelus; 18h30 - Terço; 23h57-Meditando; sábado: 23h30 - Terra Prometida. |
RTP2, 11h22
RTP2, 15h30
Terça-feira, dia 29 - Informação e entrevista ao padre João Gonçalves sobre o 1º Congresso Ibérico da Pastoral Penitenciária; Quarta-feira, dia 30 - Informação e entrevista ao padre Joaquim Carreira das Neves sobre o livro "Lutero - Palavra e Fé"; Quinta-feira, dia 01 - Informação e entrevista a José Paixão, sobre o Dia do Trabalhador; Sexta-feira, dia 02 - Análise das leituras bíblicas de domingo pelo padre Armindo Vaz e frei José Nunes.
Antena 1 Domingo, dia 27 de abril, 06h00 - Conversa com o cardeal José Saraiva Martins sobre canonização de João XXIII e João Paulo II. Comentário à atualidade com José Luís Borga.
Segunda a sexta-feira, 22h45 - 28 - Historiador António Matos Ferreira e os Papas João XXIII e João Paulo II; 29 - Monsenhor Luciano Guerra e João Paulo II; 30 - Enciclicas sociais de João XXIII e João Paulo II com Alfredo Bruto da Costa; 1 - António Pinto Leite e o Dia do Trabalhador; 2 - Padre Eduardo Novo e o Fátima Jovem. |
Existem provas da ressurreição de Jesus?
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Ano A - 2º Domingo da Páscoa |
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Comunidades com coração misericordioso |
Se tivesses aqui a fotografia da comunidade cristã da tua paróquia, que imagens, que traços apareciam? E se fosse em vídeo, que caminhos, que passos percorridos? Repara na fotografia da comunidade cristã de Jerusalém: uma comunidade de irmãos, que vive em comunhão fraterna; uma comunidade assídua ao ensino dos apóstolos; uma comunidade que celebra liturgicamente a sua fé; uma comunidade que partilha os bens; uma comunidade que dá testemunho. Trata-se de uma descrição da comunidade ideal, que pretende servir de modelo à Igreja universal e às igrejas locais. Pensa na tua comunidade cristã e procura ver se é uma comunidade à maneira da comunidade de Jerusalém, nestes cinco elementos. A tua comunidade cristã é uma comunidade de irmãos que vivem no amor, ou é um grupo de pessoas isoladas, em que cada um procura defender os seus interesses, mesmo que para isso tenha de magoar os outros? Como comunidade assídua ao ensino dos apóstolos, a tua comunidade cristã é uma comunidade que se constrói à volta da Palavra de Deus, que escuta e que partilha essa Palavra? A tua comunidade cristã é uma comunidade que celebra liturgicamente a sua fé? A celebração eucarística é um rito aborrecido, a que se assiste por obrigação, ou é uma verdadeira experiência de encontro com o Jesus do amor e do dom da vida, uma experiência de amor partilhado com os irmãos de fé?
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A tua comunidade cristã é uma comunidade de partilha do amor, do serviço, do dom da vida, uma comunidade que dá testemunho?
Deixa-te também iluminar pelo Evangelho de hoje, pelo Cristo vivo que ressuscita em ti, pelas atitudes de Tomé tantas vezes semelhantes às tuas, e retoma o caminho sempre novo da fé e da vida nova. Hoje é também o Domingo da Misericórdia de Deus. Como nos diz o Papa Francisco, «a Igreja deve ser o lugar da misericórdia gratuita, onde todos possam sentir-se acolhidos, amados, perdoados e animados a viverem segundo o Evangelho». Os nossos contemporâneos sofrem ao verem imagens de |
violência, ao verem atitudes de ódio e vingança. Têm necessidade de palavras e gestos de conciliação e reconciliação, de ternura e perdão, de fidelidade e confiança, de amor e misericórdia. Não nos podemos contentar em rezar ao nosso Deus “misericordioso, lento na cólera, cheio de fidelidade e lealdade”. Procuremos perdoar, ter um olhar e uma escuta de bondade sobre os outros, refrear os nossos impulsos de cólera, ser fiéis aos nossos compromissos e leais nas nossas palavras e nos nossos atos, enfim, ser pessoas com coração misericordioso.
Manuel Barbosa, scj www.dehonianos.org |
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A vocação do cristão é a santidade, em todo momento da vida. Na primavera da juventude, na plenitude do verão da idade madura, e depois também no outono e no inverno da velhice, e por último, na hora da morte. (João Paulo II) |