A cultura dominante, hedonista e consumista, dificulta a educação em valores. O caos informativo criou nevoeiro nas consciências. Tudo se mede pelos resultados económicos. Os valores actualmente “cotados no mercado” são: fama, dinheiro, prestígio, poder, prazer e sucesso.
Justifica-se a educação em valores pela necessidade de oferecer aos jovens certos princípios que sirvam para orientar as suas acções. Um sistema de valores é bom para a vida pessoal e social. É preciso ensinar aos jovens como fazer bem e não como desenrascar-se, quando as coisas correm mal.
Pais e professores
Para educar uma criança, tem de haver conjugação de esforços da família e da escola. Os pais são os primeiros responsáveis pela educação dos filhos. Não devem comportar-se como meros “consumidores” que se limitam a queixar-se dos professores e a fazer exigências à escola.
A educação moral e cívica é também tarefa de todos os professores, independentemente da disciplina que leccionam. Para ser bom professor não basta dominar a sua área de conhecimento e ajudar os alunos a obter sucessos académicos. É necessário investir no desenvolvimento pessoal e social dos jovens.
A inserção no mercado de trabalho exige que os jovens saibam línguas estrangeiras, dominem as novas tecnologias e revelem flexibilidade. Mas o principal objectivo da escola não é desenvolver competências para o mercado de trabalho. A educação não está ao serviço da economia, mas ao serviço da pessoa humana.
Precisamos de cidadãos humanamente bem formados, pessoas de carácter. Grandes cabeças, sem coração, sem consciência moral, podem tornar-se “monstros” da humanidade. Quem fabrica e utiliza as armas de destruição? Quem são os grandes responsáveis pela fome e pelas injustiças no mundo? Certamente, grandes cabeças!
Contra o relativismo moral
Muitos professores defendem a necessidade da educação moral dos jovens, mas abraçam o relativismo ético, com a boa intenção de não imporem os seus valores e, sobretudo, com o receio de serem chamados fundamentalistas ou intolerantes.
Na perspectiva do relativismo ético, o professor não deve propor os seus critérios nem assumir-se como modelo. O professor deverá apenas fomentar o diálogo e permitir que cada aluno escolha os seus valores.
Para os relativistas, todos os valores dependem da perspectiva individual. Cada um escolhe os seus próprios valores, de acordo com a sua consciência, o que muitas vezes significa de acordo com a sua conveniência.
O relativismo moral é uma doutrina aparentemente “simpática”, mas perigosa, porque não dá critérios seguros para distinguir o correcto do incorrecto. Os alunos têm de aprender a fundamentar os seus critérios de vida, a distinguir o bem do mal, a estabelecer uma hierarquia de valores, para não se deixarem manipular pelas modas ou pelas pressões dos grupos mais poderosos.
Compete ao professor oferecer princípios, sem dogmatismo, com respeito pela liberdade do aluno, mas também sem receio de propor valores. Não se pode educar como se tudo valesse o mesmo.
O ambiente moral da escola
Em cada escola, o Projecto Educativo, o Regulamento Interno e os conteúdos programáticos das várias disciplinas são meios explícitos de transmissão de valores. Há muitos outros valores que não são explicitados em nenhum documento, mas revelam-se no modo como as pessoas falam ou se comportam.
Os valores aprendem-se por contágio na escola e, mais concretamente, na sala de aula. Um clima de diálogo, cooperação e solidariedade, transmite valores. Um mau ambiente, de falta de respeito pelas pessoas, pode asfixiar os valores, tal como um terreno pedregoso impede as sementes de germinarem.
A escola deve valorizar as pessoas pelo que são e não pelo que fazem, de modo a que todas se sintam bem. Deve ser um espaço acolhedor e de respeito mútuo, onde alunos, professores e outros profissionais gostem de viver juntos.
Bons modelos
Na aprendizagem dos valores, é indispensável a existência de bons modelos. De acordo com Albert Bandura, os alunos, sobretudo os mais novos, aprendem por observação e imitação.
Os meios de comunicação social oferecem aos jovens muitos modelos. O professor deve ajudar o aluno a reflectir criticamente sobre os valores que transmitem e valorizar o melhor desses modelos. Deve, além disso, proporcionar o contacto com outros modelos da História ou da vida real, cujos gestos merecem ser imitados.
O próprio professor é um poderoso modelo para os alunos. Não há forma de fugir a isso. O professor não ensina só o que quer, quando quer. Ele é modelo para os alunos, mesmo que não queira assumir-se como tal ou afirme a sua neutralidade em relação aos valores. Educa ou deseduca pelas palavras e, sobretudo, pelos actos. Enquanto ensina os conteúdos programáticos, ensina valores. Ensina competição ou cooperação, individualismo ou solidariedade, intolerância ou diálogo. O modo como motiva, como avalia ou, simplesmente, o modo como se relaciona já influencia os alunos.
Consciente da sua condição de modelo, o professor deve explicitar os seus valores, sem querer impô-los. Mas deve também vivê-los. Mostrar coerência entre o que diz e o que faz. A prática tem de estar de acordo com os princípios defendidos.
Se o professor não é capaz de reconhecer um erro e pedir desculpa, como quer que os alunos aprendam a ser humildes? Se não respeita os outros, como quer ensinar o respeito? Se é pessimista, como pode transmitir a esperança e o gosto pela vida?
Educamos mais pelo que somos do que pelo que sabemos. Educamos mais pelos actos do que pelas palavras. O bom exemplo é a melhor lição!
A prática dos valores
Os alunos devem ter oportunidade de interiorizar e praticar valores, desde crianças. Mas como promover a solidariedade, numa cultura de individualismo? Como estimular a cooperação numa cultura de competitividade? O desafio é enorme.
O professor pode começar por propor pequenos gestos de partilha na turma, como, por exemplo, emprestar apontamentos ou ajudar um colega com dificuldades. Alunos mais velhos podem ser motivados a participar em projectos de solidariedade que ultrapassem os muros da escola.
Na família e na escola, é fundamental educar em valores, ajudando o jovem a abrir-se aos outros. O egoísmo é a raiz de todos os males. O altruísmo dá um sentido à vida.
António Estanqueiro, Professor