Muitas vezes falamos de evangelização ou missão, indistintamente, sem nos darmos verdadeiramente conta da tarefa global que tais realidades implicam para a vida da Igreja. Digamos claramente que a ‘evangelização’ , tendo muitos sujeitos dessa acção, diz respeito a um conjunto imenso de destinatários…afinal, toda a humanidade é objecto da evangelização da Igreja. Mas nem todos se encontram na mesma situação nem todos necessitam do mesmo tipo de acção evangelizadora.
Creio que é possível distinguir 3 grandes grupos destinatários da evangelização:
a) os que já têm uma fé suficientemente amadurecida e algum compromisso de vida cristã. Estes necessitam de um contínuo aprofundamento da fé, necessitam de uma evangelização constante no sentido de uma formação permanente;
b) os que foram baptizados em pequenos e, depois de alguma breve catequese (às vezes nem isso), se afastaram tanto duma prática dominical como do hábito de referir as mais diversas vivências aos valores evangélicos (pelo menos de forma consciente); este são os que habitualmente designamos como objecto da ‘nova evan-gelização’;
c) por último, devemos considerar todos aqueles que não são bapti-zados e, com maior ou menor intensidade, se têm mantido à margem do fenómeno cristão, grande parte deles nem sequer conhecendo Jesus Cristo e o seu evangelho – são os que consideramos destinatários da ‘missão ad gentes’.
No âmbito do ICNE, creio ser fácil depreender que a Igreja se sente mobilizada para oferecer sinais, testemunhos, palavras aos dois últimos grupos mencionados. De facto, nas metrópoles das velhas cristandades, a maioria das pessoas são os baptizados que não foram suficientemente evangelizados, notando-se ainda, cada vez mais, um grupo significativo de não-cristãos (muçulmanos ou de outras religiões, ateus, agnósticos…). Ora, entre ‘nova evangelização’ e ‘missão ad gentes’ há realmente grandes semelhanças. Destaco aqui 4 caraterísticas básicas dessas tarefas e que têm bastante em comum:
a) referência ao ‘negativo’ – ao falar de ‘negativo’ referimo-nos ao facto de serem pessoas não evangelizadas ou não bapti-zadas. Não se fazem aqui quaisquer juízos de valor acerca do valor e da santidade de tais pessoas… («muitos dos últimos serão dos primeiros», disse Jesus…); mas, claro, se se trata de não-evangelizados, isso significa que há que dar a conhecer Jesus e o seu evangelho!;
b) anúncio explícito - esta caraterística vem no seguimento da anterior: há que dar a conhecer Jesus e o evangelho. O testemunho de vida dos cristãos empenhados é muito importante, pode até ser objecto de elogios… mas não chega. O objectivo desta tarefa não pode estar centrado na figura do evangelizador… mas sim na relação que deverá estabelecer-se entre o que recebe e Boa Nova e a pessoa de Jesus!;
c) necessidade de êxodo – na missão e na nova evangelização, justamente porque nos dirigimos a pessoas que habitualmente não estão connosco, exige-se um ‘ir’, um ‘partir’, um ‘êxodo’… pode ser que tenhamos de atravessar apenas a rua onde vivemos e, a 10 metros, tenhamos o nosso’próximo’, mas também pode acontecer que tenhamos de caminhar mais de 10.000 quilómetros para o encontrar em África ou na Ásia… O que não podemos é ficar apenas onde estamos, porque tais irmãos nossos não tomam a iniciativa de vir ter connosco!
d) entrada na Igreja/comunidade – o objectivo de todo o processo evangelizador é a entrada na Igreja pelo baptismo ou numa efectiva vivência comunitária (para ao destinatários da nova evangelização).
Neste sentido, é muito importante que a tarefa evangelizadora integre desde logo a oferta de estruturas mínimas e atraentes de enquadramento comunitário àqueles que sendo tocados pelo evangelho se decidam a encetar uma nova vida em Igreja. Os Movimentos eclesiais, tão diversos nas suas metodologias e espiritualidades terão aqui, sem dúvida, um papel importante e insubstituível.
Fr.José Nunes,op